Cruzeiro 2 x 1 América/MG – Gol de treinador também vale

Sem perder nem o controle do jogo nem a cabeça, o Cruzeiro passou com louvor no seu teste mais difícil na temporada, ontem na Arena do Jacaré, com gols de Anselmo Ramon e Vágner Mancini (Walter). Alessandro descontou para o América.

Cruzeiro no 4-3-3 anunciado, com Wallyson invertendo constantemente de lado com WP nas parcerias pelos flancos com os laterais e Montillo

O Cruzeiro foi a campo no 4-3-3 anunciado durante a semana, o mesmo esquema dos últimos jogos. Um movimento acertado, já que a equipe vem dando boas respostas com esta formação. Já o América veio num 4-2-2-2, tendo Fábio Jr. e Alessandro à frente de Luciano e Kaio na articulação.

No embate dos dois esquemas, vários duelos naturais se formaram. Anselmo Ramon batia de frente com os dois zagueiros americanos; Wallyson e Wellington Paulista seguravam os laterais adversários, que mal participavam do jogo; Montillo tentava (e conseguia) fugir da marcação dos dois volantes; Leandro Guerreiro e Marcelo Oliveira se encarregavam dos meias de criação e Fábio Jr. e Alessandro duelavam com a zaga azul. Os laterais cruzeirenses ficavam mais livres, e ajudavam os zagueiros.

O resultado é que, sem a bola, o Cruzeiro se defendia muito bem, tendo sempre um homem a mais na defesa – até mesmo quando um dos laterais do América avançava, deixando os atacantes azuis às suas costas. Assim, os dois volantes adversários (que não são jogadores criativos) ficavam procurando companheiros para passar a bola e não achavam, frequentemente tentando jogadas infrutíferas. O América só ameaçava quando o Cruzeiro errava no bote, e perdia o homem a mais. Em um desses lances, Léo tentou tirar de cabeça uma cobrança de lateral e não alcançou a bola, que sobrou para Luciano, pelo lado esquerdo. O meia ainda driblou Marcelo Oliveira, que foi cobrir, e concluiu para Fábio defender.

Ofensivamente, o Cruzeiro se aproveitou das saídas rápidas pelos lados, nas costas dos laterais americanos, com as excelentes parcerias que têm se formado neste esquema com três atacantes. Duplas e até trios se agrupam constantemente pelos flancos, sufocando a marcação adversária. Do lado esquerdo, Diego Renan tem sempre a opção de passar para o atacante que abre – Wallyson reveza com Wellington Paulista – ou para Montillo um pouco mais centralizado, e também pode ir para a diagonal para concluir. Do outro lado, Marcos tem as mesmas opções, e todos eles podem fazer uma tabelinha de pivô com Anselmo Ramon. Foi assim no lance em que Diego Renan concluiu de fora da área, e na tabelinha Montillo/WP (que desta vez estava na referência) para a linda conclusão de Montillo no ângulo, ambos os lances defendidos por Neneca.

WP não fechou a linha e Luciano recebeu livre nas costas dos volantes para sofrer a falta que originou o gol

O Cruzeiro tinha mais posse e o América não conseguia criar, pois Luciano e Kaio eram bem vigiados por Leandro Guerreiro e Marcelo Oliveira. O gol americano saiu numa tentativa mal executada de exercer marcação sob pressão. Como manda o figurino neste tipo de situação, os volantes azuis se encontravam bem avançados, empurrando os adversários para trás. Mas WP não fechou a linha de passe do volante do América, que achou Luciano livre atrás da dupla. De repente, o camisa 10 deles estava de frente pro gol com dois companheiros como possíveis alvos de passe. O Cruzeiro tinha 4 defensores: Diego Renan marcava Fábio Jr. e Marcos segurava Alessandro, com Léo na cobertura. Victorino, que estava “sobrando”, deu um passo à frente e retardou o ataque de Luciano, mas foi driblado, e Marcelo Oliveira, que teve de correr para trás para chegar no lance, acabou cometendo falta. A falta originou o gol num lance em que Victorino errou a linha de impedimento e deu condições a Alessandro.

Diferentemente do ano passado, quando o Cruzeiro tomava gols jogando melhor e se descontrolava emocionalmente, o time manteve a postura e continuou fazendo sua proposta. O time americano ganhou confiança com a vantagem no placar e tentou passar mais a bola, cozinhar mais o jogo, mas o time celeste continuou fechando os espaços e atacando com ainda mais veemência. Porém, pecava no último passe, oferecendo o contra-ataque. Os dois laterais azuis foram amarelados em lances desse tipo, e o segundo gol do América quase veio em outro. O erro de Luciano foi ter dado um drible a mais quando tinha condição de finalizar. Há que se destacar a recuperação da defesa justamente neste tempo “a mais” que o drible de Luciano proporcionou. Quando Fábio Júnior concluiu, já havia quatro defensores na área.

O dois a zero não teria refletido o que foi o primeiro tempo, injustiça que frequentemente acontece no futebol. Mas, pelo menos desta vez, o esporte foi justo: o empate chegou numa jogada de Wallyson, que recebeu a bola num duelo um contra um pelo lado esquerdo. Ele venceu Rodrigo Heffner na velocidade e cruzou para Anselmo Ramon marcar um gol típico de centro-avante, dominando de costas para a meta na pequena área e girando em cima do marcador.

O segundo tempo começou como terminou o primeiro: Cruzeiro em cima, com muita posse, e América sem criatividade, já que Luciano e Kaio continuavam bem marcados. O técnico Givanildo, vendo que nada mudaria, tirou Luciano e colocou o volante China, repaginando o América num 4-3-1-2 losango. A intenção era dupla: sufocar Montillo fazendo um 3 contra 1, e dar mais opções para a saída de bola americana quando a posse voltasse. Até que deu semi-certo: o ritmo cruzeirense diminuiu e partida ficou mais morna. O América conseguiu equilibrar as ações e teve algumas chances em bolas paradas.

Vágner Mancini tirou WP, amarelado infantilmente, e lançou Walter, mantendo o esquema. A situação do jogo não mudou, inclusive com o América tendo um gol anulado com justiça. O treinador celeste, então, lançou Élber no lugar de Anselmo Ramon, fazendo um 4-2-2-2, que virava um 4-2-3-1 com Wallyson recompondo. Agora eram dois (três) meias contra três volantes, e o jogo voltou ao que era antes: Cruzeiro com mais posse e América sem opções de criatividade, já que o jovem Kaio ficou encaixotado no meio do experientes volantes cruzeirenses. Na primeira bola do garoto Élber, uma enfiada digna de trequartista para Walter, que correu nas costas do zagueiro. Ele bateu de primeira, cruzado, e Neneca não conseguiu repelir. Gol do treinador do Cruzeiro.

A árvore de natal azul (4-3-2-1) após as alterações, Everton na proteção a Diego Renan contra Kaká e Montillo e Élber suprindo Walter

Givanildo, agora atrás no placar, tratou imediatamente de agir e mandou o atacante Adeilson no lugar do volante Moisés. Os esquemas agora estavam invertidos em relação ao início do jogo. Porém, o quarteto ofensivo cruzeirense, agora mais móvel do que nunca, continuava infernizando a zaga do América e criando chances. O técnico do América então lançou sua última cartada, sacando Alessandro, atacante mais central, e colocando o veloz Kaká (não aquele) para jogar nas costas de Wallyson pela direita do ataque, confrontando diretamente com Diego Renan. O jogador ofereceu bastante perigo por aquele lado, conseguindo inclusive uma jogada em que driblou o camisa 6 cruzeirense e centrou para Fábio Jr. mandar para fora. Mancini não tardou a responder com Everton no lugar de Wallyson, fechando o lado esquerdo na árvore de natal (4-3-2-1). Kaká deixou de ser uma ameaça e o Cruzeiro tocou a bola até o fim do jogo.

O técnico Vágner Mancini disse, após o fim do jogo, que foi o teste mais difícil do Cruzeiro na temporada. De fato: sair atrás no placar, manter o controle emocional e virar a partida com autoridade fazem deste jogo a melhor apresentação azul no ano (ainda melhor que as goleadas). No entanto, Mancini também disse que ninguém ainda está no ápice. Ou seja, na visão do treinador celeste, ainda há muito o que melhorar. E realmente há: é preciso ser menos afobado no último passe, tocar a bola com mais paciência – por mais que Montillo seja um jogador incisivo, que pega e parte. E defensivamente, melhorar o entrosamento da dupla de volantes e não pecar tanto em botes errados, pois podem ser fatais contra times mais técnicos.

Não chega a empolgar. Mas já dá uma esperança.

Caldense 0 x 5 Cruzeiro – O laboratório ideal

Com a tarefa facilitada pela boba expulsão do atacante Max ainda no primeiro tempo, o Cruzeiro não precisou fazer força para golear a Caldense hoje em Poços de Caldas. Uma clara demonstração de que o time pode se adaptar a diferentes formações dependendo das situações de jogo encontradas.

No primeiro tempo, Cruzeiro no 4-3-3 com Anselmo Ramon na referência e atacantes abertos recompondo para formar um meio-campo com 5 homens

O Cruzeiro veio a campo com o mesmo 4-3-3 que começou as últimas duas partidas, porém com Anselmo Ramon na referência e Marcelo Oliveira na parceria com Leandro Guerreiro. A Caldense veio num tradicional 4-3-1-2, tendo Fábio Neves na articulação atrás dos atacantes Max e Luisinho.

A Caldense começou com tudo, pressionando o Cruzeiro no alto do campo, que teve que ceder a posse em alguns momentos. Porém, o Cruzeiro devolveu na mesma moeda, e em pouco tempo a bola passou a ficar mais tempo em pés azuis do que verdes. A defesa jogava avançada, para tentar empurrar o adversário em seu próprio campo, e com isso a Caldense chegou a ter algumas oportunidades de contra-ataque com o rápido Luisinho, mas sem sucesso.

Ofensivamente, o Cruzeiro tinha mais posse, mas não conseguia passar pela bem montada defesa da Caldense. O primeiro volante Mário era o responsável por marcar Montillo, mas quando o argentino saía da zona central, ele não ia atrás, a marcação mudava de jogador e a estrutura defensiva com 9 homens atrás da bola se mantinha. Assim, o time azul optou por jogadas mais agudas, de menos probabilidade de sucesso, mesmo tendo maior posse de bola. Quando perdia a posse, deixava de pressionar, numa tentativa de atrair um pouco mais a defesa da Caldense para si e jogar em velocidade.

Não foi bem assim que saiu o primeiro gol, mas a falta cobrada rapidamente por Montillo, deixando WP cara a cara com Glaysson e originando o pênalti – convertido pelo próprio atacante – ilustram a proposta de jogo dos visitantes. Atrás no placar, a Caldense tentou sair um pouco mais, avançando seus volantes e laterais, mas isso deixou espaços cruciais atrás destes últimos. E os atacantes abertos trataram de explorar este espaço: logo no minuto seguinte ao gol, Wallyson recebeu, livre, uma inversão em diagonal, numa jogada muito parecida com o segundo gol de Montillo contra o Villa Nova, e cruzou rasteiro, mas nenhum atacante aproveitou. Cinco minutos depois, foi a vez de WP emendar um cruzamento de primeira, mas para fora, também naquele setor.

A expulsão do atacante Max ainda no primeiro tempo só facilitou um jogo que já estava totalmente controlado. A Caldense não mudou o esquema, mantendo somente Luisinho à frente. Se o camisa 11 voltasse para recompor o meio, os volantes azuis tinham todo o tempo do mundo para conectar-se às variadas opções not ataque. Mas se Luisinho ficava à frente, o Cruzeiro tinha um homem a mais no meio, e assim o jogo passou a ser ataque contra defesa. Os visitantes ganhavam todas as segundas bolas, e os zagueiros Victorino e Thiago Carvalho quase não tinham trabalho.

O segundo gol veio após um escanteio cabeceado por Anselmo Ramon e defendido à queima-roupa por Glaysson. A sobra, como esperado, ficou com o lateral Marcos, que achou Montillo no meio e correu para a área, no “contra-fluxo” da defesa adversária. Marcos recebeu a devolução do argentino na medida para dar um tapa de primeira e achar três cruzeirenses livres. A defesa da Caldense acusava impedimento enquanto Victorino comemorava seu primeiro gol com a (nova e lindíssima) camisa cruzeirense.

O primeiro tempo terminou na mesma toada, com WP recebendo passe dentro da área de uma posição aberta, mas desta vez nenhum companheiro estava dentro da área.

O técnico Ademir Fonseca ainda tentou arriscar no intervalo, tirando seu principal articulador, Fábio Neves, e lançando um novo parceiro de ataque para Luisinho, Félix, mudando para um ousado 4-3-2. Mas os planos do treinador da Caldense foram por água abaixo quando Leandrão errou um passe em seu próprio campo e WP aproveitou, avançando com seus dois companheiros de ataque contra dois zagueiros apenas. A conclusão plástica de Anselmo Ramon para o cruzamento de WP resolveu o jogo, e o Cruzeiro passou a administrar. Fonseca fez mais duas alterações, mas trocando seis por meia dúzia em termos táticos, ao invés de fechar seu time e tentar evitar mais gols.

Sem necessidade de correr atrás, o Cruzeiro deixava a Caldense com a bola, sabendo que tinha todos os espaços controlados, esperando o erro do adversário. E num desses erros, o quarteto ofensivo funcionou mais uma vez. WP, aberto pela esquerda, avançou com a bola, vendo Montillo disparar para receber pelo flanco da área. Lançado, o camisa 10 passou com a facilidade que lhe é característica pelo seu marcador e cruzou na cabeça de Wallyson, livre na pequena área.

O 4-2-4 ultra-ofensivo no fim do jogo, com intenso revezamento dos homens de frente e zagueiros adiantados

O quarto gol fez Mancini abrir seu laboratório. Primeiro, tirou Leandro Guerreiro, de característica mais defensiva, para lançar Amaral, um volante que sai mais para o jogo. Marcelo Oliveira passou a ficar mais tempo recuado, e o 4-3-3 se manteve, mas mais ofensivo, algo como um 4-1-2-3. Depois, Diego Renan deu lugar ao garoto Élber, que entrou na articulação central. Marcelo Oliveira foi para a lateral esquerda e Montillo virou atacante, transformando o Cruzeiro numa espécie de 4-2-4 ultra ofensivo. O sexteto ofensivo promoveu uma intensa movimentação, se revezando nas quatro posições frontais constantemente. Além disso, Everton ainda entrou no lugar de Marcelo Oliveira na esquerda, para dar ainda mais ofensividade ao time azul.

Nesse momento, talvez a melhor descrição para a formação seja provavelmente um 2-4-4, pois o domínio era tal que não havia necessidade de os laterais recomporem a última linha de defesa. Nos últimos lances da partida, era comum ver Victorino e Thiago Carvalho além da linha do meio-campo, sem a companhia de Marcos e Everton, que avançavam para combinar aos atacantes abertos. Anselmo Ramon nem teve que saltar para cabecear o quinto gol em centro de Amaral, tal era a fragilidade do sistema defensivo do time de Poços.

Ao fim do jogo, Vágner Mancini disse na entrevista coletiva que o Cruzeiro ainda não jogou contra um adversário à altura. De fato, o resultado não pode empolgar. Contra times mais experientes, nas fases finais da Copa do Brasil e no Brasileiro, o Cruzeiro não terá tanta facilidade. Mas também disse que “o trabalho é feito para finais de campeonato”. Portanto, os jogos contra times menores – leia-se, primeira fase do Campeonato Mineiro e fases iniciais da Copa do Brasil – são o campo de experiências ideal para se chegar às grandes competições com o time formado. E um time formado é aquele que consegue jogar em diferentes esquemas táticos e diferentes situações de jogo.

Vágner Mancini vai, aos poucos, controlando as variáveis e obtendo resultados. Experimentando variações com calma, sem pressa, como um cientista. Quem sabe, no futuro, tenhamos uma máquina engenhosa. De fazer gols.

Cruzeiro 2 x 0 Villa Nova – Quando o craque tem espaço

Montillo se aproveitou das raras vezes em que teve alguma liberdade para dar a sexta vitória seguida ao Cruzeiro contra o Villa Nova hoje em Sete Lagoas.

Cruzeiro no 4-3-3 com Walter de centroavante e Anselmo Ramon aberto pela esquerda, variando para o 4-2-3-1 na fase defensiva

Vágner Mancini optou por uma formação ofensiva, com Everton e Wallyson substituindo o suspenso Marcelo Oliveira e o lesionado Roger, efetivamente compondo um 4-3-3, com Walter de centro-avante e Anselmo Ramon aberto pela esquerda. Já o Villa Nova veio a Sete Lagoas num 3-5-2 clássico, com Francismar na articulação central e os laterais-alas Alex Santos e Zé Rodolfo bem avançados, como é característico do esquema.

Nos primeiros 10 minutos, o Cruzeiro teve total domínio de posse de bola, mas claramente sentiu a falta de Roger na intermediária defensiva para qualificar a saída. Os passes eram lentos e o Villa Nova tinha bastante tempo para encurtar os espaços e se fechar atrás com 9 homens. Nas poucas vezes em que os mandantes arriscavam, as decisões de passe não eram boas e o time perdia a posse de bola. A pressão no alto do campo, porém, fazia o time visitante recorrer a bolas longas para o ataque, que sempre chegavam aos pés de cruzeirenses para mais uma tentativa.

O erro grotesco de passe de Gilson, que produziu mais um milagre de Fábio aos pés do bom lateral Alex Santos, pareceu acordar o Villa Nova. Francismar não era vigiado de perto nem por Leandro Guerreiro, que ficava mais recuado na proteção à zaga, e nem por Everton, que se lançava mais à frente pelo setor esquerdo. O camisa 10 villanovense jogou exatamente no espaço entre os dois, produzindo bons lances. E, com três homens no meio contra cinco adversários, o Cruzeiro não conseguia fechar os espaços do adversário e criar espaços para si próprio.

A primeira finalização cruzeirense só veio depois de uma jogada de muita raça de Montillo. O argentino disputou a bola no chão com um adversário e conseguiu espanar para a chegada de Marcos. O centro achou Anselmo Ramon, que cabeceou fraco. No lance, o atacante bateu a cabeça em um defensor e viria a ser substituído 5 minutos depois. Durante o atendimento ao camisa 11, foi interessante notar a postura do time de Nova Lima. Com um a mais, os visitantes tentaram sobrecarregar o meio-campo com o avanço de um dos defensores, mas o Cruzeiro se fechou bem e evitava jogadas mais agudas.

A entrada de Rudnei no lugar de Anselmo Ramon reequilibrou a equipe no 4-3-1-2 losango habitual. Leandro Guerreiro pôde se concentrar mais em Francismar e deixar Rudnei e Everton com mais liberdade. Os laterais cruzeirenses passaram a avançar muito mais, pois não encontravam mais a barreira natural dos atacantes muito abertos. Walter continuou na referência e Wallyson jogou mais recuado, procurando Montillo. Um exemplo disso foi o primeiro gol, um efeito dominó de uma jogada de Wallyson: ao driblar seu marcador na meia-direita, indefiniu a marcação de Carciano, que não sabia se encurtava em Wallyson ou acompanhava Montillo, que se posicionava para receber. A bola chegou ao argentino que, com espaço e avançando perigosamente, fez o zagueiro central Álvaro deixar a marcação de Walter para tentar barrar o camisa 10. O passe genial por cima achou o atacante que, agora livre dentro da área, só teve o trabalho de bater no canto esquerdo de Elisson.

Em seu melhor momento no jogo, um Cruzeiro num 4-3-3 com muita mobilidade, com Élber na articulação central e Montillo aberto pela direita, de onde saiu o golaço do argentino

No segundo tempo, Mauro Fernandes lançou o veloz Thiaguinho no lugar do lateral esquerdo Zé Rodolfo. O meia jogou bem aberto pela esquerda e pôde atacar sem preocupações, já que Carciano e o volante Higo faziam a cobertura pelo setor. A estratégia deu certo e o lado direito da defesa celeste passou por apuros. O chute para fora de Thiaguinho, em uma jogada iniciada por ele próprio para Henrique e Francismar servir, foi o sinal de alerta para o Cruzeiro recuar a sua linha de volantes e segurar Marcos. Os ataques dos visitantes passaram a não ter tanto efeito, pois Thiaguinho já não tinha tanta liberdade, mas em contra-partida os próprios mandantes não conseguiam atacar com perigo também.

O técnico do Villa Nova então tentou sobrecarregar a defesa azul, colocando o atacante Vinícius. Mas tirou o jogador errado de campo: Francismar, o principal articulador da equipe. Thiaguinho e Eliandro não conseguiram suprir com a mesma criatividade, e o efeito foi que o Villa Nova passou a ter apenas quatro jogadores no meio, o mesmo número que o Cruzeiro. O Villa perdeu em posse, e, para piorar (ou melhorar, do ponto de vista azul), Vágner Mancini lançou o jovem Élber no lugar de Gilson, com Everton indo ocupar a lateral esquerda. O garoto ocupou a faixa central do meio-campo, empurrando Montillo para o ataque, e sem Francismar para vigiar, Leandro Guerreiro pôde fazer a dupla de volantes com Rudnei, fazendo um 4-2-1-3 bem ao estilo da Seleção Brasileira de Mano Menezes.

Não demorou muito a surtir efeito. Em dois lances, Montillo foi lançado pelo lado direito do ataque, em velocidade e sem marcação. No primeiro, centrou rasteiro para Élisson defender a conclusão de Élber e o rebote de Wallyson. No segundo, recebeu inversão de Wallyson, cortou para dentro deixando o volante Anderson Toto na saudade e concluiu rasteiro. Golaço.

Anderson Toto, diga-se de passagem, havia entrado no lugar do zagueiro central Álvaro, fazendo o Villa voltar a ter uma linha de 4 jogadores atrás. No momento do gol, porém, a equipe visitante parecia estar jogando no início do século com 2 zagueiros e 3 volantes, como pode se ver na imagem abaixo.

Acredite, Montillo está sozinho, sem marcação, fora do quadro, momentos antes de fazer o segundo gol do Cruzeiro (globo.com)

Um 2-3-5? Certamente que não, mas sim a velocidade da jogada pegou os laterais villanovenses desprevenidos.

Com a boba expulsão de Walter, o Villa Nova se mandou à frente e Mancini lançou Amaral no lugar de Wallyson. O Cruzeiro recuou bastante num 5-3-1, com Montillo sozinho à frente e Leandro Guerreiro se posicionando afundado entre Victorino e Leo. Os visitantes tiveram muito espaço na intermediária ofensiva, mas o Cruzeiro defendeu bem sua área e cozinhou o jogo até o tempo acabar.

Se por um lado vemos pequena evolução, jogo a jogo, no 4-3-1-2 losango, os jogadores ainda têm certa dificuldade ao executar outros esquemas, já que a vitória por 6 x 0 sobre o fraquíssimo Rio Branco não pode servir de parâmetro. No entanto, o Campeonato Mineiro (e a Copa do Brasil nestas primeiras fases) são excelentes laboratórios para testar o comportamento do time em posicionamentos diferentes. A decisão de se jogar com três na frente contra um 3-5-2 provavelmente não é a melhor, mas é improvável que, no decorrer da temporada, o Cruzeiro vá enfrentar times mais experientes que joguem neste esquema.

Mas, uma coisa é certa: temos um jogador que decide, mesmo sem espaço. Com espaço então…

Nota: Somente ao preparar as imagens deste último post é que percebi que o posicionamento dos zagueiros Léo e Victorino está invertido. Como todos sabem, Léo joga na direita e Victorino na esquerda. A partir do próximo post, tudo estará normal.

Cruzeiro 2 x 0 América/TO – Sob a batuta de Roger

Com Roger ditando o ritmo, o Cruzeiro só precisou de um tempo para definir a vitória contra o América-TO ontem na Arena do Jacaré, com mais 2 de WP. E ao reagir com substituições corretas às mexidas do adversário, Vágner Mancini facilitou a vitória de seus comandados, em um claro exemplo de como mexer na característica do time sem necessariamente mexer na formação.

O costumeiro losango celeste do primeiro tempo, com Roger invertendo com Leandro Guerreiro

O Cruzeiro jogou todo o jogo no 4-3-1-2 usual, com Roger dando qualidade à saída de bola, trocando frequentemente de posição com Leandro Guerreiro. Já o América-TO veio para o jogo num surpreendente 3-4-2-1, com Geraldo na referência, Diego Faria um pouco mais à frente do que Luciano Mourão na ligação. Talvez uma tentativa do técnico Gilmar Estevam de emperrar a criação celeste lotando o meio-campo com seis homens.

Não deu muito certo, no entanto. Como tem feito nos últimos jogos, Roger era frequentemente visto logo à frente dos zagueiros para receber a primeira bola e fazer o time sair,  jogando em uma função cujo nome em inglês é deep-lying playmaker (“articulador recuado”, numa tradução livre), algo como um “falso 10”, que é cada vez mais comum no futebol. E o meia tinha muita liberdade, pois somente Geraldo marcava mais à frente. Os outros nove jogadores de linha do América ficavam atrás da bola, e com isso havia muito tempo para estudar o jogo e encaixar o melhor passe.

Além disso, com três zagueiros, os laterais do time de Teófilo Otoni se posicionavam na penúltima linha. Isso criava espaços às suas costas, que não eram cobertos pelo trio defensivo, mais centralizado. As enfiadas de Roger em diagonal acabaram se tornando comuns, ilustradas pelo primeiro lance do jogo: um gol anulado de Montillo em uma jogada pela esquerda de Marcelo Oliveira, recebendo passe de Roger exatamente naquele setor. Diego Renan também usou este espaço quando lançou Anselmo Ramon, que protegeu e devolveu para o lateral dentro da área. O pênalti inexistente resultou no primeiro gol.

Com os laterais na penúltima linha e os três zagueiros muito centralizados, Roger explorava os espaços deixados dos lados do campo

Montillo ainda recebia marcação especial de Elber, que o seguia para todos os lados do campo. Com muita inteligência tática, o argentino arrastava o volante para os lados do campo, abrindo espaços para seus companheiros. Leandro Guerreiro, em uma das inversões com Roger, aproveitou este espaço e recebeu um excelente passe no meio, avançando sem ser incomodado. Ele conectou Anselmo Ramon que, fazendo muito bem o trabalho de pivô (mais uma vez, diga-se), serviu WP, que emendou de primeira no canto direito de Fábio Noronha.

Do outro lado, o Cruzeiro só era realmente incomodado em contra-ataques. O time mandante dava espaços, devido principalmente à intensa participação de seus volantes na criação, inclusive gerando um contra-ataque três contra três que, felizmente, foi desperdiçado pelo América. O posicionamento muito recuado do meio-campo visitante, entretanto, fazia com que as ações ofensivas fossem mais tímidas. Além disso, Geraldo é muito mais um homem de área do que atacante de movimentação, não sendo o homem ideal para puxar contra-ataques. A vitória azul no primeiro tempo foi justa.

Após as alterações, Cruzeiro no 4-3-1-2 quase 4-3-3 com o ataque super fluido sem centroavante fixo, e LG revezando com MO nas subidas pelo lado esquerdo

No intervalo, Gilmar Estevam colocou o lateral direito Rafinha no lugar do zagueiro Danilo, repaginando sua equipe numa árvore de natal, ou 4-3-2-1. Com mais largura na última linha, o problema dos espaços nas pontas do campo foi resolvido. Mancini tentou explorar o espaço aberto no meio-campo, ocasionado pela redução de jogadores adversários no setor (de 6 para 5), adiantando Roger para se tornar um articulador mais clássico, com Montillo praticamente de atacante, quase num 4-3-3. Mas como é um jogador que se movimenta pouco, Roger não foi tão eficiente na criação com a marcação direta que recebia, mesmo tendo criado alguns lances. Além disso, voltava lentamente para ajudar na parte defensiva, proporcionando mais posse do América.

Assim, o técnico visitante arriscou um 4-2-2-2, colocando o atacante Karreta no lugar do volante Felipe Dias, na tentativa de transformar a maior posse em gols. Mancini respondeu com a entrada de Rudnei no lugar de Roger. O esquema permaneceu sendo 4-3-1-2, mas com Rudnei muito mais móvel que Roger, aparecendo pra jogar e voltando pra marcar pela direita. MO e LG se revezavam: um protegia a zaga, o outro subia para o ataque pelo outro lado. Montillo, agora liberado atribuições defensivas, se adiantou de vez, e o Cruzeiro voltou a ter muito mais posse de bola.

Interssante notar como as batalhas individuais se davam neste momento. Nas duas pontas viam-se batalhas de dois zagueiros contra dois atacantes. Os homens da sobra de ambas as equipes agora se encontravam no meio-campo: três volantes do Cruzeiro contra dois meias do América, e dois volantes do América contra Montillo. A diferença é que os cruzeirenses se preocupavam mais em ajudar o ataque, enquanto os americanos tinha como prioridade vigiar Montillo.

As entradas de Wallyson e Walter nos lugares de WP e AR deram mais fluidez e movimentação, com um ataque sem centroavante fixo, mas tiraram um pouco o poder de conclusão. Gilmar Estevam tentou fazer o mesmo, colocando o rápido Celinho no lugar de Geraldo, mas sem sucesso. O Cruzeiro continuou com mais posse e criou várias chances, mas não conseguiu ampliar, pois o time visitante, mesmo com os dois atacantes, recuou para evitar uma goleada. Mas não precisou, pois o Cruzeiro claramente já se poupava e cozinhou o jogo até o fim, mesmo com a expulsão de Karreta, quando o América se repaginou no clássico 4-4-1.

No jogo de xadrez dos dois treinadores, Mancini venceu, tomando as contra-medidas certas para manter o controle do jogo. WP vem se destacando pelas conclusões certeiras e Roger pela qualidade na saída. Mas é importante lembrar que o Cruzeiro ainda não foi realmente testado na temporada. Contra uma equipe mais técnica e experiente, o meia muito provavelmente não terá tanta liberdade. O ataque mais móvel, com Walter e Wallyson, provavelmente será a melhor opção contra estes times, pois elas saem mais para o jogo e não ficam tão entrincheiradas.

O próximo jogo será interessante do ponto de vista tático, pois Marcelo Oliveira, Diego Renan e Wellington Paulista estão suspensos pelo terceiro cartão. Vamos ver como Vágner Mancini reagirá aos primeiros desfalques forçados da temporada.