Democrata/MG 0 x 2 Cruzeiro – Cuidado com os buracos

Com dois de Montillo (que poderiam muito bem ser creditados a Anselmo Ramon), o Cruzeiro venceu a terceira seguida, mas por sorte não caiu num enorme buraco criado pelo seu próprio treinador.

Formação inicial: 4-3-1-2 losango com muito espaço entre o trio de volantes e o trio ofensivo

Com Rudnei no lugar de Roger, poupado, o Cruzeiro continuou no seu costumeiro 4-3-1-2 losango, mas sem a criatividade de Roger na saída de bola e com mais poder de marcação proporcionado por Rudnei. José Maria Pena escalou o time da casa num 4-2-2-2, mas com o meio-campo todo formado por volantes, e com Adriano um pouco mais recuado que Léo Andrade na frente.

Com três volantes “de raiz”, o Cruzeiro novamente teve problemas de criatividade no primeiro tempo. Leandro Guerreiro, Marcelo Oliveira e Rudnei não são jogadores criativos, e Montillo joga sempre muito avançado, mais próximo do gol. Além disso, o Democrata se alinhava em duas linhas de quatro quando perdia a posse, com os dois “meias” ofensivos recompondo pelos flancos. Com isso, os laterais do Cruzeiro não avançavam muito, sob o risco de deixar um buraco nos flancos defensivos e tomar bolas nas costas em contra-ataque. O Cruzeiro só conseguia sair com a bola pelos lados, quando Montillo ou Wellington Paulista caíam pelo setor e se apresentavam para o primeiro passe, mas a essa altura já estavam muito longe do gol.

Defensivamente, o Cruzeiro se portou bem, pressionando a bola assim que perdia a posse, diminuindo ainda mais a qualidade do passe dos meio-campistas do Democrata, que eram volantes por natureza. A rigor, a única chance criada pelos valadarenses foi num erro de arbitragem, quando a defesa do Cruzeiro fez a linha de impedimento e o auxiliar nada marcou, fazendo com que Fábio tivesse que mostrar porque é um dos ídolos da torcida. De resto, alguns lampejos de Léo Andrade, que tentou se movimentar mais, na tentativa de puxar a marcação de um defensor para fora de sua zona, gerando um efeito cascata. Note como, aos 01:14 deste vídeo, como o zagueiro Leo está fora da área, à caça do atacante democratense, abrindo um buraco na defesa celeste. Diego Renan teve que sair pra fazer a cobertura, deixando dois jogadores sozinhos do lado direito do ataque. A sorte foi que Flávio Lopes, vendo-se sozinho, tentou chutar ao invés de passar para seus companheiros.

Tudo isso, aliado à péssima qualidade do gramado e ao forte calor que fazia em Valadares, contribuíram para um primeiro tempo, ironicamente, morno, de baixa qualidade técnica. O Cruzeiro teve mais posse de bola, mesmo tendo menos homens no meio-campo do que o time mandante (3 contra 4, já que Montillo era praticamente um atacante). Rudnei, mas enérgico que Roger, não conseguiu suprir a ausência deste criativamente, e mais uma vez a ligação entre o trio ofensivo e o trio de volantes foi fraca, com um buraco entre as linhas.

A saída de Rudnei abriu um buraco na meia direita celeste, recomposto mais tarde por Roger

No intervalo, Mancini substituiu Rudnei pelo atacante Walter. Com mais homens à frente, o treinador tentou fazer o time da casa se preocupar mais em defender e dar mais espaço no meio-campo para os volantes jogarem. Efetivamente, o que aconteceu foi que WP recuou ainda mais para se tornar um meia-armador de fato, Montillo continuou na sua posição normal e um buraco se abriu no meio-campo defensivo, onde antes estava Rudnei, já que os volantes não se reposicionaram no novo 4-2-2-2 “torto”. A assistência primorosa de calcanhar de Anselmo Ramon para Montillo marcar seu primeiro gol na temporada e se tornar o maior artilheiro estrangeiro do Cruzeiro (com o perdão das rimas) escondeu um pouco o alto risco da substituição escolhida pelo treinador cruzeirense.

Em desvantagem no placar, o Democrata tratou de tentar atacar o Cruzeiro, e aproveitaram o tal buraco. Se os visitantes tinham um homem a menos no meio-campo no primeiro tempo, com dois a menos ficou impossível ganhar a batalha pela posse. Com a tentativa de pressão, os dois volantes cruzeirenses recuaram ainda demais, e os mandantes ganhavam praticamente todas as bolas rebatidas pela zaga azul. No entanto, o Democrata não conseguiu criar muitas chances, seja pela baixa qualidade criativa de seus volantes, seja pelo ótimo desempenho dos defensores cruzeirenses, particularmante Victorino e Diego Renan. A pressão só foi terminar quando Mancini corrigiu seu próprio “erro” e colocou Roger no lugar de Wellington Paulista, voltando o time ao 4-3-1-2 losango. Roger, novamente, entrou na função de box-to-box, indo de uma área à outra, para fazer o time ter saída de bola e se apresentar a todo momento para receber o passe. Quando recebia, cadenciava o jogo e fazia a bola rodar, invertendo o jogo quando necessário.

Com a pressão “aliviada”, o Cruzeiro conseguiu sair um pouco mais, e gradativamente foi empurrando o time da casa para trás. Para tentar evitar a derrota em sua estréia pelo time, José Maria Pena arriscou e tentou colocar Anderson, um meia de fato, no lugar do volante Elton, para melhorar a ligação ao lado de Bob. O risco era estreitar o meio-campo, agora um quadrado de fato, e “chamar” os laterais cruzeirenses para o apoio. E o castigo veio no minuto seguinte: Diego Renan conseguiu avançar e combinou com Anselmo Ramon, que, novamente fazendo bem uma das funções do homem de referência, que é o pivô, devolveu de calcanhar para o lateral chutar forte em cima do goleiro reserva Jonathan. Montillo, desmarcado, aproveitou o rebote e cavalgou mais uma vez pelo Mamudão, definindo o jogo.

Com a expulsão de Bob, o Democrata se reorganizou num ousado 4-3-2 (ou 4-2-1-2), mas com Adriano voltando para ajudar na marcação, efetivamente um 4-4-1. O time ainda tentou se arriscar, mas o Cruzeiro tinha uma defesa recomposta com a entrada de Roger e parecia satisfeito com o resultado, se postando atrás e dificultando muito a vida dos mandantes. Wallyson ainda entrou no lugar de Anselmo Ramon, fazendo o ataque WWW (Walter Montillo, Walter e Wallyson, que é a aposta de muita gente para o decorrer do ano), mas o time manteve o desenho tático.

Fim de jogo, terceira vitória seguida e mais tranquilidade para Mancini continuar tentando dar uma cara para o Cruzeiro este ano. Destaques para as atuações de Anselmo Ramon (que vem demonstrando ser muito mais um camisa 9 do que WP) e Diego Renan, que, apesar de não ter sido brilhante ofensivamente, teve participação fundamental quando o Cruzeiro não tinha a posse de bola. No entanto, é bom não ficar muito animado, pois foram vitórias contra times mais fracos. Os verdadeiros testes serão contra América e Atlético, mais para o fim da primeira fase.

Será uma caminhada longa, e a estrada já é esburacada o suficiente.

Nacional/MG 2 x 4 Cruzeiro – (Des)confiança

Os três gols de Wellington Paulista e o de Wallyson não podem nem devem mascarar uma atuação regular do Cruzeiro hoje em Divinópolis, contra o Nacional de Nova Serrana.

O 4-3-1-2 celeste do primeiro tempo, com Roger mal passando da linha de meio-campo

O Cruzeiro veio a campo com o costumeiro 4-3-1-2 losango com Roger recuado e responsável pela saída de bola, e Anselmo Ramon mais dentro da área adversário que Wellington Paulista. O Nacional veio no mesmo esquema, um 4-3-1-2 losango montado por Emerson Ávila, com Alex Maranhão articulando para Reinaldo Alagoano e Marcinho.

Porém, apesar de estarem no mesmo desenho, havia duas diferenças: a qualidade dos volantes “natos” e, principalmente, o posicionamento de Roger. Desta vez, o meia se posicionou como um volante clássico, uma mudança fundamental em relação ao jogo contra o Tupi. Sem a bola, Roger fechava o lado direito do losango, por vezes ajudando Marcos na marcação. Com a posse, ele centralizava e recuava ainda mais, frequentemente buscando a bola atrás de Leandro Guerreiro, que teoricamente seria o homem mais plantado do meio-campo. Esporadicamente, Roger subia para articular com Montillo e Guerreiro cobria, mas o meia passou a maior parte do tempo tentando criar de trás, e Guerreiro era quem subia mais frequentemente para ajudar o trabalho ofensivo, juntamente com Marcelo Oliveira.

Mesmo assim, o trabalho de criação mais uma vez não foi bom. Com Roger posicionado desta forma, o Cruzeiro consegue sair melhor para o jogo, mas peca no momento em que precisa jogar mais incisivamente, perto da área adversária. Montillo ora jogava muito enfiado – fazendo com que os volantes fossem responsáveis pela articulação – ora abria pelos lados, dificultando sua característica de jogo, que driblar em velocidade com a bola. Tanto que as melhores chances eram criadas quando o Cruzeiro retomava a posse e partia rapidamente, quando o argentino tinha espaço para correr e dois alvos à frente. A jogada do primeiro gol ilustra isto: um passe de Montillo – mais longe da área e correndo em direção a ela – para Anselmo Ramon, que trabalho de pivô e devolveu para o meia pela esquerda do ataque. O cruzamento foi desviado pelo goleiro, mas WP aproveitou a incrível falha do zagueiro e chutou em ótima posição para vencer Douglas.

O desequilíbrio entre os dois lados do time celeste ainda persiste. Na direita, Marcos mais uma vez fez uma boa partida, apoiando bem e fazendo cruzamentos certeiros, como no segundo gol. Já Diego Renan, cada vez com menos confiança por conta da perseguição da torcida, ficou muito tímido e apoiava pouco, mas fez uma boa partida defensivamente, ajudado por Marcelo Oliveira.

Com os flancos fechados, restou ao Nacional duas opções: entrar tocando ou ligação direta. A primeira era difícil de executar, pois Alex Maranhão foi bem marcado e a criação ficava por conta dos volantes do Nacional, que não são jogadores criativos. Na única vez em que conseguiu se desvencilhar, o meia colocou Reinaldo Alagoano cara a cara com Fábio, que salvou com o pé. Ademais, o time de Nova Serrana se limitou a bolas longas da defesa para o ataque, tentando pegar a defesa azul desprevenida.

Apesar de nenhuma alteração ter sido feita no intervalo, a equipe mandante avançou suas linhas para forçar o Cruzeiro a errar mais passes, além de impor velocidade na recuperação da bola. E deu certo: a defesa azul, jogando alto, tentou deixar o ataque do Nacional impedido, mas Leo deu condições e Éder finalizou um passe em profundidade para empatar. Depois disso, o Nacional ameaçou várias vezes, sempre em passes verticais que desmontavam a zaga cruzeirense. Algo estava errado e os jogadores sabiam, tanto que todos os 11 fizeram uma conferência durante um atendimento a um jogador adversário para tentar resolver a situação.

Em vão. Roger, apagado no segundo tempo (como no jogo anterior contra o Tupi) saiu para a entrada de Rudnei. O time celeste voltava ao 4-3-1-2 ortodoxo, com três volantes de ofício, mas Rudnei deu mais energia e avançava mais que Roger. O jogo ficou mais aberto, com os times procurando mais atacar do que se defender, até que numa blitz de bolas aéreas, a defesa se perdeu – é possível ver três jogadores do Cruzeiro avançando para cima do jogador da sobra, que cruzou para o zagueiro Alessandro Lopes matar a bola no peito, praticamente sozinho dentro da área, e mandar no ângulo de Fábio.

Formação após as alterações, com WP como homem de referência e M. Oliveira como lateral esquerdo fixo

Com a virada, o time da casa recuou e deu campo para o adversário. Mancini pôs Wallyson para jogar pelos flancos na vaga de Diego Renan, com Marcelo Oliveira indo fazer a esquerda, transformando um time num 4-2-1-3. Assim, WP pôde ficar mais dentro da área para jogar como centroavante de referência – posição em que fez dois gols consecutivos e iguais, em cruzamentos da direita de Marcos e Montillo, e que fizeram o Cruzeiro retomar as rédeas do jogo. Novamente atrás no placar, Emerson Ávila lançou o meia-atacante Dudu no lugar do lateral-direito Afonso, tentando criar uma ameaça para o improvisado e já amarelado Marcelo Oliveira, mas Mancini respondeu colocando Everton no lugar de Anselmo Ramon, reequilibrando o setor esquerdo. Ávila ainda tentou pressionar colocando o atacante Juninho Frizzi no lugar do volante Éber, efetivamente transformando o time num 4-2-4, mas uma bola rebatida para longe por Leo e aparentemente perdida foi recuperada por Montillo, sozinho no campo adversário, que acabou sofrendo o pênalti que sacramentou a vitória azul com a conversão de Wallyson.

Em suma, uma vitória construída primeiro pelo talento de Montillo – que deu dois passes pra gol e sofreu o pênalti – e depois pela entrada de Wallyson, que resultou em WP se posicionando dentro da área. Mas, novamente, vale ressaltar a fragilidade do adversário. O ataque foi eficiente mas não foi de encher os olhos: estamos muito presos a bolas aéres pelos flancos. É preciso construir mais jogadas terrestres e linhas de passe. Contra times mais técnicos ou mais experientes, o Cruzeiro terá dificuldades se continuar jogando assim. Já a defesa apresentou novamente ter problemas quando joga contra times que tentam impor velocidade, e não pode ficar tão perdida como ficou nos gols do Nacional. Como o próprio Vágner Mancini disse em entrevista após o jogo, a defesa é um setor que tem que passar confiança. Mas, como bons mineiros, tem muito torcedor por aí (eu inclusive) desconfiado com ela.

Cruzeiro 3 x 0 Tupi – A caminho da maturidade

Substituições certeiras – e dois gols de Anselmo Ramon como único homem de referência – deram a tranquilidade que o Cruzeiro precisava para espantar a crise.

Vágner Mancini escalou os 11 esperados, sacando Amaral para a entrada de Roger no meio, e Marcos no lugar de Gilson, com Diego Renan voltando à lateral esquerda. Já o Tupi veio para o jogo num misto de 4-2-2-2 e 4-2-3-1, com a chave sendo o posicionamento de Alan Taxista pelo lado direito, muito mais posicionado como meia do que como atacante. Michel e Leo Salino completavam o trio criativo com Adenilson sozinho à frente.

O losango “torto” celeste com Roger de box-to-box pela direita

A agradável surpresa foi o posicionamento de Roger, que recuava tanto que frequentemente se encontrava atrás da dupla de volantes, dando mais qualidade à saída de bola azul. Era um 4-3-1-2 em losango “torto”: o meia jogou mais pela direita, fazendo um papel de “box-to-box” (uma expressão inglesa que denota um jogador que transita no espaço entre as duas grande-áreas), Marcelo Oliveira na sua posição habitual pela esquerda e com um pouco mais de liberdade do que Leandro Guerreiro, primeiro vértice. Este ficou mais responsável por cobrir o apoio do lateral Marcos, muito bem na partida.

O resultado é que o time celeste teve muito mais ação ofensiva pela direita do que pelo outro lado. O primeiro gol saiu numa excelente jogada de Montillo, que, como de costume, circulava por todos os lados. O argentino recebeu a bola naquele flanco e girou em cima de seu marcador George, que o perseguiu por todo o campo. O volante teve que recorrer à falta, e a excelente cobrança de Roger achou Wellington Paulista livre para abrir o placar.

Sem a bola, o Cruzeiro se defendeu com o mesmo esquema das partidas anteriores, mas com uma fundamental diferença: Roger, como volante, se posicionava um pouco mais à frente, ocupando o espaço entre o meio e o ataque, que era um problema crônico da defesa azul. Defendendo muito bem sua grande área, o Cruzeiro impediu o trio criativo do Tupi de fazer jogadas mais agudas, que eram quase sempre obrigados a recuar a bola para os volantes para manter a posse. Esses, por sua vez, não eram jogadores de criatividade, e por causa disso Fábio mal viu a bola no primeiro tempo.

Nos minutos antes do intervalo, Roger passou a ser melhor marcado e com isso o time passou a administrar o placar. E, com a dupla de ataque se desfez no segundo tempo, cabe aqui uma observação. Reparem como WP e Anselmo Ramon raramente se conectam no ataque. Isto acontece porque ambos são jogadores muito semelhantes – são o homem de referência, ora segurando a bola para a chegada do time, ora se posicionando dentro da área para uma conclusão de um passe pelo alto ou cruzamento (veja o posicionamento dos dois no primeiro gol). Quando atuam juntos, não são tão eficientes, já que um tem que sair do caminho do outro, abrindo, e não rendem tanto quando estão fora de suas posições “naturais”. Não é de se estranhar que a dupla tenha feito 100% dos gols do time este ano e 0% das assistências.

Cruzeiro com as alterações, com Rudnei e Walter se aproximando de Montillo

O segundo tempo começou como terminou o primeiro, com a exceção de que o Tupi se lançou um pouco mais à frente. Com Roger mais apagado, o Cruzeiro recuou suas linhas naturalmente, e um leve domínio dos juizforanos apareceu, mas nada muito contundente. As melhores chances criadas pelos visitantes foram chutes de fora de área, sendo que em um deles Michel obrigou Fábio a fazer uma dupla defesa espetacular.

Mas com as substituições, o jogo mudou novamente. Mancini promoveu a estréia do atacante Walter no lugar de WP, e pôs Rudnei no lugar de Marcelo Oliveira. Walter se posicionou como segundo atacante e Rudnei foi um volante com muita liberdade para atacar pela direita. Com isso, Roger passou para o lado esquerdo. No Tupi, o volante Jaílson deu lugar ao meia-atacante Ulisses, transformando o Tupi num 4-1-3-2 com o avanço de Alan Taxista, numa tentativa de empatar a partida aproveitando o melhor momento no jogo.

Foi em vão. O trio Rudnei-Montillo-Walter combinou bem as jogadas, ajudado pelo espaço criado à frente da zaga juizforana com a saída de um dos volantes. George, sozinho, não foi capaz de comandar a marcação e o lado direito azul ganhou mais velocidade. O segundo e o terceiro gols surgiram, novamente, por aquele lado: no segundo, uma jogada de Montillo com Walter, que achou Rudnei na entrada da área, jogando como um meia. Este serviu com açúcar para Anselmo Ramon – agora único homem de referência no ataque – que tocou no canto direito de Rodrigo. O terceiro foi um cruzamento certeiro de Marcos numa outra jogada do 10 argentino, que Anselmo Ramon cabeceou sem chances para Rodrigo.

Percebendo o erro, o técnico do Tupi voltou ao 4-2-3-1 original com a entrada do zagueiro Paulinho como volante, no lugar do meia Leo Salino, com Alan Taxista voltando ao meio-campo, para evitar uma goleada maior. O Cruzeiro também desacelerou e o jogo ficou morno até os minutos finais, com o Cruzeiro por vezes tentando impor velocidade, mas sem sucesso no último passe.

Algumas conclusões a serem tiradas desse jogo:

  • WP e Anselmo Ramon estão certamente com os dias contados como dupla de ataque titular, Walter foi muito bem e deve entrar no time em um futuro muito próximo;
  • Roger deu criatividade ao time enquanto conseguiu jogar, mas no segundo tempo desapareceu, então é preciso pensar em uma alternativa para a criação além de Montillo;
  • Marcos também foi bem na lateral direita, e deve manter o lugar no time;
  • Rudnei é uma ótima opção para destravar uma retranca, pois é um volante mais incisivo;
  • o lado esquerdo vai precisa de mais criatividade;
  • os problemas mais graves dos primeiros jogos foram resolvidos, mas a qualidade de passe não: o time ainda erra muito e perde a posse da bola.

A evolução foi pequena, mas é clara. Ainda há muito espaço para crescer, no entanto. Já era para estarmos andando, mas ainda estamos engatinhando. A minha aposta é que, à época da reinauguração do Independência, no reencontro com Belo Horizonte, a maturidade chegue.

Pit-stop na segunda volta

O técnico cruzeirense Vágner Mancini demonstrou hoje que pode entrar com mudanças para o próximo jogo contra o Tupi, domingo na Arena do Jacaré. Em relação ao time que iniciou o jogo contra o Guarani, Marcos entraria no lugar de Gilson, com Diego Renan se deslocando para a lateral esquerda, e Roger entraria no lugar de Amaral.

Roger é um meio-campista que cadencia o jogo, diferente de Montillo, que é mais driblador. Por já ter mais primaveras, tem uma forma física menos privilegiada, o que faz com que se poupe mais em campo. Por isso, atualmente, ele é um jogador que fica mais recuado, ditando o ritmo e mantendo a posse, esperando por uma oportunidade de fazer um passe mais agudo. Essa criatividade foi exatamente o que faltou ao Cruzeiro no primeiro jogo.

A entrada do meia significa uma mudança no desenho tático. O Cruzeiro poderia jogar num 4-2-2-2 “torto”, com Marcelo Oliveira um pouco mais solto que Leandro Guerreiro, se aproximando mais da dupla de criação, com Montillo avançando até dentro da área e Roger um pouco mais recuado.

Cruzeiro no 4-2-2-2 “torto”, com Roger mais recuado que Montillo

Essa tática funcionou bem no início do ano passado, mas havia uma diferença. A dupla de ataque era Thiago Ribeiro e Wallyson, dois velocistas, e que jogavam mais abertos do que o atual duo WP-Anselmo Ramon. Será preciso muita movimentação destes dois para que Montillo não fique sem espaço para correr à frente.

Mancini pode optar, também, por um 4-2-3-1 (o esquema da moda), abrindo Roger pela esquerda, deixando Montillo na articulação central e recuando WP pela direita, deixando Anselmo Ramon como homem de referência. Isso também exigiria uma movimentação maior de WP, pois sem a bola ele teria que recompor a marcação pelo lado, ajudando Marcos naquele setor. Mas nós sabemos como WP pode ser precipitado defendendo.

4-2-3-1 com Roger aberto pela esquerda e WP recuado

O treinador pode até tentar manter o losango, com Guerreiro no primeiro vértice, Marcelo Oliveira e Roger pelos lados e Montillo na ligação.

A manutenção do losango dos primeiros jogos

A impressão que fica é que, com tanto tempo para treinar – mais que qualquer outro time da Série A – o Cruzeiro não conseguiu encaixar suas peças e já parte para mudanças no segundo jogo da temporada. Das duas uma: ou Vágner Mancini não fez um bom trabalho, ou ele mesmo não acredita no que treinou. De qualquer forma, parece que o mês de pré-temporada foi jogado no lixo e o trabalho recomeçado.

Cruzeiro 0 x 1 Guarani/MG – Em ritmo de treino

Já dizia o outro: treino é treino e jogo é jogo. Pode ser, mas o que vimos hoje na Arena do Jacaré pela segunda rodada do Campeonato Mineiro foi um time muito aplicado e competente taticamente contra uma equipe apática defensivamente e sem criatividade. Nem parecia ser a equipe da Série A que mais teve tempo pra treinar antes de um jogo oficial.

O Cruzeiro entrou com a formação esperada, o 4-3-1-2 losango treinado por Mancini durante praticamente toda a pré-temporada, com Amaral e Marcelo Oliveira fazendo companhia a Leandro Guerreiro no meio defensivo. Já o Guarani optou por um 4-2-2-2, com Walter Minhoca na articulação principal e Diego Fernando um pouco mais à frente que Magalhães.

O 4-3-1-2 azul com os volantes e laterais mais presentes no ataque

Logo de cara, uma diferença se percebia em relação ao amistoso contra o América: um pequeno aumento da presença ofensiva dos volantes e laterais celestes, ilustrada pelo avanço de Diego Renan no primeiro minuto de jogo. Marcelo Oliveira fez mais conexões com Gilson e Anselmo Ramon pelo lado esquerdo, enquanto Amaral procurou mais Diego Renan e Wellington Paulista na destra.

No entanto, nem mesmo a intensa movimentação de Montillo pelos lados evitou que o Guarani se fechasse com qualidade em seu campo. A proposta do Guarani era simples: pressionar a transição ofensiva do Cruzeiro para evitar as jogadas velozes e se recompor atrás da linha do meio-campo, deixando apenas Diego Fernando à frente, e por vezes até ele voltava para compor. Proposta essa exemplificada no lance do único gol da partida: recuperação de bola azul e passe errado logo depois, devido à pressão do adversário. Walter Minhoca conectou Luisinho na direita, que fez o cruzamento para Magalhães concluir.

Faltou também criatividade aos jogadores de meio. A lotação no campo adversário fez com que os volantes cruzeirenses ficassem sem espaço para pensar, tendo que resolver o passe rapidamente, e por isso ele saía quase sempre com pouca qualidade. Montillo não voltou tanto para buscar a bola, caindo mais pelos lados. O argentino, todavia, é muito mais driblador que passador, como seria um 10 clássico. Foi o que faltou ao Cruzeiro hoje: o time de Divinópolis fechou inteligentemente os espaços e pressionava qualquer jogador que tentasse segurar a bola pelo meio. A saída pelas laterais era quase sempre a melhor opção, mas os cruzamentos eram quase sempre ruins, com ambos os laterais fazendo um mal jogo.

Se por um lado o Cruzeiro tentou resolver um de seus problemas em relação ao amistoso de duas semanas atrás, por outro o segundo problema persistia: o espaço cedido ao adversário na intermediária defensiva. Mais uma vez, o trio da frente não participava tanto das ações defensivas, fazendo com que a batalha do meio-campo ficasse em três contra quatro. Com um homem a mais, o time visitante tinha bastante tempo para pensar no jogo e ficar tocando a bola no campo do adversário. A partir daí, no entanto, o Cruzeiro se defendia razoavelmente bem e Rafael mal viu a bola, a não ser em duas finalizações de longe defendidas pelo jovem goleiro.

Além disso, ao contrário do Guarani, o time celeste não pressionava os jogadores adversários quando perdia a bola no ataque, e quase sempre os jogadores do time vermelho saíam com tranquilidade para a ação ofensiva. Não impunham velocidade, no entanto, fazendo com que a defesa cruzeirense pudesse se organizar, mas por outro lado não perdiam a posse da bola (como o Cruzeiro perdeu no lance do gol).

Cruzeiro no segundo tempo sem o losango inicial: um4-2-2-2/4-2-1-3 para tentar parar o avanço do ataque do Guarani

No segundo tempo, Mancini tentou forçar o Guarani a não subir tão frequentemente, colocando Wallyson, na direita, no lugar de Amaral. O Cruzeiro passou para o 4-2-1-3 variando para o 4-2-2-2 com Wallyson recuado, e o esquema funcionou durante alguns minutos. Os muitos erros de passe, porém, impediam um fluxo melhor do jogo azul e logo o time visitante se achou em campo novamente. O jogo seguiu a tônica do primeiro tempo, a única diferença sendo a dupla de volantes cruzeirenses ter mais espaço e conseguir ficar mais tempo com a bola. No entanto, isso não melhorou a criatividade do time.

As outras alterações não mudaram as formações táticas. Ambos os treinadores colocaram jogadores descansados na mesma função que os substituídos, com a única exceção sendo a troca dos volantes: Leo Medeiros (um dos melhores em campo), que sai mais para o ataque, por Cafu, mais defensivo. O Cruzeiro continuava a deixar de pressionar o Guarani mesmo estando atrás no placar, e no fim a falsa “pressão” cruzeirense foi mais resultado da escolha dos visitantes em segurar o resultado do que pela competência do time da casa.

Enfim, uma vitória justa, já que o Guarani executou sua proposta com muita competência e entrega, negando os espaços ao adversário. As cãibras nas duas pernas de Magalhães no fim do jogo ilustram bem isso. Já o Cruzeiro mostrou que precisa melhorar muito ainda, principalmente na construção ofensiva contra times bem postados na defesa, que deverá ser a tônica do Campeonato Mineiro para o time celeste. Além disso, defensivamente o Cruzeiro peca por deixar os adversários jogarem tranquilamente muito perto de sua área. Não é preciso ser nenhum gênio para saber que, quanto mais perto da área, maior é a chance de conceder um gol.

É claro que ainda podemos relevar certas coisas por ser início de temporada, mas os erros cometidos hoje foram de um time que está no início da pré-temporada.