Mineros 0 x 2 Cruzeiro – A pior de todas

Enfim o Cruzeiro venceu na Copa Libertadores. Mas fez sua pior partida desde 2013, nas palavras do próprio Marcelo Oliveira. Foram 67 minutos em que a equipe foi mal em todas as fases do jogo: ataque, recomposição, defesa, transição, bola parada. Até no contra-ataque, onde até então vinha tendo seu melhor desempenho, o Cruzeiro não foi bom. Com as substituições, o time se distribuiu melhor em campo e passou a controlar as ações, mesmo sem brilho.

Formações iniciais

No 1º tempo, o 4-2-3-1 do Cruzeiro levou um banho tático: os laterais do Mineros avançavam ao mesmo tempo e criavam dificuldades para Marquinhos e Alisson; De Arrascaeta distante dos volantes, dando muito espaço para López se juntar ao intenso ataque dos venezuelanos

No 1º tempo, o 4-2-3-1 do Cruzeiro levou um banho tático: os laterais do Mineros avançavam ao mesmo tempo e criavam dificuldades para Marquinhos e Alisson; De Arrascaeta distante dos volantes, dando muito espaço para López se juntar ao intenso ataque dos venezuelanos

Marcelo escalou o Cruzeiro no 4-2-3-1 tradicional. A linha defensiva de Fábio tinha Mayke e Mena nas laterais, com Léo e Paulo André na zaga. Na volância, Willian Farias substituiu o lesionado Willians, na parceria com Henrique. À frente, Marquinhos fez a ponta direita e Alisson a esquerda, com De Arrascaeta por dentro se aproximando de Damião na referência.

A equipe do Mineros também se posicionou num 4-2-3-1, que variava para um 4-3-3 com a bola com o avanço do volante López. O gol de Romo foi protegido por Machado e Matos, com Vallenilla pela direita e Cíchero na esquerda. À frente da área, Jiménez ficava mais preso, liberando López para se juntar ao meia Blanco e aos atacantes Peña pela direita, Pérez pela esquerda e Cabezas, o avante.

Descompactação

Antes do jogo, escrevi no Twitter que não sabia qual seria a estratégia usada pelo time venezuelano: iriam atacar com tudo, mas dando espaços atrás, ou iriam preferir esperar para jogar no erro do Cruzeiro? A resposta veio logo no começo: o Mineros jogou a vida. Atacaram com muita intensidade, com os dois laterais subindo ao mesmo tempo, inversão de Pérez e Peña, Blanco entrando na área para dar profundidade e deixando a criação para López e o ponteiro do lado da bola. Sempre 5 atacando, com a ajuda dos laterais.

Nem o gol de Damião, na primeira jogada de ataque do Cruzeiro, mudou o cenário. O Cruzeiro parecia estar numa rotação abaixo, sem pressionar o homem da bola, num contraste claro com a intensidade aplicada pelo Mineros. López conseguia transitar com muita facilidade na intermediária ofensiva, ditando o ritmo, pois havia um grande buraco entre os volantes e os homens de frente. Henrique e Willian Farias simplesmente não conseguiam entender o sistema ofensivo venezuelano e tiveram muitas dificuldades em preencher os espaços.

Saída de bola

Quando o ataque do Mineros não funcionava, o Cruzeiro era imediatamente pressionado pelos vários jogadores venezuelanos que estavam no campo de ataque. Quase sempre apelava para a bola longa, também porque De Arrascaeta e Damião, sem contribuir com o trabalho defensivo estavam bem longe do resto do time. Apenas em um lance no primeiro tempo, De Arrascaeta conseguiu encaixar um contra-ataque que achou Damião na área, mas o centroavante chutou pra fora.

Com maior posse, o Mineros criou algumas chances, mas Fábio só teve de trabalhar em um chute do lateral Vallenilla (veja na imagem abaixo). Isso porque a linha defensiva celeste, mesmo exposta demais, teve um bom desempenho. Léo desviou um chute à queima-roupa deitado no chão, e em um passe por cima que deixou Cabezas cara a cara com Fábio, Mena se recuperou a tempo impedindo a finalização. Assim, a primeira etapa terminaria, por incrível que pareça, com o Cruzeiro na frente.

Os problemas defensivos  celestes em um lance: (A) Marquinhos chega atrasado na marcação de Cíchero, forçando Henrique a abandonar o meio e ir para a cobertura; (B) a bola chega no centro, onde W.Farias está sozinho contra López e Peña, com De Arrascaeta longe; (C) Alisson e Mena saem em socorro, mas deixam Cabezas e Vallenilla livres. A bola chegou ao lateral do Mineros que chutou para a defesa de Fábio.

Os problemas defensivos celestes em um lance: (A) Marquinhos chega atrasado na marcação de Cíchero, forçando Henrique a abandonar o meio e ir para a cobertura; (B) a bola chega no centro, onde W.Farias está sozinho contra o avanço de López e Peña, com De Arrascaeta longe; (C) Alisson e Mena saem em socorro, mas deixam Cabezas e Vallenilla livres. A bola chegou ao lateral do Mineros que chutou para a defesa de Fábio.

A troca que mudou a partida

Sempre se espera algo de Marcelo Oliveira no intervalo, mesmo que seja apenas na conversa. Um mero ajuste de posicionamento já poderia melhorar as coisas para o Cruzeiro, mas não foi isso o que aconteceu. O segundo tempo começou da mesma forma que o primeiro, com o Cruzeiro sofrendo em sua retaguarda e tentando sair em contras — Marquinhos poderia ter matado o jogo em um, mas chutou em cima do goleiro.

Com as entradas de Charles e Ceará, Cruzeiro passou a fazer duas linhas sem a bola, preenchendo melhor os espaços e afastando o Mineros de sua área; com a bola, Charles e Henrique avançavam como meias e Alisson abria, formando um 4-3-3, com os laterais se soltando um pouco mais

Com as entradas de Charles e Ceará, Cruzeiro passou a fazer duas linhas sem a bola, preenchendo melhor os espaços e afastando o Mineros de sua área; com a bola, Charles e Henrique avançavam como meias e Alisson abria, formando um 4-3-3, com os laterais se soltando um pouco mais

Foi então que Marcelo fez as trocas que mudaram o panorama. Trocou Mayke, que sofria na marcação pela direita, por Ceará, que sabe compor melhor a linha defensiva. O veterano lateral cumpriu sua função muito bem. Além disso, uma substituição fez a corneta soar forte: De Arrascaeta por Charles. A torcida logo se apressou em criticar, pois era uma troca de um meia por um volante. A velha confusão entre posição, posicionamento e função.

Charles se posicionou do lado esquerdo da linha de meio-campo, deixando apenas Alisson e Damião na frente, com Marquinhos recompondo pelo lado direito. As novas duas linhas de quatro sem a bola agruparam mais o time, o que matou os espaços que o Mineros tinha na intermediária ofensiva. O time venezuelano passou a ter a bola bem mais longe da área celeste, em seu campo de defesa, e já não conseguia entrar com facilidade.

Mais defensivo e mais ofensivo

Além de marcar melhor, o Cruzeiro passou também a fazer uma transição defesa-ataque bem mais suave, sem quebrar a bola. Com os jogadores mais próximos, era mais fácil encontrar um passe na saída após roubar a bola. Assim, podemos dizer que o Cruzeiro ficou mais defensivo e ao mesmo tempo mais ofensivo. Saindo pelo chão, o Cruzeiro começou a chegar com facilidade na intermediária ofensiva e trabalhar a bola.

Com a segurança de Charles pelo lado esquerdo, o lateral Mena, que até então não havia se aventurado no campo de ataque, passou a sair mais. Não por coincidência, a jogada do segundo gol passou pelos pés dele. Alisson puxou a marcação e deixou um corredor livre pelo meio para o chileno avançar, tabelar com Damião e servir Marquinhos do outro lado. O gol que deu tranquilidade e números finais ao jogo.

Sem resultadismo

Taticamente, a partida foi um desastre. Setores muito espaçados, falta de intensidade nas ações e muitos erros de passe com a bola. Talvez Marcelo tenha se surpreendido com a estratégia do Mineros de ir pra cima mesmo deixando espaços generosos atrás. Mas o Cruzeiro tinha que adaptar sua marcação e explorar estes espaços. Não fez nem uma coisa nem outra, a não ser em dois ou três contra-ataques desperdiçados.

Na parte do jogo em que foi dominado, o Cruzeiro só não sofreu gol por causa da falta de qualidade do Mineros. Fosse um time um pouco melhor tecnicamente, arrisco dizer que o Cruzeiro teria saído com o revés. Tanto é que quando o jogo se equilibrou na parte tática, com as trocas de Marcelo, a superioridade técnica do Cruzeiro ficou evidente — a jogada do segundo gol comprova isso.

Valeu a vitória, é claro. Mas cuidado com o resultadismo. É bom saber que o próprio Marcelo reconhece que atuação foi ruim, mesmo com um resultado importante.

Que este jogo seja pelo menos um exemplo de como NÃO se comportar em campo, principalmente na parte defensiva.

U. Sucre 0 x 0 Cruzeiro – Faltou pouco (e não foi ar)

Na estreia pela Libertadores, o Cruzeiro subiu a cordilheira e usou uma estratégia inteligente para minimizar os efeitos da altitude: dosar a intensidade. Para isso, tentou fechar os espaços e sair em velocidade, algo pouco comum nos últimos dois anos. Mas com o desenrolar do jogo, o time foi lentamente tendo mais posse de bola, mas não conseguiu se adaptar por completo à maior velocidade da bola na altitude e acabou voltando da Bolívia com apenas um ponto.

Formações iniciais

Cruzeiro no 4-2-3-1 com ponteiros recuando, desenhando duas linhas de quatro para partir em contra; Universitario no 4-3-3, com Silvestre livre e Cuesta articulando

Cruzeiro no 4-2-3-1 com ponteiros recuando, desenhando duas linhas de quatro para partir em contra; Universitario no 4-3-3, com Silvestre livre e Cuesta articulando

O Cruzeiro de Marcelo Oliveira não tinha nenhuma surpresa. O 4-2-3-1 costumeiro tinha Fábio no gol, Fabiano e Mena nas laterais e Léo e Paulo André no miolo de zaga. No suporte, Henrique e Willian Farias marcavam por dentro, com Willian e Marquinhos recompondo pelos lados. De Arrascaeta ficava ligeiramente mais atrás de Damião, ambos centralizados.

Já o Universitario do “DT” Julio Baldivieso entrou num 4-3-3 clássico: triângulo de base alta no meio-campo. Protegendo o gol de Robles, a linha defensiva tinha Ballivián pela direita, Filippetto e Barón no miolo e Camacho pela esquerda. No vértice baixo, o volante Silvestre fazia a saída, tendo Ribera mais contido para liberar Cuesta. À frente, Palavicini era o centroavante, com Bejarano pela direita e Castro pela esquerda.

Cruzeiro esperando

A partida começou com o Universitario mais com a bola, como esperado, por estar em casa. O Cruzeiro não pressionava alto, marcando a partir do meio-campo, esperando o avanço do time boliviano. Os ponteiros Marquinhos e Willian se alinhavam a Willian Farias e Henrique formando uma segunda linha de quatro, deixando De Arrascaeta e Damião à frente. Essa segunda linha fazia bem o trabalho de fechar as linhas de passe, deixando os zagueiros do time boliviano sem opções.

Pouca compactação

Porém, em alguns momentos, o Cruzeiro subia a pressão, mas só com o quarteto de frente. Os volantes não acompanhavam, e a linha defensiva ficava quase sempre mais próxima da área de Fábio, talvez porque era composta por jogadores lentos, e correr pra trás em lançamentos profundos por cima era um perigo. Isso “dividia” o time em dois, deixando um espaço entre o sexteto defensivo e os quatro da frente. Se a pressão não funcionava, os bolivianos achavam um passe nesse espaço e se aproximavam muito da área de Fábio.

Felizmente, os defensores foram bem e conseguiam neutralizar quase todas as investidas do Universitario. Henrique foi disparado quem mais teve recuperações de bola na partida, com 7 (dados da Conmebol). Paulo André e Léo venciam quase todos os duelos aéreos, e os laterais fizeram boa partida defensivamente, principalmente Mena, que tinha menos a ajuda de Willian do que Fabiano a de Marquinhos.

Dados da Conmebol mostram Cruzeiro roubando muito a bola: 21x2; só Henrique roubou 7

Dados da Conmebol mostram Cruzeiro roubando muito a bola: 21×2; só Henrique roubou 7

Transição rápida

Quando roubava a bola, a tentativa era sempre de resolver a jogada o mais rápido possível. Mas isso também era afetado pela altitude: com o ar mais rarefeito, a bola fica levemente mais rápida. E os jogadores não conseguiam acertar o tempo do passe, ou a força a aplicar na bola.

Um lance no primeiro tempo (aos 9 segundos do vídeo abaixo) exemplifica bem isso: De Arrascaeta mandou de primeira para Willian na esquerda, que ficou livre. Mas a bola foi um pouco mais longe que o ideal, fazendo Willian correr um pouco a mais pra recolher a bola e atrasar o tempo da jogada. Aí Willian esperou Damião entrar na área para executar o passe, mas novamente a bola foi um pouco mais rápida que o bigode queria, e Damião chegou atrasado.



Segundo tempo

No intervalo, Marcelo tirou Willian Farias por causa de um cartão amarelo desnecessário e lançou Willians. Além disso, ajustou melhor o posicionamento pra não dar tanto espaço na entrelinha. Assim, o jogo seguiu da mesma forma, mas o Universitario dessa vez não conseguia mais se aproximar tanto da área de Fábio, se limitando a tentar cruzamentos aéreas a partir da intermediária.

Com isso, o Cruzeiro passou a ter mais posse de bola e conseguia chegar, mas pecou no último passe ou na finalização. Damião teve pelo menos duas chances, assim como de Arrascaeta, no seu último lance antes de ser substituído. Foi uma troca estranha a princípio, mas Marcelo explicou na coletiva pós-jogo que avaliou o uruguaio como um dos mais afetados pela altitude, não fisicamente mas tecnicamente.

Judivan + laterais expostos

Quem entrou em seu lugar foi Judivan, e a ideia de Marcelo era tanto marcar o volante Silvestre, vértice baixo do triângulo de meio do 4-3-3 boliviano, quanto dar velocidade na transição, já que o Cruzeiro conseguia roubar a bola até com certa facilidade.

Porém, à essa altura do jogo, Willian já não recompunha tão bem e expunha Mena ainda mais pelo lado esquerdo ao avanço do lateral Ballivián. Do outro lado, Marquinhos ainda conseguia voltar, mas também não marcava com mesmo afinco, deixando Fabiano no dois contra um. Marcelo então viu o problema e tentou corrigir com Joel na vaga do bigode, pelo lado esquerdo.

Um a menos

No fim, Cruzeiro com um a menos se postou num 4-4-1, mas não foi ameaçado, conseguindo até equilibrar na posse de bola

No fim, Cruzeiro com um a menos se postou num 4-4-1, mas não foi ameaçado, conseguindo até equilibrar na posse de bola

Teria sido uma boa alteração, pois os jogadores de fôlego renovado poderiam dar a velocidade que o Cruzeiro precisava para chegar com qualidade ao gol de Robles. Mas Joel só ficou 6 minutos em campo, expulso com o vermelho direto após uma entrada desnecessária no campo de ataque.

Com um a menos, Judivan saiu do centro e foi pra ponta esquerda, fazendo duas linhas de deixando apenas Damião à frente: 4-4-1. Uma pressão do time da casa era esperada, mas ela não veio, e mesmo com um a menos, a posse de bola foi equilibrada, com o Cruzeiro ameaçando a área do Universitario. Judivan não teve muita disciplina para recompor e deixou o lado esquerdo exposto, com Henrique se desdobrando para cobrir, mas o gol de Fábio não foi mais seriamente ameaçado até o fim do jogo.

Foi bom, mas poderia ter sido melhor

A estratégia usada pelo Cruzeiro em Sucre foi acertada, distribuindo o fôlego ao longo dos 90 minutos para não cansar antes da hora e correr riscos. Nesse ponto, o time foi surpreendeu positivamente, pois no fim parecia que poderia engrenar e chegar ao gol da vitória. Mas duas coisas frearam este movimento: a expulsão de Joel e a saída de De Arrascaeta.

O camaronês — que não parece, mas é mais jovem que Alisson e Mayke, por exemplo — entrou pilhado demais na marcação e acabou prejudicando o time com sua saída. Mesmo com um a menos, o Cruzeiro conseguiu ter alguma posse, o que dá a medida que com onze em campo, poderia ter feito uma pressão no fim.

Já a saída do também jovem uruguaio fez o Cruzeiro ser mais intenso com Judivan, numa tentativa de gastar o resto de oxigênio até o fim da partida e se impor fisicamente. Isso até aconteceu, mas sem o camisa 10, o time ficou pouco com a bola nos pés, acelerando muito. De Arrascaeta talvez pudesse ser o jogador que desse cadência, fazendo os bolivianos correrem atrás na marcação. Mas não dá pra ser engenheiro de obra pronta, criticando depois do acontecido. Naquele momento, Marcelo tinha de tomar uma decisão, e tomou.

Fica a impressão positiva de que o Cruzeiro foi um time tranquilo, sem pressa nem pilha excessiva, o famoso “espírito de Libertadores” (exceção feita à Joel). Se continuar com essa solidez defensiva, ajustando alguns pontos aqui e ali, e também evoluir ofensivamente, como é a tendência com o maior entrosamento, o Cruzeiro só tem a crescer.

Para o temor dos rivais.

Cruzeiro cauteloso: escolha ou desgaste?

Problemas técnicos impediram este blog de publicar análises mais aprofundadas sobre os dois últimos jogos pelo Brasileirão. Inclusive, estive in loco no empate sem gols contra o Sport na Arena Pernambuco. De volta à ativa, darei portanto breves pitacos nestas partidas e também na partida de ontem contra o ABC pela Copa do Brasil.

Há no futebol (e no esporte em geral) uma velha máxima: a melhor defesa é o ataque. Em alguns casos, de fato: se você está atacando, o adversário não está te atacando e, portanto, você nem precisa defender. Mas essa é uma visão muito simplista. O correto é dizer: a melhor defesa, em alguns casos, é o ataque. Ou melhor: a melhor defesa nem sempre é o ataque.

Depois da derrota no clássico, o Cruzeiro jogou três partidas. E pelo menos um aspecto houve em comum em todas elas, ocasionado por diferentes razões: o Cruzeiro foi mais cauteloso. Quando tinha a bola, preferia cadenciar em vez de atacar com muita intensidade, como fez bastante em 2013, para diminuir as chances de um passe errado que gere contra-ataques. Sem a posse, a equipe preferiu esperar na linha divisória, compactada em bloco médio, em vez de pressionar alto e forçar o erro do adversário.

Coritiba 1 x 2 Cruzeiro

No Paraná, o Cruzeiro fez um dos melhores primeiros tempos que vi neste ano defensivamente. O Coritiba – armado numa espécie de 4-3-3 que variava para 4-3-1-2 de acordo com o posicionamento de Alex (leia mais aqui) – teve tempo na bola, mas não conseguia entrar nas linhas celestes. Alex, ídolo nos dois clubes, não conseguia receber a bola em espaços perigosos porque o Cruzeiro os ocupava. Isso forçava o craque a voltar até na linha de zagueiros para receber a bola e tentar ver o jogo. Sem alvos, acabava devolvendo para outro zagueiro ou um volante e voltava a correr pra frente.

Tudo isso porque a postura defensiva do Cruzeiro estava diferente. Não foi o time que joga e deixa jogar: o Cruzeiro procurou primeiro destruir – ou no caso esperar o erro do adversário – para depois construir. Com a bola recuperada, aplicou velocidade suficiente pelos lados para criar as jogadas dos dois gols: um escanteio que gerou o pênalti em Nilton e um lançamento para Ceará, que avançou até achar Éverton Ribeiro livre do lado esquerdo.

No segundo tempo, o Cruzeiro relaxou um pouco, talvez pelo desgaste físico, e o Coritiba chegou mais perto da área, até pela entrada de Martinuccio no time na vaga de um dos volantes. Mas o Cruzeiro não quis explorar os novos espaços e se contentou em absorver a pressão do time da casa, que até marcou um gol, mas depois esbarrou no eficiente sistema de marcação celeste.

Sport 0 x 0 Cruzeiro

Nesta partida, pude observar de perto esta nova postura. Contra um Sport armando no mesmo 4-2-3-1 que o Cruzeiro, eu torcia constantemente para que Moreno avançasse em cima de um dos zagueiros pernambucanos e que os meias subissem a marcação atrás dele, mas isso não acontecia. Em um momento, consegui enxergar todos os dez jogadores de linha em um espaço de não mais que 15 metros: uma compactação que não deixava o Sport jogar e que deu tranquilidade a Fábio. Não sofrer gols foi uma consequência natural.

Atacando, o Cruzeiro até que teve algumas chances, mas da arquibancada eu sentia pouca aproximação entre os três meias, tão costumeira. O desgaste físico da viagem de Curitiba para Recife, e com jogos em espaço de tempo tão curto, parece mesmo ter feito alguma diferença. Sem essa proximidade, o jogo do Cruzeiro não fluía com a mesma intensidade, e o time pernambucano tinha seu trabalho de marcação facilitado.

Mesmo assim, foi o Cruzeiro quem criou mais chances, teve mais a bola nos pés e chutou mais a gol, principalmente no segundo tempo. Mas não foi suficiente para tirar o outro zero do placar.

Cruzeiro 1 x 0 ABC

O cansaço acusado pelos jogadores no Recife forçou Marcelo Oliveira a lançar mão de seu bom elenco, mandando a campo uma formação alternativa para o jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil. Aqui, a razão para a falta de intensidade ofensiva e defensiva era a falta de ritmo e entrosamento. Borges, Dagoberto, Marlone e Willian não conseguiam muito se achar em campo, permanecendo muito estáticos em suas respectivas faixas do campo, sem as trocas costumeiras.

Some-se a isso o fato de que o time potiguar veio para perder de pouco, como esperado, e mal se aventurou no ataque para não ceder espaços. Com o time todo atrás, cabia a Nilton e Willian Farias iniciarem a construção. Mas ambos são volantes mais marcadores que passadores e tiveram certa dificuldade. No segundo tempo, Ricardo Goulart, que estava sendo poupado, entrou e, como mágica, o time instantaneamente melhorou. É impressionante como Goulart praticamente força seus companheiros a se mexerem, saindo do centro e caindo pelas pontas. Assim, quem está nas pontas procura o meio e isso acaba confundindo a marcação.

O Cruzeiro teve bem mais volume de jogo e tentou chutar mais vezes, mas o ABC continuou se defendendo bem. Faltava o capricho no último passe – sempre ele. Assim, o time potiguar não permitiu que o Cruzeiro criasse muitas chances: duas finalizações certas, sendo que só a de Egídio no primeiro tempo foi com bola rolando. A outra foi o gol de Léo, num escanteio.

Na parte defensiva, o Cruzeiro não foi tão seguro, cometeu alguns erros, mas também teve a mesma estratégia: não pressionar os zagueiros adversários no alto do campo. O ABC porém preferia entregar a bola para o Cruzeiro e tentar especular nos contra-ataques. Fábio não fez nenhuma defesa no jogo todo.

Diagnóstico: novo padrão ou resguardo?

Como vimos, nas três partidas o Cruzeiro optou por uma postura mais cautelosa defensivamente. Contra o Coritiba, fechou as linhas e esperou o adversário errar; contra o Sport, o desgaste pareceu ser o fator principal na falta de intensidade; e contra o ABC, o time reserva estava mais descansado, mas a falta de ritmo não permitiu a marcação alta.

Esta postura foi mais acentuada nas últimas partidas, mas o fato de o Cruzeiro atacar um pouco menos já podia ser visto no número de finalizações, se comparado ao do ano passado. É uma equipe que ainda ataca muito, mas menos do que antes. Duas possíveis causas: o respeito dos adversários, o que faz com que eles se armem todos atrás dificultando as ações ofensivas; e a maturidade do time, que está preferindo dosar o ritmo para não se desgastar. No fim das contas, provavelmente é uma mistura das duas coisas.

Dados da Footstats do Campeonato Brasileiro mostram: Cruzeiro finaliza menos este ano do que no ano passado

Dados da Footstats do Campeonato Brasileiro mostram: Cruzeiro finaliza menos este ano do que no ano passado

Fica a pergunta: seria este comportamento do sistema defensivo celeste uma nova forma de jogar ou é apenas temporária devido ao desgaste da temporada? Só saberemos de fato nas próximas partidas.

Cruzeiro 2 x 0 Atlético/PR – Nada mudou

Começo este texto pedindo desculpas ao leitores por ter deixado passar a análise da partida contra o São Paulo no Morumbi. Como acontece de vez em quando, a vida nos atropela e temos que priorizar umas coisas sobre outras, e o Constelações acaba por ser preterido. Mas se você quiser ler boas análises a respeito daquela partida, acesse o blog Olho Tático, de André Rocha, ou então o blog Painel Tático, de Leonardo Miranda. Não são blogs exclusivos sobre o Cruzeiro e nem tem o estilo prolixo que é a marca do Constelações, mas não é por isso que deixam de ser ótimos textos.

Para recuperar-se da derrota para o perseguidor mais próximo, era imperativo ao Cruzeiro não só vencer o Atlético/PR em casa, como também fazer um bom jogo e mostrar que o revés foi só um pequeno obstáculo e não o início de uma oscilação. E depois de uma primeira etapa um pouco travada, principalmente pela rigidez ofensiva ao invés da fluidez costumeira, o Cruzeiro melhorou no segundo tempo e venceu com certa facilidade. Mesmo porque, quase não teve trabalho defensivamente.

Escalações

Os alas do 3-4-1-2 paranaense eram forçados a recuar, dando espaços para os laterais do 4-2-3-1 celeste, que por sua vez teve pouca intensidade na frente

Os alas do 3-4-1-2 paranaense eram forçados a recuar, dando espaços para os laterais do 4-2-3-1 celeste, que por sua vez teve pouca intensidade na frente

Marcelo Oliveira teve Henrique e Egídio de volta, mas não pôde contar com Goulart, suspenso. Assim, o goleiro Fábio teve sua linha defensiva formada por Mayke à direita, Dedé e Léo no meio e Egídio à esquerda. Henrique e Lucas Silva faziam a proteção e apoiavam o trio formado por Éverton Ribeiro pela direita, Júlio Baptista centralizado e Alisson pela esquerda. Na frente, o flecheiro Marcelo Moreno.

Já o Atlético/PR de Claudinei Oliveira inovou: tentou parar o líder em sua casa usando uma linha de três zagueiros. A meta de Weverton era protegida pelo trio de defensores Gustavo à direita, Cléberson no centro e Willian Rocha à esquerda. Os alas Sueliton e Natanael se alinhavam aos volantes Deivid e João Paulo, com Marcos Guilherme na ligação procurando os avantes Marcelo e Douglas Coutinho. No papel era um 3-4-1-2, mas não foi isso o que aconteceu, como veremos à frente.

O velho problema

Quem acompanha o blog sabe que vira e mexe bato nessa tecla. Um sistema com linha defensiva de três homens não funciona contra uma equipe que jogue com dois ponteiros abertos e um único centroavante, pois a marcação fica indefinida pelos lados. Os alas ficam em um dilema: se voltam para marcar os ponteiros, a linha de três se transforma em linha de cinco, o centroavante fica com dois na sobra: excesso em um setor significa falta em outro setor do campo, significando perda de posse de bola. Caso os alas permaneçam altos para marcar o avanço dos laterais adversários, aí a defesa fica no mano a mano contra o centroavante e os ponteiros, além de abrir vários buracos nos setor devido às distâncias que os zagueiros tem que percorrer.

O time paranaense escolheu voltar com os alas, o que significou muita liberdade para Mayke e Egídio avançarem. Os volantes até tentavam fazer a cobertura com movimentação lateral, mas como o Cruzeiro tinha mais meio-campistas centrais (três contra dois) conseguia tocar a bola com facilidade. Com isso, a estatística de posse de bola do Cruzeiro bateu na casa dos 80% em um dado momento do jogo.

Pouca mobilidade

Mas, se o Cruzeiro chegava fácil até a intermediária, passar dali era bem mais complicado. Éverton Ribeiro até que tentou se mexer e dar intensidade, tentando aparecer em outros setores que não o direito. Mas seus companheiros não o acompanhavam: Júlio Baptista jogava quase como um segundo atacante, ficando muito avançado quase todo o tempo e sempre na faixa central; Alisson, por sua vez, combinou bem com Egídio, foi intenso e veloz, mas não saiu do lado esquerdo. Com os meias estáticos, a marcação do Atlético/PR era facilitada.

Mesmo assim, o time celeste conseguiu abrir o marcador num lance de Alisson. E o gol fez o jogo mudar. O Atlético/PR desfez o sistema e mudou para duas linhas de quatro: os três zagueiros se “moveram” para a esquerda para acomodar o recuo oficial de Sueliton, deixando Natanael pela esquerda na segunda linha, também composta pelos dois volantes e Marcos Guilherme. Um clássico 4-4-2 em linha, que foi suficiente para diminuir o domínio sobre a bola do Cruzeiro, mas não para atacar com qualidade.

Júlio por Willian

Já depois do primeiro gol,  o Atlético/PR voltaria a ter defesa com 4 homens, e assim foi até o final; Cruzeiro só saiu do 4-2-3-1 bem no finzinho com Nilton entre as linhas

Já depois do primeiro gol, o Atlético/PR voltaria a ter defesa com 4 homens, e assim foi até o final; Cruzeiro só saiu do 4-2-3-1 bem no finzinho com Nilton entre as linhas

No intervalo, Júlio Baptista seria substituído por Willian, por lesão sofrida ainda no primeiro tempo. Mas calhou de a substituição ter dado outra cara ao Cruzeiro: Willian foi pra direita, centralizando Éverton. Alisson permaneceu do lado esquerdo. Apesar de ser da opinião de que Éverton rende mais partindo da direita, nesse caso específico foi bom, pois deu ao Cruzeiro o que faltava no setor central: intensidade, tanto ofensiva quanto defensiva. Os três meias se aproximavam e trocavam passes rápidos, lembrando muito os bons momentos do Cruzeiro de 2013.

O aspecto que acabou gerando o segundo gol, no entanto, foi a intensidade aplicada na marcação alta. Em um trabalho conjunto dos quatro homens de frente, o Cruzeiro forçou o erro da defesa do Atlético/PR, a bola sobrou pra Moreno que conduziu, viu Willian passar por um lado e Éverton passar por outro, mas no instinto de centroavante, resolveu mandar o sapato dali mesmo. Décimo primeiro gol do flecheiro, agora artilheiro isolado artilheiro do certame.

Com dois gols de vantagem o Cruzeiro tirou o pé e só controlou. Claudinei trocou Natanael por Sidcley, depois Douglas Coutinho por Mosquito, mas nada foi mudado no sistema tático. Marcelo Oliveira aproveitou e tirou Alisson, amarelado na comemoração do primeiro gol, lançando Marlone na faixa central — e aqui cabe um comentário: o reserva imediato de Goulart na função de central é Júlio Baptista, mas Marcelo tem preparado Marlone para jogar nessa posição também, já pensando à frente quando Goulart, novamente convocado, estará com a Seleção.

No fim, Claudinei ainda mudaria João Paulo por Hernani, numa tentativa de dar criatividade ao meio-campo, ao passo de que Marcelo Oliveira lançou Nilton na vaga de Éverton Ribeiro, posicionando à frente da defesa e atrás e Lucas e Henrique, com Marlone abrindo para configurar um 4-3-3. Mas Fábio nem viu a bola passar perto de seu gol e o dois a zero ficou até o final.

Alisson fez um excelente jogo e só errou um único passe nos 90 minutos: intensidade sem perder qualidade. Só falta se aventurar para longe do lado esquerdo.

Alisson fez um excelente jogo e só errou um único passe nos 90 minutos: intensidade sem perder qualidade. Só falta se aventurar para longe do lado esquerdo.

Mais um muro derrubado

Os adversários vem ao Mineirão e, cada um à sua maneira, tentam parar o Cruzeiro. Duas linhas de quatro, árvore de natal, três zagueiros — todos os sistemas falharam. Se não há um ponto em comum entre eles, então o xis da questão está do outro lado: é a inegável capacidade ofensiva que o time celeste tem em seus domínios. O respeito dos adversários só aumenta, e foi construído com um cartel impressionante de onze vitórias seguidas no Mineirão. E é esse mesmo respeito que faz com que, mesmo em uma noite não tão inspirada ofensivamente, o Cruzeiro saia com uma vitória inconteste.

Com a derrota do São Paulo em Curitiba, a vantagem voltou a ser de sete pontos, com a diferença de que agora são duas rodadas a menos pra o fim do campeonato. Mas o mais importante, contudo, é que o Cruzeiro mostrou não ter entrado na descendente como muita gente apostava. Afinal, a equipe vinha de um empate contra o Fluminense e uma vitória suada contra o Bahia no Mineirão. O futebol apresentado, se não foi brilhante, foi muito mais sólido e consistente que o dos outros times.

No fim das contas, é isso que decide quem será o campeão.

Goiás 0 x 1 Cruzeiro – Exagero na dose

O Serra Dourada é o maior campo do Brasil. O gramado possui as medidas máximas permitidas pela regra 1 para jogos oficiais internacionais, 110 x 75 m. O Mineirão usa as medidas oficiais para jogos da Copa, 105 x 68 m. A diferença parece pequena, mas não é: só nas laterais, são 3,5 metros a mais de espaço para cada lado — provavelmente a largura do quarto ou sala onde você está agora lendo este texto.

Um campo com medidas tão grandes tem influência direta na estratégia de marcação de uma equipe no jogo. É preciso dosar o desgaste físico, pois não há como aplicar a mesma intensidade de marcação que se usa num campo como o Mineirão, por exemplo, pois corre-se o risco de cansar em demasia no fim da partida e ficar em desvantagem numérica em alguns setores.

Foi esse controle que o Cruzeiro tentou fazer em Goiânia neste domingo. Mas exagerou na dose e quase correu o risco de perder dois pontos.

Sistemas iniciais

No primeiro tempo, ambas equipes no 4-2-3-1, espalhados, e se movimentando pouco no enorme campo do Serra Dourada

No primeiro tempo, ambas equipes no 4-2-3-1, espalhados, e se movimentando pouco no enorme campo do Serra Dourada

Como de costume, Marcelo Oliveira manteve o 4-2-3-1. Sem Mayke, Henrique e Ricardo Goulart, todos poupados para evitar lesões, Fábio teve sua linha defensiva formada por Ceará, Dedé, Léo e Egídio. Nilton reeditou a parceria com Lucas Silva no meio-campo, dando suporte a Willian na direita, Éverton Ribeiro como central e Alisson pela esquerda. Na frente, Moreno.

O Goiás não foi a campo com três zagueiros, como informou o SporTV no início da transmissão. Ricardo Drubscky também armou um 4-2-3-1, com Renan no gol, Jackson e Felipe Macedo como zagueiros, Moisés na lateral direita e Léo Veloso na esquerda. Valmir Lucas entrou como volante preso, com David tendo ligeiramente mais liberdade. O quarteto ofensivo tinha Thiago Mendes na direita, Tiago Real por dentro e Samuel na esquerda atrás de Bruno Mineiro.

Ritmo lento: Sonolência ou estratégia?

O jogo começou e parecia não ter começado, tal a lentidão que os jogadores de ambas as equipes colocavam em campo. Muitos amigos nas redes sociais já cornetavam, dizendo da sonolência do time, mas este blogueiro preferiu avaliar pelo lado da estratégia: se poupar para não cansar no enorme gramado do Serra Dourada. Assim, não vimos o Cruzeiro que normalmente vemos em outras partidas, aplicando pressão sobre a zaga adversária para roubar a bola e tocando com velocidade e intensidade quando a tinha nos pés.

Quando o Cruzeiro acelerou, chegou ao gol. Bola roubada no meio-campo, a defesa do Goiás ainda estava se arrumando, mas Éverton Ribeiro, de frente e sem marcação, tinha três opções de passe: Ceará, que já passava na direita; Alisson, totalmente livre pelo lado esquerdo com o lateral Moisés correndo para alcançá-lo; e Marcelo Moreno, marcado por um zagueiro e com outro na sobra. A escolha de Éverton foi a mais difícil: um passe em profundidade, fora do alcance da cobertura e apostando na velocidade do boliviano, que concluiu cruzado para marcar. Oitava assistência de Éverton no certame, o líder no quesito.

Talvez pela facilidade, os jogadores de certa forma se acomodaram. Conseguiam repelir as investidas goianas com facilidade, e não quiseram correr muito mais para fazer o segundo e matar logo a partida.

Segundo tempo

Nenhuma mudança houve depois do intervalo. A única diferença foi que o Cruzeiro passou a ter mais posse de bola na intermediária ofensiva ao invés da defensiva, mas com poucas tentativas de passe agudo. Só aos 15 o jogo mudaria um pouco, com Drubscky trocou Moisés por Murilo, um meia, passando Valmir Lucas para a lateral direita. Murilo foi jogar aberto na direita, e os dois Tiagos ficaram mais próximos por dentro do campo, com Real mais à direita e Mendes mais à esquerda. Uma espécie de 4-3-3, pendendo muito para a direita.

O mapa de passes do 2º tempo (Opta) mostra como o Goiás insistiu pela direita, tendo um jogador aberto naquele setor (Murilo) mas não do outro lado

O mapa de passes do 2º tempo (Opta) mostra como o Goiás insistiu pela direita, tendo um jogador aberto naquele setor (Murilo) mas não do outro lado

No Cruzeiro, Egídio deu seu lugar a Samudio. Naquele momento, achei que fosse para poupar e dar mais segurança, mas Egídio teve um problema na mão e teve que sair. Depois, com Alisson por Dagoberto, Marcelo queria definir a partida de uma vez, mas não foi o que aconteceu. O Goiás começou a ocupar a intermediária ofensiva e trocar passes muito próximo da área de Fábio, muito porque o Cruzeiro não dava pressão sobre o homem da bola neste setor. Um risco desnecessário, já que seria melhor ocupar o meio-campo e empurrar o time verde para trás.

Com Henrique, Cruzeiro fechou o meio-campo mas abriu os corredores, permitindo vários cruzamentos -- um risco desnecessário

Com Henrique, Cruzeiro fechou o meio-campo mas abriu os corredores, permitindo vários cruzamentos — um risco desnecessário

Marcelo Oliveira tentou mexer no time com Henrique na vaga de Willian, numa rara modificação de sistema tático. O Cruzeiro se postou num 4-3-1-2, com Henrique e Lucas ligeiramente mais avançados que Nilton no meio. Dagoberto se juntou a Moreno no ataque e Éverton ficou na ligação. O meio-campo central ficou mais forte defensivamente, mas sem jogadores abertos o Cruzeiro abriu os corredores, e o Goiás que começou a atacar com seus dois laterais ao mesmo tempo. O resultado foi uma profusão de bolas na área, que o Cruzeiro conseguia afastar até com certa facilidade. Mas novamente corria riscos desnecessários.

Já Ricardo Drubscky trocou seus dois atacantes para poder encaixar passes em profundidade e pegar a defesa celeste correndo pra trás. Não tinha funcionado até o último lance da partida, quando a postura cautelosa demais quase cobrou seu preço. Uma bola espirrada de Léo acabou servindo de passe para Esquerdinha. Dedé foi com ele e ganhou na bola, mas o juiz viu pênalti, que David mandou pra fora.

Segurando demais

Esta partida contra o Goiás mostrou que o Cruzeiro está ciente de sua capacidade e também tem maturidade para acelerar o jogo quando bem entende. É compreensível que os jogadores não quisessem se aplicar tanto na marcação, visto o tamanho do campo e a maratona de jogos que está por vir. No entanto, talvez tenha exagerado no freio. Era preciso acelerar um pouco, mas apenas um pouco, não a ponto do desgaste físico ser um fator. E seria suficiente para que o Cruzeiro não corresse os riscos que correu no fim da partida.

No empate contra o Botafogo e na vitória que só valeu um ponto contra o Criciúma, o time foi elogiado pela busca constante do gol e pelo jeito de jogar ofensivo e consciente. Apesar de ter valido mais pontos, esta partida não merece tantos elogios quanto as outras. O Cruzeiro quase perdeu dois pontos por puro desleixo. O tamanho do campo é um atenuante, mas não pode ser a única desculpa.

Que bom que a maioria dos próximos jogos será em campos menores, e assim poderemos ver o Cruzeiro verdadeiro em ação.