Cruzeiro 1×1 América – A reconstrução segue

Neste domingo, o Cruzeiro enfrentou seu adversário de maior nível até aqui na temporada da reconstrução. E foi competitivo, conseguindo um empate, ainda que longe do nível de excelência que os cruzeirenses estão acostumados. É bem verdade que o nível técnico de ambas as equipes na partida não foi bom, mas é possível fazer alguma projeção para as dificuldades que o Cruzeiro enfrentará na sua tentativa de retorno à Série A.

O jogo

Cruzeiro no 1º tempo tinha Maurício na esquerda e J.Robert na direita, com Jadsom se projetando na saída e um time “dividido” em dois blocos de cinco

Adílson Batista escalou o mesmo onze da virada contra o Tupynambás, mas com uma mudança de posicionamento. Maurício foi jogar pela faixa esquerda, enquanto Everton Felipe ficou por dentro e circulando atrás do centroavante Roberson, com Jhonata Robert na direita. A justificativa do treinador, na coletiva, era de que ele queria já colocar os pontas com o “pé bom”, pra poder acionar jogadas de fundo ou chegar na cara do gol após lançamentos longos vindo da defesa. De fato, o Cruzeiro tentou muitos passes longos, mas muito mais pela pressão alta que o América exercia e dificultava muito a saída de bola do Cruzeiro pelo chão. Em um lance, o América chegou a roubar uma bola e concluir em gol, mas pra sorte do Cruzeiro foi por cima.

Em algumas posses, o América se contentava em fazer um “cinturão” de frente pra fechar todas as linhas de passe do Cruzeiro. A saída era com os quatro da linha defensiva mais o volante Machado, já que Jadsom se projetava. Isso resultava em um time dividido em dois blocos, faltando uma conexão entre eles. Faltou Jadsom ou os meias baixarem um pouco mais pra oferecer uma opção ou até mesmo buscar a bola nos pés da última linha, pra poder enxergar o jogo de frente. Resultado: com o time do América postado, faltou uma sincronia de movimentos e ensaio pra poder furar a barreira. Além dos erros técnicos naturais para um início de temporada, com jogadores ainda longe de seu pico físico e ainda se conhecendo.

Defensivamente, o comportamento dos quarteto de frente deixava os volantes Jadsom e Machado em inferioridade numérica. Everton Felipe, que estava jogando na faixa central, não perseguiu o volante Zé Ricardo, do América, como queria Adílson. O próprio Everton admitiu isso em declaração no intervalo. Com liberdade, os meiocampistas do América conseguiam ver o jogo de frente e até conduzir a bola à frente, deixando o meio-campo do Cruzeiro sobrecarregado. A consequência era que o time adversário chegava com facilidade no terço final. Felizmente, não teve repertório suficiente pra vencer a última linha do Cruzeiro.

Segundo tempo

Cara de quem não gostou da estratégia do primeiro tempo

No intervalo, Adílson desfez o plano dos ponteiros de pé bom e sacou Jhonata Robert e mandou a campo Marco Antônio, jovem meia que veio da base. Maurício trocou de lado e Éverton Felipe foi ser ponta esquerda. Isso ocupou os volantes do América, que já não tinham mais liberdade pra sair. Com a batalha de meio-campo equilibrada, o Cruzeiro acabou empurrando o América pra seu próprio campo, dominando a posse de bola, mas ainda sem criar oportunidades claras de gol. Roberson, o homem mais à frente, pouco tocou na bola, o que indicava a dificuldade da equipe em fazer a bola chegar com qualidade.

Adílson tentou mais uma cartada com Welinton na vaga de Roberson. O garoto foi jogar na dele, de ponteiro direito, com Maurício e Marco Antônio jogando por dentro, numa espécie de 4-2-4. Mas não houve tempo pro sistema assentar, pois logo em seguida o América fez o seu gol. Uma tabela pela esquerda, justamente em cima de Welinton, deixou Edílson no dois contra um e a indefinição na marcação fez Felipe Augusto aparecer livre pra cruzar rasteiro. A bola passou por todos, menos por Ademir, que tinha a marcação de João Lucas mas se antecipou a ele.

Imediatamente, o Cruzeiro promoveu sua última troca. Judivan entrou na vaga de Jadsom, trazendo Maurício pra jogar um pouco mais recuado, Marco Antônio como meia central e Judivan mais à frente. Mas o placar adverso influenciava as ações em campo, com o Cruzeiro um pouco mais nervoso. O América sentiu e conseguiu conectar algumas boas jogadas e até concluir, mas não conseguiu acertar o gol. E oito minutos depois de sofrer o gol, numa bola interceptada por Edílson após uma marcação mais alta do Cruzeiro, Maurício recebeu e mandou o sapato pra empatar, contando com a generosa colaboração do goleiro Airton.

No fim, Lisca ainda tentou algo com as substituições restantes, mas o jogo seguiu truncado com os times aparentemente receosos de se lançar ao ataque para vencer. O Cruzeiro não tinha mais como recompor seu meio-campo e seguiu até o fim com apenas um jogador de mais poder defensivo no setor, o que proporcionou ao América alguns períodos de posse mais alongada. Mas novamente, o time americano esbarrou na falta de repertório e de pontaria, consolidando o empate.

Reconstrução

O América trocou de treinador recentemente, mas ainda assim podemos dizer que é um trabalho longevo, já que o próprio Lisca, treinador atual do América, disse antes do jogo que ainda não teve tempo pra trabalhar e colocar suas ideias, dando apenas continuidade ao trabalho que era feito por Felipe Conceição. Além disso, o próprio Cruzeiro está com um trabalho totalmente novo: é apenas o quarto jogo da temporada, o segundo com as caras novas. E trata-se de uma equipe cheia de jovens com potencial, e outros mais veteranos querendo se recuperar na carreira. A conclusão é que o equilíbrio que o jogo mostrou era até inesperado. O mais provável seria o América se impor, mas isso não ocorreu.

Portanto, a esta altura da temporada, o Cruzeiro parece estar um pouco melhor do que o planejado, mas obviamente ainda está aquém do necessário para chegar ao acesso. A reconstrução segue.