Cruzeiro 1 x 1 Caldense – Aquela palavra

Intensidade. Essa palavra, que muitas vezes é confundida com pressa ou raça, é a palavra da moda no futebol moderno. Ser intenso é executar as ações com mais rapidez; saber identificar os espaços antes do adversário; se movimentar muito sem a bola para dar opções de passe ao companheiro; subir o bote nos momentos certos e não deixar o adversário respirar até roubar a bola.

Foi exatamente isso que faltou ao Cruzeiro hoje. É claro, foi apenas o quarto jogo, o segundo oficial, e diante de um adversário que fez uma partida quase perfeita taticamente. Tudo isso conta. Mas mesmo assim, era de se esperar um time um pouco mais intenso com a bola, ou pelo menos um pouco mais do que foi na partida contra o Democrata.

Sistemas iniciais

No 1º tempo, o 4-1-4-1 da Caldense encaixou a marcação no 4-2-3-1 do Cruzeiro e negou espaços; estático, time celeste não conseguiu criá-los

No 1º tempo, o 4-1-4-1 da Caldense encaixou a marcação no 4-2-3-1 do Cruzeiro e negou espaços; estático, time celeste não conseguiu criá-los

Marcelo Oliveira teve dois problemas de última hora e teve que modificar o time que treinou durante a semana. Arrascaeta teve problema na documentação, e Bruno Rodrigo foi poupado por dores. Com isso, Fabiano entrou na zaga, pela direita, mudando Léo de lado. Mayke e o estreante Mena completaram a linha defensiva pelas laterais. Willian Farias e Henrique fizeram a dupla volância, atrás do trio formado por Marquinhos à direita, Judivan por dentro e Willian à esquerda, e na referência do ataque, Damião.

Já a Caldense do técnico Léo Condá se postou num 4-1-4-1 muito bem postado e preparado para reagir. O goleiro Rodrigo Viana teve Andrezinho à direita, Rafael Estevam à esquerda e Plínio e Marcelinho no miolo de zaga. Yuri foi o homem entre a defesa e a segunda linha, formada por Tiago Azulão à direita, Nádson e Tiago Ulisses por dentro e Zambi pelo lado esquerdo. Luiz Eduardo era o mais avançado.

Marcação encaixada

No confronto das formações, a marcação ficou muito encaixada. Cada ponteiro da Caldense fechava em um lateral do Cruzeiro; os meias nos volantes; o volante entrelinhas no central Judivan e os laterais marcavam os ponteiros. O time do interior usava a marcação individual por função, isto é, cada jogador pegava o adversário que chegava no seu setor e ia com ele até o fim da jogada.

Assim, não havia espaços no terço final. Era preciso criá-los. Em 2013/14, o Cruzeiro sabia bem fazer isso: quando o time tinha a bola, os jogadores sem ela eram intensos na movimentação, arrastavam os marcadores consigo e abriam linhas de passe. Essa movimentação é coordenada e organizada, o jogador precisa identificar o espaço e ir até ele. E para isso precisa de entrosamento com os companheiros.

Em 2015, os jogadores ainda estão se conhecendo. E não se movimentaram o suficiente para sair da boa estrutura do time da Caldense, ficando muito estáticos em suas posições. Os 3 jogadores atrás de Damião até trocavam de posição, mas sempre antes do Cruzeiro recuperar a posse, e nunca durante as jogadas, facilitando a marcação.

Recomposição e transição

Quando perdia a bola, o Cruzeiro tentava pressionar alto, mas sem coordenação. Para que a marcação no campo de ataque funcione, todos os jogadores tem que avançar de forma a fechar as opções de passe do homem da bola, forçando-o a um erro ou à perda de posse de bola. Mas houve vários momentos em que um dos jogadores do quarteto de frente do Cruzeiro não subia o bote, deixando um jogador da Caldense livre. A bola rodava e chegava nesse jogador, que iniciava o ataque tranquilamente. Assim, o Cruzeiro não conseguia roubar a bola já perto da área adversária, tendo que iniciar os ataques quase sempre de seu próprio campo.

Outro problema apresentado hoje foi a lentidão no contra-ataque. Quando roubava a bola no campo de defesa, o Cruzeiro simplesmente não era veloz o suficiente, e assim a defesa da Caldense conseguia se recompor, fechando os espaços novamente e voltando ao estado anterior: time com mais posse de bola, mas sem conseguir criar espaços para ameaçar Rodrigo Viana.

Em suma: nas quatro fases do jogo (ataque, recomposição, defesa e transição) o Cruzeiro foi mal em três, sendo razoável apenas na parte defensiva. Mena, o estreante, fechou bem a linha de quatro, Léo e Fabiano fizeram um primeiro tempo seguro e os volantes Henrique e Willian Farias protegeram bem a área de Fábio. De resto, faltou movimentação sem a bola no ataque, coordenação na pressão alta na recomposição e velocidade no contra-ataque. Intensidade é o ponto em comum.

A intensidade de Joel

Com Joel, Cruzeiro ganhou muita movimentação e conseguiu criar boas chances pela direita, apertando a Caldense contra sua própria área

Com Joel, Cruzeiro ganhou muita movimentação e conseguiu criar boas chances pela direita, apertando a Caldense contra sua própria área

No intervalo, Marcelo trocou Judivan por Júlio Baptista, mais acostumado a jogar como central do 4-2-3-1. Na Caldense, Léo Condé tirou Tiago Ulisses e lançou Diego Souza (não é aquele). Mas nem deu tempo de avaliar: Damião se movimentou, saiu da área para o pivô e levou a marcação, abrindo espaço para Willian, que foi até esse espaço para receber a bola do próprio Damião e vencer Rodrigo Viana. Porém, quase na sequência, uma desatenção na zaga fez a bola sobrar para Luiz Eduardo dentro da área, que fez um gol típico de centroavante à moda antiga: girou em cima de Fabiano e bateu.

Depois dos gols, o jogo assentou e aí sim deu pra ver que nada havia mudado. Júlio tem característica de reter mais a bola, e não se movimenta tanto. O time tinha mais posse de bola, mas continuava muito estático em campo. Aos 15, Willian Farias deu seu lugar a Joel. Marcelo recuou Marquinhos para a linha de Henrique e abriu Joel pela direita. E aí sim, o Cruzeiro pareceu muito mais dinâmico, pois o camaronês se movimentava bastante, com muita intensidade. Ele parece estar num nível físico acima dos demais.

Reequilíbrio na posse

Foi o melhor momento do Cruzeiro no jogo. Joel combinou bem com Mayke pela direita e criou boas jogadas, ainda que não chegassem a ser ameaças reais ao gol adversário. Só durou cinco minutos, porque Léo Condé respondeu com Ewerton Maradona na vaga de Nadson, mudando para um 4-4-1-1 com Maradona na ligação para Luiz Eduardo. O jogador tinha liberdade para se movimentar pelo campo todo, e entrou para segurar a bola nos pés para diminuir a pressão que o Cruzeiro ensaiava. Deu certo.

Para tentar desequilibrar novamente, Marcelo Oliveira ainda tentou uma última cartada, lançando Riascos no lugar de Damião. O colombiano entrou inicialmente como centroavante móvel, mas depois revezou pela direita com Joel. A troca deu mais fôlego ao time, que voltou a ter mais posse de bola (terminaria com 60%), mas novamente sem criatividade como no primeiro tempo. A equipe tinha mais movimentação, mas não conseguiu quebrar as duas linhas de quatro da Caldense, que se contentou em absorver as investidas celestes e tentar estocadas pela esquerda com Maradona e Zambi.

Fim do jogo: Cruzeiro buscando o gol da vitória sem sucesso diante de uma Caldense taticamente perfeita num 4-4-1-1 reativo

Fim do jogo: Cruzeiro buscando o gol da vitória sem sucesso diante de uma Caldense taticamente perfeita num 4-4-1-1 reativo

Mantendo o foco no que importa

É claro que é preciso ter paciência, o time ainda está em formação. Mas o próprio Marcelo Oliveira admitiu na coletiva pós-jogo que esperava mais, mesmo considerando que a Caldense fez uma ótima partida em termos táticos. O time veio evoluindo, ainda que desfigurado, nos amistosos e na estreia do Mineiro. Mas de Valadares para hoje, não houve melhora.

Entretanto, nem tudo foi ruim hoje. Mena entrou bem na defesa, mas precisa melhorar o apoio, o que também passa pela questão do entrosamento. Damião fez mais um bom jogo taticamente, saindo da área e abrindo espaços para companheiros, e contribuindo com mais uma assistência. Joel está mostrando muito mais do que o esperado, e se continuar assim deve ser titular em breve.

Até a estreia na Libertadores, no dia 25, ainda serão duas semanas e meia para treinar e entrosar o time. Os jogos no Mineiro devem servir para isso. Porém, até mesmo alguns jogos da 1ª fase da própria Libertadores serão importantes nesse sentido, pois o principal é o time estar competitivo e entrosado até o início de maio, quando começam as oitavas da competição sul-americana e o Brasileirão.

Assim, torçamos para que a pressão por resultados no Mineiro não atrapalhe a formação da equipe. Não é melhor ter o time encaixado e voando nas fases decisivas das competições mais importantes do que vencer o campeonato estadual apenas por vencer.

2014: o ano da Copa… Libertadores

O Constelações está de volta. O único blog de análise tática assumidamente sem compromisso com a análise neutra — aqui é só o Cruzeiro que interessa — abre seus trabalhos em 2014 com uma opinião sobre os novos contratados e um resumo sobre as duas primeiras partidas do ano.

Mas antes, cabe uma rápida explicação: as últimas rodadas do Brasileirão 2013 foram atenciosamente vistas por este que vos escreve. Porém, como sabem, este não é o meu trabalho principal (adoraria que fosse) e portanto não posso me dedicar a ele como gostaria. Some-se a isso as viagens e festas de fim de ano, nas quais fiquei sem meu equipamento para escrever os textos (um computador), passou-se o tempo, as análises não foram escritas e deixaram de ser relevantes.

Entretanto, não acredito ter perdido muita coisa. Afinal o Cruzeiro foi totalmente outro após a conquista do título, jogando mais para festejar com a torcida do que para vencer. O mesmo 4-2-3-1 permaneceu até o final, mas com equipes do outro lado jogando a vida para não caírem para a segunda divisão — uns conseguiram, outros não.

Reforços

Os inscritos para a Libertadores 2014.

Os inscritos para a Libertadores 2014

Mas 2014, o ano da Copa (Libertadores), chegou. E com ele, novos contratados apareceram na Toca II: Rodrigo Souza, Samudio, Marlone e Marcelo Moreno.

O primeiro é volante, mais de contenção, e portanto jogaria na posição que é atualmente do Nilton. Confesso que não sei se o jogador tem a mesma qualidade de passe e chegada na área em bolas paradas, a conferir.

O lateral esquerdo Samudio foi uma excelente contratação. Vem para ser a sombra que Egídio precisava, já que Éverton chegou a ser titular no Campeonato Mineiro mas perdeu a posição novamente e não jogou mais. O gringo traz a experiência de Libertadores que possui e será muito importante quando Egídio, ainda dono da posição, não puder jogar. Não conheço a característica do jogador, se é lateral mais defensivo (como Ceará) ou tem mais ímpeto (como Mayke e Egídio). Se eu tivesse que apostar, apostaria no primeiro caso.

Marlone é uma jovem promessa que apareceu muito bem no Vasco no ano passado. É ponteiro, podendo jogar pelos dois lados mas preferencialmente o esquerdo. Está na disputa com Willian, Dagoberto e Luan por esta vaga — sim, porque do lado direito, Éverton Ribeiro é o dono indiscutível da posição. E pode ter sido uma contratação já pensando numa provável saída de Éverton Ribeiro para o futebol europeu.

Já Moreno é velho conhecido da torcida celeste. Foi o artilheiro da Libertadores de 2008, a primeira da era Adílson Batista. Volta quatro anos mais experiente, depois de uma temporada razoável no Grêmio e no Flamengo, onde amargou a reserva de Hernane. Centroavante, possui bola aérea forte, mas tem características bem diferentes dos outros centroavantes Borges e Anselmo Ramon (e de Vinícius Araújo, que já se foi). Confesso que estou com um pé atrás com esta contratação, pois precisávamos de centroavantes móveis e não de mais uma referência na área (Borges e Anselmo já servem a esse propósito), mas pode também ser um indicativo de que Marcelo Oliveira está disposto a mudar o estilo de jogo se for preciso.

Cruzeiro 1 x 0 URT

O 4-2-3-1 de sempre, diante de uma URT recuada e defensiva tentando bloquear os laterais celestes

O 4-2-3-1 de sempre, diante de uma URT recuada e defensiva tentando bloquear os laterais celestes

O ano começou como terminou ano passado: o mesmo 4-2-3-1, porém com Souza na vaga de Nilton. Os outros dez eram os de sempre: Fábio no gol, Ceará e Egídio nas laterais, Dedé e Bruno Rodrigo na zaga, Lucas Silva de volante avançado e Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Dagoberto na linha de três meias atrás de Borges. Nada de novo.

Como também não foi novidade o número de finalizações celestes: 35, sendo 14 na direção do gol, contra apenas 6 da URT. Isso porque o time de Patos de postou com uma trinca de volantes, dois meias mais abertos para barrar as subidas dos laterais e um atacante apenas, que não fazia pressão em Dedé e Bruno Rodrigo. Assim, o Cruzeiro avançava até quase na intermediária ofensiva sem ser incomodado, e só sofria marcação mais pesada a partir daí.

A movimentação da trinca de meias do ano passado estava lá, ainda um pouco enferrujada, mas era intensa o suficiente para por vezes afundar um ou dois volantes patenses na linha defensiva e abrindo espaço logo à frente da área. Esse espaço gerou uma profusão de chances, que só não foram melhor aproveitadas porque o goleiro Guilliano estava em tarde inspirada, e também o pé ainda não me pareceu bem calibrado. Era o primeiro jogo da temporada, afinal.

Marcelo fez trocas simples, apesar de não serem diretas. Dagoberto por Willian, Júlio Baptista por Borges (com Goulart temporariamente na referência) e Goulart por Moreno. Manteve-se o 4-2-3-1 e o placar de 1 a 0 construído no fim do primeiro tempo.

Caldense 0 x 0 Cruzeiro

No mesmo 4-2-3-1 do Cruzeiro, a Caldense teve mais físico e por isso mais intensidade: muita marcação e velocidade com a bola

No mesmo 4-2-3-1 do Cruzeiro, a Caldense teve mais físico e por isso mais intensidade: muita marcação e velocidade com a bola

Já no sul de Minas foi diferente. A Caldense, com um bom time armado pelo técnico Leonardo Condé, não teve a mesma postura da URT e avançou suas linhas de marcação. Jogando no mesmo 4-2-3-1 do Cruzeiro, tinha o veloz Diney na esquerda, e Éverton Maradona comandando o meio-campo central. Em teoria, não havia superioridade numérica em nenhum setor do campo, mas o time de Poços tinha mais energia e preparo físico, jogando com muita velocidade tanto no ataque como na defesa. O Cruzeiro, sem o mesmo condicionamento, tentava tirar a velocidade do jogo, e por isso ficava com a bola mais tempo mas sem produzir nada.

Nesta feita, Marcelo Oliveira teve que trocar Borges por Moreno diretamente, devido a lesão do camisa 9 ainda no primeiro tempo. Depois, Júlio Baptista entrou na vaga de Willian (que havia começado o jogo pela esquerda na vaga do poupado Dagoberto), fazendo Ricardo Goulart jogar pela esquerda na linha de três, mas “a la Éverton Ribeiro”: puxando para o centro, devido sua tendência de estar por dentro do campo, e ao mesmo tempo explorando o espaço que Júlio Baptista tentava criar com incursões à grande área.

E por fim, Éverton Ribeiro, que errou muitos passes neste jogo, saiu para a entrada de Élber. A tentativa era a da velocidade, ultrapassagens pelos lados para levantar a bola para Moreno na área, mas não houve sucesso.
E, em suma, foi assim o jogo: a Caldense jogando a vida, pois qualquer ponto nos confrontos com os time da capital pode valer uma vaga na semifinal, e o Cruzeiro ainda tentando encontrar um ritmo e recuperando a questão física. O zero a zero acabou sendo um resultado condizente, em que pese o time da casa ter tido mais chances.

Ainda é pré-temporada

Lembremos que o Cruzeiro jogou sua última partida em 2013 no dia 8 de dezembro. Somemos o mês de férias e o mês de pré-temporada e chegamos à data de 8 de fevereiro: o dia em que aí sim podemos passar a cobrar um pouco mais do Cruzeiro, ainda que seja o início da temporada. Portanto, estes primeiros jogos só servem como pré-temporada de fato, mesmo que sejam jogos oficiais. A estreia na Libertadores é no dia 12 contra o Real Garcilaso, e até lá o Cruzeiro ainda vai evoluir física e tecnicamente.

Taticamente, a evolução continua, mas já é um time bastante amadurecido com o sucesso na temporada passada.

Cruzeiro 2 x 1 Caldense – Velhos problemas, novas soluções

O Cruzeiro sofreu com alguns problemas recorrentes, mas conseguiu manter o aproveitamento máximo de pontos jogando no Mineirão, ao virar o jogo contra a Caldense hoje pela sétima rodada do Campeonato Mineiro. A vitória praticamente sela a classificação e pode dar mais tranquilidade para — quem sabe — fazer testes mais ousados.

O 4-2-3-1 inicial do Cruzeiro, encaixotado na marcação e volância passiva no ataque e na defesa

O 4-2-3-1 inicial do Cruzeiro, encaixotado na marcação e volância passiva no ataque e na defesa

Com Borges lesionado, Marcelo Oliveira optou pelo garoto Vinicius Araújo para comandar o ataque do 4-2-3-1 cruzeirense, à frente dos três meias “titulares”: Everton Ribeiro à direita, Diego Souza mais por dentro e Dagoberto pela esquerda. atrás destes, a imutável dupla de volantes Nilton e Leandro Guerreiro, e a linha defensiva composta por Everton, de volta à lateral esquerda, Ceará do outro lado, e Paulão e Léo, a surpresa, no miolo de zaga. Todos sob a capitania do goleiro Fábio.

A Caldense treinada por Tarcísio Pugliese veio também num surpreendente 4-2-3-1, mais defensivo. Glaysson no gol teve Jeffeson Feijão à direita, Júlio César e Paulão na zaga e Cris na lateral esquerda. Edmilson e Maxsuel eram os volantes, com Chimba pela direita, Rossini centralizado e Everton Maradona pela esquerda. Na frente, Nena era o atacante solitário.

O time visitante mostrou porque é uma das melhores defesas do Campeonato Mineiro até aqui, e conseguiu encaixotar o ataque celeste no primeiro tempo. O Cruzeiro segue com problemas ofensivos e defensivos, mas a mexida na formação de Marcelo Oliveira conseguiu reverter a situação, mostrando que já tem planos táticos alternativos na manga.

Marcação central

Apesar de ser um 4-2-3-1, a Caldense tinha proposta defensiva. Comandados por Rossini, o meia central, o quarteto de frente da Caldense aplicava uma marcação mista: Nena ia atrás do zagueiro que tivesse a bola, forçando o passe para o outro zagueiro e dali para um lateral. E assim que a bola chegava em Everton ou Ceará, o time compactava horizontalmente, ou seja, apertava o campo, tornando-o estreito, fechando qualquer possibilidade de passe curto à frente para os volantes ou meias pelo centro. O preço de deixar o lateral do lado oposto livre, provocando muitos gritos exaltados de “vira o jogo” nas arquibancadas do Mineirão.

A virada de jogo era sim uma opção, mas quando é feita pelo alto, a bola demora a chegar a seu destino e a Caldense “rodava” e compactava novamente do outro lado, mantendo as linhas de passe fechadas. O mais eficiente era fazer isso pelo chão, voltando no zagueiro do lado próximo e dele direto para o outro lateral, fazendo o ponteiro adversário (Chimba se o passe fosse para Everton, e Everton Maradona se o destino fosse Ceará) correrem como loucos para retomarem suas posições. O Cruzeiro se aproveitou disso, principalmente com Everton, que avançava pelo centro do campo e tentava procurar um dos quatro homens de frente.

Volantes passivos

Mas o avanço territorial era quase sempre infrutífero. É claro que enfrentar a segunda melhor defesa do campeonato era um motivo, com os quatro homens de frente bem marcados — laterais marcando os ponteiros, os dois volantes cuidando do meia central e os dois zagueiros encaixotando Vinicius Araújo. Mas o principal fator era a falta de mais gente no centro do meio campo com a posse de bola. Leandro Guerreiro e Nilton, hoje, ficaram passivos demais, não se juntavam à ação ofensiva. E assim a marcação da Caldense foi muito facilitada, e o time visitante executou sua proposta sem muitos sobressaltos. O Cruzeiro só levava perigo em bolas aéreas, cujo excesso demonstrou a falta de criatividade do ataque.

Como se não bastasse, a passividade da dupla volância não foi só quando o Cruzeiro tinha a posse. A marcação em cima dos meias adversários, principalmente em Rossini, foi muito frouxa. O meia tinha liberdade para recuperar a bola e pensar o jogo, sem que Leandro Guerreiro ou Nilton se aproximassem muito. Assim a Caldense criou algumas dificuldades e incomodou Fábio. A falta de pressão sobre o homem da bola, como se diz, fazia os jogadores da Caldense terem bastante tempo de posse de bola sem ser incomodados. Em um desses momentos, a bola foi cruzada na área, Léo rebateu na direção de Paulão, mas o zagueiro dominou mal e perdeu na corrida para Chimba, derrubando-o dentro da área e cometendo o pênalti que abriu o placar.

A alternativa

A surpresa foi o 4-1-4-1 com Tinga de volante preso e Everton Ribeiro vindo buscar atrás, abrindo espaços para Ricardo Goulart e para a velocidade dos ponteiros

A surpresa foi o 4-1-4-1 com Tinga de volante preso e Everton Ribeiro vindo buscar atrás, abrindo espaços para Ricardo Goulart e para a velocidade dos ponteiros

Vendo que mesmo após a conversa no intervalo o time não dava sinais de conseguir sair da excelente marcação adversária, Marcelo Oliveira usou as três substituições para tentar desmontar o esquema defensivo de Pugliese. Primeiro fez uma dupla mudança, com Tinga e Élber nas vagas de Nilton e Diego Souza. Logo depois, Ricardo Goulart entrou na vaga de Paulão. Élber entrou aberto pela direita, Ricardo Goulart fez companhia à Everton Ribeiro como dupla de meias centrais e Dagoberto ficou na esquerda, com Tinga sendo um volante único do novo 4-1-4-1 — Guerreiro foi ser zagueiro.

Porém, o camisa 55 mal teve trabalho, pois depois das substituições o time melhorou muito. Isso porque Everton Ribeiro ficou um pouco mais recuado que Ricardo Goulart, pegando bolas nos pés de Tinga e dos zagueiros para começar as jogadas ofensivas. Isso tirava um dos volantes da sólida linha defensiva da Caldense, abrindo espaços para Goulart e os ponteiros. Estes últimos fizeram a festa, pois agora só tinham os laterais à frente, sem auxílio dos volantes. E foi numa jogada de Dagoberto pela esquerda, driblando em direção ao gol que o juizão apitou um pênalti no mínimo estranho, na modestíssima opinião deste blogueiro.

Duas linhas de quatro

A Caldense já havia trocado Chimba por Tinga (o deles), por lesão, e também Everton Maradona por Rodrigo Paulista. As substituições mantiveram o 4-2-3-1 defensivo, mas não evitaram o empate. Então, Pugliese lançou Luizinho na vaga do cansado Rossini, colocando-o como ponteiro esquerdo e avançando Rodrigo Paulista para o ataque, configurando um típico 4-4-2 britânico — ou seja, com o meio-campo em linha, as famigeradas “duas linhas de quatro”. De certa forma, funcionou, pois os ponteiros já não tinham tanta liberdade com a marcação dobrada.

Mas a Caldense já não tinha mais o mesmo fôlego, e não encurtava tanto. Foi assim que Ceará e Élber trocaram vários passes do lado direito da área, procurando uma brecha, até que Élber centrou aparentemente sem muita esperança de achar alguém ali. Mas Ricardo Goulart, como um bom meia central, saiu da marcação na hora certa, cabeceando no cantinho, tirando de Glaysson para virar e partida, selando a vitória e a manutenção dos 100% no Mineirão.

É preciso testar todos os setores

O Cruzeiro ainda oscila. Faz um jogo excelente e logo na rodada seguinte cai de produção. É normal para um time que só fez sete partidas oficiais no ano — alguns paulistas já fizeram 18 — mas o tempo passa, e a fase inicial do Campeonato Mineiro, que é o ambiente ideal para testes, já está acabando. É claro que ainda há tempo para fazer testes, pois o Cruzeiro, com 19 pontos, já está praticamente garantido na fase final. Entretanto, o treinador me parece querer testar apenas o parceiro para Paulão, que vem mudando a cada jogo. O quarteto ofensivo, os laterais e os volantes já me parecem estar definidos, e é justamente estes últimos que mais me intrigam.

A volância me parece ser o problema mais crônico do time, e Guerreiro e Nilton parecem ter lugar cativo. Não vejo outros volantes serem testados, sequer em treinamentos. Lucas Silva, Henrique e Uelliton parecem não agradar ao treinador. Ok, Henrique ainda não tinha condições de jogo, mas os outros dois sim. Porque não testá-los? Porque não levá-los pelo menos para o banco e usá-los durante a partida? Perguntas que só quem está no dia-a-dia dos treinamentos pode responder.

Alô, Marcelo Oliveira, você lê este blog? É, não, acho que não.

Caldense 0 x 5 Cruzeiro – O laboratório ideal

Com a tarefa facilitada pela boba expulsão do atacante Max ainda no primeiro tempo, o Cruzeiro não precisou fazer força para golear a Caldense hoje em Poços de Caldas. Uma clara demonstração de que o time pode se adaptar a diferentes formações dependendo das situações de jogo encontradas.

No primeiro tempo, Cruzeiro no 4-3-3 com Anselmo Ramon na referência e atacantes abertos recompondo para formar um meio-campo com 5 homens

O Cruzeiro veio a campo com o mesmo 4-3-3 que começou as últimas duas partidas, porém com Anselmo Ramon na referência e Marcelo Oliveira na parceria com Leandro Guerreiro. A Caldense veio num tradicional 4-3-1-2, tendo Fábio Neves na articulação atrás dos atacantes Max e Luisinho.

A Caldense começou com tudo, pressionando o Cruzeiro no alto do campo, que teve que ceder a posse em alguns momentos. Porém, o Cruzeiro devolveu na mesma moeda, e em pouco tempo a bola passou a ficar mais tempo em pés azuis do que verdes. A defesa jogava avançada, para tentar empurrar o adversário em seu próprio campo, e com isso a Caldense chegou a ter algumas oportunidades de contra-ataque com o rápido Luisinho, mas sem sucesso.

Ofensivamente, o Cruzeiro tinha mais posse, mas não conseguia passar pela bem montada defesa da Caldense. O primeiro volante Mário era o responsável por marcar Montillo, mas quando o argentino saía da zona central, ele não ia atrás, a marcação mudava de jogador e a estrutura defensiva com 9 homens atrás da bola se mantinha. Assim, o time azul optou por jogadas mais agudas, de menos probabilidade de sucesso, mesmo tendo maior posse de bola. Quando perdia a posse, deixava de pressionar, numa tentativa de atrair um pouco mais a defesa da Caldense para si e jogar em velocidade.

Não foi bem assim que saiu o primeiro gol, mas a falta cobrada rapidamente por Montillo, deixando WP cara a cara com Glaysson e originando o pênalti – convertido pelo próprio atacante – ilustram a proposta de jogo dos visitantes. Atrás no placar, a Caldense tentou sair um pouco mais, avançando seus volantes e laterais, mas isso deixou espaços cruciais atrás destes últimos. E os atacantes abertos trataram de explorar este espaço: logo no minuto seguinte ao gol, Wallyson recebeu, livre, uma inversão em diagonal, numa jogada muito parecida com o segundo gol de Montillo contra o Villa Nova, e cruzou rasteiro, mas nenhum atacante aproveitou. Cinco minutos depois, foi a vez de WP emendar um cruzamento de primeira, mas para fora, também naquele setor.

A expulsão do atacante Max ainda no primeiro tempo só facilitou um jogo que já estava totalmente controlado. A Caldense não mudou o esquema, mantendo somente Luisinho à frente. Se o camisa 11 voltasse para recompor o meio, os volantes azuis tinham todo o tempo do mundo para conectar-se às variadas opções not ataque. Mas se Luisinho ficava à frente, o Cruzeiro tinha um homem a mais no meio, e assim o jogo passou a ser ataque contra defesa. Os visitantes ganhavam todas as segundas bolas, e os zagueiros Victorino e Thiago Carvalho quase não tinham trabalho.

O segundo gol veio após um escanteio cabeceado por Anselmo Ramon e defendido à queima-roupa por Glaysson. A sobra, como esperado, ficou com o lateral Marcos, que achou Montillo no meio e correu para a área, no “contra-fluxo” da defesa adversária. Marcos recebeu a devolução do argentino na medida para dar um tapa de primeira e achar três cruzeirenses livres. A defesa da Caldense acusava impedimento enquanto Victorino comemorava seu primeiro gol com a (nova e lindíssima) camisa cruzeirense.

O primeiro tempo terminou na mesma toada, com WP recebendo passe dentro da área de uma posição aberta, mas desta vez nenhum companheiro estava dentro da área.

O técnico Ademir Fonseca ainda tentou arriscar no intervalo, tirando seu principal articulador, Fábio Neves, e lançando um novo parceiro de ataque para Luisinho, Félix, mudando para um ousado 4-3-2. Mas os planos do treinador da Caldense foram por água abaixo quando Leandrão errou um passe em seu próprio campo e WP aproveitou, avançando com seus dois companheiros de ataque contra dois zagueiros apenas. A conclusão plástica de Anselmo Ramon para o cruzamento de WP resolveu o jogo, e o Cruzeiro passou a administrar. Fonseca fez mais duas alterações, mas trocando seis por meia dúzia em termos táticos, ao invés de fechar seu time e tentar evitar mais gols.

Sem necessidade de correr atrás, o Cruzeiro deixava a Caldense com a bola, sabendo que tinha todos os espaços controlados, esperando o erro do adversário. E num desses erros, o quarteto ofensivo funcionou mais uma vez. WP, aberto pela esquerda, avançou com a bola, vendo Montillo disparar para receber pelo flanco da área. Lançado, o camisa 10 passou com a facilidade que lhe é característica pelo seu marcador e cruzou na cabeça de Wallyson, livre na pequena área.

O 4-2-4 ultra-ofensivo no fim do jogo, com intenso revezamento dos homens de frente e zagueiros adiantados

O quarto gol fez Mancini abrir seu laboratório. Primeiro, tirou Leandro Guerreiro, de característica mais defensiva, para lançar Amaral, um volante que sai mais para o jogo. Marcelo Oliveira passou a ficar mais tempo recuado, e o 4-3-3 se manteve, mas mais ofensivo, algo como um 4-1-2-3. Depois, Diego Renan deu lugar ao garoto Élber, que entrou na articulação central. Marcelo Oliveira foi para a lateral esquerda e Montillo virou atacante, transformando o Cruzeiro numa espécie de 4-2-4 ultra ofensivo. O sexteto ofensivo promoveu uma intensa movimentação, se revezando nas quatro posições frontais constantemente. Além disso, Everton ainda entrou no lugar de Marcelo Oliveira na esquerda, para dar ainda mais ofensividade ao time azul.

Nesse momento, talvez a melhor descrição para a formação seja provavelmente um 2-4-4, pois o domínio era tal que não havia necessidade de os laterais recomporem a última linha de defesa. Nos últimos lances da partida, era comum ver Victorino e Thiago Carvalho além da linha do meio-campo, sem a companhia de Marcos e Everton, que avançavam para combinar aos atacantes abertos. Anselmo Ramon nem teve que saltar para cabecear o quinto gol em centro de Amaral, tal era a fragilidade do sistema defensivo do time de Poços.

Ao fim do jogo, Vágner Mancini disse na entrevista coletiva que o Cruzeiro ainda não jogou contra um adversário à altura. De fato, o resultado não pode empolgar. Contra times mais experientes, nas fases finais da Copa do Brasil e no Brasileiro, o Cruzeiro não terá tanta facilidade. Mas também disse que “o trabalho é feito para finais de campeonato”. Portanto, os jogos contra times menores – leia-se, primeira fase do Campeonato Mineiro e fases iniciais da Copa do Brasil – são o campo de experiências ideal para se chegar às grandes competições com o time formado. E um time formado é aquele que consegue jogar em diferentes esquemas táticos e diferentes situações de jogo.

Vágner Mancini vai, aos poucos, controlando as variáveis e obtendo resultados. Experimentando variações com calma, sem pressa, como um cientista. Quem sabe, no futuro, tenhamos uma máquina engenhosa. De fazer gols.