Cruzeiro 0 x 0 Atlético/MG – Inteligência e maturidade

O Constelações volta depois de merecidas férias. A viagem internacional, porém, não impediu o blogueiro de acompanhar o Cruzeiro na rua brilhante recuperação na Libertadores e no restabelecimento da ordem natural em âmbito regional. No primeiro caso, um time maduro e seguro de sua capacidade, jogando com inteligência no Chile e com ímpeto e imposição no Mineirão. Sempre no 4-2-3-1, mas uma alteração frequente para o 4-1-2-3 com um meio campo só de volantes, quando o desejo era arrastar o jogo até o fim.

Já no Campeonato Mineiro, a primeira partida da final foi praticamente igual à da fase de classificação. O Atlético tendo mais a bola, mas o Cruzeiro se defendendo bem e não abdicando do ataque. Consequência das mudanças de um lado e da evolução em outro: nem Atlético nem Cruzeiro são as mesmas equipes de 2013, apesar de terem praticamente os mesmos jogadores. O Atlético sob Paulo Autuori já não aplica mais a intensidade que Cuca sempre pedia, preferindo cadenciar um pouco mais. E o Cruzeiro, que no ano passado só sabia jogar ofensivamente — e que foi suficiente para o título nacional — já comprovou que pode jogar com outras estratégias, consequência de evolução notável da defesa.

A finalíssima

Times no 4-2-3-1, mas com o lado esquerdo atleticano vulnerável, pois Ronaldinho deixava o trabalho de marcação para Jô

Times no 4-2-3-1, mas com o lado esquerdo atleticano vulnerável, pois Ronaldinho deixava o trabalho de marcação para Jô

Para o segundo jogo, Marcelo Oliveira mandou a campo o 4-2-3-1 usual, com Fábio no gol. Mas, flanqueando os zagueiros Dedé e Bruno Rodrigo, estavam Ceará e Samudio, dois laterais que tem mais tendência a compor a linha defensiva do que apoiar. Para compensar uma eventual escassez de força ofensiva, a dupla de volantes tinha em Lucas Silva e Henrique dois jogadores com qualidade de passe e de chegada à frente, se juntando ao trio “clássico” formado por Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Dagoberto, com Júlio Baptista no comando do ataque.

Já o Atlético também veio no 4-2-3-1, mas diferente em relação ao que Cuca implementava no setor ofensivo. Jô continuou sendo o centroavante, mas fazia a cobertura para Ronaldinho, que tinha liberdade total e preferiu perambular entre o centro e a esquerda. Tardelli ficou mais à direita e Guilherme foi o meia central, principal responsável por fluir o jogo da defesa para o ataque. Atrás dele, Pierre e Leandro Donizete praticamente só defendiam a grande área de Victor, tendo o suporte na linha defensiva formada por Michel na vaga do titular Marcos Rocha, Otamendi, Leonardo Silva e Alex Silva.

Primeira etapa

Os papéis se inverteram em relação à primeira partida. Mesmo com a vantagem de um segundo empate, era o Cruzeiro quem mais demonstrava que queria vencer. Primeiro porque marcava pressão na saída atleticana e forçava o chutão, que quase sempre terminava com a bola em pés celestes; depois porque aplicava uma marcação fortíssima também no meio-campo, o que foi um fator surpreendente considerando a característica dos volantes do Cruzeiro. Eles não guardavam marcação individual, mas estavam sempre muito perto dos jogadores atleticanos e não deixavam o meio rival respirar.

O Atlético se contentou em se defender e segurar a pressão. Não foi fazer marcação alta na saída do Cruzeiro, e tinha ainda um setor vulnerável em sua defesa: a esquerda. Isso porque Ronaldinho era o homem que caía mais por aquele lado, mas não tinha nenhuma responsabilidade de marcação. Quem fazia isso por ele era Jô, que tinha que abandonar o seu posto à frente do time para marcar a saída do lateral Ceará — nem sempre ele fazia isso, pois tinha de correr muito. O resultado foi a liberdade imensa que Ceará tinha, recebendo várias bolas invertidas por Lucas ou Henrique. Foi uma tônica do primeiro tempo: o Cruzeiro tentava achar Dagoberto pela esquerda, o Atlético rodava a marcação — inclusive dos dois volantes — e deixava Ceará do outro lado sozinho para bater com Alex Silva. Foi num cruzamento de Ceará que Júlio Baptista quase marca um golaço de bicicleta.

Sem conseguir pelo chão, Paulo Autuori pediu para que Jô saísse do centro e pegasse um lateral no lançamento longo, pois assim poderia ganhar uma bola de cabeça e armar um ataque já perto da área celeste. Funcionou em certa medida, porque Ceará e Samudio não tem tanto poder aéreo, mas a segunda bola sempre era celeste — também porque os meias celestes se compactavam aos volantes e laterais, e sempre pegavam uma bola escapada das disputas aéreas ou nos duelos pelo chão, gerando grandes oportunidades de contra-ataque.

Numa delas, Éverton Ribeiro poderia ter marcado o primeiro gol dos clássicos de 2014. Se lembrando de uma conversa que teve com o goleiro Fábio — excelente indicativo de o quanto este grupo é unido — que revelou uma preferência de Victor em sair pelo chão em situação de um contra um, ele optou por dar uma cavadinha que de fato passou por cima do goleiro atleticano, mas a direção não foi boa e saiu.

Já o Atlético só assustou quando numa das raras vezes em que Ceará errou seu posicionamento, deixou Alex Silva tabelar com Ronaldinho, que enfiou uma bola na cara de Fábio. O jovem lateral preferiu cruzar, mas Samudio estava lá para tirar o perigo. E foi só.

A batalha tática dos treinadores

Autuori queimou todas as trocas: resolveu o lado esquerdo com Fernandinho marcando Ceará, mas ficou sem ninguém na lateral direita, espaço que Marcelo Oliveira aproveitou com Éverton Ribeiro invertendo de lado com a entrada de Souza

Autuori queimou todas as trocas: resolveu o lado esquerdo com Fernandinho marcando Ceará, mas ficou sem ninguém na lateral direita, espaço que Marcelo Oliveira aproveitou com Éverton Ribeiro invertendo de lado com a entrada de Souza

Vendo seu lateral exposto, Autuori resolveu voltar à fórmula Cuca do 4-2-3-1 no intervalo, tirando Guilherme, voltando com Ronaldinho para o centro e mandando Fernandinho para o jogo, caindo pela esquerda. Dessa vez, Jô não tinha mais que marcar por ali, pois a responsabilidade de marcação passou a ser de Fernandinho. Foi uma boa mexida, que em teoria daria mais ofensividade e velocidade, e ao mesmo tempo impediria a liberdade de Ceará pela direita.

Porém, só a segunda funcionou. Fernandinho mal tocou na bola, encaixotado na marcação de Ceará — que desta vez de fato ficou apenas marcando o lado esquerdo atleticano. Assim, a partida seguiu na mesma toada, mas com o Cruzeiro com menos espaços para jogar. Mesmo assim teve chances, com Éverton Ribeiro, em finalização de fora e com Ricardo Goulart, e lindo corta-luz de Éverton Ribeiro.

Nesse panorama, ou o jogo terminava em branco ou o Cruzeiro venceria. Aos 27, Autuori arriscou tudo, queimando as duas últimas trocas. Pierre por Claudinei era uma troca direta de volantes, também porque o primeiro já tinha amarelo. Mas Michel por Neto Berola mudava a cara do time: o Atlético ficou sem lateral direito, Berola foi para sua posição habitual de ponta direita, Tardelli e Ronaldinho ficaram pelo meio. Como Claudinei não foi ser lateral direito, o time ficou num sistema diferente, com linha de três e Leonardo Silva fazendo as vezes de lateral, dois volantes, dois meias e três atacantes. Algo como um 3-4-3 com meio-campo quadrado.

Quase no minuto seguinte, Marcelo respondeu com Souza na vaga de Dagoberto. O objetivo era não perder o meio-campo, mas surpreendentemente, Souza foi jogar aberto pela direita, com Éverton Ribeiro invertendo de lado. A substituição que parecia defensiva era na verdade muito ofensiva: Marcelo queria que Éverton explorasse o lado fraco da defesa atleticana. Foi um movimento excelente do treinador, que com uma única troca equilibrou as duas do treinador adversário, e ainda tinha mais duas pra fazer.

Os mapas de calor da Footstats mostram o domínio territorial celeste na partida: toques quase sempre no campo de ataque, enquanto o Atlético teve mais a bola em seu próprio campo

Os mapas de calor da Footstats mostram o domínio territorial celeste na partida: toques quase sempre no campo de ataque, enquanto o Atlético teve mais a bola em seu próprio campo

Então, Marcelo resolveu preparou o terreno. Tirou Ricardo Goulart e lançou Willian, mandando Éverton Ribeiro temporariamente para o centro. A marcação não arrefeceu um segundo sequer e o Cruzeiro continuava com o domínio territorial e de posse. Não havia motivos para continuar a movimentação defensiva, mas quase no fim do jogo, Ribeiro deu seu lugar a Tinga, para arrastar o jogo até o fim. E assim foi feito, o placar permaneceu virgem e o Cruzeiro arrebatou mais uma taça.

Jogar bem e saber jogar

Muitos analistas repercutiram as vitórias na Libertadores e o título mineiro dizendo que o Cruzeiro de 2013 está começando a aparecer novamente. Eu discordo: este Cruzeiro de 2014 é outro, evoluído, melhorado em relação àquele. Se no ano passado o Cruzeiro jogava ofensivamente e sempre busca a vitória a todo custo, já vimos neste ano o Cruzeiro jogar precisando vencer mas sem atacar alucinadamente. Sempre com equilíbrio e sabendo ditar o melhor ritmo para determinadas situações.

E é assim se que se deve jogar um torneio como a Libertadores. Atacar sempre pode dar resultado como no ano passado, principalmente porque num Brasileirão uma derrota é muito mais diluída entre os 38 jogos. Mas na fase eliminatória da Libertadores, uma derrota tem muito mais peso. Portanto é preciso saber que nem sempre atacar será a melhor solução.

Outro fator que chama a atenção é o poder de marcação celeste, que aumentou muito nesse temporada. Samudio surpreende positivamente, pois marca mais que Egídio mas não deixou a desejar no apoio. Será fundamental na caminhada. Henrique subiu muito de produção e hoje é inquestionável.

Por outro lado, o Cruzeiro tem pecado muito nas finalizações. As estatísticas não mentem: de acordo com a Fooststats, o Cruzeiro finalizou 291 vezes a gol durante todo o estadual, sendo 115 na direção certa (quase 40%). O Atlético, segundo no quesito, finalizou 191 vezes no total, 100 a menos que o time celeste, mas mandou 83 no alvo, com um aproveitamento de pouco mais de 43%.

A Libertadores continua, e vem aí o Brasileiro. Se colocar o pé na forma, dá pra levar os dois. É difícil, mas o Cruzeiro é, neste momento, o único time que pode fazer isso.

Que assim seja!

Atlético/MG 0 x 0 Cruzeiro – Sempre aprendendo

Antes de mais nada, peço desculpas aos leitores pela demora nas atualizações. O apertado calendário de 2014 — que, tirando o período da Copa do Mundo, prevê uma semana inteira de folga para o Cruzeiro em apenas três oportunidades caso a equipe chegue a todas as finais — também aperta os períodos que este humilde escriba tem para desenvolver os textos e figuras.

Mas desta vez, não foi apenas este o motivo. A estratégia de mercado da principal detentora dos direitos televisivos da Copa Libertadores confinou a partida do Campeão Brasileiro ao seu novo canal, numa clara tentativa de forçar a entrada nas grades das principais operadoras do país. Dessa forma, tive de recorrer à internet, mas não obtive muito sucesso e a análise ficou muito prejudicada.

Considerando que o jogo contra o América foi com os reservas, mas no mesmo 4-2-3-1 de sempre, concentrarei esta postagem à análise do clássico, que teve aspectos táticos muito interessantes por parte de Marcelo Oliveira.

Alinhamentos iniciais

Com as aquipes no 4-2-3-1, os ponteiros celestes estavam invertidos para explorar a deficiência defensiva na esquerda e mitigar a saída forte pela direta

Com as aquipes no 4-2-3-1, os ponteiros celestes estavam invertidos para explorar a deficiência defensiva na esquerda e mitigar a saída forte pela direta

Ambos os times vieram no 4-2-3-1 que os consagraram na temporada passada. Fábio teve uma linha defensiva com Ceará pela direita e Egídio pela esquerda, com Dedé e Bruno Rodrigo na área. Lucas Silva sentiu dores e em seu lugar entrou Rodrigo Souza, e com isso Souza teve um pouco mais de liberdade para subir e ajudar o trio de meias. Dagoberto espetava pela direita, Éverton Ribeiro foi deslocado para o centro e Willian entrou pela esquerda, com Ricardo Goulart à frente.

O Atlético Mineiro de Paulo Autuori entrou com mudanças do lado esquerdo da zaga. O goleiro Victor foi protegido por Leonardo Silva e o estreante Otamendi, com Marcos Rocha à direita e Dátolo, meia de origem, na lateral esquerda. Dali pra frente foi o time de 2013: Pierre como volante marcador e Josué com um pouco mais de liberdade, atrás do ponteiro direito Tardelli, do central Ronaldinho e do ponteiro esquerdo Fernandinho. À frente, Jô duelava com os zagueiros.

O novo desenho do quarteto ofensivo

A saída de Moreno do time talvez tenha sido a maior surpresa. De uma maneira geral, creditou-se a mudança à falta de ritmo de Marcelo Moreno, fato que Marcelo Oliveira confirmou após a partida. Mas o que ficou subentendido é que o treinador aproveitou esse fato para armar seu time de forma a parar o Atlético Mineiro em sua casa.

A estratégia começava com a entrada de Willian no lado contrário. Quando Dagoberto joga, Willian normalmente fica pela direita para deixar o camisa 11 mais à vontade em seu lado preferido, o esquerdo. Porém, no jogo de domingo Willian apareceu pela esquerda mesmo, com Dagoberto do outro lado. Duas razões para isso: Willian tem mais capacidade defensiva do que Dagoberto, e portanto deveria estar mais atento ao lateral direito Marcos Rocha, que é uma das principais saídas de bola do rival. E Dagoberto foi colocado para jogar em cima de Dátolo, exatamente para explorar a pouca força defensiva do meia improvisado na lateral esquerda.

Essas mudanças significavam que Éverton Ribeiro teria que ir para o centro do campo, onde fica menos à vontade, embolado com os volantes adversários. Ricardo Goulart foi o centroavante, mas ficou mais preso do que normalmente fica entre os zagueiros. Ainda assim, recuava mais que um centroavante de ofício.

Mais posse, poucas finalizações

Mais atrás, Rodrigo Souza tinha a clara função de marcar Ronaldinho, e o fez muito bem. Souza era, portanto, o responsável por se juntar à criação, mas não possui um passe tão bom quando Lucas Silva e teve dificuldades nessa atribuição. Mesmo assim, sua mera presença no setor, aliada aos eventuais recuos de Goulart para a faixa intermediária, faziam o Cruzeiro ter mais homens no meio-campo e controlar a posse de bola. Tanto é que, mesmo com a pequena pressão atleticana no meio do segundo tempo, o Cruzeiro ainda terminaria a partida tendo a bola nos pés por 55,9% do tempo.

Em destaque, a única finalização do adversário no primeiro tempo: o bom desempenho defensivo é consequência direta das mudanças táticas de Marcelo Oliveira

Em destaque, a única finalização do adversário no primeiro tempo: o bom desempenho defensivo é consequência direta das mudanças táticas de Marcelo Oliveira

Mas esse controle da bola não gerou muitas finalizações. É verdade que foram mais do que o adversário: 7 contra apenas 1, mas destas, somente o cabeceio de Dedé no início da partida foi no alvo. Mas, por outro lado, permitir apenas uma finalização ao Atlético em sua própria casa, com 100% da torcida contra mostrou o excelente desempenho defensivo do Cruzeiro na primeira etapa. A estratégia do rival facilitava, já que era a mesma do ano passado: diagonais longas procurando os ponteiros. Mas estes estavam bem marcados, como Ronaldinho, e pouco produziram.

Além disso, as boas atuações de Dedé e Bruno Rodrigo negaram a Jô uma das armas do Atlético — a segunda bola. Os zagueiros venciam todos os duelos aéreos contra o provável reserva de Fred na Copa. Portanto, considerando tudo isto, foi um excelente primeiro tempo, ainda que o desempenho ofensivo tenha deixado a desejar. O fato de Fábio nem ter sujado o uniforme é a prova cabal da superioridade celeste.

Mudar para vencer

Provavelmente por ordem de Autuori, o Atlético voltou no segundo tempo ainda mais retraído, tentando chamar o Cruzeiro para seu campo e abrir espaços na frente. O Atlético só marcava o primeiro passe, mas deixava a bola com a defesa celeste. Os zagueiros Dedé e Bruno Rodrigo já não eram pressionados, e os laterais conseguiam receber a bola sem ser acossados. O Cruzeiro, por isso mesmo, não arriscava muito, e a sensação era de que o jogo iria continuar na mesma, com o Cruzeiro finalizando mal e o Atlético tendo poucos momentos com a bola nos pés.

A entrada de Moreno e a "desinversão" dos ponteiros expôs Egídio, que deu seu lugar a Ceará -- Marcelo Oliveira abandonou a cautela para vencer o rival, e por pouco não conseguiu

A entrada de Moreno e a “desinversão” dos ponteiros expôs Egídio, que deu seu lugar a Ceará — Marcelo Oliveira abandonou a cautela para vencer o rival, e por pouco não conseguiu

Aos 18, Marcelo Oliveira tentou mudar a cara da partida. Lançou Moreno na vaga de Éverton Ribeiro, apagadíssimo como central — o craque do Brasileirão 2013 rende mais partindo da direita, como ponteiro passador (sim, uma terminologia “emprestada” do voleibol), ou precisa ter alguém a seu lado no centro, para poder dividir a atenção da marcação. Com isso, Goulart recuou para sua posição “original”. Mas não só isso: Dagoberto e Willian trocaram de lado, para seus lados de preferência. A alteração era ofensiva, já que colocava Willian para atacar ao invés de defender e arriscando com Dagoberto pelo lado de Marcos Rocha.

Para compensar isso e ainda adicionar mais um elemento ofensivo, cinco minutos depois Marcelo Oliveira tirou o já amarelado Egídio e que agora estava exposto, sem a ajuda de Willian ou de Dagoberto, para lançar Mayke, invertendo Ceará para a esquerda. O veterano camisa 2 ficou por conta de marcar somente, e Mayke foi liberado para o apoio. Isso abriu o time um pouco e o Atlético começou a levar mais perigo em suas estocadas, fazendo o Cruzeiro conceder muitas faltas perto de sua grande área. Felizmente, Ronaldinho não estava em tarde inspirada nas cobranças e Fábio não foi exigido.

Foi o momento mais perigoso da partida. A torcida do Atlético já gritava contra seu treinador, que só fez uma troca, mandando Neto Berola na vaga de Tardelli, sem alterar muito o esquema. No mesmo momento, Marlone foi para a vaga de Dagoberto, também sem alterar o sistema, mas dando muito mais preocupações defensivas a Marcos Rocha do que Neto Berola a Ceará. No fim, uma cobrança de falta de Souza fez Victor rebotear nos pés de Rodrigo Souza, que se fizesse o gol teria coroado sua excelente atuação.

É o clássico

É lugar comum, mas não seria se não fosse verdade: o clássico é um jogo diferente. Ele faz os treinadores mudarem as características de seus times para explorar cada fraqueza do rival — Mourinho fez isso recentemente com seu Chelsea na partida contra o Manchester City pela Premier League. Sem os “titulares” Lucas Silva e Moreno, as entradas mais esperadas eram as de Júlio Baptista (empurrando Goulart à frente) e Henrique na posição de segundo volante. Mas Marcelo lançou Rodrigo Souza e Willian, visando explorar a deficiência defensiva pela esquerda e mitigar a saída forte pela direita. Tudo isso ainda povoando o meio-campo e vencendo a batalha pela posse. Pontos para o treinador.

Mas como em futebol não existe tática perfeita, algo teve de ser sacrificado. E foi a movimentação ofensiva característica deste Cruzeiro, com intensidade e troca de posições constante. Willian ficou preso na sua atribuição defensiva e pouco centralizou. Dagoberto já não tem tanto esta característica, preferindo naturalmente ficar mais aberto, e Éverton Ribeiro, centralizado, ficou encaixotado na marcação dos volantes atleticanos. Por isso não vimos o Cruzeiro vibrante do ano passado.

De qualquer forma, foi uma evolução. Após a confirmação do título nacional, Fábio foi a um programa de entrevistas e disse que a eliminação para o Flamengo na Copa do Brasil fez o grupo perceber que não sabia jogar se defendendo. Portanto, o time de 2013 só sabia jogar de um jeito: atacar o tempo todo. No clássico, o Cruzeiro teve uma postura mais cautelosa, mas com a bola nos pés, conseguindo criar mais chances e ficar mais perto da vitória do que o rival — ainda que isso seja contra a escola de futebol preferencial dos cruzeirenses, é importante saber jogar assim de vez em quando.

E e parece que este grupo aprendeu.

Cruzeiro 3 x 1 Villa Nova – O dilema da centroavância

O título deste artigo é uma pegadinha. Quem lê rapidamente pode pensar que é uma crítica aos jogadores desta posição, mas não se trata disso. Na noite de quarta, Marcelo Oliveira encontrou, sem querer — ou não — uma solução para a repentina escassez de centroavantes que o Cruzeiro passou a ter com a lesão de Borges no último sábado. Com a venda de Vinícius Araújo, de repente Marcelo Moreno passou a ser a única opção “nativa” para a posição.

Falo dos quatro meias que jogaram em um determinado período do jogo, como veremos mais adiante. Para este blogueiro, foi o melhor momento da equipe na partida, em que pese o relaxamento que os jogadores já estavam àquela altura com o 3 a 0 no placar.

Formação

Cruzeiro no 4-2-3-1 costumeiro e com a movimentação que lembrou o time do ano passado; Villa numa formação muito adaptada para defender, com cobertura de João Paulo e Léo tendo que escolher o lateral que marcava

Cruzeiro no 4-2-3-1 costumeiro e com a movimentação que lembrou o time do ano passado; Villa numa formação muito adaptada para defender, com cobertura de João Paulo e Léo tendo que escolher o lateral que marcava

O Cruzeiro iniciou o jogo no mesmo 4-2-3-1 de sempre. Quem lê o blog já está acostumado e sabe de cor: Fábio no gol; Ceará e Egídio nas laterais e Dedé e Bruno Rodrigo no miolo; Souza mais preso e Lucas Silva mais solto como volantes, atrás de Éverton Ribeiro partindo da direita para dentro, Ricardo Goulart se movimentando no meio e Dagoberto mais espetado e mais à esquerda. Na frente, Marcelo Moreno brigando com os zagueiros.

Foi difícil definir um esquema para o time do Villa Nova. Paulinho Kobayashi — aquele mesmo — montou uma linha defensiva com quatro homens, mas o lateral Chiquinho preferia subir para bater com Egídio e com isso o volante João Paulo descia para a cobertura em Dagoberto — os dois se encontraram o jogo inteiro. Ferrugem ficou mais preso como volante à frente da área e liberava Igor para subir um pouco mais, mas o camisa 11 do Villa também teve mais atribuições defensivas que ofensivas. Mancini ficou na ligação e tentava encontrar os atacantes Léo, pelos lados, e Paulo Henrique, centralizado como referência. Algo como um 4-3-1-2, mas com o meio sem ser em losango.

Flanqueando o adversário

Essa formação tinha o objetivo de tirar os espaços do Cruzeiro em seu setor mais produtivo, o meio-campo ofensivo. Com ferrugem fazendo as coberturas, João Paulo grudado em Dagoberto e Igor cercando Éverton Ribeiro, e ainda tendo a ajuda em alguns momentos de Léo e Mancini, Kobayashi tentou vencer o setor pela tática da horda — quanto mais gente, mais difícil. Mas aqui cabe a metáfora do cobertor curto: se se coloca gente demais em um lugar, falta em outro. E nesse caso foi nas laterais.

Léo ficou mais pela direita no início do jogo e encontrava Egídio algumas vezes, mas do outro lado não havia ninguém para impedir Ceará de jogar. O lateral avançava tranquilamente até a linha divisória e entregava bolas limpas para os meias criarem, e até mesmo fazia jogadas de ultrapassagem encontrando Fábio Fidélis na linha de fundo. Quando Léo inverteu de lado, aí foi a vez de Egídio aproveitar, pois agora o lado esquerdo estava no mano a mano. E num avanço de Souza pela esquerda, a marcação do Villa ficou com gente a menos e saiu a tabela que originou o gol contra que abriu o placar.

Depois do gol, Léo retornou para a direita para tentar parar Egídio, mas o estrago já tinha sido feito. Mesmo assim, o lado esquerdo continuou sendo o mapa da mina, pois Dagoberto estava vencendo o duelo contra João Paulo, fazendo o segundo em uma jogada típica de ponteiro de pé trocado: destro na esquerda. Puxou para dentro, ficou de frente e emendou uma bola rasteira que imobilizou o goleiro Bráz.

Moreno

Quando disse no primeiro texto do ano que fiquei com um pé atrás em relação à contratação de Marcelo Moreno, me referia ao estilo de jogo que o boliviano-brasileiro pede: jogo de referência, homem-alvo na área. Isso tem uma vantagem e uma desvantagem. A vantagem é que acrescenta uma opção de estilo, a bola aérea ofensiva com bola rolando. O Cruzeiro fez muitos gols pelo alto no ano passado, mas quase sempre através de seus zagueiros e volantes, e em bolas paradas. Os meias e atacantes preferem usar os pés, mesmo dentro da área. Mas essa característica também é uma desvantagem: sendo um centroavante mais de força, típico homem-alvo, Moreno participa menos da construção das jogadas — Borges não participava muito, mas Moreno participa menos ainda. Isso pode eventualmente sobrecarregar o trio de meias, mas não chega a ser um problema, apenas uma opção por um estilo de jogo ou outro.

Com ele em campo, portanto, o Cruzeiro precisará se adaptar a estas características de seu jogador mais avançado, e começou a fazer isso nesta partida. Os laterais e ponteiros sempre buscavam o cabeceio do camisa 18, que teve muitas dificuldades em desenvolver seu jogo. Mas no fim do primeiro tempo, numa bola milimétrica de Éverton Ribeiro — aparecendo pela esquerda na troca de posições típica deste Cruzeiro — Moreno acertou um “cabeçazo”, forte, sem chances para Bráz. Primeiro gol dele no retorno, e todas as memórias da torcida celeste da Libertadores de 2008 voltaram naquele momento.

A “inovação”

No início do segundo tempo, Moreno deu lugar a Willian, e o Cruzeiro jogou sem centroavantes de ofício, com 4 meias que se movimentam muito: um inovador 4-2-4-0

No início do segundo tempo, Moreno deu lugar a Willian, e o Cruzeiro jogou sem centroavantes de ofício, com 4 meias que se movimentam muito: um inovador 4-2-4-0

No intervalo, Marcelo Oliveira optou por poupar Moreno pensando na Libertadores. Talvez fosse um medo de uma lesão que deixaria o Cruzeiro sem centroavantes. Com a entrada de Willian, era imaginado que Ricardo Goulart avançasse, deixando Éverton Ribeiro como meia central e Dagoberto e Willian pelos lados. Mas Ricardo Goulart, como meia de ofício, tende a deixar a área e se aproximar do meio-campo, se juntando ao trio de meias. E nesta partida ele fez isso muitas vezes. Além disso, Dagoberto e Willian também são ponteiros agudos, que invadem a área para concluir sempre que podem. Somente Éverton Ribeiro ficava mais por trás, pensando o jogo.

Assim, a formação celeste mudou para uma espécie de 4-2-1-3, mas que eu prefiro chamar de um inovador 4-2-4-0 — sim, pois todo o quarteto ofensivo participava da construção na frente da área adversária, sem nenhum homem fixo como referência na frente. rotação de posições provocava várias linhas de passe rápidas e inteligentes que levaram os defensores villanovenses à loucura. Pena que as conclusões não foram lá essas coisas.

Veja o posicionamento do quarteto ofensivo  meias quando o Cruzeiro jogou sem centroavante, e veja o desenrolar desse lance aqui

Veja o posicionamento do quarteto ofensivo meias quando o Cruzeiro jogou sem centroavante, e veja o desenrolar desse lance aqui

“De volta” ao 4-2-3-1

O ritmo arrefeceu um pouco após a entrada de Marlone na vaga de Dagoberto, mas continuava empolgado este blogueiro. Porém, ao ver Júlio Baptista se preparando para entrar no gramado, bateu a frustração, pois era sabido que sua entrada iria “travar” o time. Júlio tem bom passe e boa finalização, mas não se movimenta tanto, e sua entrada faria o time ficar engessado.

Ao invés de ir jogar na meia central, onde sempre entra, deixando Ricardo Goulart como centroavante, para minha surpresa foi o próprio Goulart quem saiu. Éverton Ribeiro ficou “sozinho” na meia central e Júlio foi ser centroavante. Era mais uma tentativa de Marcelo de solucionar a falta de centroavantes no elenco celeste.

A entrada de Júlio teve o efeito de tirar a intensidade de movimentação na frente, e sem o ímpeto o Cruzeiro começou a administrar e relaxou demais, chamou o Villa Nova para seu campo — que àquela altura já não tinha mais nada a perder — e num momento de relaxamento total, Fábio errou a saída de bola e a zaga não conseguiu tirar, gerando novo ataque do Villa que culminou no gol de Mancini, completamente sozinho na frente de Fábio, para fechar o placar.

Uma possível formação, sim senhor

Jogar sem centroavante não é nenhuma novidade — o Barcelona vem fazendo isso há muitos anos. Mas o time catalão é um pouco diferente, no sentido de que sua base em um 4-3-3, com um volante preso (Busquets) e dois passadores (Xavi e Fábregas) no meio, com um “falso 9” (Messi) que recua, faz número no setor e abre espaço para os ponteiros e meias invadirem a área. No caso do Cruzeiro, o sistema de partida foi um 4-2-3-1, com um volante a mais e um meia a menos. Um sistema que, na modestíssima opinião deste escriba, funcionou muito bem.

Mas é difícil imaginar que Marcelo Oliveira vá testar esta formação mais vezes. O mais provável é que Moreno seja mesmo o titular ou Júlio ou Goulart (desta vez mais avançado mesmo) faça as vezes de centroavante. Seria um sopro de novidade tática no Brasil, um país tão carente neste aspecto do futebol — infelizmente, para os brasileiros o aspecto tático é pouco importante, sendo a parte técnica o principal.

De qualquer forma, foi ótimo ver o Cruzeiro relembrando sua melhor forma do ano passado, que trouxe o título nacional inconteste. Uma forma que, como este blog previu no primeiro texto de 2013, resgata a escola de jogo do Cruzeiro, tão tradicional e histórica que tem até um ditado popular.

Que sigamos sendo rápidos e rasteiros — como o ataque do Cruzeiro.

2014: o ano da Copa… Libertadores

O Constelações está de volta. O único blog de análise tática assumidamente sem compromisso com a análise neutra — aqui é só o Cruzeiro que interessa — abre seus trabalhos em 2014 com uma opinião sobre os novos contratados e um resumo sobre as duas primeiras partidas do ano.

Mas antes, cabe uma rápida explicação: as últimas rodadas do Brasileirão 2013 foram atenciosamente vistas por este que vos escreve. Porém, como sabem, este não é o meu trabalho principal (adoraria que fosse) e portanto não posso me dedicar a ele como gostaria. Some-se a isso as viagens e festas de fim de ano, nas quais fiquei sem meu equipamento para escrever os textos (um computador), passou-se o tempo, as análises não foram escritas e deixaram de ser relevantes.

Entretanto, não acredito ter perdido muita coisa. Afinal o Cruzeiro foi totalmente outro após a conquista do título, jogando mais para festejar com a torcida do que para vencer. O mesmo 4-2-3-1 permaneceu até o final, mas com equipes do outro lado jogando a vida para não caírem para a segunda divisão — uns conseguiram, outros não.

Reforços

Os inscritos para a Libertadores 2014.

Os inscritos para a Libertadores 2014

Mas 2014, o ano da Copa (Libertadores), chegou. E com ele, novos contratados apareceram na Toca II: Rodrigo Souza, Samudio, Marlone e Marcelo Moreno.

O primeiro é volante, mais de contenção, e portanto jogaria na posição que é atualmente do Nilton. Confesso que não sei se o jogador tem a mesma qualidade de passe e chegada na área em bolas paradas, a conferir.

O lateral esquerdo Samudio foi uma excelente contratação. Vem para ser a sombra que Egídio precisava, já que Éverton chegou a ser titular no Campeonato Mineiro mas perdeu a posição novamente e não jogou mais. O gringo traz a experiência de Libertadores que possui e será muito importante quando Egídio, ainda dono da posição, não puder jogar. Não conheço a característica do jogador, se é lateral mais defensivo (como Ceará) ou tem mais ímpeto (como Mayke e Egídio). Se eu tivesse que apostar, apostaria no primeiro caso.

Marlone é uma jovem promessa que apareceu muito bem no Vasco no ano passado. É ponteiro, podendo jogar pelos dois lados mas preferencialmente o esquerdo. Está na disputa com Willian, Dagoberto e Luan por esta vaga — sim, porque do lado direito, Éverton Ribeiro é o dono indiscutível da posição. E pode ter sido uma contratação já pensando numa provável saída de Éverton Ribeiro para o futebol europeu.

Já Moreno é velho conhecido da torcida celeste. Foi o artilheiro da Libertadores de 2008, a primeira da era Adílson Batista. Volta quatro anos mais experiente, depois de uma temporada razoável no Grêmio e no Flamengo, onde amargou a reserva de Hernane. Centroavante, possui bola aérea forte, mas tem características bem diferentes dos outros centroavantes Borges e Anselmo Ramon (e de Vinícius Araújo, que já se foi). Confesso que estou com um pé atrás com esta contratação, pois precisávamos de centroavantes móveis e não de mais uma referência na área (Borges e Anselmo já servem a esse propósito), mas pode também ser um indicativo de que Marcelo Oliveira está disposto a mudar o estilo de jogo se for preciso.

Cruzeiro 1 x 0 URT

O 4-2-3-1 de sempre, diante de uma URT recuada e defensiva tentando bloquear os laterais celestes

O 4-2-3-1 de sempre, diante de uma URT recuada e defensiva tentando bloquear os laterais celestes

O ano começou como terminou ano passado: o mesmo 4-2-3-1, porém com Souza na vaga de Nilton. Os outros dez eram os de sempre: Fábio no gol, Ceará e Egídio nas laterais, Dedé e Bruno Rodrigo na zaga, Lucas Silva de volante avançado e Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Dagoberto na linha de três meias atrás de Borges. Nada de novo.

Como também não foi novidade o número de finalizações celestes: 35, sendo 14 na direção do gol, contra apenas 6 da URT. Isso porque o time de Patos de postou com uma trinca de volantes, dois meias mais abertos para barrar as subidas dos laterais e um atacante apenas, que não fazia pressão em Dedé e Bruno Rodrigo. Assim, o Cruzeiro avançava até quase na intermediária ofensiva sem ser incomodado, e só sofria marcação mais pesada a partir daí.

A movimentação da trinca de meias do ano passado estava lá, ainda um pouco enferrujada, mas era intensa o suficiente para por vezes afundar um ou dois volantes patenses na linha defensiva e abrindo espaço logo à frente da área. Esse espaço gerou uma profusão de chances, que só não foram melhor aproveitadas porque o goleiro Guilliano estava em tarde inspirada, e também o pé ainda não me pareceu bem calibrado. Era o primeiro jogo da temporada, afinal.

Marcelo fez trocas simples, apesar de não serem diretas. Dagoberto por Willian, Júlio Baptista por Borges (com Goulart temporariamente na referência) e Goulart por Moreno. Manteve-se o 4-2-3-1 e o placar de 1 a 0 construído no fim do primeiro tempo.

Caldense 0 x 0 Cruzeiro

No mesmo 4-2-3-1 do Cruzeiro, a Caldense teve mais físico e por isso mais intensidade: muita marcação e velocidade com a bola

No mesmo 4-2-3-1 do Cruzeiro, a Caldense teve mais físico e por isso mais intensidade: muita marcação e velocidade com a bola

Já no sul de Minas foi diferente. A Caldense, com um bom time armado pelo técnico Leonardo Condé, não teve a mesma postura da URT e avançou suas linhas de marcação. Jogando no mesmo 4-2-3-1 do Cruzeiro, tinha o veloz Diney na esquerda, e Éverton Maradona comandando o meio-campo central. Em teoria, não havia superioridade numérica em nenhum setor do campo, mas o time de Poços tinha mais energia e preparo físico, jogando com muita velocidade tanto no ataque como na defesa. O Cruzeiro, sem o mesmo condicionamento, tentava tirar a velocidade do jogo, e por isso ficava com a bola mais tempo mas sem produzir nada.

Nesta feita, Marcelo Oliveira teve que trocar Borges por Moreno diretamente, devido a lesão do camisa 9 ainda no primeiro tempo. Depois, Júlio Baptista entrou na vaga de Willian (que havia começado o jogo pela esquerda na vaga do poupado Dagoberto), fazendo Ricardo Goulart jogar pela esquerda na linha de três, mas “a la Éverton Ribeiro”: puxando para o centro, devido sua tendência de estar por dentro do campo, e ao mesmo tempo explorando o espaço que Júlio Baptista tentava criar com incursões à grande área.

E por fim, Éverton Ribeiro, que errou muitos passes neste jogo, saiu para a entrada de Élber. A tentativa era a da velocidade, ultrapassagens pelos lados para levantar a bola para Moreno na área, mas não houve sucesso.
E, em suma, foi assim o jogo: a Caldense jogando a vida, pois qualquer ponto nos confrontos com os time da capital pode valer uma vaga na semifinal, e o Cruzeiro ainda tentando encontrar um ritmo e recuperando a questão física. O zero a zero acabou sendo um resultado condizente, em que pese o time da casa ter tido mais chances.

Ainda é pré-temporada

Lembremos que o Cruzeiro jogou sua última partida em 2013 no dia 8 de dezembro. Somemos o mês de férias e o mês de pré-temporada e chegamos à data de 8 de fevereiro: o dia em que aí sim podemos passar a cobrar um pouco mais do Cruzeiro, ainda que seja o início da temporada. Portanto, estes primeiros jogos só servem como pré-temporada de fato, mesmo que sejam jogos oficiais. A estreia na Libertadores é no dia 12 contra o Real Garcilaso, e até lá o Cruzeiro ainda vai evoluir física e tecnicamente.

Taticamente, a evolução continua, mas já é um time bastante amadurecido com o sucesso na temporada passada.