Nacional/MG 2 x 4 Cruzeiro – (Des)confiança

Os três gols de Wellington Paulista e o de Wallyson não podem nem devem mascarar uma atuação regular do Cruzeiro hoje em Divinópolis, contra o Nacional de Nova Serrana.

O 4-3-1-2 celeste do primeiro tempo, com Roger mal passando da linha de meio-campo

O Cruzeiro veio a campo com o costumeiro 4-3-1-2 losango com Roger recuado e responsável pela saída de bola, e Anselmo Ramon mais dentro da área adversário que Wellington Paulista. O Nacional veio no mesmo esquema, um 4-3-1-2 losango montado por Emerson Ávila, com Alex Maranhão articulando para Reinaldo Alagoano e Marcinho.

Porém, apesar de estarem no mesmo desenho, havia duas diferenças: a qualidade dos volantes “natos” e, principalmente, o posicionamento de Roger. Desta vez, o meia se posicionou como um volante clássico, uma mudança fundamental em relação ao jogo contra o Tupi. Sem a bola, Roger fechava o lado direito do losango, por vezes ajudando Marcos na marcação. Com a posse, ele centralizava e recuava ainda mais, frequentemente buscando a bola atrás de Leandro Guerreiro, que teoricamente seria o homem mais plantado do meio-campo. Esporadicamente, Roger subia para articular com Montillo e Guerreiro cobria, mas o meia passou a maior parte do tempo tentando criar de trás, e Guerreiro era quem subia mais frequentemente para ajudar o trabalho ofensivo, juntamente com Marcelo Oliveira.

Mesmo assim, o trabalho de criação mais uma vez não foi bom. Com Roger posicionado desta forma, o Cruzeiro consegue sair melhor para o jogo, mas peca no momento em que precisa jogar mais incisivamente, perto da área adversária. Montillo ora jogava muito enfiado – fazendo com que os volantes fossem responsáveis pela articulação – ora abria pelos lados, dificultando sua característica de jogo, que driblar em velocidade com a bola. Tanto que as melhores chances eram criadas quando o Cruzeiro retomava a posse e partia rapidamente, quando o argentino tinha espaço para correr e dois alvos à frente. A jogada do primeiro gol ilustra isto: um passe de Montillo – mais longe da área e correndo em direção a ela – para Anselmo Ramon, que trabalho de pivô e devolveu para o meia pela esquerda do ataque. O cruzamento foi desviado pelo goleiro, mas WP aproveitou a incrível falha do zagueiro e chutou em ótima posição para vencer Douglas.

O desequilíbrio entre os dois lados do time celeste ainda persiste. Na direita, Marcos mais uma vez fez uma boa partida, apoiando bem e fazendo cruzamentos certeiros, como no segundo gol. Já Diego Renan, cada vez com menos confiança por conta da perseguição da torcida, ficou muito tímido e apoiava pouco, mas fez uma boa partida defensivamente, ajudado por Marcelo Oliveira.

Com os flancos fechados, restou ao Nacional duas opções: entrar tocando ou ligação direta. A primeira era difícil de executar, pois Alex Maranhão foi bem marcado e a criação ficava por conta dos volantes do Nacional, que não são jogadores criativos. Na única vez em que conseguiu se desvencilhar, o meia colocou Reinaldo Alagoano cara a cara com Fábio, que salvou com o pé. Ademais, o time de Nova Serrana se limitou a bolas longas da defesa para o ataque, tentando pegar a defesa azul desprevenida.

Apesar de nenhuma alteração ter sido feita no intervalo, a equipe mandante avançou suas linhas para forçar o Cruzeiro a errar mais passes, além de impor velocidade na recuperação da bola. E deu certo: a defesa azul, jogando alto, tentou deixar o ataque do Nacional impedido, mas Leo deu condições e Éder finalizou um passe em profundidade para empatar. Depois disso, o Nacional ameaçou várias vezes, sempre em passes verticais que desmontavam a zaga cruzeirense. Algo estava errado e os jogadores sabiam, tanto que todos os 11 fizeram uma conferência durante um atendimento a um jogador adversário para tentar resolver a situação.

Em vão. Roger, apagado no segundo tempo (como no jogo anterior contra o Tupi) saiu para a entrada de Rudnei. O time celeste voltava ao 4-3-1-2 ortodoxo, com três volantes de ofício, mas Rudnei deu mais energia e avançava mais que Roger. O jogo ficou mais aberto, com os times procurando mais atacar do que se defender, até que numa blitz de bolas aéreas, a defesa se perdeu – é possível ver três jogadores do Cruzeiro avançando para cima do jogador da sobra, que cruzou para o zagueiro Alessandro Lopes matar a bola no peito, praticamente sozinho dentro da área, e mandar no ângulo de Fábio.

Formação após as alterações, com WP como homem de referência e M. Oliveira como lateral esquerdo fixo

Com a virada, o time da casa recuou e deu campo para o adversário. Mancini pôs Wallyson para jogar pelos flancos na vaga de Diego Renan, com Marcelo Oliveira indo fazer a esquerda, transformando um time num 4-2-1-3. Assim, WP pôde ficar mais dentro da área para jogar como centroavante de referência – posição em que fez dois gols consecutivos e iguais, em cruzamentos da direita de Marcos e Montillo, e que fizeram o Cruzeiro retomar as rédeas do jogo. Novamente atrás no placar, Emerson Ávila lançou o meia-atacante Dudu no lugar do lateral-direito Afonso, tentando criar uma ameaça para o improvisado e já amarelado Marcelo Oliveira, mas Mancini respondeu colocando Everton no lugar de Anselmo Ramon, reequilibrando o setor esquerdo. Ávila ainda tentou pressionar colocando o atacante Juninho Frizzi no lugar do volante Éber, efetivamente transformando o time num 4-2-4, mas uma bola rebatida para longe por Leo e aparentemente perdida foi recuperada por Montillo, sozinho no campo adversário, que acabou sofrendo o pênalti que sacramentou a vitória azul com a conversão de Wallyson.

Em suma, uma vitória construída primeiro pelo talento de Montillo – que deu dois passes pra gol e sofreu o pênalti – e depois pela entrada de Wallyson, que resultou em WP se posicionando dentro da área. Mas, novamente, vale ressaltar a fragilidade do adversário. O ataque foi eficiente mas não foi de encher os olhos: estamos muito presos a bolas aéres pelos flancos. É preciso construir mais jogadas terrestres e linhas de passe. Contra times mais técnicos ou mais experientes, o Cruzeiro terá dificuldades se continuar jogando assim. Já a defesa apresentou novamente ter problemas quando joga contra times que tentam impor velocidade, e não pode ficar tão perdida como ficou nos gols do Nacional. Como o próprio Vágner Mancini disse em entrevista após o jogo, a defesa é um setor que tem que passar confiança. Mas, como bons mineiros, tem muito torcedor por aí (eu inclusive) desconfiado com ela.