Santos 0 x 1 Cruzeiro – O resultado é mais importante que o futebol

Fica até chato para o leitor eu ficar repetindo sempre a mesma coisa quando o Constelações fica sem atualizações por um período. Por isso, hoje vou dar uma justificativa diferente. Como sabem, não sou jornalista e não tenho pretensão de ser, porque não quero nem tentar ser imparcial. Eu sou torcedor, e só tenho olhos para o meu time. Só vejo outras equipes quando elas estão no mesmo gramado que o Cruzeiro.

Acontece que sou um torcedor que é empolgado com análise tática. É a razão de ser do Constelações: um blog de tática com foco exclusivo no Cruzeiro. E para as análises saírem com uma qualidade minimamente razoável, é preciso ter um pouco de cabeça fria e calma para observar os movimentos dos jogadores. Porém, a emoção que as partidas celestes tem proporcionado neste fim de campeonato dificulta muito esse aspecto.

Portanto, além de ter pouco tempo para escrever as análises e não ganhar nada com isso, preferi não escrever textos sobre jogos em que a torcida pela vitória celeste prejudicou as observações em campo. Qualidade é melhor do que quantidade, é o que dizem.

Isto posto, voltemos à programação normal.

Onze inicial

No 1º tempo, os dois times no 4-2-3-1: Cruzeiro sem intensidade e se movimentando pouco, e Santos levando vantagem com Robinho puxando a marcação para as infiltrações de Gabriel

No 1º tempo, os dois times no 4-2-3-1: Cruzeiro sem intensidade e se movimentando pouco, e Santos levando vantagem com Robinho puxando a marcação para as infiltrações de Gabriel

Mesmo após desgastantes jogos contra o próprio Santos, Criciúma, Atlético/MG e Botafogo, Marcelo Oliveira não tem alternativas senão escalar o que tinha de melhor. Porém, resolveu poupar Henrique e Lucas Silva, que começaram no banco. Assim, o 4-2-3-1 celeste teve Fábio no gol; Ceará na lateral direita, Manoel e Bruno Rodrigo na zaga e Samudio na esquerda. Nilton foi o escolhido para a parceria com Lucas Silva, no suporte a Willian na direita, Ricardo Goulart por dentro e Marquinhos à esquerda, com Marcelo Moreno na referência do ataque.

Enderson Moreira escalou o Santos da mesma forma que no jogo de volta pela semifinal da Copa do Brasil: um 4-2-3-1 com Robinho na referência móvel do ataque. O goleiro Aranha teve sua desfalcada linha defensiva composta por Cicinho à direita e o jovem Caju à esquerda, com Neto e Bruno Uvini na zaga central. Sem Arouca, Renato foi o volante mais adiantado à frente de Alison, dando suporte à criação centralizada de Lucas Lima. E saindo das pontas para ocupar o espaço deixado por Robinho, Gabriel e Rildo.

Só uma das quatro

Se você lê o blog, sabe que o jogo celeste é baseado inteiramente em intensidade nas quatro fases do jogo: a posse de bola, a recomposição defensiva, a posse do adversário e a transição ofensiva, mais conhecida como contra-ataque. Porém, o que houve no primeiro tempo foi que o Cruzeiro simplesmente não aplicou a intensidade que lhe é característica em nenhuma dessas fases.

Quando tinha a bola, o Cruzeiro não se movimentava muito, e com isso não embaralhava a marcação postada do Santos de forma a explorar os espaços eventualmente abertos. Assim, tentava passes mais difíceis que o habitual e cedia a bola com facilidade. Nesse momento, o Santos sempre tentava sair com velocidade, principalmente com Robinho vindo buscar o primeiro passe, puxando a marcação de um dos zagueiros. O camisa 7 se livrava facilmente da pressão e encaixava o passe para a infiltração dos ponteiros Gabriel e Rildo. Ceará até que conseguiu impedir Rildo pela direita, mas Gabriel levou muita vantagem sobre Samudio, e o paraguaio teve dificuldades.

Foi assim que nasceu o lance mais perigoso do primeiro tempo: Robinho recebeu na linha do meio-campo, arrastando Bruno Rodrigo consigo, girou e deu o passe profundo para Gabriel, que foi exatamente para o espaço que Robinho deveria estar, ficando cara a cara com Fábio. Mas nosso goleiro cresceu pra cima do garoto, fechando o ângulo sem cair na primeira, dando o tempo necessário para Manoel se recuperar e atrapalhar a finalização.

Somente na fase defensiva o Cruzeiro tinha algum equilíbrio, porque apesar da movimentação do Santos ser maior, o Cruzeiro abriu tantos espaços ao time paulista. E quando roubava a bola, a velocidade da transição não era suficiente para pegar a defesa adversária desmontada. O resultado foi claro: apesar da ligeira superioridade do time da casa, nenhum chute foi na direção do gol na primeira etapa.

Mesmo com o leve domínio do Santos, todas as tentativas de gol no primeiro tempo foram pra fora ou bloqueadas pela defesa: goleiros sem tanto trabalho

Mesmo com o leve domínio do Santos, todas as tentativas de gol no primeiro tempo foram pra fora ou bloqueadas pela defesa: goleiros sem tanto trabalho

Segundo tempo

Já no intervalo, Marcelo cobrou duramente os jogadores, como revelado após a partida. Mas além disso, tirou Lucas Silva, mal na marcação de Renato no primeiro tempo, e lançou mão de Henrique. O sistema não se alterou, mas a ocupação dos espaços e a pegada no meio-campo sim. Com pernas frescas, já sem tanto sol e com o time do Santos também já mais cansado, Henrique tomou conta do setor central e reequilibrou o jogo para o Cruzeiro.

E bastaram 7 minutos para que a diferença entre os dois times aparecesse, em linda jogada de muita inteligência tática do sistema ofensivo celeste. Goulart viu Moreno recuar puxar a marcação e fazer a parede, dando oportunidade para a tabela e ao mesmo tempo abrindo espaço para Willian no centro da área. O bigode foi até lá e recebeu o segundo passe de Goulart, que fez a volta na marcação para receber de volta e chutar de canhota fora do alcance de Aranha.

A vantagem no placar fez o Cruzeiro melhorar ainda mais no jogo. Isso porque o desgaste da temporada não é apenas físico e também mental, e a vantagem no placar dá uma tranquilidade, aliviando a pressão pelo resultado.

Trocas

No fim, Cruzeiro se postou num 4-1-4-1 para proteger o resultado, mas nem havia tanta necessidade; Santos teve problemas de marcação do lado esquerdo e Éverton Ribeiro aproveitou

No fim, Cruzeiro se postou num 4-1-4-1 para proteger o resultado, mas nem havia tanta necessidade; Santos teve problemas de marcação do lado esquerdo e Éverton Ribeiro aproveitou

Pouco depois do gol, Enderson pôs Thiago Ribeiro no lugar de Rildo. A tentativa era de dar mais contundência ao ataque, mas o problema estava em outro lugar do campo e o tiro saiu pela culatra: Thiago não fazia tão bem o trabalho de recomposição pela esquerda e expôs o garoto Caju às investidas de Willian. Tentou corrigir colocando outro jovem, Zeca, na vaga de Caju, mas o problema continuou.

Marcelo Oliveira, observando a vantagem no setor, aproveitou para poupar Willian e lançar Éverton Ribeiro na sua posição característica, partindo do lado direito. E o camisa 17 aproveitou o espaço, dando ótimos passes. Enderson deu uma última cartada com Jorge Eduardo no lugar de Gabriel, mas o substituto nada produziu. Marcelo então protegeu o resultado com Willian Farias no lugar de Goulart, formando o 4-1-4-1 usado no fim dos jogos para tal fim. O volante ainda teria a chance de matar o jogo após receber passe magistral de Éverton Ribeiro, de calcanhar, ficando no mano contra Aranha, mas mandou o chute no travessão.

Jogo atípico, resultado excelente

Não foi um jogo normal do Cruzeiro. Afinal, neste fim de temporada, é difícil manter o ritmo intenso durante as partidas que encantou o Brasil no primeiro turno do Brasileirão. Porém, aqui o mais importante era o resultado. Isso pode parecer incoerente com o que eu disse quando do empate com o Botafogo no primeiro turno, por exemplo (o título dessa coluna é o inverso daquela). Mas naquele tempo ainda havia muitos jogos e, a longo prazo, jogar bem significava um número maior de vitórias. Agora, não há mais longo prazo: o fim da temporada está logo ali. Os resultados, nesse momento, são mais importantes.

Melhor que tenha sido assim, portanto: uma vitória sem ter que aplicar a intensidade necessária para furar as retrancas do Mineirão. De certa forma, até se pode dizer que o Cruzeiro venceu sem se desgastar tanto.

Isso aumenta um pouco as chances de fazer mais um bom resultado no difícil confronto com o Grêmio em Porto Alegre. O time gaúcho vem ganhando confiança e será um adversário duríssimo. Porém, o estilo de jogo do Grêmio pode favorecer o Cruzeiro, já que eles preferem marcar forte e sair para o jogo em velocidade pelas pontas, e dificilmente vão tomar a iniciativa do jogo e botar pressão ofensiva. Assim, a chance de um empate sem gols é grande.

Se tudo der certo, estarei no Mineirão no domingo para ver o Cruzeiro erguer o caneco. Fé!

Cruzeiro 1 x 0 Santos – Retomadas

Voltar a vencer após uma sequência ruim de resultados foi importante. Não sofrer gols em casa na Copa do Brasil, ainda mais. Mas o primordial foi retomar o velho estilo, ainda que por pouco tempo, para mandar um recado a todos os outros times do país, para a própria torcida a para si mesmo: o Cruzeiro ainda sabe ser Cruzeiro, e deve ser temido.

O desgaste físico é inegável, mas enquanto teve pernas, o Cruzeiro foi infinitamente superior ao Santos, tanto com a bola quanto sem ela, e construiu o resultado nesse período. Depois, quando foi obrigado a “descansar”, controlou o jogo, perdeu o controle e o retomou novamente, e ainda foi prejudicado pela arbitragem — elementos que certamente veremos nas últimas partidas do ano.

Escretes

As duas equipes entraram no 4-2-3-1; Cruzeiro muito mais intenso, com movimentação do quarteto ofensivo e Mayke sem ser perseguido por Robinho

As duas equipes entraram no 4-2-3-1; Cruzeiro muito mais intenso, com movimentação do quarteto ofensivo e Mayke sem ser perseguido por Robinho

Marcelo Oliveira mandou o costumeiro 4-2-3-1 a campo, mesmo sem ter Marcelo Moreno 100% fisicamente. Júlio Baptista foi o escolhido para ficar à frente do trio de meias, formado por Éverton Ribeiro à direita, Ricardo Goulart centralizado e Willian à esquerda. No suporte, a dupla dinâmica Henrique e Lucas Silva, e protegendo o goleiro Fábio, a última linha tinha Mayke à direita, Egídio à esquerda, e Dedé e Léo no miolo.

O Santos de Enderson Moreira também entrou num 4-2-3-1. O goleiro Aranha teve Cicinho na lateral direita, Edu Dracena e David Braz pelo meio e Mena aberto à esquerda. Mais à frente, Alisson ficava mais plantado liberando Arouca, que se juntava ao trio formado por Rildo à direita, Lucas Lima como central e Robinho pelo lado esquerdo, com Gabriel sendo o homem mais avançado.

Cruzeiro sendo Cruzeiro

O temor era que Júlio Baptista, sem ritmo, quebrasse um pouco a intensidade que o Cruzeiro sempre aplica no início das partidas, mas isso não aconteceu (muito). A movimentação e troca de posições que Willian, Ribeiro e Goulart impunham desorganizava a marcação santista, com o maior exemplo sendo o lance do gol. Naquele momento, Willian estava à direita, Ribeiro estava do outro lado e Júlio era o meia central, com Goulart sendo o centroavante. Tudo invertido.

A bola saiu da esquerda para Júlio, e de Júlio foi a Willian, totalmente livre do lado direito. O bigode chutou, a bola voltou e em um lance técnico maravilhoso, bateu com o lado do pé esquerdo, que não é o bom, aplicando uma curva de fora pra dentro que saiu totalmente do alcance de Aranha e fazendo a bola bater na bochecha da rede. Golaço.

Ponteiros x laterais

Além da movimentação ofensiva, havia outro fato que causava o grande domínio de posse de bola e territorial do Cruzeiro: a passagem dos laterais. Se pelo lado esquerdo Rildo tentava voltar com Egídio até a própria linha de fundo — e mesmo assim perdendo o duelo, do outro lado Robinho não fazia o mesmo com Mayke. Mena teve problemas em lidar com o jovem lateral e o ponteiro que caía por ali.

No meio do primeiro tempo, Enderson inverteu os lados para fazer Robinho ficar em Egídio e Rildo acompanhar Mayke, uma medida que teve um certo sucesso — mas num período do jogo em que o Cruzeiro já não estava mais tão intenso, como explicado nos parágrafos abaixo.

Pressão alta

Além disso, o Cruzeiro não era intenso só na movimentação ofensiva. Quando o ataque não se completava, o Cruzeiro sufocava a saída do Santos, sem deixar os jogadores respirarem. Lucas Silva e Henrique marcavam na intermediária de ataque; o ponteiro do lado da bola e o meia central faziam pressão no homem da bola e o ponteiro oposto fechava para o centro para recuperar um possível rebote, e o centroavante fechava as linhas de passe para os zagueiros e goleiros. Uma coordenação de time bem treinado, e que gerou muitas roubadas de bola já no campo de ataque.

Esse é o estilo deste Cruzeiro. Porém, toda essa intensidade vem sendo usada há dois anos. Nenhum time consegue aplicar essa velocidade defensiva e ofensiva durante os 90 minutos, que dirá durante duas temporadas inteiras. E agora, no fim da temporada, os jogadores estão cansando e naturalmente tendo que dosar. Após o gol, o time começou a preferir esperar o Santos já a partir da linha de meio-campo.

Mas não tive certeza quanto ao motivo: seria cansaço ou estratégia, uma vez que o placar era favorável? Ou ainda, seria o Santos que conseguiu concatenar mais passes? As duas primeiras opções me parecem mais prováveis, e foi assim que acabou o primeiro tempo: com o Cruzeiro “descansando” com a bola e às vezes sem ela, mas controlando o jogo. Fábio sequer sujou o uniforme.

Após o intervalo

Diferente do que alguns analistas da mídia disseram, o segundo tempo começou igual ao primeiro. Nada havia mudado: a vantagem no placar permitia ao Cruzeiro se posicionar mais pragmaticamente, fechando os espaços em seu próprio campo. Isso obrigava os zagueiros do Santos a trocarem passes entre si, sem encaixar uma bola mais aguda. E mesmo quando isso acontecia, o recebedor do passe imediatamente recebia pressão e era obrigado a voltar a bola para a última linha.

Numa dessas ocasiões, Willian subiu o bote em David Braz e roubou a bola, partindo num contra-ataque de três contra dois. Edu Dracena correu de costas até a grande área, e quando parou para dar o bote, Willian passou a Júlio na esquerda. O meia bateu para rebote de Aranha que Goulart completou para as redes. Mas o gol, bem construído, foi mal anulado pelo bandeira, que deu impedimento de Júlio no primeiro lance.

Perigo de gol

O segundo gol sem dúvida teria um impacto psicológico e na estratégia de ambos os times. O Cruzeiro passaria a proteger o resultado com mais calma, e o Santos tentaria se expor um pouco mais para tentar marcar ao menos um gol fora de casa, devido à abominável regra do gol qualificado. O gol anulado manteve as coisas como estavam, o que acabou sendo pior para o Cruzeiro no decorrer do segundo tempo.

Já sem muito vigor físico, o Cruzeiro começou a ceder espaços importantes no meio-campo ofensivo. Arouca começou a se sentir à vontade para se juntar à construção, e não era marcado por nenhum dos meias celeste. Além disso, Lucas Lima começou a voltar para pegar a bola nos pés dos zagueiros — um movimento que Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart repetem constantemente no Cruzeiro — e também não era perseguido. Com liberdade, o meia começou a encaixar passes nas costas dos laterais para os ponteiros, que geraram lances muito perigosos. Só não aconteceu o gol porque os jogadores santistas finalizaram muito mal.

Trocas

Com o Cruzeiro já cansado e mais espaçado em campo, Lucas Lima e Arouca tentaram aproveitar os buracos da marcação, mas a entrada de Damião travou o time, e a partir daí o Cruzeiro controlou melhor a posse com Goulart mais fixo na faixa central tendo Moreno à sua frente

Com o Cruzeiro já cansado e mais espaçado em campo, Lucas Lima e Arouca tentaram aproveitar os buracos da marcação, mas a entrada de Damião travou o time, e a partir daí o Cruzeiro controlou melhor a posse com Goulart mais fixo na faixa central tendo Moreno à sua frente

Marcelo foi obrigado a lançar Dagoberto na vaga de Willian, que havia sofrido uma fratura na costela ainda no primeiro tempo e continuou jogando por mais um tempo. Dagoberto entrou inicialmente pelo lado direito, invertido com Éverton Ribeiro, mas logo isso se desfez. Já Enderson Moreira trocou o opaco Gabriel por Serginho. Com isso, Robinho passou ao centro do ataque e Serginho passou ao lado esquerdo.

O jogo não mudou muito, com o Santos ainda com mais posse de bola. Visando uma melhor recomposição e também numa tentativa de colocar sangue novo na sua equipe, Marcelo Oliveira colocou Marlone na vaga de Éverton Ribeiro. Dessa vez, Marlone jogou na sua posição “original”, que é o lado do campo. Se ofensivamente não contribuiu para equilibrar a posse de bola, taticamente foi importante para fechar os espaços a Mena pelo lado esquerdo.

Centroavantes

Por fim, Júlio Baptista, ainda sem ritmo, não aguentou os 90 minutos e Marcelo Moreno entrou em seu lugar. Mais fixo à frente, Moreno fazia com que Ricardo Goulart ficasse mais fixo como meia central, passando a organizar melhor o ataque celeste. Enderson respondeu com Jorge Eduardo na vaga do Rildo e também com Leandro Damião na vaga de Robinho, mas as trocas não deram certo, pois Damião travou o time e facilitou a marcação da defesa celeste.

As duas coisas somadas — Goulart fixo como meia central e Damião fixo como centroavante — acabaram por reequilibrar a posse de bola e a disputa no meio-campo. Com ambas as equipes cansadas e taticamente iguais, a melhor técnica dos jogadores celestes começou a aparecer e o Cruzeiro ainda criaria boas chances de aumentar, principalmente em cruzamentos de Mayke pela direita, mas o placar permaneceu inalterado.

Chover no molhado

O jogo foi importante para reafirmar, não só para todo o Brasil como também para si mesmo, que o Cruzeiro ainda é o melhor time do país. E foi isso o que Marcelo Oliveira e seus comandados buscaram na primeira meia hora de jogo: amassando o Santos, o Cruzeiro foi muito superior e teve azar nas finalizações. Mas o fim de temporada cobrou seu preço, e já no primeiro tempo o Cruzeiro teve que dosar o ritmo.

E é isso que devemos esperar para todos os jogos até o fim do ano. Dificilmente o Cruzeiro jogará com a intensidade que lhe é característica durante mais de 30 minutos por jogo, e em alguns casos não vai fazer isso em nenhum momento das partidas. Em 2014, o Cruzeiro já fez 3 partidas a mais que em 2013, e não há como negar que isso tem um impacto.

Sim, todos os outros times também estão desgastados, mas o estilo de jogo que o Cruzeiro prefere usar faz com que os jogadores se desgastem mais. Então é seguro concluir que isso afeta mais ao Cruzeiro que a outros times. No entanto, agora é a hora de se superar. Apesar do desgaste, falta pouco agora. Longas viagens sempre cansam, mas quando se está perto do destino, sabendo que falta tão pouco, um ânimo surge do nada para que demos um último gás e completemos a jornada.

Dez jogos, talvez menos, para dois títulos. Seguiremos confiantes como nunca.

Goiás 1 x 2 Cruzeiro – Sem referência

O título acima havia nascido na cabeça deste que vos escreve já na metade do primeiro tempo, pois sintetiza bem o que foi a partida entre Goiás e Cruzeiro no Serra Dourada — atualmente o maior campo do Brasil. Lesionados, os atletas que jogam na referência — jargão do futebol que é sinônimo da posição de centroavante, ou target man no inglês — ficaram de fora. No Cruzeiro, Borges foi vetado pouco antes da partida, e no Goiás já se sabia que Walter dificilmente iria para o jogo — muito mais prejuízo, já que é referência para todo o time e não só para o ataque.

A falta de referência, porém, não estava somente na posição de centroavante, como veremos a seguir.

Formações iniciais

Goulart não foi bem como centroavante e assim o Cruzeiro ficou ficou sem referência tanto no ataque como no meio

Goulart não foi bem como centroavante e assim o Cruzeiro ficou ficou sem referência tanto no ataque como no meio

Marcelo Oliveira escolheu o jovem Alisson para a vaga de Borges, avançando Ricardo Goulart para jogar entre os zagueiros. Com isso, o posicionamento de partida dos três meias também foi modificado — Éverton Ribeiro passou a ser o central, Alisson entrou caindo mais pela esquerda e Willian trocou de lado. O resto do time foi o mesmo que iniciou a última partida, com Fábio no gol, Ceará e Egídio nas laterais direita e esquerda, respectivamente, e Dedé e Bruno Rodrigo na zaga central. Nilton e Lucas Silva mais uma vez fizeram uma boa dupla volância, com o primeiro mais preso que o segundo.

Enderson Moreira armou o Goiás num 4-3-3/4-1-4-1 para encaixar a marcação no meio-campo com o Cruzeiro: um apoiador em cada volante e dois homens abertos para bater com os laterais. A linha defensiva que protegia o gol de Renan tinha Vítor à direita, Walmir Lucas e Rodrigo na zaga e William Matheus na lateral esquerda. David foi o volante, tendo Hugo e Thiago Mendes mais à frente, com Ramon pela direita e Renan Oliveira pela esquerda. Na frente, Neto Baiano.

Respeito

Logo no começo da transmissão do jogo, a TV captou a tradicional reunião no túnel de acesso do Goiás ao gramado. Um dos jogadores falava em não pensar em empate, mas sim em vitória. Irõnico, pois o simples fato de ter que se dizer isso já indica que o empate era considerado um bom resultado. É o efeito da liderança inconteste.

E foi por isso que o Goiás se limitou a esperar o Cruzeiro e marcar forte nos minutos iniciais. Marcou em bloco médio/baixo, com Neto Baiano no círculo central olhando Dedé e Bruno Rodrigo tocarem a bola um para o outro. Se a jogada ia para os pés de Ceará, Renan Oliveira pressionava, e se fosse em Egídio, Ramon subia a marcação. O resto do time se postou num marcação individual por setor: laterais batendo com ponteiros, o volante David com o central, e os zagueiros contra Ricardo Goulart.

O central

Para sair dessa forte marcação, era preciso muita mobilidade. Na teoria, a entrada de Ricardo Goulart na vaga de Borges era exatamente pra isso — se o camisa 31 não é centroavante nato, ele se movimenta mais, saindo da área para inverter posições com os ponteiros e o central. Mas Goulart não fez isso, preferindo se limitar a jogar enfiado entre os zagueiros. E com a adição de Alisson, a linha de três não estava tão entrosada, tanto mais com Éverton Ribeiro por dentro. Assim, o time ficou também sem uma referência no meio-campo central, alguém para se movimentar, receber a bola e distribuir de volta: exatamente o papel que Ricardo Goulart faz.

O resultado direto foi que o Cruzeiro não criou pelo chão e tentava a ligação direta. Porém, Goulart dificilmente é o jogador certo para este tipo de jogo, a famosa disputa de 1ª e 2ª bola. Os zagueiros goianos ganhavam quase tudo. Sem ser agredido como esperava, o Goiás foi se soltando aos poucos e foi avançando o time, sem descuidar de seu esquema de marcação. Mesmo assim, não incomodou muito a meta de Fábio, exceção feita ao chute de Hugo pra fora após roubar uma bola na pressão alta.

Mas o Goiás achou seu gol numa falha de marcação de Egídio (veja imagem abaixo), e com a vantagem voltou ao modo inicial da partida — a meta era dificultar ao máximo as ações ofensivas celestes. Se o discurso do túnel de acesso serve de parâmetro, um vitória simples sobre o líder era um excelente resultado. Porém, a defesa goiana não contava com um passe maravilhoso do garoto Alisson. Tentando deixar Goulart em impedimento, se esqueceu de Willian, que desviou de Renan e empatou.

Fim do experimento

No intervalo, Marcelo Oliveira desfez a tentativa. Recuou Goulart e colocou os três meias nas posições “originais” — Ribeiro na direita, Goulart por dentro e Willian na esquerda — tirando Alisson da partida e lançando Anselmo Ramon. Normalmente seria Vinícius Araújo o escolhido, mas o jovem da base não foi relacionado por estar em vias de servir a seleção sub-20. A ideia era conseguir fazer o tal jogo de primeira e segunda bola, com retenção de posse no ataque, e ainda contar com o entrosamento dos três meias para dominar a posse de bola no meio.

Somente o segundo item funcionou. Com Goulart como central, a diferença no fluxo de passes era visível. Anselmo, porém, destoou do time e não venceu nenhum duelo aéreo, servindo apenas para ocupar os zagueiros do Goiás. Foram os quinze minutos de maior domínio do Cruzeiro na partida, até que Marcelo Oliveira tirou Goulart da partida e mandou Dagoberto. No Goiás, Neto Baiano saiu para a entrada de Júnior Viçosa, mais veloz, mas mantendo o sistema tático.

O período de maior produção ofensiva foi justamente quando Ricardo Goulart estava como central, entre as duas primeiras trocas do Cruzeiro

O período de maior produção ofensiva foi justamente quando Ricardo Goulart estava como central, entre a primeira e a segunda troca

Erro ou acerto?

Difícil dizer que a troca foi um erro após o resultado conhecido, mas no momento não me pareceu a melhor escolha. Dagoberto ainda está voltando de lesão, pegando o ritmo, e notadamente não tem a mesma aplicação defensiva que os outros ponteiros celestes. Além disso, o Cruzeiro novamente ficou sem sua referência de passe no meio-campo, com Éverton Ribeiro voltando a ser o central para dar espaço a Dagoberto na direita. Willian continuou pelo lado esquerdo.

O Goiás passou a dominar a posse de bola novamente e chegou com perigo algumas vezes. Enderson Moreira sentiu que podia vencer e colocou Tartá na ponta direita na vaga de Ramon, para pressionar Egídio. No Cruzeiro, Ceará sentiu cansaço ou lesão, e deixou o gramado para a entrada de Mayke — uma troca que é aparentemente seis por meia dúzia, mas quem acompanha o blog sabe que não é bem assim. Mayke é mais ofensivo e veloz, enquanto Ceará dá mais segurança na marcação.

Virada de líder

No fim, o Goiás se soltou num 4-2-4/4-2-3-1 mas deu campo para o Cruzeiro contra-atacar com Dagoberto e quase matar a partida

No fim, o Goiás se soltou num 4-2-4/4-2-3-1 mas deu campo para o Cruzeiro contra-atacar com Dagoberto e quase matar a partida

Ter queimado a regra três logo aos 25 do segundo tempo acabou por ser determinante, porque três minutos após a substituição, Lucas Silva virou a bola para Dagoberto na direita. Mayke passou como um raio em direção à linha de fundo e foi acionado. Levantou a cabeça e achou Willian na marca do pênalti, fazendo o famoso “facão” da esquerda pra dentro e virando o placar.

Depois do gol, Enderson Moreira tentou abriu totalmente o time num misto de 4-2-3-1 e 4-2-4 super ofensivo com Araújo na vaga de Hugo, recuando levemente Viçosa para o meio. Incomodou, é verdade, mas correu o risco de dar o contra-ataque para o time celeste, que desperdiçou duas oportunidades. Mas Fábio e a trave nos deram a sexta vitória seguida e a manutenção da vantagem na liderança.

Até quando se erra, se acerta

Ousadamente, manterei a minha opinião: a saída de Goulart foi um erro. A entrada de Dagoberto pode ter sido boa, mas a saída de Ricardo diminuiu consideravelmente o domínio territorial no meio-campo, e correu-se risco demais de sofrer um gol por causa disso.

Entretanto, mesmo com este equívoco, o Cruzeiro venceu. E não foi num erro do adversário, mas sim mérito: jogada construída, com passes conscientes, movimentação e excelência técnica. Além disso, contou com uma pitada de sorte nas duas bolas na trave que levou, e ainda com uma grande defesa de Fábio quando o jogo ainda estava em 1 a 1 — nosso capitão foi praticamente um espectador nas últimas partidas, mas provou que quando acionado é um dos melhores do Brasil. Ou seja, todos os ingredientes de um time campeão: elenco variado, qualidade técnica, time entrosado, confiança e sorte.

É aquela história: quando a fase é boa, tudo dá certo.

Cruzeiro 5 x 0 Goiás – Erros e acertos

Com dois gols de Nilton, que somado aos de Bruno Rodrigo e Diego Souza somam quatro em jogadas de bola parada, o Cruzeiro goleou o Goiás na estreia do Brasileirão e já contabiliza uma rodada na liderança.

Muitos disseram que o Goiás errou muito, e por isso o resultado. Os erros na marcação contribuíram, mas não há como negar o mérito cruzeirense em provocar estes erros: os escanteios não aconteceram porque o Goiás errou, mas sim porque o Cruzeiro atacou com qualidade. Não fosse uma ótima atuação do goleiro Harlei, o placar poderia ser ainda maior.

Escretes iniciais

O 4-2-3-1 costumeiro, mas com Egídio e Dagoberto se alternando como quarto homem de meio e Borges fugindo da zaga goiana

O 4-2-3-1 costumeiro, mas com Egídio e Dagoberto se alternando como quarto homem de meio e Borges fugindo da zaga goiana

Marcelo Oliveira parece ter se decidido num time titular e repetiu a escalação da partida contra o Resende: Fábio; Ceará, Dedé, Bruno Rodrigo e Egídio; Leandro Guerreiro e Nilton; Everton Ribeiro, Diego Souza e Dagoberto; Borges. O mesmo 4-2-3-1 usual, que você leitor, já está acostumado a ver por aqui.

Foi difícil precisar o sistema tático do Goiás. O goleiro Harlei teve uma linha de quatro na defesa: Vítor na lateral, Ernando e Valmir Lucas no miolo e William Mateus na esquerda. À frente da defesa, Amaral fazia a proteção. Na frente Walter atuava centralizado, tendo o suporte de Araújo pela esquerda e Renan Oliveira partindo da direita e se movimentando. Na recomposição, Renan Oliveira fechava o lado direito e Hugo ficava centralizado, formando uma linha de três. A dúvida ficou por conta do posicionamento de Thiago Mendes. Então é provável que fosse um 4-2-3-1, ou no máximo um 4-1-4-1 desconjuntado, com o camisa 8 do time goiano mais recuado que o normal.

O sistema foi difícil de identificar o meio-campo do Goiás praticamente não participou do jogo. O time visitante optava pela ligação direta com Walter, que não conseguiu vencer nenhum duelo contra Dedé e Bruno Rodrigo, muito seguros. Araújo foi bem marcado por Ceará e nada fez, e Renan Oliveira, que em teoria era o principal articulador, pouco tocou na bola ante a forte marcação de Leandro Guerreiro.

Forte lado esquerdo

Quando o Cruzeiro tinha a bola, vários foram os fatores para que a meia cancha esmeraldina ficasse perdida na marcação. Os três meias fizeram as trocas de posição habituais, e os ponteiros do Goiás não acompanhavam as descidas dos laterais celestes: nem Araújo voltava com Ceará, nem Renan Oliveira ou Hugo desciam com Egídio.

O mais interessante, entretanto, foi um padrão que já havia acontecido no fim do jogo contra o Resende: as rotas de Egídio. O lateral esquerdo tem frequentemente procurado o centro enquanto Dagoberto dá amplitude pela esquerda, num movimento “inverso” ao que fazem Everton Ribeiro e Ceará na direita. Assim ele conseguiu ficar sozinho para arriscar a primeira finalização do jogo, e assim ele deu a assistência para o gol de Borges, o terceiro do Cruzeiro.

Mas o camisa 6 não deixa de fazer a ultrapassagem quando Dagoberto tenta cortar pra dentro para usar a sua melhor perna, a direita. Essa variação confundiu totalmente o lateral direito Vitor, que ficou sobrecarregado na marcação e não foi ao apoio uma única vez.

Foi daquele lado que veio a falta que originou o primeiro gol. Diego Souza aproveitou a lambança da zaga do Goiás pra fazer o primeiro gol celeste no Brasileirão. Erro do adversário, sim, mas mérito de Diego que ali estava no lugar certo. É possível notar que Diego pára de ir em direção ao gol, enquanto a defesa goiana continua correndo pra trás.

Borges

Também foi do lado esquerdo que saiu a jogada que originou o escanteio do segundo gol. Dagoberto recebe, procura o centro e aciona Borges. O camisa 9 quase sempre vencia os zagueiros do Goiás no giro quando duelava no um contra um. A finalização saiu forte, mas Harlei espalmou. Na cobrança do tiro esquinado, Bruno Rodrigo ganhou pelo alto e aumentou a contagem.

Borges também saía da área e fugia da marcação dos zagueiros goianos. Em contra-ataque puxado por Nilton, ele vinha correndo pelo lado esquerdo, longe do alcance de Ernando e Valmir Lucas. Como é de sua característica, assim que chegou perto o suficiente, mandou a bomba, para mais uma vez Harlei espalmar para escanteio. Desta vez foi Nilton quem apareceu para completar a cobrança de escanteio e fazer o terceiro.

O quarto gol foi tanto um prêmio pela boa movimentação de Borges quanto uma boa ilustração dos dois conceitos aqui expostos: Dagoberto e Egídio tabelam pela esquerda, com o lateral correndo para o centro e destruindo a marcação goiana. Borges fugiu de seu marcador e apareceu livre para receber o passe. A defesa ficou pedindo um impedimento que não existiu e Borges fuzilou. Desta vez Harlei não conseguiu espalmar para escanteio.

Entrando com a garotada

O intervalo veio com o jogo já definido. Mas Enderson Moreira ainda tinha esperança de diminuir o prejuízo e tirou Hugo, inoperante no meio-campo, para a entrada do meia Ramon. Era uma tentativa de dar um pouco mais de posse de bola e criatividade no meio-campo, para evitar as ligações diretas. A grande vantagem que o Cruzeiro tinha no placar fez com a equipe naturalmente tirasse o pé, e com isso a alteração surtiu algum efeito, no sentido de que o Cruzeiro parou de jogar na intensidade que vinha jogando e o Goiás tinha mais a bola, mas sem ter chances reais.

Mas o Cruzeiro chegava facilmente quando acelerava, pelos mesmos atalhos do primeiro tempo. E foi cozinhando o jogo dessa forma. Fábio era um espectador privilegiado, praticamente não sujou o uniforme. Marcelo Oliveira, porém, queria mais, e com o jogo controlado, lançou os garotos para tentar reacender o time: Élber entrou na vaga de Diego Souza e Lucca na de Everton Ribeiro. No início Élber foi ser ponteiro esquerdo e Lucca o direito, ao contrário do esperado, mas poucos minutos depois inverteram. Com isso Dagoberto passou a ser o meia central, uma posição diferente da que está acostumado.

No Goiás, os leves e rápidos Júnior Viçosa e Eduardo Sasha entraram nas vagas dos pesados Araújo e Walter — neste último caso, literalmente. O ataque do Goiás passou a se movimentar mais, e Eduardo Sasha chegou a finalizar duas vezes à direita de Fábio. Se Enderson Moreira tivesse começado com eles, talvez os zagueiros do Cruzeiro teriam mais problemas.

A última alteração foi a entrada de Ricardo Goulart na vaga de Dagoberto, completando a troca da linha de três meias. À exceção do gol de Nilton, em mais um cabeceio de escanteio, nada de mais importante aconteceu no jogo.

Erros e acertos

É claro que os erros de marcação do Goiás, principalmente nas bolas paradas, contribuíram para o resultado. Mas estamos vendo por aí favoritos ao título jogando contra times que também erram muito, e no entanto o placar não foi tão elástico, ou sequer favorável. O Cruzeiro só fez o que todo time em busca do título deve fazer: aproveitar destes erros sem dó nem piedade. Além disso, o outro time só erra quando o adversário causa as situações para o erro.

Assim, podemos dizer que, se o Goiás errou muito, o Cruzeiro acertou muito. Tanto tecnicamente (vitórias em disputas pessoas, por exemplo) como taticamente (a movimentação ofensiva que anulou a retaguarda goiana). Neste aspecto, aliás, Marcelo parece ter arrumado uma solução para o volante ofensivo que o Cruzeiro não tem, e que este blog vem levantando há algumas partidas. Ao invés de escalar um volante com chegada e perder o poder de marcação no meio, este papel pode ser exercido alternadamente por Everton Ribeiro ou Egídio, quando centralizam, ou Dedé, quando vai à frente.

Esses movimentos mostram que o encaixe do time está vindo bem mais rápido que o esperado. Estamos no caminho certo.