O tamanho dos gramados do Brasileirão 2012

Certamente os leitores fantasma deste blog já devem ter ouvido Celso Roth falar que o Independência é um “campo rápido”. Ele diz isso por causa das dimensões do gramado, que teoricamente são “reduzidas”, e que fariam o jogo ser mais veloz no sentido de que qualquer chutão chega na área adversária facilmente, que por sua vez favoreceria times de menor qualidade técnica, que recorrem ao contra-ataque.

Na última quarta-feira, o discurso contrário pôde ser ouvido: o Serra Dourada, por ser um campo grande, faz o jogo ficar lento, difícil de correr, dando à partida um ritmo cadenciado de posse de bola. Engraçado, porque o Cruzeiro fez exatamente o oposto. Talvez tenha se acostumado a jogar no Independência, mas mesmo que não faça tanta diferença tecnicamente, a postura de treinadores e jogadores tem sido diferentes de acordo com os tamanhos dos campos, como o contrastante exemplo dos jogos contra os dois Atléticos, um no Independência e o outro no Serra Dourada, o que influi diretamente na estratégia da equipe em uma determinada partida — e portanto na parte tática.

Das 20 17 regras do futebol, definidas pela FIFA, a que define o campo de jogo é a Regra 1, que diz que o campo deve ter entre 90 e 120 metros de comprimento, e entre 45 e 90 metros de largura (ou seja, é possível termos um campo quadrado, de 90 m x 90 m, mas isso é uma outra história). Em competições internacionais, a variação é mais restrita, e o comprimento fica entre 100 e 110 m e a largura entre 64 e 75 m. Ainda, na Copa do Mundo, os gramados devem ter a dimensão fixa de 105 x 68 m.

Acredite se quiser, estes campos são válidos para partidas não oficiais: 120 x 45 m (esq) e 90 x 90 m (dir). A grande área o círculo central estão em escala.

Para saber mais, o Constelações foi buscar as dimensões dos gramados dos principais estádios do Brasileirão 2012. Os dados vieram depois de extensas pesquisas na Internet:

Estádio Comprimento (m) Largura (m)
Aflitos (Náutico) 105 70
Arena Barueri (Palmeiras) 107 70
Beira-Rio (Internacional) 108 72
Canindé (Portuguesa) 103,4 70,5
Couto Pereira (Coritiba) 109 72
Engenhão (Flamengo, Fluminense e Botafogo) 105 68
Ilha do Retiro (Sport) 105 78
Independência (Cruzeiro e Atlético/MG) 105 68
Moisés Lucarelli (Ponte Preta) 107 70
Morumbi (São Paulo) 108,25 72,7
Olímpico (Grêmio) 105 68
Orlando Scarpelli (Figueirense) 105 70
Pacaembu (Corinthians) 105 68
Pituaçu (Bahia) 110 68
São Januário (Vasco) 110 70
Serra Dourada (Atlético/GO) 110 75
Vila Belmiro (Santos) 105,8 70,3

Análise

Isto posto, vamos colocar a tabela acima em forma de gráfico para vermos as diferenças:

 

Relação entre comprimento e largura dos principais palcos do Brasileirão 2012

Quanto mais à direita um ponto, mais comprido é o campo, e quanto mais para a esquerda, mais curto. De maneira análoga, quanto mais pra cima, mais largo, quanto mais pra baixo, mais estreito. A linha azul no gráfico representa a “proporção média” entre comprimento e largura de todos os campos analisados, ou seja, à medida que se aumenta o comprimento, aumenta-se a largura proporcionalmente.

Análise

Olhando o gráfico, dois pontos chamam a atenção de cara: a Ilha do Retiro, o campo mais largo do Brasileirão, com impressionantes 78 m. São dez metros a mais que o Independência, ou seja, cinco metros de cada lado. Para se ter uma ideia, uma quadra de vôlei tem seis metros de largura, ou seja, é um espaço onde cabem três jogadores lado a lado e com conforto.

O outro campo que se destaca é o Serra Dourada. O campo do Atlético/GO possui as dimensões máximas para partidas internacionais, sendo o maior do Brasileirão 2012. Além de ser o segundo mais largo de todos, é o mais comprido, ao lado de São Januário e Pituaçu, com 110 metros de comprimento.

Pituaçu, aliás, é um caso estranho. É um dos mais compridos, mas ao mesmo tempo é um dos mais estreitos, juntamente com outros 4 estádios: Independência, Engenhão, Olímpico e Pacaembu.

O Canindé é o campo mais curto. São apenas 103,4 metros de comprimento — quase 7 em relação aos mais compridos.

Além disso, nada menos do que sete equipes mandam seus jogos em gramados que possuem as medidas “oficiais”: Flamengo, Fluminense e Botafogo (Engenhão), Cruzeiro e Atlético/MG (Independência), Grêmio (Olímpico) e Corinthians (Pacaembu). Ainda, se considerarmos uma tolerância de um metro para cada lado em cada dimensão, podemos incluir neste bolo o Canindé, Aflitos e Orlando Scarpelli, a Vila Belmiro e a Arena Barueri e Moisés Lucarelli, todos com até um metro a mais (ou menos) em cada lado do campo. Com isso, o número de times mandantes em campos “rápidos” sobe para 13, fazendo com que nada menos do que 65% do campeonato se desenrole neste tipo de gramado.

Diferenças entre as dimensões de alguns dos campos do Brasileirão 2012. As áreas penais e o círculo central estão em escala.

Conclusão

É claro que haverá defensores dos campos grandes. Basta saber que os antigos Maracanã e Mineirão, ambos templos do futebol brasileiro e mundial, possuíam campos de 110 x 75, as mesmas dimensões do Serra Dourada atual. Portanto, podemos considerar que os brasileiros gostam de futebol de posse, com jogo ritmado, sem a correria e os chutões que os campos menores proporcionam. Basta olhar  o gráfico e ver que a maioria dos campos do Brasil é igual ou maior que o “padrão FIFA” de 105 x 68 — dimensões que fazem com que o jogo fique mais brigado, e como só o Barcelona é o Barcelona, nenhuma outra equipe consegue manter a posse de bola por longos períodos em campos com essas medidas.

Entretanto, isso pode gerar um problema a longo prazo. Mesmo considerando que a maioria dos jogadores da Seleção Brasileira joga fora do Brasil, em gramados europeus, os jogadores daqui que forem convocados poderão ter mais dificuldade em se adaptar aos gramados de uma eventual Copa do Mundo que disputarem. Até mesmo jogadores que fizerem sucesso por aqui e forem vendidos para o exterior poderão ter dificuldades. Em uma pesquisa rápida, a maioria dos grandes estádios do futebol mundial estão nas medidas FIFA:

  • Old Trafford (Manchester United)
  • Emirates Stadium (Arsenal)
  • Stanford Bridge (Chelsea)
  • Camp Nou (Barcelona)
  • Santiago Bernabéu (Real Madrid)
  • Allianz Arena (Bayern de Munique)
  • San Siro (Internazionale e Milan)
  • Olimpico di Roma (Roma e Lazio)
  • Bombonera (Boca Juniors)
  • Monumental de Núñez (River Plate)

Particularmente, gosto de campos grandes que proporcionam um futebol mais vistoso com equipes que possuem jogadores técnicos. Infelizmente não é o caso do nosso Cruzeiro atual. Além disso, jogos disputados mais na física e na correria do que na técnica sempre serão vistos com desconfiança por este blogueiro. Aparentemente, porém, é o destino cruzeirense jogar em campos com as medidas “oficiais” — o Mineirão terá suas dimensões mantidas após a Copa do Mundo. Além disso, a tendência é que cada vez mais estádios adotem essas medidas ao longo do tempo. Assim, a adaptação é mais que necessária.

Só nos resta torcer para que, a médio prazo, tenhamos um time técnico o suficiente para conseguir ter longos períodos de posse e objetividade para controlar o jogo, como — porque não — o Barcelona atual.