Somos todos feitos de estrelas

Versão curta e rápida: o blog Constelações suspenderá suas atividades por tempo indeterminado.

O “big bang”

Duvido que alguém saiba disso, mas o blog Constelações começou ainda em 2012. Empolgadíssimo por ter descoberto o mundo das análises táticas no futebol no ano anterior — que terminou naquele 6×1 — este escriba resolveu unir esta nova paixão com uma antiga: o Cruzeiro. Assim nasceu o único blog de análises táticas dedicado a um time só. Talvez já não seja o único, mas sem dúvida foi pioneiro nesse formato.

Totalmente auto-didata, no início decidi escrever apenas para treinar. Não fazia divulgação, sequer para amigos. Portanto, eu escrevia só pra mim. A razão maior, porém, era que eu tinha era medo dos trolls. Não estava preparado para receber comentários odiosos de gente que só quer tumultuar (talvez ainda não esteja). Só depois de sentir confiança é que abri o blog, primeiro para amigos cruzeirenses próximos, para testar a reação.

Com o retorno positivo, comecei uma tímida divulgação, a partir de meados de 2012. Desde então, o blog só cresceu. Em acessos, em popularidade. Comecei a comentar os jogos ao vivo no Twitter, e com isso fui angariando mais audiência e mais seguidores. Chamei tanta atenção que fui convidado a ser colunista de um grande portal de conteúdo do Cruzeiro, o Diário Celeste, no início de 2015.

Foi quando o alcance dos meus textos chegou num ponto que eu nunca pude imaginar. Com muito mais seguidores do que eu, os textos do Diário chegaram aos computadores de dezenas de milhares de pessoas. Gente importante do jornalismo brasileiro começou a ler os meus textos. Outros analistas táticos começaram a me olhar como pares — algo que nunca entendi direito, já que não me julgo merecedor de tal honraria.

Foram três anos e meio em que tudo isso era feito com um único combustível: o amor ao Cruzeiro e à análise tática (nessa ordem). E pelo fato de não ser a minha ocupação principal, eu sempre tinha que escrever os textos nos meus horários livres. E até o momento, isso bastava.

Mas a vida nos leva por outros caminhos, e nesses caminhos há outras prioridades. O tempo disponível já não seria tão grande. Com pesar, tive que decidir pela suspensão das análises profundas aqui no blog. Talvez algum dia elas voltem, afinal, depois de uma estrada sempre há outra estrada.

Coisas que ninguém sabia

Pra não ficar um texto muito melancólico, aqui vão algumas curiosidade engraçadinhas.

  • Os diagramas táticos, também conhecidos como “campinhos”, são todos produzidos por mim usando um software de edição de imagens.
  • Nestes campinhos, propositalmente não uso os números do jogadores, apenas os nomes. Isso porque o número da camisa não tem nenhuma relevância na análise tática e usá-lo poderia confundir o entendimento (“camisa 10 na ponta direita, como assim?”).
  • Os campinhos são no formato vertical, e não no horizontal como é o “padrão” dos outros blogs de tática, por uma razão muito simples: nessa orientação, o lateral direito fica do lado direito, o esquerdo no esquerdo, a zaga fica embaixo, ou “atrás” e o ataque em cima, ou “à frente”. Além disso, facilita o entendimento de expressões como “marcação no alto do campo”, ou “o volante afundou entre os zagueiros”.
  • No início, os campinhos tinham a mesma proporção do Mineirão antigo (110 x 75m). Pós-reforma, mudei para a nova proporção (105 x 68m), e adicionei as traves.
  • O tom de azul que marca os jogadores do Cruzeiro nos campinhos é o recomendado pelo próprio clube no seu manual de aplicação da marca.
  • Na imagem de fundo do blog, há quatro constelações: em cima, a Raposa e o Cruzeiro do Sul, que são constelações que existem de verdade; do lado esquerdo, um conjunto de estrelas que representa o esquadrão de 1966, no seu 4-3-3 característico (repare na estrela amarelada no gol e como a estrela “Tostão”, na meia esquerda, brilha mais que as outras); e do lado direito, o histórico time da Tríplice Coroa de 2003, com o 4-3-1-2 losango que Luxemburgo armou para dar liberdade a Alex, a “estrela alfa” daquela equipe.

Pequenos detalhes que me faziam feliz, mesmo que ninguém soubesse deles.

Agradecimentos

Importante agradecer a todos aqueles que, direta ou indiretamente, contribuíram para que o blog Constelações fosse o que é hoje.

  • Eduardo Cecconi, o pioneiro, o verdadeiro desbravador da selva com a foice na mão, que abriu caminho para vários outros com seu finado blog Preleção e depois com o blog Tabuleiro no Globo Esporte;
  • André Rocha, cuja própria história é inspiração para muitos: um torcedor comentarista de blog que ganhou uma coluna pelo excelente conteúdo de suas palavras e não parou mais de crescer. Agradeço pela oportunidade de poder colocar um texto em seu blog da ESPN, quando eu era ainda muito “verde” no assunto;
  • Leonardo Miranda, Caio Gondo, o perfil @cruzeirotatico do Twitter e tantos outros seguidores no microblog, com os quais tive debates muitíssimo enriquecedores. Só tive o que aprender com estes mestres;
  • Aos autores dos textos nos portais Taticamente Falando e A Prancheta Tática, que nos brindam com excelentes análises de vários jogos, fontes excelentes de conhecimento;
  • Jonathan Wilson, autor do livro “Invertendo a Pirâmide”, e Michael Cox, do site “Zonal Marking“, que não devem nem saber da minha existência, mas que são óbvias fontes de inspiração. Leiam o livro e visitem o site!

“We are all made of star-stuff”

O famoso astrônomo Carl Sagan uma dia disse que “somos todos feitos de estrelas”. Isto porque, de acordo com a teoria vigente, todos os átomos existentes no Sistema Solar foram criados a partir do hidrogênio existente dentro de uma estrela, que após completar o seu ciclo, explodiu e deu origem ao nosso Sol e aos planetas.

Assim, tal qual uma estrela que morre mas deixa seu rastro por toda a parte, o Constelações suspende suas atividades, mas não desaparece por completo. Pois se o blog conseguiu plantar a sementinha sobre o assunto na cabeça de muita gente que o desconhecia, se conseguiu ao menos derrubar o muro do preconceito em relação a isso que existe no Brasil, já terá cumprido o seu papel. E estará por aí, na forma do interesse despertado, da informação mais completa, da visão do jogo por um outro prisma que não o da técnica individual.

Obrigado a todos, até breve, abaixo a ditadura do 4-4-2, e finalmente e mais importante: #FechadoComOCruzeiro!