Huracán 3 x 1 Cruzeiro – O humano e o desumano

Pouco mais de dois dias após um jogo de alta intensidade, o Cruzeiro voltava a campo para jogar. Fez bons minutos iniciais, levando alguns sustos mas aplicando alguns também, mas dois terríveis erros defensivos mudaram a história do jogo. Mesmo após os gols, o Cruzeiro continuou tendo alguma iniciativa e até conseguiu diminuir no início da segunda etapa, apenas para ver sua reação morrer com mais um erro defensivo e o esgotamento físico.

Escalações

Com Henrique se movendo entre a ponta e o centro, o Cruzeiro variava entre um 4-2-3-1 e um 4-3-1-2, com Mena dando amplitude pela esquerda e Willians ajudando Mayke pela direita, com Willian circulando

Com Henrique se movendo entre a ponta e o centro, o Cruzeiro variava entre um 4-2-3-1 e um 4-3-1-2, com Mena dando amplitude pela esquerda e Willians ajudando Mayke pela direita, com Willian circulando

Com Alisson vetado, Marcelo Oliveira surpreendeu e escolheu Willian Farias para o seu lugar. Três volantes? Mais ou menos. O time foi a campo num 4-2-3-1, mas com uma variação com a movimentação de Henrique. A meta de Fábio era defendida por Mayke à direita, Léo e Paulo André no centro e Mena pela esquerda. À frente da área Willian Farias ficava mais fixo, liberando Willians para ajudar no ataque pela direita. Henrique variava entre as funções de ponteiro e volante esquerdo, com Willian do outro lado, De Arrascaeta centralizado e Damião na frente.

O Huracán do treinador Néstor Apuzzo também entrou no 4-2-3-1. A linha defensiva do goleiro Díaz tinha Nervo e Domínguez na zaga, com Mancinelli pela direita e Balbi na lateral esquerda. Na proteção, os volantes Villaruel e Vismara davam suporte ao trio formado por Puch na ponta direita, Toranzo central e Gamarra pela esquerda. Na referência, Abila.

Entendendo o sistema

Ter jogado um clássico de alta intensidade 48 horas antes não resultou apenas no veto a Alisson. Marcelo revelou após a partida que a entrada de Willian Farias era para aliviar a barra de Willians, tendo a companhia de outros dois jogadores marcadores no centro. De fato, Henrique começou o jogo bem centralizado, tentando fechar a entrada da área. Mas logo recebia instruções de Marcelo Oliveira para marcar o avanço do lateral Mancinelli, que tinha o corredor livre.

Assim, sem a bola, o Cruzeiro se configurava num 4-2-3-1, com Henrique na ponta. Quando o Cruzeiro recuperava a bola, Henrique tentava explorar o espaço entre o centro e a ponta esquerda, participando da construção e abrindo o corredor para Mena apoiar. Do outro lado, Marcelo Oliveira dava orientações para Willian estreitar no campo e abrir o corredor para o avanço de Mayke, outro objetivo deste esquema.

Errou, pagou

Depois de uma certa pressão inicial, da qual o Cruzeiro se defendeu muito bem, o jogo passou a ficar bem equilibrado. O Cruzeiro teve boas oportunidades, mas pecava ou no último passe ou na finalização. Em suma, na fase ofensiva, faltou apenas um capricho maior.

O problema do 1º tempo foi a transição ofensiva. O Huracán tentava pressionar imediatamente após a perda da bola, inclusive fazendo várias faltas, algumas não marcadas pelo juiz. Como a que Damião sofreu antes do 1º gol. Willians até recuperou a bola, mas foi displicente e tentou driblar numa área perigosa, sem sucesso. Ainda por cima, Abila estava impedido quando o passe saiu. Fábio até conseguiu adivinhar o lado do drible, mas não conseguiu pegar a conclusão.

Errou, pagou (II)

Mesmo depois do gol, o Cruzeiro não se abateu. Continuou jogando da mesma forma, inclusive nos erros: o passe final ou a conclusão. Mas em outro erro na transição, desta vez mais coletivo, redundou no segundo gol argentino. Mena estava fora da sua posição quando o Cruzeiro perdeu a bola, fazendo Paulo André sair na cobertura pela esquerda e ficar no um contra um com Puch. O atacante do Huracán teve mérito no drible, e conseguiu achar um cruzamento para dentro da área que achou Abila, totalmente livre — nem Mayke nem Léo viram a movimentação do centroavante.

No segundo gol, erros em série: Paulo André é driblado por Puch, Mena sai na cobertura mas não impede o passe e ainda deixa o espaço para Abila receber a bola, com Mayke e Léo estáticos

No segundo gol, erros em série: Paulo André é driblado por Puch, Mena sai na cobertura mas não impede o passe e ainda deixa o espaço para Abila receber a bola, com Mayke e Léo estáticos

A partir daí, o Huracán parou de pressionar alto. Deu a bola para o Cruzeiro e se contentou em absorver a pressão. O Cruzeiro se moveu até onde suas pernas aguentavam. Teve volume, e iniciava as jogadas já no campo de ataque. Teve algumas “meias chances” de diminuir, mas não conseguiu abrir a defesa argentina com clareza até o fim do primeiro tempo.

Gabriel Xavier

Após o intervalo, o Cruzeiro voltou com Gabriel Xavier na vaga do extenuado Willians. Com isso, Henrique voltou à volância ao lado de Willian Farias, e Willian inverteu de lado para que Gabriel Xavier entrasse à direita, fazendo um 4-2-3-1 mais claro. Com o jovem meia, o Cruzeiro voltou gastando as últimas forças que tinha para recuperar o placar, e aplicou uma boa pressão inicial.

De Arrascaeta caía pelos lados mas também entrava na área, com Gabriel Xavier centralizando, abrindo o corredor pra Mayke. Posteriormente, Marcelo ordenou a inversão dos ponteiros, com Willian vindo para o lado direito, mas a dinâmica continuou a mesma: ponteiros centralizando para o lateral apoiar. Foi numa dinâmica dessas que veio o empate: Mayke subiu e cruzou, achando Gabriel Xavier dentro da área do outro lado. O meia fez a assistência pra Damião, que acabou sofrendo pênalti antes de concluir, convertido por ele mesmo.

Destruindo a reação

Fim de jogo: Cruzeiro no 4-2-3-1 mais claro, mas extenuado, tentando algo pelos flancos com Riascos e Pará, mas sem físico para marcar o 4-4-2 do Huracán

Fim de jogo: Cruzeiro no 4-2-3-1 mais claro, mas extenuado, tentando algo pelos flancos com Riascos e Pará, mas sem físico para marcar o 4-4-2 do Huracán

A postura que o Cruzeiro mostrava em campo dava a impressão de que o empate era uma questão de tempo, já que continuou tendo mais volume e iniciativa. Mas outro erro defensivo destruiu o bom momento celeste. Em uma falta boba longe da área, o Huracán optou por fazer o jogo aéreo. Em bolas paradas, o Cruzeiro faz marcação individual. Damião, que era o marcador de Mancinelli, simplesmente não acompanhou o lateral, que conseguiu chegar à bola e testar no contrapé de Fábio.

A partir daí, o cansaço finalmente bateu forte, e o Cruzeiro já não tinha mais forças para correr e abrir a defesa do Huracán. Pior, também marcava mais frouxo, perdia segundas bolas, e começou a dar espaço para o time argentino. Marcelo ainda tentou reequilibrar, com Riascos e Pará nas vagas de Willian e Mena — jogadores descansados pelos lados. Eles até conseguiram alguns cruzamentos, mas nada muito perigoso. E o setor de meio-campo ainda continuava cansado, de forma que o jogo se arrastou até o fim com o Huracán tendo a bola e controlando o jogo.

Lições e aprendizados

Falhas defensivas acontecem. Sempre aconteceram com qualquer time, e continuarão a acontecer. Certamente você se lembra daquele 0x3 para o Flamengo no Maracanã ano passado. Prova de que mesmo os times comprovadamente bem treinados e até já campeões cometem erros que culminam em derrotas. Mas isso não quer dizer que não se deva cobrar dos jogadores que cometeram essas falhas. É preciso que Marcelo corrija estes erros na transição, que é um momento muito vulnerável da equipe. Não é por acaso que a pressão alta é uma grande vedete no futebol moderno.

Além disso, é impossível desconsiderar o fator físico em qualquer análise sobre o jogo. Detratores dirão que o cansaço não é desculpa, já que o time sofreu dois gols em cinco minutos. É verdade, em erros defensivos não ocasionados pelo cansaço. Mas este aspecto interferiu diretamente na escalação, na estratégia e até o modelo de jogo da equipe. Não há como dizer que não influenciou o jogo desde o minuto 1.

Essa é a lição que se tem que tirar deste jogo. Nem vou entrar na controvérsia das datas dos jogos semifinais, que já foi muito explorada. Como já está definido que será novamente domingo, é preciso que se saiba dosar a intensidade, ainda que seja um clássico. A vantagem do empate pode pesar a favor, já que é o rival que terá que vencer para passar, e para isso terá que correr mais e propor o jogo.

Marcelo certamente sabe disso e usará esses aprendizados para tomar a melhor decisão em relação à escalação e à estratégia. Nós, torcedores, podemos discordar delas. Mas durante o jogo, devemos apoiar os onze, não importa quem sejam ou o que estão fazendo em campo.

Atlético/MG 1 x 1 Cruzeiro – Jogando de maneira Horto-doxa

O Cruzeiro foi ao Horto mais uma vez para tentar acabar com a incômoda sequência negativa sem vitórias diante do rival. E seguiu o plano à risca do início ao fim: marcar bem e jogar quando possível, correndo o mínimo de risco necessário

Acabou fazendo um jogo seguro na defesa e com boa criação ofensivamente, até sofrer o gol, e depois empatou em gol antológico de De Arrascaeta. E nem mesmo a expulsão de Leonardo Silva fez o time abandonar sua estratégia ortodoxa, quando poderia ter saído com uma vitória.

Sistemas iniciais

No 1º tempo, os dois times no mesmo esquema e estratégia: 4-2-3-1 muito cautelosos, com muita gente atrás da linha da bola na fase defensiva; no Atlético, Guilherme saía da referência para armar

No 1º tempo, os dois times no mesmo esquema e estratégia: 4-2-3-1 muito cautelosos, com muita gente atrás da linha da bola na fase defensiva; no Atlético, Guilherme saía da referência para armar

Mesmo tendo jogo já na terça-feira, Marcelo Oliveira só poupou Mayke, e mesmo assim porque ele tinha desgaste excessivo. Assim, o time foi armado no 4-2-3-1, com a linha defensiva de Fábio começando com Fabiano na lateral direita, Léo e Paulo André na zaga e Mena na esquerda. Willians e Henrique novamente fizeram a parceria na proteção, atrás de Willian à direita, De Arrascaeta centralizado e Alisson à esquerda. Na centroavância, Damião.

Levir Culpi também mandou o Atlético a campo num 4-2-3-1. Protegendo o gol de Victor estavam Leonardo Silva e Jemerson, com Marcos Rocha na lateral direita e Douglas Santos do outro lado. Josué entrou na vaga do suspenso Leandro Donizete, com Rafael Carioca a seu lado e dando suporte à linha de três meias, que tinha o ponteiro direito Luan, o central Dátolo e o ponteiro esquerdo Carlos, deixando Guilherme livre para flutuar entre o meio e o ataque, quase como um “falso nove”.

Excesso de cautela

O jogo começou com os dois times com muito receio de se exporem aos ataques adversários. Nenhum marcava agressivamente no campo de ataque, preferindo fechar os espaços a partir da linha divisória, algo que contrariava a expectativa em relação à estratégia do Atlético, já que era o mandante e tinha que inverter a vantagem. Dessa forma, os zagueiros tinham bastante tempo na bola, e às vezes ficavam tocando um para o outro tentando achar a melhor saída.

Nesse ponto, as estratégias divergiram. O Cruzeiro preferia sair pelo chão, usando bastante as laterais do campo, principalmente o lado esquerdo com Mena e Alisson. Foi numa jogada dos dois que Damião completou o cruzamento do chileno na trave, logo as 7 minutos. Já o Atlético preferia usar bolas longas e inversões de um lado a outro do campo pelo alto.

O baixo número de finalizações no 1º tempo ilustra bem a postura dos dois times: Cruzeiro (vermelho) só finalizou uma vez contra 3 do Atlético (azul)

O baixo número de finalizações no 1º tempo ilustra bem a postura dos dois times: Cruzeiro (vermelho) só finalizou uma vez contra 3 do Atlético (azul)

Festival de cartões

Isso tudo em meio a uma festa de amarelos: foram 7 entre os 10 e os 34 minutos, um a cada 3 minutos e meio. Alguns muito mal aplicados, como foi o caso de Léo e Leonardo Silva pré-escanteio. O de Léo em particular forçou Marcelo a fazer a primeira troca já no primeiro tempo, colocando Manoel na vaga de Léo para prevenir uma muito provável expulsão posterior.

A partir dessa troca, o Atlético começou a tentar pressionar o Cruzeiro logo que perdia a posse, aumentando a velocidade do jogo e forçando o Cruzeiro a quebrar a bola. Com isso, o quarteto de frente, que até então estava até razoável, sumiu do jogo, e o Cruzeiro passou a se defender apenas. Mas fazia isso com muita segurança, já que o Atlético corria muito, mas não conseguia chegar próximo da meta de Fábio.

Infelizmente, o futebol não perdoa erros, por mais raros que eles sejam. Depois que o Cruzeiro perdeu a bola no ataque, Guilherme — que frequentemente saía da posição de avante e aparecia entre as linhas — ficou sozinho no círculo central, longe dos zagueiros e dos volantes do Cruzeiro, que estavam fora de posição. Com tempo e espaço, o ex-cruzeirense conseguiu inverter para Luan do lado direito, que cruzou para uma falha geral da zaga celeste, sintetizada em Fabiano perdendo na corrida para Carlos.

No lance do gol do Atlético, Guilherme está recuado e com muito espaço pra pensar, já que os volantes Henrique e Willians (destacados) estavam fora de posição; note também os dois zagueiros do Cruzeiro sem um adversário pra marcar

No lance do gol do Atlético, Guilherme está recuado e com muito espaço pra pensar, já que os volantes Henrique e Willians (destacados) estavam fora de posição; note também os dois zagueiros do Cruzeiro sem um adversário pra marcar

Jogo segue igual

No intervalo, Marcelo Oliveira novamente fez uma troca por causa do excesso de amarelos. Promovendo a estreia de Fabrício na vaga de Mena, que travava um duelo feroz com Luan no setor esquerdo. Mas a mudança esperada não veio: a de estratégia. O Cruzeiro continuou cauteloso, sem pressionar a saída sem colocar muita gente à frente da linha da bola.

Menos mal que, em uma jogada de Willians, avançando com inteligência nos espaços deixados pelo meio-campo atleticano, passou a De Arrascaeta, que quase perdeu a bola, mas num lance de pura genialidade deu no meio das pernas de Josué e driblou outros dois defensores rivais antes de vencer Victor com um tiro cruzado. Segundo golaço do garoto uruguaio na semana.

Finalmente, algo pra mudar o jogo?

Mesmo com o gol, o jogo seguiu igual, com os dois times ainda com receio de sair muito. Alguns minutos depois do empate, Damião e Leonardo Silva se estranharam e o zagueiro acabou expulso. Até a entrada de Edcarlos na vaga de Josué, Luan preencheu o lado direito da zaga, e depois voltou ao lado direito no novo 4-4-1 de Levir, com Dátolo ao lado de Rafael Carioca. Com a bola, o Atlético se tornava um ousado 4-2-3 com o avanço dos ponteiros.

Fim de jogo: Cruzeiro num 4-2-3-1 muito paciente, diante de um Atlético postado no 4-4-1 pra segurar as ações ofensivas celestes

Fim de jogo: Cruzeiro num 4-2-3-1 muito paciente, diante de um Atlético postado no 4-4-1 pra segurar as ações ofensivas celestes

Mas o jogo seguiu igual. Se o Atlético já estava cauteloso, com um a menos se postou atrás e tentou chamar o Cruzeiro para contra-ataques. Quando recuperava a bola, também não acelerava, pois não queria ceder o contra-ataque. Marcelo então lançou mão de Gabriel Xavier, tirando Willian da partida, numa tentativa de cadenciar mais a partida e tocar com paciência, para achar os espaços que um time com um a menos e atrás no placar naturalmente cederia.

Sem ímpeto no fim

Isso aconteceu em parte, já que o Cruzeiro tocou a bola com paciência e tentando não arriscar muito no último passe. Rodou a bola, mas os jogadores da frente não se movimentaram tanto para ajudar a criar espaços. Gabriel Xavier perambulou pelo meio, De Arrascaeta subiu para dentro da área e deixou o primeiro passe para os volantes. Não foi suficiente para entrar nas duas linhas do Atlético. Após a expulsão, o Cruzeiro só conseguiu dois chutes de fora da área e nada mais.

Já quando o Atlético recuperava a bola, o Cruzeiro não pressionava no alto do campo, o que era até compreensível, mas também não pressionava o homem da bola na intermediária defensiva. Os jogadores rivais conseguiam ter a bola em zonas bem próximas da área de Fábio, conseguindo faltas e escanteios perigosos. Felizmente, a equipe da casa nada conseguiu, e estava decretado mais um empate em clássicos pelo Campeonato Mineiro. Já são 5 nos últimos dois anos.

Dois lados de um tabu

É claro que o tabu de não vencer clássicos incomoda a torcida. Após o jogo choveram críticas de muitos torcedores, principalmente em relação à postura do time após a expulsão de Leonardo Silva. Apesar de exageradas, as críticas tem certo fundamento, pois a impressão que fica é que se o Cruzeiro tivesse arriscado um pouco mais teria conseguido sair do Horto com uma vitória.

Por outro lado, há muitas razões pelas quais o Cruzeiro não quis se arriscar. Além de ter a vantagem no confronto por ter melhor campanha, era um jogo na casa do rival, com a totalidade da torcida contra. Isso sem falar que o Cruzeiro jogará em menos de 48 horas na Argentina pela Libertadores, uma partida que é sim muito importante, mesmo que a classificação para as oitavas já esteja bem encaminhada.

Isto posto, é seguro dizer que esta foi uma das melhores partida do Cruzeiro no Independência, desde que os clássicos passaram a ter mando em 2013. Defensivamente foi uma equipe bem sólida, exceção feita ao erro coletivo que resultou no gol do rival. Com a bola, considerando a estratégia, foi razoável, criando boas oportunidades nos primeiros minutos. A única ressalva é em relação à postura após a expulsão, defensiva e ofensivamente.

Marcelo falou na coletiva que foi o primeiro clássico em que o Cruzeiro não foi dominado no Independência. De fato. E é um bom indício de que a sequência negativa diante do rival tem tudo pra terminar no fim de semana que vem.

Cruzeiro 3 x 0 Mineros – Igual mas diferente

Muito mais intenso do que nas outras partidas do ano, o Cruzeiro fez transparecer a diferença técnica entre ele e o time do Mineros e conseguiu uma vitória categórica. A surpreendente estratégia do time venezuelano de marcar no alto do campo atrapalhou no início, mas o Cruzeiro soube construir o placar rapidamente para lidar com isso com mais tranquilidade.

Tudo isso usando o mesmo esquema tático e praticamente os mesmos jogadores da derrota para o Tombense, inclusive no mesmo posicionamento referencial, com De Arrascaeta centralizado.

Esquemas de partida

No início, ambos os times no 4-2-3-1, com o Cruzeiro se mexendo bem no ataque e tendo problemas na saída de bola com a pressão alta que o Mineros surpreendentemente fazia, com Valyes e Blanco

No início, ambos os times no 4-2-3-1, com o Cruzeiro se mexendo bem no ataque e tendo problemas na saída de bola com a pressão alta que o Mineros surpreendentemente fazia, com Valyes e Blanco

Marcelo Oliveira insistiu no 4-2-3-1, com Damião à frente do central De Arrascaeta e Alisson e Willian pelos lados. No suporte, Henrique teve a volta de Willians, e a linha defensiva tinha Mayke e Mena pelas laterais, com Léo e Paulo André logo à frente do gol de Fábio.

O time venezuelano do técnico Marcos Mathias também veio a campo num 4-2-3-1. O gol de Romo foi protegido por Vallenilla na lateral direita, Matos e Machado na zaga e Cíchero na esquerda. Na entrada da área estavam os volantes López e Jiménez, e mais à frente estava Peña de ponteiro direito, Cabello pela esquerda e Blanco centralizado, atrás do centroavante Valoyes.

Um início diferente

O esperado era que o Mineros se fechasse em duas linhas e marcasse a partir do meio-campo, mas não foi isso o que aconteceu. Marcos Mathias mandou seus jogadores pressionarem a saída de bola com os zagueiros do Cruzeiro, forçando a quebra de bola. O Cruzeiro teve alguma dificuldade na transição para o campo de ataque, e em um momento Willian teve de entrar entre os zagueiros pra fazer a saída de 3 e sair da pressão dos dois avançados do Mineros, Blanco e Valoyes.

Porém, quando a bola chegava ao campo de ataque, o Cruzeiro finalmente teve a mobilidade e a intensidade que tanto cobrávamos, principalmente com De Arrascaeta, Alisson e Damião. O uruguaio aparecia dos dois lados, no centro e dentro da área; Alisson frequentemente centralizou no campo e até foi pro outro lado; e Damião saía da área constantemente pra ajudar na construção. Assim, aos poucos, o Cruzeiro foi apertando o Mineros contra sua própria área, com Henrique e Willians recuperando bolas já no campo de ataque e participando do reinício da fase ofensiva.

Dois golpes rápidos

O lance do primeiro gol tem tudo isso. Alisson na esquerda, De Arrascaeta na direita e Willian central, todos bem próximos. Willians recebe um passe de retorno e já passa a Alisson, que manda de letra para Mayke que estava passando para o apoio pela direita. O cruzamento foi bloqueado, mas Mayke disputou no ar e conseguiu mandar pra área, onde estava De Arrascaeta sozinho pra marcar um golaço de bicicleta.

O ínicio da jogada do 1º gol: Cruzeiro atacando com 8 jogadores, os dois laterais dando amplitude e o quarteto ofensivo bm próximo e com posições invertidas: de Willians para Alisson para Mayke para De Arrascaeta para o gol.

O ínicio da jogada do 1º gol: Cruzeiro atacando com 8 jogadores, os dois laterais dando amplitude e o quarteto ofensivo bm próximo e com posições invertidas: de Willians para Alisson para Mayke para De Arrascaeta para o gol.

Nem bem a torcida comemorava, o Cruzeiro já fazia o segundo. Mena vai cobrar um lateral e tem Alisson e Damião próximos e fora da área, o que puxou a marcação para o lado esquerdo. O outro zagueiro do Mineros não compactou lateralmente e um espaço se abriu entre os dois defensores, que Jiménez não cobriu. Foi justamente onde Damião colocou a bola para fuzilar no ângulo contrário de Romo.

Já no gol de Damião, a marcação do Mineros se concentrou em um lado e abriu um buraco no meio, já que o outro zagueiro não compactou lateralmente. Foi justamente o local de onde partiu o chutaço de Damião

Já no gol de Damião, a marcação do Mineros se concentrou em um lado e abriu um buraco no meio, já que o outro zagueiro não compactou lateralmente. Foi justamente o local de onde partiu o chutaço de Damião

Mesmo com a vantagem construída rapidamente, o Cruzeiro não diminuiu o ritmo. Continuou tendo a iniciativa do jogo, com a bola nos pés, tentando marcar o terceiro. Já o Mineros já não se arriscava tanto na pressão alta, talvez temendo uma goleada e mesmo assim, o Cruzeiro continuou tendo problemas na transição ofensiva, cedendo contra-ataques perigosos.

Intervalo

A sensação era que tinha sido o melhor primeiro tempo do Cruzeiro no ano, e não foi à toa que o time voltou dos vestiários sem nenhuma modificação. Já o Mineros voltou sem Vallenilla, que já havia recebido um amarelo que poderia ser muito bem um vermelho. O zagueiro Velásquez entrou no seu lugar e Matos foi para a lateral direita.

O Cruzeiro teve o mesmo onze, mas diminuiu o ritmo no ataque, tentando fazer uma saída de bola mais cautelosa e menos arriscada. Mas não deixou de se movimentar e aplicar intensidade na hora certa, como na jogada pela direita que envolveu Willian, Willians e Mayke. Aproximação, toques rápidos e Mayke aparecia na frente para dar uma meia-lua no zagueiro, mas infelizmente cruzar errado. Um pequeno lampejo do futebol de 2013/14.

Outras trocas

No fim, Cruzeiro apenas administrou a grande vantagem, com Gabriel Xavier fazendo bons minutos pela direita

No fim, Cruzeiro apenas administrou a grande vantagem, com Gabriel Xavier fazendo bons minutos pela direita

Vendo que nada ia mudar, Marcos Mathias trocou Peña pelo volante Acosta, que saiu sinalizando pra todo mundo. O time do Mineros mudou para um 4-1-4-1, com Jiménez atrás de uma linha formada por, Valoyes, Cabello, Acosta e López, com Blanco à frente. Parecia que ia funcionar, já que logo após a troca aconteceu uma das três únicas finalizações do Mineros na etapa final (a única certa). Mas logo o jogo assentou novamente e o Cruzeiro continuou com o controle total da partida.

Marcelo trocou Willians por Seymour, prevenindo uma possível expulsão já que o volante estava amarelado, e também Willian por Gabriel Xavier, fazendo a linha de 3 que muita gente pedia: Gabriel Xavier à direita, De Arrascaeta central e Alisson à esquerda. O esquema continuou sendo o 4-2-3-1.

Mal o chileno havia entrado em campo e o Cruzeiro fez o terceiro com Henrique cabeceando um escanteio — uma rara bola parada que funcionou este ano. A partida terminou de vez ali. O atacante Cabezas ainda entrou no lugar de Cabello, com López voltando ao centro do meio-campo e Blanco ocupando o flanco esquerdo, e no Cruzeiro, Alisson deu seu lugar a Joel, mas nada de mais interessante aconteceu na partida, exceção feita à caneta de Gabriel Xavier e ao chapéu de De Arrascaeta no finzinho que deveria ter terminado em gol.

Com intensidade, tudo dá

Quem acompanha esta coluna sabe que o diagnóstico detectado não era o sistema nem a posição de De Arrascaeta, mas sim a falta de mobilidade e intensidade na fase de organização ofensiva. Isso porque o Cruzeiro jogou só contra defesas bem fechadas quando era visitado no Mineirão, e para abrir espaços nessas defesas, é preciso se mexer.

Foi o que aconteceu na quarta. Os mesmos onze jogadores — com Willian na vaga de Judivan, no mesmo esquema tático e nos mesmos posicionamentos iniciais, fizeram um jogo bem diferente da derrota para o Tombense. De Arrascaeta e Alisson se mexiam bastante, Damião foi intenso como vem sendo sempre durante todo o ano. Além disso, a presença de Willians no meio contribuiu para a solidez do meio-campo e para a manutenção da bola no campo de ataque, importante para um time que quer se impor em casa.

Muitos podem argumentar que o Mineros é fraco, e por isso o Cruzeiro venceu com facilidade. É verdade, mas a “facilidade” (entre aspas porque nunca é realmente fácil) só aparece quando o time que é teoricamente superior joga perto do seu máximo. Aí a diferença no placar aparece. Foi 3×0, mas poderia ter sido mais se o Cruzeiro não tivesse desacelerado na segunda etapa.

Mais do que encaminhar a classificação, a vitória sobre o Mineros dá confiança. Que este jogo seja o marco zero da arrancada para o tricampeonato.

Cruzeiro 1 x 2 Tombense – Já era hora

Demorou pra acontecer. O Cruzeiro já mostrava dificuldade em superar as retrancas que os visitantes armam no Mineirão, mas conseguia pelo menos se defender bem, sofrendo poucos gols e conseguindo empates. Contra o Tombense, até trabalhou razoavelmente com a bola para abrir o placar, mas depois a já escassa mobilidade do time cessou.

Some-se a isso os graves problemas defensivos, ocasionados pela distância entre os volantes e a linha defensiva, além do mérito do adversário em explorar exatamente essas falhas, e temos a primeira derrota do Cruzeiro na temporada.

Esquemas iniciais

No início, o 4-2-3-1 Cruzeiro até teve certa mobilidade e controle, mas com o meio e a defesa longe, diante de um Tombense postado no 4-4-2 em linhas e que pressionava só a partir dos volantes celestes

No início, o 4-2-3-1 Cruzeiro até teve certa mobilidade e controle, mas com o meio e a defesa longe, diante de um Tombense postado no 4-4-2 em linhas e que pressionava só a partir dos volantes celestes

Sem Marquinhos, Marcelo Oliveira optou por Judivan na função de ponteiro direito do seu fiel 4-2-3-1, com De Arrascaeta pelo centro e Alisson na esquerda atrás de Damião. Na proteção, Charles e Henrique faziam uma dupla leve e de bom passe, à frente dos zagueiros Manoel e Paulo André, com Mayke e Mena nos flancos. Todos capitaneados pelo goleiro Fábio.

Júnior Lopes, o treinador do Tombense, armou seu time num 4-4-2 britânico, ou seja, em duas linhas: a linha defensiva do arqueiro Warley tinha Gedeílson pela direita, Heitor e Alexandre no miolo e Anderson pela esquerda; a segunda linha tinha Betinho e Jonatan pelas pontas, com os volantes Coutinho e Mateus no centro. Na frente, Rafael Pernão e Jean.

Movimentação até fazer o gol

A escalação de Charles e Henrique era uma tentativa de melhorar a saída de bola e o suporte à organização ofensiva, já que os dois tem bom passe e se alternariam na subida ao ataque. Isso aconteceu em parte, e nos primeiros minutos o Cruzeiro teve até uma saída de bola razoável, com exceção do passe errado de Manoel para De Arrascaeta que o volante Mateus interceptou, para avançar e finalizar em Fábio.

Além disso, De Arrascaeta se mexeu um pouco mais no início, aparecendo pela esquerda e pela direita do ataque, ainda que os ponteiros Judivan e Alisson não ocupassem o setor central em troca. A jogada do primeiro gol é um exemplo: o uruguaio vai até o setor direito para ajudar Mayke, Judivan e Alisson, que naquele momento estava do outro lado, contra quatro defensores. Troca rápida de passes e De Arrascaeta acha Alisson sozinho na frente, forçando a cobertura a sair da área para dar combate. Bastou um drible e veio a assistência para mais um gol de Damião.

Cobertor curto

Mas, como sempre no futebol, se você investe num lugar tem que ceder em outro, afinal são sempre 11 jogadores. Com Henrique e Charles mais voltados a participar da construção, a parte defensiva, que tanto vinha bem neste ano, deixou a desejar. Muito provavelmente a falta de entrosamento especificamente entre os dois tenha atrapalhado, já que em vários momentos ambos avançavam simultaneamente e desguarneciam a última linha.

Dessa forma, o time de Tombos, que já estava numa postura reativa, esperando uma oportunidade para sair em contra-ataques, teve o espaço que queria. Não foi surpresa, portanto, que o passe que iniciou a jogada do gol de empate tenha sido do volante Coutinho, já que Henrique e Charles estavam avançados demais. Ele passou a Rafael Pernão, mas Paulo André fez a leitura e foi pra cobertura, atrasando a jogada e dando tempo para a defesa se recompor. No entanto, isso não aconteceu, pois Charles se preocupou com o jogador dentro da área e Henrique nem voltou. Jonatan recebeu sozinho na entrada da área para empatar.

Excesso de tranquilidade?

A impressão que ficou da primeira etapa é que o Cruzeiro estava numa espécie de letargia pós-gol. Trabalhou com certa preguiça até abrir o placar e depois parou totalmente de vez de se movimentar. Tirando um chute numa jogada individual de Alisson e o gol de Damião, o Cruzeiro pouco ameaçou. Talvez, com o time já classificado no estadual e já pensando no jogo contra o Mineros pela Copa Libertadores, os jogadores naturalmente não mostrassem tanto afinco. Não pode ser desculpa.

Depois do intervalo, a equipe melhorou ligeiramente com Gabriel Xavier pela direita e Marcos Vinícius no centro, mas não o suficiente pra criar chances; problemas defensivos continuaram

Depois do intervalo, a equipe melhorou ligeiramente com Gabriel Xavier pela direita e Marcos Vinícius no centro, mas não o suficiente pra criar chances; problemas defensivos continuaram

Na coletiva, Marcelo citou muitas vezes que “faltou espírito de luta, de competição”. Segundo ele, foi por isso que voltou do vestiário com Gabriel Xavier e Marcos Vinícius nas vagas de Judivan e De Arrascaeta. Marcos Vinícius jogou pelo centro, e Gabriel Xavier o setor direito. A ideia era dar mais mobilidade ao time, e quem sabe aumentar a competitividade.

Um pouco melhor, mas igualmente ruim

As trocas deram uma movimentação um pouco melhor com a bola, já que Gabriel e Marcos se procuravam e tentavam aproximações, sem ainda ser suficiente pra abrir a defensa adversária. Tanto que o lance mais perigoso foi uma bola longa para Gabriel Xavier, que conseguiu dominar já colocando na frente para finalizar. Mandou por cima.

Os problemas defensivos, porém, continuaram. No primeiro contra-ataque da equipe de Tombos, uma falha defensiva generalizada: Alisson não percebe Gedeílson passando às suas costas e não o acompanha, além dos volantes mais uma vez estarem demasiadamente avançados, deixando a última linha em inferioridade numérica. Ainda houve tempo para recuperação, e a defesa ficou no mano a mano, mas Henrique não prestou devida atenção em Coutinho, que infiltrou e virou o placar.

Na jogada do 2º gol do Tombense, várias falhas permitiram que o adversário atacasse a última linha com superioridade numérica; a defesa ainda conseguiu se recompor, mas Henrique largou a marcação de Coutinho, o autor do tento

Na jogada do 2º gol do Tombense, várias falhas permitiram que o adversário atacasse a última linha com superioridade numérica; a defesa ainda conseguiu se recompor, mas Henrique largou a marcação de Coutinho, o autor do tento

Última cartada

No fim, Cruzeiro totalmente à frente, com Joel entrando na área e Marcos Vinícius armando de trás; Tombense fechou o centro e segurou o resultado, quase marcando o 3º num contra-ataque 4 contra 1

No fim, Cruzeiro totalmente à frente, com Joel entrando na área e Marcos Vinícius armando de trás; Tombense fechou o centro e segurou o resultado, quase marcando o 3º num contra-ataque 4 contra 1

Imediatamente após o gol, Marcelo gastou sua última troca, tirando Charles da partida para lançar Joel. Com isso, Marcos Vinícius era o responsável por qualificar a saída, com Joel entrando na área e Gabriel Xavier circulando entre a direita e o centro. Ficou bem exposto, mas o Tombense recuou as linhas e parou de sair em contra-ataques.

Num dos primeiros lances após o gol, Marcos Vinícius chutou de fora, o goleiro Warley deu rebote nos pés de Gabriel Xavier, que chutou em cima do goleiro novamente. Parecia que o time ia tomar conta, mas foi talvez o lance mais perigoso do Cruzeiro na etapa final. O time celeste finalizou muitas vezes, mas quase sempre de muito longe e sem perigo.

Já perto do fim, Júnior Lopes trocou Jean e Jonatan por Daniel Amorim e Lucas Silva. O Cruzeiro, sem substituições a fazer, se lançou de vez ao ataque, sintetizado na entrada de Paulo André na área com bola rolando, ao invés de bolas paradas como é mais comum. Bastou um erro para deixar Mayke, o último defensor, sozinho contra quatro jogadores. Pra sorte do Cruzeiro, Mayke conseguiu afastar.

Depois, o treinador do Tombense fechou o time de vez com Djair na vaga de Pernão, trancando o meio. Ainda houve tempo para um chute de Joel, mas o camaronês mandou na trave a chance de evitar o primeiro revés da temporada — que, convenhamos, já devia ter chegado antes.

Todos os 20 jogadores de linha na mesma imagem: Cruzeiro desesperado, totalmente à frente, em vias de sofrer um contra-ataque: quatro jogadores contra Mayke, que conseguiu evitar o gol

Todos os 20 jogadores de linha na mesma imagem: Cruzeiro desesperado, totalmente à frente, em vias de sofrer um contra-ataque: quatro jogadores contra Mayke, que conseguiu evitar o gol

E agora?

A grande verdade é que o Cruzeiro jogou a mesma coisa que jogou nos outros jogos. Só que desta vez teve falhas defensivas graves que foram bem aproveitadas pelo adversário. Tanto que foi o primeiro jogo do ano em que o Cruzeiro sofreu mais de um gol — não por acaso, foi a primeira derrota.

A aproveitamento no Mineirão é ruim, mas tem explicação: todos que visitaram o Cruzeiro se fecharam na defesa, inclusive o Atlético Mineiro. E o Cruzeiro atual ainda tem imensa dificuldade em entrar nessas defesas bem postadas. O time ainda é estático demais, com jogadores muito presos aos seus respectivos setores.

Esse é o diagnóstico: falta mobilidade. Nem é preciso muita, como prova o solitário gol da derrota. Muitos sugerem troca de posição de De Arrascaeta, ou mesmo a troca do esquema. Pode funcionar, desde que isso faça com o que o time tenha mobilidade. Se trocar peças, ou de esquema, mas não se mexer, vai continuar tendo dificuldade em destravar estes ferrolhos.

Na quarta-feira, mais uma vez um visitante vai se fechar no Mineirão. Marcelo já sinalizou o time titular, no 4-2-3-1, com De Arrascaeta central e Willian pela direita. Novamente será um jogo para se ter paciência, mas a movimentação tem que aparecer.

Torçamos para que o time, pelo menos, tenha mais espírito de luta.

URT 0 x 2 Cruzeiro – Mais do mesmo

O Cruzeiro venceu em Patos de Minas, mas apresentou os mesmos problemas de sempre na fase ofensiva, mesmo com um “meia de ofício” no centro do meio-campo — um sinal de que o problema não era esse. Com o quarteto de frente muito estático e pouco intenso, a equipe teve dificuldades em sair da marcação individual imposta pela URT.

No segundo tempo, abriu o placar numa troca de posição simples, mas depois recuou, se contentando em absorver a pressão patense e tentando contra-atacar. Só conseguiu este objetivo no finzinho, após levar dois sustos.

O onze inicial

No 1º tempo, Cruzeiro no 4-2-3-1, com Charles avançando pela esquerda mas um quarteto ofensivo estático diante da marcação individual do time da URT

No 1º tempo, Cruzeiro no 4-2-3-1, com Charles avançando pela esquerda mas um quarteto ofensivo estático diante da marcação individual do time da URT

Marcelo Oliveira mandou seu fiel 4-2-3-1 a campo, com o retorno de alguns jogadores poupados e descanso para outros. Assim, a linha defensiva do goleiro Fábio começava com Ceará, com Manoel e Léo na zaga e Gilson na lateral esquerda. A proteção tinha Willian Farias e Charles atrás do central Marcos Vinícius, com Marquinhos à direita e Judivan jogando pelo outro lado. Damião foi o centroavante.

Já a URT do treinador Eugênio Souza entrou marcando individualmente, o que fazia o desenho uma espécie de 4-1-4-1. O gol de Luiz Fernando foi protegido pelos zagueiros Martinez e Carciano, com Rafinha na lateral direita e Marcel na esquerda. O meio-campo começava com Formigoni, ligeiramente mais atrás de Marzagão e Robinho, com Ramon pela direita e Edu Pina pela esquerda. Júnior Paraíba ficava solto na frente.

Muito volume, poucas chances

Com a proposta de marcação individual, a URT abdicava da briga pela posse e deixava a bola com os zagueiros celestes. Jr. Paraíba era o único que não tinha funções defensivas, apenas ocupando espaço na frente sem fazer pressão em Léo ou Manoel. Todos os outros jogadores tinham seu respectivo homem a marcar, com um dos zagueiros na sobra, o que naturalmente desfigurava as linhas de marcação.

Com isso, o Cruzeiro até conseguia fazer uma transição mais suave, sem muitas bolas longas. Mas bastava ela chegar aos pés de um cruzeirense que um adversário fazia pressão. Isso é esperado na marcação individual, mas o Cruzeiro estava sem intensidade e se mexia pouco, o que facilitava o trabalho da URT. Qualquer movimentação ou troca de posições, por menor que seja, já poderia tirar um adversário e deixar um jogador celeste sozinho, mas isso não aconteceu.

Flagrante da marcação individual da URT: note como os jogadores correm por todo campo atrás de seu adversário designado (ex.: Ramon x Gilson ou Rafinha x Judivan), com Carciano na sobra

Flagrante da marcação individual da URT: note como os jogadores correm por todo campo atrás de seu adversário designado (ex.: Ramon x Gilson ou Rafinha x Judivan), com Carciano na sobra

Charles e Marcos Vinícius

Mesmo assim, o Cruzeiro conseguiu ter algum controle da bola no campo de ataque. Isso porque Charles não se limitou à sua faixa de campo — como os volantes fizeram contra o Mamoré — e avançava pela esquerda sempre que possível, para dar suporte a Judivan e Gilson. Além disso, o jovem Marcos Vinícius recebeu mais passes e fez o jogo fluir um pouco mais, ainda que os jogadores tivessem muito longe uns dos outros.

As duas melhores chances do Cruzeiro no 1º tempo partiram dos pés dele. Na primeira, ele faz o passe para Damião no pivô, que de costas para o gol abre para Marquinhos chutar pra fora. E depois, numa ação de raciocínio rápido, quando a bola sobra e ele imediatamente aciona Damião na frente. O passe saiu meio torto e longo, mas mesmo assim Damião conseguiu chutar para a defesa de Luiz Fernando.

Organização defensiva

Sem a bola, o comportamento do Cruzeiro foi igualmente sem intensidade. Sem fazer pressão alta, o time se postava nas suas três linhas, fazendo marcação individual por setor — isto é, combater o adversário que entrar na área de ação do jogador. Foi suficiente para conter o pouco ímpeto ofensivo do time patense: a URT finalizou apenas três vezes contra o gol de Fábio. Nenhuma delas foi na direção certa, e duas foram de muito longe com Jr. Paraíba.

A única finalização mais de perto foi exatamente por causa da movimentação do camisa 10 da URT. Ele era o homem mais avançado quando o Cruzeiro atacava, mas quando a URT tinha a bola, os outros atacantes ultrapassavam e ele flutuava entre as linhas, funcionando como um armador de fato. Foi nessa posição que ele recebeu um passe, livre de marcação, fazendo Gilson sair de sua posição na lateral esquerda para cobrir, abandonando Ramon — que recebeu a bola e cruzou. A bola desviou no próprio Gilson e sobrou para Marzagão que bateu muito mal.

Segundo tempo

Após o jogo, Marcelo Oliveira revelou que pediu duas coisas aos jogadores no intervalo: mais mobilidade e saída de bola mais rápida. Os jogadores atenderam pelo menos a primeira requisição e logo no início do segundo tempo, uma troca de posições simples entre Marcos Vinícius e Marquinhos, com o apoio de Ceará pela direita, finalmente confundiu a marcação da URT.

A jogada do gol, inclusive, começa com uma espécie de pick-and-roll — uma jogada do basquete na qual um companheiro se aproxima e para para bloquear o avanço do marcador do homem da bola. Ceará passa para Marquinhos e bloqueia Formigoni, que foi arrastado por Marcos Vinícius para a direita. Com isso, o jovem meia tem campo para avançar e dar o passe para Marquinhos, também livre no centro, executar uma linda finalização e abrir o placar.

O início da jogada do 1º gol: Ceará e Marcos Vinícius fizera um "pick-and-roll" e tiraram Formigoni do caminho

O início da jogada do 1º gol: Ceará e Marcos Vinícius fizera um “pick-and-roll” e tiraram Formigoni do caminho

Recuo das linhas

Imediatamente após o gol, Eugênio Souza trocou Ramon pelo atacante Wellington, soltando mais o time da casa, mas sem mexer no sistema. O Cruzeiro teve mais espaços, mas parecia satisfeito com o empate e não os aproveitava. A URT então fez a segunda troca, sacando o lateral Marcel e lançando o meia Bruno Donizete a campo pelo lado esquerdo, abrindo de vez o time.

A URT começou a ter mais a bola e empurrar o Cruzeiro contra sua própria área. Marcelo então quis aproveitar o contra-ataque que se oferecia e mandou Joel a campo na vaga de Marcos Vinícius, para desespero da maioria da torcida. O camaronês ocupou a faixa central, mas não fez como no jogo contra o Mamoré, onde insistia em entrar na área e por lá ficar. Desta vez ele transitou melhor e sem a bola recuava até junto dos volantes.

Depois, Eurico entrou na vaga de Charles, aumentando o poder de marcação no meio. Isso só reforçou a tese de que a busca era por um contra-ataque que matasse a partida. A URT estava aberta, mas também não sufocava o Cruzeiro quando se defendia, o que pode ter dado a Marcelo alguma segurança para a sua terceira a última alteração.

Gabriel Xavier

No fim, o Cruzeiro recuou suas linhas e adotou uma postura reativa, procurando um contra-ataque que matasse o jogo -- só conseguiu no finzinho

No fim, o Cruzeiro recuou suas linhas e adotou uma postura reativa, procurando um contra-ataque que matasse o jogo — só conseguiu no finzinho

O treinador celeste lançou Gabriel Xavier no lugar de Judivan. Com isso, Joel foi ocupar a faixa esquerda. A ideia provavelmente era valorizar a posse no meio-campo, e ao mesmo tempo qualificar o último passe na transição ofensiva veloz, o popular contra-ataque.

O jovem meia só conseguiu cumprir a segunda função. Com Robson Duarte na vaga de Robinho, a URT se lançou totalmente ao ataque. O Cruzeiro se defendeu razoavelmente, mas não conseguia reter a bola. Com isso, em dois erros defensivos celestes, o time patense assustou: na primeira, uma sobra de bola parada em que Jr. Paraíba driblou Marquinhos dentro da área, e na segunda, um erro de Eurico no meio-campo que desmontou a cobertura da zaga celeste, deixando Léo sem ação contra Jr. Paraíba. Nas duas, Fábio salvou.

E o contra tão esperado finalmente saiu no finzinho da partida, com Gabriel Xavier. O “pensador” recebeu de Joel, girou driblando e passou imediatamente a Marquinhos na direita, ligeiramente impedido. O camisa 30 deu de primeira para Joel do outro lado, que invadiu a área e levou sorte na conclusão: o goleiro desviou, a bola iria pra fora, mas desviou também no zagueiro e entrou. Foi o último lance do jogo.

Mudar ou não mudar?

É fato que o Cruzeiro não vem jogando o futebol que a torcida espera. Talvez o time ofensivo e intenso de 2013/14 tenha feito os cruzeirenses ficarem mal-acostumados, o que pode aumentar o nível de exigência em relação a este time de 2015. Mas o Cruzeiro pode mais, principalmente na fase ofensiva, no ataque posicional.

Por isso, vejo muita gente pedindo que Marcelo reveja o esquema de jogo, e abandone o 4-2-3-1. O sistema mais pedido parece ser o 4-3-1-2 losango, bastando para isso recuar Marquinhos da ponta direita para o meio-campo. Eu particularmente não sou fã deste sistema, que tem como vantagem ter mais gente no centro do meio-campo, mas por outro lado expõe os laterais ao 2 contra 1 com o lateral e o ponta adversário.

Na minha visão, o problema é mais o modelo de jogo, a execução do esquema, do que o sistema em si. Ou seja, é muito mais uma questão de como o Cruzeiro joga o 4-2-3-1 do que o próprio 4-2-3-1 adotado. É como um bolo: se ele não fica gostoso, o problema está muito mais na receita e nos ingredientes do que na fôrma em que o bolo foi assado.

Além disso, trocar agora pode significar dois meses de trabalho fora. Eu ainda insistiria no 4-2-3-1 e cobraria uma execução melhor: mais mobilidade no quarteto de frente e participação dos volantes na construção, e ao perder a bola, ensaiar uma compactação ofensiva em bloco alto para recuperar a bola o mais rápido possível: o famoso pressing.

Mas, se o time continuar com o mesmo comportamento, a mudança no sistema pode ser o fato novo que faça este elenco responder.