Huracán 0 x 1 Cruzeiro – Adaptação, sofrimento e vitória

Lucas Romero x Damonte sob chuva
A chuva modificou o jogo no 1º tempo (foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)

Depois dos absurdos que aconteceram no ano passado, parecia adequado que o Cruzeiro recomeçasse sua caminhada na Libertadores novamente em Buenos Aires. Como se fosse uma segunda chance dada pelos os deuses do futebol. E o Cruzeiro não desperdiçou a nova oportunidade. Jogou com inteligência no primeiro tempo, soube se adaptar melhor às condições da partida. Mas no segundo, inexplicavelmente, sofreu mais do que devia.

A chuva que caiu no início da partida parecia afetar até a transmissão do Facebook, semelhante ao que acontece com quem tem TV paga via satélite. A imagem parava em alguns momentos — assim como a bola nas poças d’água. Eu diria até que a poça foi um dos nossos melhores defensores, pois atrapalhou bastante o Huracán em algumas de suas jogadas.

O campo pesado, no entanto, atrapalhava mais o Cruzeiro, que mesmo não sendo um time de posse, gosta de trocar passes pelo chão, mesmo em contragolpes. Já o Huracán gosta de bola longa pelo alto, e usou muito desse expediente para achar o atacante Gamba caindo pelos lados, no espaço nas costas dos laterais do Cruzeiro. E assim sempre levava um zagueiro com ele pra cobertura. Porém, pra sorte do Cruzeiro, o Huracán não aproveitou, por dois motivos: primeiro, um dos volantes do Cruzeiro afundava pra ocupar este espaço gerado, e além disso nenhum meio-campista do Huracán infiltrava. Resultado: cruzamentos a esmo com pouca gente na área. Facilitou pra defesa do Cruzeiro e para Fábio.

Mas o Cruzeiro se adaptou. Robinho, perspicaz, notou que o campo atrapalhava os passes do time e começou a golpear a bola à moda do futebol de areia: sem rolar pelo gramado, dando pequenas cavadinhas para que ele viajasse pelo ar, sem contato com a grama. Assim começou a jogada do gol, um contragolpe que nem foi rápido devido à condição do campo. Robinho achou Edílson na direita, que conduziu lentamente até a intermediária. Fred se desmarcou, Edílson lançou e Fred devolveu pra Robinho, por dentro, vendo o jogo de frente. Rodriguinho estava aberto na direita e correu paralelamente à linha do impedimento, rompendo na hora certa do passe por cima de Robinho. A conclusão era difícil, mas Rodriguinho conseguiu ganhar do zagueiro e vencer o goleiro.

O Huracán tentou dar mais intensidade após o gol, forçando mais pela direita. O lateral Chimino, que pouco subia, passou a atacar mais contra Rafinha e Egídio junto ao ponteiro Auzqui. Murilo cobria Gamba, e com isso Lucas Romero teve que ir ajudar pra não ficar em igualdade numérica. O gramado ruim, no entanto, atrapalhou bastante as tramas do Huracán naquele lado. Do outro, Edílson tinha menos trabalho porque Roa, o outro ponteiro, era muito mais armador, flutuando mais por dentro, e não ia até o fundo.

No intervalo, o campo melhorou bastante. A tendência era de que o jogo melhorasse para os dois times, mas não foi o que houve. O Huracán continuou com seu plano do primeiro tempo, mas com o campo melhor, conseguia executar um pouco mais. Novamente, forçando pelo setor de Egídio. Chimino passou a ser praticamente um ponta, enquanto Auzqui ficava mais por dentro pro apoio, com Gamba arrastando Murilo pra fora da área. Numa dessas, o zagueiro levou amarelo. Depois, até Roa, o ponta esquerda, foi atravessou o campo pra tentar causar superioridade. E o Huracán chegava com perigo por ali, mas quase sempre o Cruzeiro rechaçou os cruzamentos.

Por causa da forma de marcação do Cruzeiro, que é por encaixes no setor, o acúmulo de adversários em uma área do campo faz com que o Cruzeiro também acumule defensores nesse local. Com muita gente defendendo o lado esquerdo e a última linha sempre montada, a entrada da área acabava desguarnecida, e os rebotes das rebatidas eram sempre do time da casa. Controlar este rebote da segunda bola era um fator primordial para o Cruzeiro arrefecer o volume de jogo dos argentinos. Como não conseguia, o Huracán chegou a alugar o campo ofensivo, com 9 jogadores do Cruzeiro atrás da linha da bola e só Fred na frente, por longos períodos.

Mano tentou mudar. Primeiro colocou Ariel na vaga de Romero. Principalmente porque Romero estava advertido, mas também deu estatura contra a bola aérea e um poder de passe maior pra progredir mais no campo. Não funcionou tão bem neste último quesito, apesar de Ariel ter ajudado a manter algumas das raras posses na frente que o Cruzeiro teve.

Então, resolveu assumir a bronca e meter Fabrício Bruno entre Léo e Murilo, tirando Rodriguinho de campo. A nova linha de 5, mais larga, fechava melhor os lados do campo e tinha agora a vantagem de ter mais gente defendendo a área. Demorou um pouco pra funcionar, mas isso deu resultado: o Huracán não conseguia mais ir ao fundo e só mandava chuveirinho da intermediária, o que facilitou bastante para a defesa do Cruzeiro. Depois, apenas um susto maior em uma condução do lateral Alderete que conseguiu chegar até o bico da área e chutar sem ser incomodado, com Fábio salvando em dois tempos e garantindo o placar.

A vitória é importantíssima, obviamente. Estrear fora de casa, na Argentina, com os 3 pontos na bagagem não é pra qualquer um, principalmente se considerarmos a condição do campo no 1ºT. Afinal, futebol tem tática, técnica, física, mas também tem essas nuances quase imperceptíveis. Como a inteligência dos jogadores e da equipe em se adaptar rapidamente a uma situação inesperada.

No entanto, foi contra o Huracán, que vive mau momento. Um pouco mais de qualidade técnica do adversário já seria suficiente pra que Fábio fosse vazado. Então é preciso um pouco mais do que apenas luta em campo. Como esse era em tese o jogo mais difícil do grupo, Cruzeiro agora ganha um tempo pra poder se encaixar melhor até os mata-matas da Libertadores, onde se espera que esteja. Nessa fase é que vai pegar os times teoricamente mais fortes. E esperamos, claro, que até lá o Cruzeiro já esteja conseguindo jogar sem sofrer tanto. Ou pelo menos controlar melhor sem bola.

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