Já dizia o outro: treino é treino e jogo é jogo. Pode ser, mas o que vimos hoje na Arena do Jacaré pela segunda rodada do Campeonato Mineiro foi um time muito aplicado e competente taticamente contra uma equipe apática defensivamente e sem criatividade. Nem parecia ser a equipe da Série A que mais teve tempo pra treinar antes de um jogo oficial.
O Cruzeiro entrou com a formação esperada, o 4-3-1-2 losango treinado por Mancini durante praticamente toda a pré-temporada, com Amaral e Marcelo Oliveira fazendo companhia a Leandro Guerreiro no meio defensivo. Já o Guarani optou por um 4-2-2-2, com Walter Minhoca na articulação principal e Diego Fernando um pouco mais à frente que Magalhães.
Logo de cara, uma diferença se percebia em relação ao amistoso contra o América: um pequeno aumento da presença ofensiva dos volantes e laterais celestes, ilustrada pelo avanço de Diego Renan no primeiro minuto de jogo. Marcelo Oliveira fez mais conexões com Gilson e Anselmo Ramon pelo lado esquerdo, enquanto Amaral procurou mais Diego Renan e Wellington Paulista na destra.
No entanto, nem mesmo a intensa movimentação de Montillo pelos lados evitou que o Guarani se fechasse com qualidade em seu campo. A proposta do Guarani era simples: pressionar a transição ofensiva do Cruzeiro para evitar as jogadas velozes e se recompor atrás da linha do meio-campo, deixando apenas Diego Fernando à frente, e por vezes até ele voltava para compor. Proposta essa exemplificada no lance do único gol da partida: recuperação de bola azul e passe errado logo depois, devido à pressão do adversário. Walter Minhoca conectou Luisinho na direita, que fez o cruzamento para Magalhães concluir.
Faltou também criatividade aos jogadores de meio. A lotação no campo adversário fez com que os volantes cruzeirenses ficassem sem espaço para pensar, tendo que resolver o passe rapidamente, e por isso ele saía quase sempre com pouca qualidade. Montillo não voltou tanto para buscar a bola, caindo mais pelos lados. O argentino, todavia, é muito mais driblador que passador, como seria um 10 clássico. Foi o que faltou ao Cruzeiro hoje: o time de Divinópolis fechou inteligentemente os espaços e pressionava qualquer jogador que tentasse segurar a bola pelo meio. A saída pelas laterais era quase sempre a melhor opção, mas os cruzamentos eram quase sempre ruins, com ambos os laterais fazendo um mal jogo.
Se por um lado o Cruzeiro tentou resolver um de seus problemas em relação ao amistoso de duas semanas atrás, por outro o segundo problema persistia: o espaço cedido ao adversário na intermediária defensiva. Mais uma vez, o trio da frente não participava tanto das ações defensivas, fazendo com que a batalha do meio-campo ficasse em três contra quatro. Com um homem a mais, o time visitante tinha bastante tempo para pensar no jogo e ficar tocando a bola no campo do adversário. A partir daí, no entanto, o Cruzeiro se defendia razoavelmente bem e Rafael mal viu a bola, a não ser em duas finalizações de longe defendidas pelo jovem goleiro.
Além disso, ao contrário do Guarani, o time celeste não pressionava os jogadores adversários quando perdia a bola no ataque, e quase sempre os jogadores do time vermelho saíam com tranquilidade para a ação ofensiva. Não impunham velocidade, no entanto, fazendo com que a defesa cruzeirense pudesse se organizar, mas por outro lado não perdiam a posse da bola (como o Cruzeiro perdeu no lance do gol).
No segundo tempo, Mancini tentou forçar o Guarani a não subir tão frequentemente, colocando Wallyson, na direita, no lugar de Amaral. O Cruzeiro passou para o 4-2-1-3 variando para o 4-2-2-2 com Wallyson recuado, e o esquema funcionou durante alguns minutos. Os muitos erros de passe, porém, impediam um fluxo melhor do jogo azul e logo o time visitante se achou em campo novamente. O jogo seguiu a tônica do primeiro tempo, a única diferença sendo a dupla de volantes cruzeirenses ter mais espaço e conseguir ficar mais tempo com a bola. No entanto, isso não melhorou a criatividade do time.As outras alterações não mudaram as formações táticas. Ambos os treinadores colocaram jogadores descansados na mesma função que os substituídos, com a única exceção sendo a troca dos volantes: Leo Medeiros (um dos melhores em campo), que sai mais para o ataque, por Cafu, mais defensivo. O Cruzeiro continuava a deixar de pressionar o Guarani mesmo estando atrás no placar, e no fim a falsa “pressão” cruzeirense foi mais resultado da escolha dos visitantes em segurar o resultado do que pela competência do time da casa.
Enfim, uma vitória justa, já que o Guarani executou sua proposta com muita competência e entrega, negando os espaços ao adversário. As cãibras nas duas pernas de Magalhães no fim do jogo ilustram bem isso. Já o Cruzeiro mostrou que precisa melhorar muito ainda, principalmente na construção ofensiva contra times bem postados na defesa, que deverá ser a tônica do Campeonato Mineiro para o time celeste. Além disso, defensivamente o Cruzeiro peca por deixar os adversários jogarem tranquilamente muito perto de sua área. Não é preciso ser nenhum gênio para saber que, quanto mais perto da área, maior é a chance de conceder um gol.
É claro que ainda podemos relevar certas coisas por ser início de temporada, mas os erros cometidos hoje foram de um time que está no início da pré-temporada.