Santos 0 x 1 Cruzeiro – Modo seguro (mas nem tanto)

Em entrevista recente, Mano disse que planejou o Cruzeiro em três etapas. Fugir do rebaixamento estabilizando o time, depois voltar a competir de igual para igual, e por último tentar propor o jogo com a bola, sendo protagonista do jogo. Mas também disse que, quando a coisa começa a degringolar, os jogadores começam a perder a confiança no planejamento do treinador, o que é natural. Pra isso, ele confessa que, nesses momentos, é necessário “voltar algumas casas” na evolução do time.

Posicionamento estrutural das equipes: Cruzeiro mais conservador, duas linhas de quatro com Neves e Barcos à frente. Santos num 4-3-3, mas com uma trinca de volantes no meio.

Na Vila Belmiro, pelo jogo de ida das quartas da Copa do Brasil, parece que foi o que ocorreu. Vindo de dois resultados negativos no Brasileiro, o Cruzeiro visitou o Santos e se defendeu no melhor estilo Mano Menezes. Duas linhas de quatro com Barcos e Neves à frente, praticamente abdicando de um ataque organizado, tentando sempre chegar em transições ou bolas paradas. O resultado pode indicar que o plano foi um sucesso, mas não foi bem assim. Não dá pra dizer que foi um jogo perfeito defensivamente, porque o Santos teve chances de marcar.

Primeiro tempo

No início, Neves e Barcos pressionavam a saída dos zagueiros, induzindo-os a circular para o lado. Depois que a bola saía, eles voltavam e encaixavam nos volantes, pra fechar a linha de passe. Já os pontas Robinho e Arrascaeta alternavam a marcação, ora nos laterais, ora no volante do lado. Arrascaeta e Robinho constantemente olhavam para trás antes de subir a pressão no lateral se a bola chegava ali, para não deixar seu lateral “vendido”, ou mesmo pra ver se o volante fazia a cobertura.

Barcos e Neves pressionam os zagueiros e induzem a bola a chegar no lateral. Na direita, Robinho subia a pressão em Dodô, com Henrique na cobertura

Aqui, Santos fez uma saída de 3 com Alison entre os zagueiros, causando superioridade. Na parte de baixo da imagem, vemos Arrascaeta sinalizando a passagem de Victor Ferraz

O plano era induzir o Santos a sair pelo lado, e isso foi bem executado na primeira parte. Com isso, o Cruzeiro conseguia balançar para o lado da bola e defender em igualdade numérica, normalmente em três contra três: o lateral, o ponteiro e o volante do lado da bola. Aqui, um pequeno problema, já que um drible ou um erro de leitura — já que o Cruzeiro marca por encaixes no setor — poderia deixar um jogador livre pra cruzar. Um risco calculado, aconteceu algumas vezes, mas felizmente as jogadas não deram em nada.

Cruzeiro defendendo o lado esquerdo em igualdade numérica com o lateral, o ponta e o volante do lado da bola

Aqui, um momento em que o Cruzeiro defendia o lado direito. Novamente, igualdade numérica no setor, com o lateral, o ponta e o volante do lado

Um outro problema, pelo lado esquerdo, era a falta de uma pressão maior no jogador do retorno do adversário (o que fica por trás), quando este recebia a bola. Em duas ou três vezes ele conseguiu inverter a bola na diagonal longa pro lado direito, deixando Lucas Romero no mano a mano, ora com Bruno Henrique, ora com Gabriel. Novamente, por sorte as jogadas nada produziram.

Com a bola, o Cruzeiro tinha bastante dificuldade em sair da primeira pressão do Santos após recuperar a bola. Devolvia a bola com facilidade, pois tentava passes difíceis e longos para quem estava na frente, que obviamente sempre estavam em inferioridade numérica. Se na disputa aérea ficou mais ou menos dividida, na segunda bola o Santos ganhava quase todas e prosseguia com a posse.

Nas raras vezes em que teve a chance de um ataque mais organizado, o Cruzeiro errava muitos passes, principalmente os de ruptura, que quebram as linhas adversárias — o famoso penúltimo passe. Além disso, Thiago Neves novamente não fez um bom jogo tecnicamente, com muita dificuldade de receber a bola entre as linhas e prosseguir na jogada. Muitas vezes nem conseguia girar em cima da marcação pra pegar o campo de frente, cedendo a posse. Por outras vezes, recuando pra receber o passe, não tentava uma jogada mais aguda, fazendo apenas a bola circular por trás ou mesmo recuando para um volante.

De positivo, mais uma vez, a circulação de Arrascaeta. O uruguaio foi um ponto de apoio, aparecendo entre as linhas, recuando pra ajudar na saída e sempre tentando um passe vertical. Por sinal, a única jogada perigosa do Cruzeiro no primeiro tempo só aconteceu pela flutuação do uruguaio. Ele acha espaço entre as linhas, recebe de Dedé e aciona Thiago Neves. Cruzamento, e no rebote, Vanderlei defende Lucas Silva. Na cobrança do lateral, Egídio cobra direto pra Thiago Neves, que passa a Henrique, que acha Robinho, que vê Arrascaeta infiltrando por trás da zaga do outro lado. De novo, Vanderlei defendeu.

 

Arrascaeta flutua, encontra um oceano de espaço entre as linhas e recebe de Dedé. No fim desse lance, ele aciona TN na esquerda, e no rebote do cruzamento, Vanderlei defende chute de Lucas Silva

Segundo tempo

Após o intervalo, as equipes ajustaram ligeiramente suas estretégias. O Santos passou a marcar mais alto, pressionando a saída do Cruzeiro para forçar o erro, e conseguia muitas vezes. Já pelo lado do Cruzeiro, Neves e Barcos já não pressionavam os zagueiros, apenas fechavam as linhas de passe por dentro. O Santos continuava saindo pelo lado, mas os zagueiros agora tinham mais tempo pra pensar e por vezes até achavam campo pra avançar.

Logo aos dez minutos, Mano lançou Raniel na vaga de Barcos. Sou da opinião de que não existe troca “seis por meia dúzia”, pois não existe jogador igual ao outro. Porém, confesso que não sei precisar a razão. Talvez uma questão física de Barcos, ou mesmo pra Raniel dar mais intensidade e/ou velocidade, estando descansado. Entretanto, o sistema tático não se alterou, nem a postura.

Aos 20, o melhor momento do Cruzeiro no jogo. Posses de bola longas, de mais de um minuto, em sequência. Bastante conservadoras, como era o plano. Na primeira, o Cruzeiro trocou passes pacientemente por 1 minuto e 10 segundos, de um lado a outro do campo, com todos os jogadores (exceto Raniel) tocando na bola ao menos uma vez. Terminou em cruzamento errado de Lucas Romero (em raríssima aparição ofensiva). Outra gerou um cruzamento longo demais de Robinho, e também houve cruzamento de Arrascaeta que Vanderlei tirou, e um chute de Lucas Silva por cima. Um momento que durou 6 minutos.

Depois, Cuca trocou Renato, volante, por Daniel Guedes, lateral. Efetivamente, deixava só Alisson na proteção, com Victor Ferraz indo para o meio-campo ajudar na construção. Com isso, o Santos empurrou o Cruzeiro pra trás, com muita presença no campo ofensivo e pressão após a perda forte. O Cruzeiro não conseguiu sair com qualidade e foi sufocado. Mano agiu e colocou Rafinha na vaga de Thiago Neves, deslocando Robinho para o centro. A troca funcionou, e a pressão arrefeceu, apesar do Santos ainda ter maior posse. Mas futebol prega peças e num rebote, a zaga do Cruzeiro deixou Gabriel livre, mas Fábio salvou. Foi a melhor chance deles.

E como diria Muricy, a bola pune. Duas posses depois, o Cruzeiro chegaria a seu gol. Curiosamente, na primeira vez em que Rafinha participa com a bola, quase 6 minutos depois de entrar no jogo. Na jogada, Robinho acha o espaço ao lado de Alisson, que tinha muito campo pra cobrir. Ele recebe e aciona Rafinha. Como era o único volante, Alisson fechou em Rafinha, deixando Robinho livre. No jogo de corpo, Rafinha enganou Alisson e abriu a linha de passe, deixando Robinho de frente pro gol na entrada da área, o lugar mais disputado do campo. Raniel se desmarca, recebe e chuta girando. Essa Vanderlei não pegou.

No lance do gol, Robinho, já na função de central com a troca Rafinha x TN, acha espaço ao lado de Alison, o volante único do Santos àquela altura

Alison atravessa o campo pra combater Rafinha, mas este drible de corpo abre a linha de passe pra Robinho pegar de frente; ele aciona Raniel, que se desmarca pra girar e marcar

Imediatamente, Mano tirou Robinho e mandou Sobis a campo. Arrasceta seria o novo central, com Sobis indo para o lado esquerdo. Com algum risco, o Cruzeiro controlou o jogo até o fim.

Confiança

Uma vitória com a marca de Mano. Como esperado, fechou o time e jogou no erro do Santos. Ainda assim, correu riscos, com algumas falhas de marcação, e com a bola teve dificuldade em manter a posse no início. De certa forma, se aproveitou do mau momento do adversário também. Quando o jogo se abriu um pouco com o Santos arriscando mais, conseguiu aproveitar a única chance que teve.

Thiago Neves novamente não foi bem, mas é preciso ser justo: por mais que tecnicamente ele ainda esteja abaixo do esperado, a simples presença dele nas costas dos volantes ajuda a abrir espaço para os companheiros. Coletivamente, ajudou nessa parte. Com a bola nos pés, me parece que Thiago passa por uma crise de confiança. Que só será dissipada quando conseguir um gol ou assistência. Que seja logo, pois o Cruzeiro precisa muito dele.

Em suma, o resultado é obviamente muito bom, tanto por ser fora de casa em um mata-mata como por estancar a sequência de derrotas. Porém, ainda há muito o que remar em termos de desempenho, mesmo nesse “modo seguro”. O Flamengo é um time melhor que o Santos, e dificilmente desperdiçaria os espaços em lapsos de marcação do Cruzeiro. Algo a se corrigir.

Atlético/MG 1 x 0 Cruzeiro – Nas trincheiras do círculo central

O xadrez é um dos jogos mais estudados do mundo. Talvez por ser um dos mais antigos e com regras solidificadas há tanto tempo. Por isso mesmo, existem nomes para o conjunto de movimentos na fase inicial da partida, chamadas de “aberturas“, nas quais um dos objetivos do enxadrista é tomar o controle da região central do tabuleiro, para ter vantagem territorial posteriormente.

No futebol, que é um esporte bem mais jovem mas tão estudado quanto, a analogia vale para o meio-campo: quem tem o controle deste setor normalmente tem o controle da partida – o que não significa que sairá vencedor. Há várias maneiras de se ter o controle do meio, seja com ou sem a posse de bola. E um misto de desvantagem física com estratégia agressiva do adversário no setor deram o domínio deste setor tão crucial ao Atlético Mineiro. No fim, acabou não sendo a causa direta do revés, mas explica a inoperância ofensiva celeste, este sim, um motivo– em que pese a boa atuação da dupla de zaga celeste e do goleiro Fábio.

Escalações

No 4-2-3-1, ambos os times tinha três meio-campistas centrais, mas o Atlético foi mais intenso na briga pela segunda bola e minou o toque de bola celeste

No 4-2-3-1, ambos os times tinha três meio-campistas centrais, mas o Atlético foi mais intenso na briga pela segunda bola e minou o toque de bola celeste

Os dois treinadores armaram suas equipes no 4-2-3-1 costumeiro a ambas. Marcelo Oliveira teve Fábio no gol, Ceará na lateral direita, Léo e Bruno Rodrigo na zaga central e Egídio como lateral esquerdo. Nilton e Lucas Silva faziam a dupla volância, com Éverton Ribeiro na ponta direita, Ricardo Goulart como central e Willian partindo da esquerda mas circulando. Na frente, Borges enfiando entre os zagueiros.

Já Cuca não abre mão do 4-2-3-1 que implantou com sucesso no segundo semestre do ano passado e no início deste ano. A linha defensiva do goleiro Giovanni teve Marcos Rocha e Júnior César nas laterais, com Leonardo Silva e Emerson no miolo. Pierre, mais marcador, e Josué, com mais liberdade, faziam a proteção à área e davam suporte ao quarteto ofensivo: Luan partindo da direita, Diego Tardelli centralizado e Fernandinho pela esquerda articulavam atrás de Alecsandro, o centroavante.

A segunda bola

Um fenômeno que este blogueiro ainda precisa entender é porque o Independência é um campo que favorece a bola longa e a disputa aérea, sendo que o campo possui as mesmas medidas de vários estádios do Brasil, inclusive o Mineirão. Talvez seja um um fator psicológico, pois de fato este estádio faz com que o jogo fique muito mais competido do que jogado, como dizia Celso Roth. Menos bola no chão, passes e toque de bola, e muito mais disputa e jogo de desarmes.

Mas é mais provável que seja o estilo de jogo que o Atlético Mineiro impõe no campo do Horto, pois é um estilo que lhe favorece. Intensidade na disputa pela bola, e assim que consegue, transição rápida, seja por que lado for. Eram três contra três próximos do círculo central, mas os jogadores atleticanos tinham muito mais sede — e aqui entra um fator físico, já que os titulares descansaram durante a semana especificamente com vistas ao clássico — e por isso ganhavam quase todas as sobras da disputas aéreas neste setor. Correndo o risco de ser redundante, é o famoso jogo de primeira e segunda bola, no qual um jogador faz um passe longo na direção do ataque e dois jogadores disputam o toque no ar — a primeira bola — tentando fazer a bola sobrar para um de seus companheiros — a segunda bola.

Apesar das chances, só uma finalização foi feita no primeiro tempo -- Fábio defendeu. O Cruzeiro, time que mais finaliza no Campeonato Brasileiro, não chutou sequer uma vez (Footstats)

Apesar das chances, só uma finalização foi feita no primeiro tempo — Fábio defendeu. O Cruzeiro, time que mais finaliza no Campeonato Brasileiro, não chutou sequer uma vez (Footstats)

E assim seguiu todo o primeiro tempo: bola longa de ambos os times, disputa aérea, e a posse era quase sempre do time da casa, que tentava resolver rápido a jogada. O primeiro tempo foi um jogo praticamente de ataque e defesa especificamente por causa deste aspecto. O Cruzeiro não finalizou ao gol de Giovanni uma vez sequer. Não houve nem tentativas erradas.

Mas há que se destacar também a boa atuação defensiva da zaga cruzeirense. Com tanta intensidade, o Atlético Mineiro também só conseguiu uma finalização na primeira etapa, com Fernandinho que Fábio salvou brilhantemente. Alecsandro não contribuía e as chances criadas pelo time atleticano não eram convertidas em finalização, muito por causa da boa marcação de Léo e Bruno Rodrigo. Ceará teve dificuldades com Fernandinho, mas foi brilhante em um lance dentro da área, onde evitou o pênalti a todo custo e fez o jogador adversário se enrolar com a bola e cair sozinho.

Menos refinamento, mais disputa

Com Henrique e Alisson, a disputa no meio-campo equilibrou, mas não foi suficiente para incomodar  a defesa do Atlético Mineiro

Com Henrique e Alisson, a disputa no meio-campo equilibrou, mas não foi suficiente para incomodar a defesa do Atlético Mineiro

Coincidência ou não, o estilo do rival não só lhe favorece como desfavorece o jogo celeste. Com a bola sempre sobrando nos pés dos atleticanos no meio, ela simplesmente não chegava aos pés do quarteto ofensivo, muito porque os atacantes do Atlético Mineiro forçavam o chutão — e por isso ganhava a segunda bola — e também porque o adversário lotava o meio-campo para esperar um passe errado celeste, e dali partir na transição ofensiva rápida.

Era preciso mais intensidade, portanto. Era preciso disputar com o Atlético Mineiro a bola no meio. Também por isso, no intervalo Marcelo colocou Henrique na vaga de Lucas Silva, que já estava na caderneta de advertências e não poderia entrar em disputas mais duras. E portanto, o Cruzeiro saiu um pouco de sua característica de leveza e toque de bola para competir pela posse. O jogo já não ficou tão desequilibrado, e logo no início Ricardo Goulart teve a chance de ouro de mudar a partida, mas Giovanni defendeu.

Quatro contra três

O Atlético Mineiro chegava menos, mas ironicamente começou a finalizar mais, mas sem muito perigo. Chutes bloqueados e defendidos com facilidade por Fábio nos quinze primeiros minutos. Marcelo Oliveira então lançou Alisson na vaga de Borges, numa excelente troca: Goulart foi ser centroavante para brigar no alto com os zagueiros do Atlético Mineiro, quesito no qual se saiu melhor do que Borges, e Alisson entrou de central, circulando por todo o campo e chamando Everton Ribeiro para dentro.

A marcação atleticana, individual, não encaixou no novo esquema e Júnior César ficou sem ter a quem marcar, já que Ribeiro já não ficava por ali. Resultado: o Cruzeiro tinha um homem a mais no setor em que anteriormente estava perdendo a batalha pela posse, e passou a ganhar algumas segundas bolas. Teve mais a bola no pé e equilibrou a partida de vez.

Mas a peleja seguia mais disputada do que jogada, e o ataque celeste não apareceu. Se nada mais acontecesse, dali o jogo seguiria certamente para um empate sem gols. Cuca então lançou Neto Berola na vaga de Alecsandro, invertendo Fernandinho de lado, e logo depois tirou Josué e pôs Leandro Donizete, tentando desequilibrar novamente a batalha no meio-campo. Marcelo respondeu com Dagoberto na vaga de Willian, apagado. Os dois treinadores queriam a vitória.

O Cruzeiro até teve mais a bola nos pés (52 a 48%) mas gastou quase metade de sua posse de bola no terço de defesa, ou seja de sua intermediária para trás - o maior índice até aqui no campeonato

O Cruzeiro até teve mais a bola nos pés (52 a 48%) mas gastou quase metade de sua posse de bola no terço de defesa, ou seja de sua intermediária para trás – o maior índice até aqui no campeonato

De todas as trocas, foi a primeira de Cuca que mais funcionou: Fernandinho, agora pela direita, incomodava bem mais, já que o poder de marcação de Egídio é menor que o de Ceará. O Atlético Mineiro voltou a ter chances, mas com exceção do lance de Luan defendido espetacularmente por Fábio, as outras finalizações não foram tão perigosas.

A ironia do futebol

Ironicamente, o gol que definiu a partida aconteceu em um erro de Alisson, o que tinha equilibrado o jogo: ele tentou cavar uma falta e perdeu a bola, armando o contra-ataque do Atlético com o Cruzeiro saindo para o ataque. Egídio estava muito à frente e obrigou Bruno Rodrigo a sair na cobertura, dando o bote no tempo errado — talvez seu único erro durante toda a partida. Fernandinho chutou uma bela bola e Fábio ainda raspou nela mas não conseguiu desviar o suficiente.

Depois disso, o Atlético Mineiro se encastelou e partiu nos contra-ataques, dificultando muito as ações ofensivas celestes. Com pouco tempo e sem trocas restantes, Marcelo nada pôde fazer a não ser esperar o fim do jogo.

Lições para o futuro

O clássico tem essas coisas, ainda mais agora que existe o mando de campo. O time que não tem mais nada o que fazer no campeonato descansa seus jogadores especificamente para pegar o rival — não duvido que isso tenha sido uma “ordem de cima”. Ao contrário do Cruzeiro, que está disputando o título e mandou seus melhores jogadores para a desgastante partida do meio de semana.

Portanto, o fator físico foi sim muito importante para o desenrolar deste jogo. Mas não há como negar que o modelo de jogo do rival tem seus méritos, principalmente no seu campo. Méritos de Cuca, que achou este modelo há mais de um ano atrás e ainda colhe seus frutos. Ao Cruzeiro fica a lição de que poderia sim ter vencido se tivesse sido minimamente mais aplicado no meio-campo central, minando a principal característica do jogo atleticano. A partir dali, seria mais fácil se movimentar na frente para desorganizar a marcação individual que Cuca pede a seus comandados.

O título ainda está longe de estar em perigo, muito também por causa da incompetência dos perseguidores mais próximos. Entretanto, as duas derrotas ligam o alerta: é preciso voltar a vencer para não dar nenhuma esperança aos milhares de “anti” que espreitam por aí.

Cruzeiro 4 x 1 Atlético/MG – Futebol moderno

Intensidade. Os leitores mais assíduos já devem ter reparado que essa palavra é muito usada por aqui. Naturalmente, o futebol moderno exige intensidade — não confundir com velocidade. Eduardo Cecconi, grande blogueiro tático deste país e atualmente analista de desempenho das categorias de base do Grêmio, recentemente escreveu em um post no seu blog:

“Hoje no futebol, talvez muito mais importante que os sistemas táticos e os principais movimentos sincronizados entre os jogadores esteja a INTENSIDADE. Se houver intensidade de TODOS os jogadores em TODAS as cinco fases da partida que se alternam constantemente (e são elas, repetindo: posse de bola, recomposição defensiva, posse para o adversário, contra-ataque e bola parada) tudo é possível.”

De fato, foi o que o Cruzeiro procurou fazer desde o início da partida contra o Atlético Mineiro, reservas ou não: marcar com intensidade, encurtando espaços, e se movimentar com intensidade quanto tinha a bola. Futebol moderno, que culminou em mais uma goleada em cima do rival e na liderança do certame.

Formações

A intensidade do 4-2-3-1 cruzeirense do primeiro tempo foi o fator mais claro para o domínio do jogo

A intensidade do 4-2-3-1 cruzeirense do primeiro tempo foi o fator mais claro para o domínio do jogo

O Cruzeiro veio a campo no seu 4-2-3-1 de sempre, com Fábio no gol, Mayke e Egídio flanqueando Dedé e Bruno Rodrigo. Mais à frente, Nilton e Souza protegiam a área e se alternavam na ajuda ao trio de meias, formado por Everton Ribeiro na direita, Ricardo Goulart no centro e Luan à esquerda. Na frente, Vinicius Araújo.

Cuca poupou seus titulares, mas mandou o Atlético no mesmo sistema. O goleiro Giovane foi protegido pelos zagueiros Rafael Marques e Lucas Cândido, com Michel na lateral direita e Junior César na esquerda. Gilberto Silva comandou a volância, ajudado por Rosinei que saía um pouco mais para o ataque. A linha de três tinha Luan pela direita, Marcos Rocha no meio e Richarlyson na esquerda, atrás do centro-avante Alecsandro.

De ponta a ponta

Logo nos primeiros minutos já se via qual seria o padrão da partida: o Cruzeiro dominando as ações e tendo muito mais volume de jogo — também conhecido como posse de bola — e o time adversário mais recuado, se defendendo pra sair em contra-ataques. Esta marcação era feita com encaixe individual — não é por setor, é cada um no seu com um na sobra, como no time titular. E por essa razão que foi Richarlyson quem ocasionou a lesão de Mayke no início: o lateral cruzeirense nem estava na sua posição inicial, estava no círculo central, mas Richarlyson, que nesse jogo foi o ponteiro esquerdo e, portanto, o marcador de Mayke, foi atrás do garoto e fez a falta.

Logo após a substituição forçada, Dedé se viu sem cobertura numa despretensiosa cobrança de lateral e deu um bote errado dentro da área. O pênalti convertido assustou um pouco o time, e a intensidade se transformava em pressa por mais vezes do que o necessário. Alguns passes forçados demais, mais longos e errados. Já o Atlético queria proteger a todo custo a vantagem alcançada e se retraiu ainda mais, com Alecsandro recuando até a linha divisória e fazendo um quarteto com os ponteiros e Marcos Rocha, tentando bloquear os passes nos pés dos volantes cruzeirenses.

Passado o susto, o jogo voltou ao seu padrão inicial: Cruzeiro intenso e se movimentando. Com a bola nos pés, Everton Ribeiro e Ricardo Goulart alternavam tentando desorganizar a marcação no meio. Chegou duas vezes, em jogada de Everton Ribeiro para Ceará em velocidade pela direita, cruzando para Vinicius Araújo, e em passe de Egídio para Luan, que deixou passar inteligentemente para Everton Ribeiro emendar, mas em cima de Giovane.

Virada com autoridade

Mas foi com intensidade em outra fase do jogo que saiu o empate. Quando perdia a bola, os jogadores celestes tentavam asfixiar o time adversário, forçando o chutão ou o passe errado. Alecsandro, ajudando na defesa, sofreu a pressão e tentou fazer uma jogada forçada, perdendo a dividida para Egídio. A bola sobrou na frente, Luan e Vinicius Araújo duelaram com Gilberto Silva, com o primeiro ganhando o lance e achando Everton Ribeiro dentro da área. Cercado por três, Ribeiro limpou todos com um toque e mandou no canto.

O gol não só tranquilizou como animou ainda mais o Cruzeiro, que continuou intenso e criando chances: Everton Ribeiro em passe preciso para Vinicius emendar, e depois Souza em cruzamento de Vinicius Araújo. A virada chegou numa cobrança de escanteio de Egídio, que resvalou na defesa e parou em Vinicius Araújo do outro lado. O garoto dominou com tranquilidade e cruzou rasteiro para Ricardo Goulart completar para o fundo do gol. E ainda havia tempo pra mais um lance, em que o Cruzeiro finalizou pelo menos três vezes ao gol, com nove jogadores do time adversário dentro da área — um lance que ilustrou bem a intensidade cruzeirense do primeiro tempo.

Jovens e atropelados

No segundo tempo, Cuca tirou Richarlyson da ponta esquerda e lançou Leleu em seu lugar. Mas a troca que delatou seu esquema defensivo foi a segunda: Jemerson na vaga de Rosinei, com o jovem zagueiro foi jogar no meio-campo, ao lado de Lucas Cândido, que inverteu com Gilberto Silva. Mas a intenção de usar a experiência do pentacampeão mundial na zaga, como Luxemburgo fez com sucesso no Grêmio no ano passado, saiu pela culatra, já que a volância é um dos setores onde se precisa de mais experiência para o combate direto no meio-campo. O ataque celeste simplesmente não tomou conhecimento dos dois jovens volantes, e já aos 7 Nilton aumentaria a vantagem em cobrança de escanteio, novamente, de Egídio, que já havia cruzando na cabeça de Dedé em tiro esquinado anterior.

Vinicius Araújo atrai Gilberto Silva para fora da área e abre espaço para Ricardo Goulart aproveitar ótimo passe de Everton Ribeiro

O lance do quarto gol exemplifica bem estes conceitos todos aqui postos. A marcação individual do Atlético fez com que Gilberto Silva, agora zagueiro, abandonasse a área e viesse acompanhar Vinicius Araújo, que havia recuado para receber um passe mais longo. O garoto dominou com o peito, a bola escapou um pouco, mas Everton Ribeiro vinha chegando e fez um passe de primeira para Ricardo Goulart, que vinha em velocidade exatamente na área que Gilberto Silva havia deixado. Jemerson tentou acompanhar, mas Goulart protegeu bem e tirou de Giovane.

Outras trocas

Muito para a infelicidade da torcida, que gritava “Eu acredito” no Mineirão, em alusão ao épico 6 a 1 de 2011, este gol resolveu a partida e, finalmente, o Cruzeiro respirou. Nem o Atlético se interessou por tentar diminuir a diferença nem o Cruzeiro em aumentá-la, e com os passes de Dedé pra Bruno Rodrigo e vice-versa, vieram os primeiros gritos de “olé”, aos 20 minutos da etapa final — o Cruzeiro terminaria com quase 60% de posse de bola, um número pouco comum em clássicos.

Marcelo Oliveira ainda trocaria Luan por Martinuccio, também ponteiro esquerdo, e Vinicius Araújo pelo estreante Willian, que foi para a direita, mandando Everton Ribeiro para o centro, com Ricardo Goulart se tornando o centro-avante. Cuca também lançou Elder na vaga de Luan, mas sem mudar posições, e nada mais interessante aconteceu na partida. Sinal disso é que o segundo tempo terminou sem acréscimos, aos 45.

Pés no chão

A sequência de 5 vitórias seguidas no Brasileiro e na Copa do Brasil, marcando 16 gols e sofrendo apenas um, sem dúvidas é um fator que anima o cruzeirense a sonhos mais altos nessa temporada. No entanto, mais importante que isso é a consistência tática do time, fruto do trabalho de Marcelo Oliveira. Insistir sempre no mesmo esquema pode tornar a equipe previsível para o adversário, mas a movimentação e intensidade “bagunçam” tudo de novo.

Assim, acredito que o Cruzeiro esteja taticamente bem servido. Entretanto, é preciso testar outros limites deste time, que já fogem ao escopo deste blog: o limite psicológico, o limite físico, a pressão de se brigar pelo título, de manter a liderança, o ambiente no vestiário. O próximo jogo contra um Fluminense em crise será um bom termômetro.

E se o Cruzeiro foi aprovado em todos os testes até agora, não há razão para não crer que não passará por estes outros.

Cruzeiro 2 x 1 Atlético/MG – Com onze contra onze é outra história

O Cruzeiro venceu o seu rival, consolidando os 100% de aproveitamento no Mineirão em 2013 e quase conseguiu uma título histórico sobre o melhor time que o rival teve nos seus últimos anos. Uma partida que serviu para provar que o caneco era sim uma possibilidade bem real, não fosse a expulsão no primeiro jogo — àquela altura o jogo estava 1 x 0 e o Cruzeiro ensaiava uma reação.

O jogo em si foi muito mais decidido em termos de estratégia do que propriamente na parte tática, mas o Cruzeiro soube explorar bem alguns pontos fracos do Atlético Mineiro e venceu merecidamente.

O onze inicial

No 1º tempo, Diego Souza e Everton Ribeiro ocuparam os volantes adversários para dar liberdade a Dagoberto nas costas de Marcos Rocha pela esquerda

No 1º tempo, Diego Souza e Everton Ribeiro ocuparam os volantes adversários para dar liberdade a Dagoberto nas costas de Marcos Rocha pela esquerda

Marcelo Oliveira mandou o 4-2-3-1 usual a campo, com duas mudanças na linha defensiva de Fábio: Paulão na vaga do suspenso Bruno Rodrigo e Egídio promovido à lateral esquerda. Léo e Ceará na direita completaram a defesa. Leandro Guerreiro se plantou na cabeça da área, tendo Nilton a seu lado como suporte. À frente, Diego Souza se movimentava, ajudado por Everton Ribeiro à direita e Dagoberto pela esquerda, no posicionamento mais espetado de costume. Borges foi a referência dentro da área ofensiva.

O Atlético Mineiro de Cuca,  também no 4-2-3-1, veio com a mesma defesa do primeiro jogo, contrariando expectativas pela volta de Leonardo Silva à zaga. O gol de Victor foi mais uma vez defendido por Réver e Gilberto Silva, flanqueados por Marcos Rocha pela direita e Richarlyson pela esquerda. No lugar do suspenso Pierre, Josué fez a dupla volância com Leandro Donizete. E à frente, o quarteto ofensivo costumeiro: Tardelli partindo da direita, Bernard da esquerda, Jô de centro-avante e Ronaldinho na faixa central.

Estratégias

Com grande vantagem no placar agregado, o Atlético Mineiro jogou todo o primeiro tempo se poupando. Talvez já estivessem pensando na partida pela Libertadores, mas não foi a postura “normal” do time rival, aquela que vem arrancando elogios pelo Brasil afora: intensidade e marcação avançada. Um estilo de jogo que se encaixa mais na proposta cruzeirense, de rodar a bola, cadenciar e esperar os momentos certos para acelerar o jogo. Assim, os quatro homens de frente dos visitantes limitaram-se a dar o primeiro combate na linha de meio-campo, tentando pegar um erro de passe do Cruzeiro para encaixar um contra-ataque.

Porém, o Cruzeiro foi paciente, mesmo sabendo que devia fazer três gols e não levar nenhum para ser campeão. Tocou a bola com paciência e aos poucos achou as brechas na marcação atleticana. Mas não sem se arriscar, pois assim é o futebol, e o Atlético Mineiro teve algumas chances em contra-ataques nas costas dos laterais — mais especificamente Egídio, que apoiava com mais intensidade. Do outro lado, Ceará venceu mais uma vez o duelo com Bernard e foi seguro na marcação, apoiando só na boa.

Caminhos do gol

Com os flancos bloqueados, restou ao time rival atacar pelo centro. Mas Ronaldinho se aquietou diante da ótima marcação individual de Leandro Guerreiro — que desta vez se limitou a fazer apenas isso, como na partida inaugural da temporada. Assim, restou a Jô tentar desarrumar a defesa cruzeirense. O grandalhão até que ganhou alguns duelos individuais, mas sempre havia mais cruzeirenses que atleticanos na segunda bola, e assim a principal jogada aérea estava comprometida.

No Cruzeiro foi o inverso. Richarlyson era lateral zagueiro e quase nunca apoiava, mas o ímpeto ofensivo natural de Marcos Rocha abria espaço às suas costas. Dagoberto explorou muito bem este setor, ajudado pela movimentação de Diego Souza e Éverton Ribeiro, que ocupavam os volantes adversários em duelos sem claros vencedores, obrigando Gilberto Silva a fazer a cobertura no um contra um. Assim nasceu o lance do primeiro pênalti. O drible veloz venceu a experiência e o próprio Dagoberto converteu o pênalti sofrido.

A desvantagem no placar não mudou a postura do time visitante, que continuava assistindo a posse paciente do Cruzeiro e tentando partir em velocidade. O lance do segundo pênalti mostra a diferença de atitude: Richarlyson foi tranquilo demais para uma bola que parecia perdida, enquanto Borges foi com sede ao pote, resultando no pênalti convertido que reduziu a vantagem atleticana ao mínimo.

Segundo tempo

Sem alterações, os times voltaram com posturas diferentes. O Atlético Mineiro avançou a marcação e tentou ficar mais com a bola nos pés, e aí o jogo mudou de lado. O time visitante tentou sair pro abafa para marcar logo o gol que praticamente selaria o caneco. Mas o Cruzeiro se defendia bem e só deixou a meta de Fábio ser ameaçada em um chute de Jô na trave. Mas esse estilo de jogo não era suficiente, pois o Cruzeiro precisava de mais um gol e não de se defender, e por isso Marcelo Oliveira mandou Ricardo Goulart na vaga de Diego Souza. Goulart é mais criativo e tentaria passes mais incisivos.

A alteração surtiu algum efeito, já que o jogo ficou mais equilibrado, com uma chance de cada lado: Réver em cabeceio para linda defesa de Fábio e Borges em lance de contra-ataque que Victor defendeu. Logo depois desse lance, ele sairia para Anselmo Ramon, numa tentativa de Marcelo Oliveira de usar o feitiço contra o feiticeiro: bola longa para o pivô disputar de cabeça ou segurar para os companheiros chegarem, afastando o time rival da área defensiva.

Erro fatal

No fim, o Cruzeiro foi para o abafa, muito mais na vontade, mas não superou a linah de 5 defensores do rival

No fim, o Cruzeiro foi para o abafa, muito mais na vontade, mas não superou a linha de 5 defensores do rival

Durante dez minutos, nos quais houve somente trocas diretas — Ceará por Mayke, e no rival, Bernard por Luan, e Jô por Alecsandro — o jogo ficou aberto, com qualquer lado podendo marcar. O Cruzeiro teve chances e ensaiava um domínio quando Egídio, que ironicamente era um dos melhores do jogo, errou um passe e entregou a bola para Luan, que avançou pra cima de Léo. O próprio Egídio dobrou a marcação com o zagueiro e Luan caiu dentro da área. O pênalti inexistente foi marcado, e o gol do rival esfriou o que poderia ser um fim de jogo eletrizante.

A partir daí o Cruzeiro foi pra cima mais na vontade. O Atlético se contentou em segurar o Cruzeiro, sabendo que agora tinha dois gols de vantagem. Na única alteração tática da partida, Cuca mandou Leonardo Silva a campo na vaga de Diego Tardelli, fechando a porta da área num 5-3-1-1 com o recuo dos alas para a linha dos três zagueiros e explorando o contra-ataque, que agora era cedido amplamente pelo Cruzeiro. Marcos Rocha quase faz um golaço assim, mas Fábio salvou.

O Cruzeiro ainda teve algumas finalizações, e Luan ainda seria expulso por falta em Dagoberto, faltando três e acréscimos para terminar, mas se sentou no gramado após o cartão e a confusão que se sucedeu enterrou as esperanças dos gols necessários.

Foi por pouco

A segunda vitória do Cruzeiro sobre o rival no ano foi inconteste e merecida, provando que o time atleticano não está tão à frente como pregam. O título não veio, mas a vitória, com autoridade, mostrou que o Cruzeiro tinha sim time para fazer frente ao tão “badalado” rival também no primeiro jogo. Não há como negar que a expulsão de Bruno Rodrigo foi fator determinante para o placar elástico naquela partida.

Com cinco meses de trabalho, um time ainda em formação conseguiu equilibrar uma decisão praticamente perdida contra uma equipe que joga junto há dois anos. O início de trabalho é excelente. É claro que os jogadores precisam se entrosar ainda mais, tendo em vista que alguns jogadores ainda nem estrearam, como Dedé e o possível volante passador que virá, assim como o próprio Marcelo Oliveira precisa conhecer mais as características de seus jogadores e ter a leitura correta do jogo em situações adversas.

Assim, se o Cruzeiro fosse campeão, não seria nada surpreendente. Apenas serviria para alertar o Brasil todo o que nós, cruzeirenses, já sabemos desde o ínicio da temporada: o bom e velho Cruzeiro está de volta e vai brigar na frente nesta temporada. Por outro lado, o fato de não termos campeonado tenha este único aspecto bom: ninguém vai olhar para nós como favoritos, e todos apostarão suas fichas em outras equipes. Enquanto isso o Cruzeiro vai comendo pelas beiradas, e quando prestarem atenção, já estaremos à frente.

Como bons mineiros.

Atlético/MG 3 x 0 Cruzeiro – Podia ter sido menos pior

Em Superclássicos como o do último fim de semana — no qual os dois times passam por bons momentos tanto nos resultados quanto no futebol mostrado — qualquer pequeno detalhe faz a diferença. E, para azar nosso, estas diferenças foram todas contra nós: a falha de Éverton, a expulsão de Bruno Rodrigo, substituições questionáveis de Marcelo Oliveira e, principalmente, a diferença na postura defensiva de ambos os times.

Talvez o lance que mais ilustre esta última diferença foi o primeiríssimo de todos. Assim que o juiz apitou, os jogadores do Cruzeiro não tocaram na bola imediatamente, esperando a reação dos rivais, que foi invadir o grande círculo atrás da bola, na ânsia de roubá-la o mais rápido possível. Tiveram de voltar, pois a bola ainda não estava em jogo, mas foi uma boa ilustração de como o Cruzeiro queria estudar o adversário em campo, enquanto o Atlético Mineiro queria pressionar o Cruzeiro e aumentar a velocidade do jogo.

Estratégia inicial

O 4-2-3-1 sem graça do Cruzeiro no primeiro tempo. Repare na falta de setas que indicam movimentação.

O 4-2-3-1 sem graça do Cruzeiro no primeiro tempo. Repare na falta de setas que indicam movimentação.

Nenhuma surpresa na escalação e no sistema de ambas as equipes, o 4-2-3-1. Como previsto, os times tiveram estratégias diferentes com a posse de bola: o Cruzeiro tentava cadenciar, tirando a velocidade do jogo, pois a intensidade favorece o estilo de jogo do rival. O Atlético Mineiro, por sua vez, acelerava assim que roubava a bola, pela mesma razão.

Mas, diferente do que este blogueiro imaginou, os esquemas de marcação também eram diferentes. Enquanto o Atlético Mineiro de fato fazia o encaixe individual por função, ou seja, “cada um no seu”, mas com uma sobra atrás — o Cruzeiro não fez o mesmo. Talvez por falta de entrosamento, mas os jogadores relutaram em sair de suas posições iniciais, fazendo uma espécie de marcação zonal meio capenga. Leandro Guerreiro não foi atrás de Ronaldinho por todo o campo, e o camisa 10 adversário passou por todas as quatro posições ofensivas, trocando frequentemente com Jô e Bernard. Isso confundia a marcação celeste, ilustrada no único lance de real perigo nos quinze minutos iniciais: ligação direta para Ronaldinho que, mesmo marcado por Léo e Ceará, conseguiu girar e bater pro gol, encontrando Fábio.

Desvantagem

Foi então que a intensidade que o Atlético Mineiro queria impor surtiu efeito. Éverton, com a bola dominada, foi pressionado imediatamente por Marcos Rocha e Bernard. Ao invés de se livrar da bola, tentou sair jogando e perdeu para o lateral atleticano, que entrou para dentro do campo e deu a Ronaldinho na esquerda, marcado de longe por Ceará. De primeira, ele achou Jô entrando livre entre os dois zagueiros para abrir o placar. Uma jogada de altíssima velocidade, mas que poderia ter sido evitada se os defensores cruzeirenses tivessem reações mais rápidas após a perda da bola. Coisas que certamente virão com mais entrosamento.

Com o controle do placar, a postura do time mandante mudou. Deixou de fazer pressão no campo adversário e ficava esperando o Cruzeiro em seu próprio campo, que, diferentemente das outras partidas, não se movimentava na frente como deveria. Borges ficou muito preso no duelo com Gilberto Silva, mesmo levando vantagem em certos lances; Éverton Ribeiro sumido com a marcação forte imposta por Richarlyson; Diego Souza tentando variar entre o centro e a direita, mas sem sucesso, e Dagoberto isolado do lado esquerdo.

Sem criatividade de trás — coisa que já falamos neste blog antes — o Cruzeiro não ameaçou o gol de Victor e tomava contra-ataques seguidos. Fábio salvou algumas bolas importantes, garantindo a desvantagem mínima até o fim do primeiro tempo.

Pequena melhora e expulsão

Com vários jogadores amarelados, Marcelo Oliveira resolveu mexer no time, mas tinha que escolher os jogadores que sairiam. Fez uma troca direta, com o nervoso Éverton dando lugar a Egídio, e tirou o apagado e amarelado Éverton Ribeiro para lançar Ricardo Goulart, que foi tentar dar mais criatividade à saída de bola. Deu certo por alguns minutos, com o Cruzeiro aparecendo mais no campo do rival, com Egídio fazendo boa jogada pela esquerda.

Porém, quando o Cruzeiro dava sinais de que podia reagir, Bruno Rodrigo levou o segundo amarelo e deixou o time celeste com dez jogadores. O segundo cartão foi inquestionável, mas o primeiro foi bobo — uma disputa aérea impossível de vencer contra Victor na área atleticana. Faltou tranquilidade ao zagueiro que vinha sendo o mais regular do time.

Se com onze contra onze, com o rival em boa fase, já era difícil, com um a menos ficou ainda mais. Assim, a estratégia correta era segurar o adversário num 4-4-1 com as linhas próximas, tentando sair em contra-ataques, principalmente nas costas de Marcos Rocha, o lateral que avançava mais. E o homem perfeito para isso era Dagoberto. Além de jogar naturalmente pelo lado esquerdo, justamente nas costas do lateral atleticano, ele era o único dos três homens de frente titulares com velocidade para recompor a linha defensiva e partir em contra-ataque.

Assim, o sacrificado para a recomposição da zaga com a entrada de Paulão devia ser Borges ou Diego Souza, com preferência pelo primeiro, pois Diego é mais físico e tinha mais condições de disputar bolas aéreas e dar casquinhas para Dagoberto partir no um contra um. Mas Marcelo Oliveira tirou o camisa 11 e deixou dois jogadores lentos à frente. Estranhamente, após a expulsão, o Atlético Mineiro pareceu relaxar. E o Cruzeiro ficou mais com a bola, tentando achar passes no ataque despovoado e sem amplitude. Foi um período infrutífero de posse de bola, exceção feita à bola na trave de Diego Souza em chute de longe. Pelo menos serviu para manter o adversário longe do gol de Fábio.

Com um a menos, o Cruzeiro abriu os corredores para os laterais adversários ao invés de se plantar em duas linhas de quatro

Com um a menos, o Cruzeiro abriu os corredores para os laterais adversários, ao invés de se plantar em duas linhas de quatro

Aos poucos, o rival foi avançando as linhas e empurrando o Cruzeiro pra trás, até retomar o controle da bola. A instrução de Marcelo Oliveira após a substituição era fazer o 4-4-1, mas o time se portou mais numa espécie de 4-2-2-1, pois Diego não foi fechar o lado esquerdo como deveria, abrindo um corredor para os laterais apoiarem sem ter preocupações defensivas. Pela direita, Richarlyson ficou naturalmente mais preso, mas do outro lado Marcos Rocha avançava constantemente, o que teria implicações mais pro fim da partida.

Os outros gols

O segundo gol atleticano começou num escanteio mal cobrado por Ronaldinho. Mesmo assim, o Atlético manteve a posse da bola e rodou até chegar novamente a Ronaldinho, marcado por Egídio mas que não impediu novo cruzamento pra área. Paulão fez o corte e foi atrapalhado por Jô, e Léo, que não é zagueiro rápido, não conseguiu ir atrás de Tardelli para impedi-lo de aproveitar a sobra.

Sem ofensividade, já que àquela altura o Atlético mandava na posse de bola, o Cruzeiro nada mais fez. E o corredor aberto pelo lado esquerdo cobrou o seu preço. O terceiro gol foi de Marcos Rocha, pegando rebote da defesa de Fábio dentro da área, e sem nenhuma marcação por perto.

Cuca fez substituições, mas que não tiveram nenhum impacto tático na partida, e assim foi sacramentada a primeira derrota cruzeirense em 2013.

Dá pra virar?

É claro que é fácil apontar culpados, mas o futebol é um esporte coletivo. Se Léo estava falhando na zaga, se Bruno Rodrigo teve que fazer a falta em Ronaldinho e levar o segundo amarelo, é porque estiveram sobrecarregados, não tiveram ajuda defensiva na frente. Se Éverton perdeu a bola, foi porque não teve socorro ou linhas de passe fáceis após ser pressionado. Então o Cruzeiro inteiro é que foi abaixo, não só alguns jogadores.

Mas o futebol é maravilhoso. Não só porque, mesmo após derrotas como essa, onde se vê o maior rival sendo superior em praticamente todos os quesitos, o torcedor continue amando e torcendo pelo seu time, mas também porque ele já nos provou, inúmeras vezes, como é capaz de produzir resultados que ninguém espera. Um gol a cada trinta minutos não é nada surpreendente para quem já venceu este mesmo time por um placar bem mais elástico e em condições muito mais desfavoráveis — há que se considerar que o treinador e metade dos jogadores do rival estava presente naquele 6 a 1.

Para isso é preciso mudar. Mais do que de peças, mais do que de sistema, é preciso mudar de postura. O Cruzeiro da primeira partida respeitou demais a boa fase do Atlético Mineiro e não foi o Cruzeiro que nos acostumamos a ver neste início de ano — marcando forte, querendo a bola para si e tê-la nos pés. O Atlético jogou o que vem jogando sempre; o Cruzeiro é que não. É claro que eles poderiam vencer mesmo se o Cruzeiro jogasse tudo o que jogou até agora, pois assim é o futebol.

Mas que seria menos pior, seria.