Pit-stop na segunda volta

O técnico cruzeirense Vágner Mancini demonstrou hoje que pode entrar com mudanças para o próximo jogo contra o Tupi, domingo na Arena do Jacaré. Em relação ao time que iniciou o jogo contra o Guarani, Marcos entraria no lugar de Gilson, com Diego Renan se deslocando para a lateral esquerda, e Roger entraria no lugar de Amaral.

Roger é um meio-campista que cadencia o jogo, diferente de Montillo, que é mais driblador. Por já ter mais primaveras, tem uma forma física menos privilegiada, o que faz com que se poupe mais em campo. Por isso, atualmente, ele é um jogador que fica mais recuado, ditando o ritmo e mantendo a posse, esperando por uma oportunidade de fazer um passe mais agudo. Essa criatividade foi exatamente o que faltou ao Cruzeiro no primeiro jogo.

A entrada do meia significa uma mudança no desenho tático. O Cruzeiro poderia jogar num 4-2-2-2 “torto”, com Marcelo Oliveira um pouco mais solto que Leandro Guerreiro, se aproximando mais da dupla de criação, com Montillo avançando até dentro da área e Roger um pouco mais recuado.

Cruzeiro no 4-2-2-2 “torto”, com Roger mais recuado que Montillo

Essa tática funcionou bem no início do ano passado, mas havia uma diferença. A dupla de ataque era Thiago Ribeiro e Wallyson, dois velocistas, e que jogavam mais abertos do que o atual duo WP-Anselmo Ramon. Será preciso muita movimentação destes dois para que Montillo não fique sem espaço para correr à frente.

Mancini pode optar, também, por um 4-2-3-1 (o esquema da moda), abrindo Roger pela esquerda, deixando Montillo na articulação central e recuando WP pela direita, deixando Anselmo Ramon como homem de referência. Isso também exigiria uma movimentação maior de WP, pois sem a bola ele teria que recompor a marcação pelo lado, ajudando Marcos naquele setor. Mas nós sabemos como WP pode ser precipitado defendendo.

4-2-3-1 com Roger aberto pela esquerda e WP recuado

O treinador pode até tentar manter o losango, com Guerreiro no primeiro vértice, Marcelo Oliveira e Roger pelos lados e Montillo na ligação.

A manutenção do losango dos primeiros jogos

A impressão que fica é que, com tanto tempo para treinar – mais que qualquer outro time da Série A – o Cruzeiro não conseguiu encaixar suas peças e já parte para mudanças no segundo jogo da temporada. Das duas uma: ou Vágner Mancini não fez um bom trabalho, ou ele mesmo não acredita no que treinou. De qualquer forma, parece que o mês de pré-temporada foi jogado no lixo e o trabalho recomeçado.

Cruzeiro 0 x 1 Guarani/MG – Em ritmo de treino

Já dizia o outro: treino é treino e jogo é jogo. Pode ser, mas o que vimos hoje na Arena do Jacaré pela segunda rodada do Campeonato Mineiro foi um time muito aplicado e competente taticamente contra uma equipe apática defensivamente e sem criatividade. Nem parecia ser a equipe da Série A que mais teve tempo pra treinar antes de um jogo oficial.

O Cruzeiro entrou com a formação esperada, o 4-3-1-2 losango treinado por Mancini durante praticamente toda a pré-temporada, com Amaral e Marcelo Oliveira fazendo companhia a Leandro Guerreiro no meio defensivo. Já o Guarani optou por um 4-2-2-2, com Walter Minhoca na articulação principal e Diego Fernando um pouco mais à frente que Magalhães.

O 4-3-1-2 azul com os volantes e laterais mais presentes no ataque

Logo de cara, uma diferença se percebia em relação ao amistoso contra o América: um pequeno aumento da presença ofensiva dos volantes e laterais celestes, ilustrada pelo avanço de Diego Renan no primeiro minuto de jogo. Marcelo Oliveira fez mais conexões com Gilson e Anselmo Ramon pelo lado esquerdo, enquanto Amaral procurou mais Diego Renan e Wellington Paulista na destra.

No entanto, nem mesmo a intensa movimentação de Montillo pelos lados evitou que o Guarani se fechasse com qualidade em seu campo. A proposta do Guarani era simples: pressionar a transição ofensiva do Cruzeiro para evitar as jogadas velozes e se recompor atrás da linha do meio-campo, deixando apenas Diego Fernando à frente, e por vezes até ele voltava para compor. Proposta essa exemplificada no lance do único gol da partida: recuperação de bola azul e passe errado logo depois, devido à pressão do adversário. Walter Minhoca conectou Luisinho na direita, que fez o cruzamento para Magalhães concluir.

Faltou também criatividade aos jogadores de meio. A lotação no campo adversário fez com que os volantes cruzeirenses ficassem sem espaço para pensar, tendo que resolver o passe rapidamente, e por isso ele saía quase sempre com pouca qualidade. Montillo não voltou tanto para buscar a bola, caindo mais pelos lados. O argentino, todavia, é muito mais driblador que passador, como seria um 10 clássico. Foi o que faltou ao Cruzeiro hoje: o time de Divinópolis fechou inteligentemente os espaços e pressionava qualquer jogador que tentasse segurar a bola pelo meio. A saída pelas laterais era quase sempre a melhor opção, mas os cruzamentos eram quase sempre ruins, com ambos os laterais fazendo um mal jogo.

Se por um lado o Cruzeiro tentou resolver um de seus problemas em relação ao amistoso de duas semanas atrás, por outro o segundo problema persistia: o espaço cedido ao adversário na intermediária defensiva. Mais uma vez, o trio da frente não participava tanto das ações defensivas, fazendo com que a batalha do meio-campo ficasse em três contra quatro. Com um homem a mais, o time visitante tinha bastante tempo para pensar no jogo e ficar tocando a bola no campo do adversário. A partir daí, no entanto, o Cruzeiro se defendia razoavelmente bem e Rafael mal viu a bola, a não ser em duas finalizações de longe defendidas pelo jovem goleiro.

Além disso, ao contrário do Guarani, o time celeste não pressionava os jogadores adversários quando perdia a bola no ataque, e quase sempre os jogadores do time vermelho saíam com tranquilidade para a ação ofensiva. Não impunham velocidade, no entanto, fazendo com que a defesa cruzeirense pudesse se organizar, mas por outro lado não perdiam a posse da bola (como o Cruzeiro perdeu no lance do gol).

Cruzeiro no segundo tempo sem o losango inicial: um4-2-2-2/4-2-1-3 para tentar parar o avanço do ataque do Guarani

No segundo tempo, Mancini tentou forçar o Guarani a não subir tão frequentemente, colocando Wallyson, na direita, no lugar de Amaral. O Cruzeiro passou para o 4-2-1-3 variando para o 4-2-2-2 com Wallyson recuado, e o esquema funcionou durante alguns minutos. Os muitos erros de passe, porém, impediam um fluxo melhor do jogo azul e logo o time visitante se achou em campo novamente. O jogo seguiu a tônica do primeiro tempo, a única diferença sendo a dupla de volantes cruzeirenses ter mais espaço e conseguir ficar mais tempo com a bola. No entanto, isso não melhorou a criatividade do time.

As outras alterações não mudaram as formações táticas. Ambos os treinadores colocaram jogadores descansados na mesma função que os substituídos, com a única exceção sendo a troca dos volantes: Leo Medeiros (um dos melhores em campo), que sai mais para o ataque, por Cafu, mais defensivo. O Cruzeiro continuava a deixar de pressionar o Guarani mesmo estando atrás no placar, e no fim a falsa “pressão” cruzeirense foi mais resultado da escolha dos visitantes em segurar o resultado do que pela competência do time da casa.

Enfim, uma vitória justa, já que o Guarani executou sua proposta com muita competência e entrega, negando os espaços ao adversário. As cãibras nas duas pernas de Magalhães no fim do jogo ilustram bem isso. Já o Cruzeiro mostrou que precisa melhorar muito ainda, principalmente na construção ofensiva contra times bem postados na defesa, que deverá ser a tônica do Campeonato Mineiro para o time celeste. Além disso, defensivamente o Cruzeiro peca por deixar os adversários jogarem tranquilamente muito perto de sua área. Não é preciso ser nenhum gênio para saber que, quanto mais perto da área, maior é a chance de conceder um gol.

É claro que ainda podemos relevar certas coisas por ser início de temporada, mas os erros cometidos hoje foram de um time que está no início da pré-temporada.