Democrata/MG 0 x 2 Cruzeiro – Cuidado com os buracos

Com dois de Montillo (que poderiam muito bem ser creditados a Anselmo Ramon), o Cruzeiro venceu a terceira seguida, mas por sorte não caiu num enorme buraco criado pelo seu próprio treinador.

Formação inicial: 4-3-1-2 losango com muito espaço entre o trio de volantes e o trio ofensivo

Com Rudnei no lugar de Roger, poupado, o Cruzeiro continuou no seu costumeiro 4-3-1-2 losango, mas sem a criatividade de Roger na saída de bola e com mais poder de marcação proporcionado por Rudnei. José Maria Pena escalou o time da casa num 4-2-2-2, mas com o meio-campo todo formado por volantes, e com Adriano um pouco mais recuado que Léo Andrade na frente.

Com três volantes “de raiz”, o Cruzeiro novamente teve problemas de criatividade no primeiro tempo. Leandro Guerreiro, Marcelo Oliveira e Rudnei não são jogadores criativos, e Montillo joga sempre muito avançado, mais próximo do gol. Além disso, o Democrata se alinhava em duas linhas de quatro quando perdia a posse, com os dois “meias” ofensivos recompondo pelos flancos. Com isso, os laterais do Cruzeiro não avançavam muito, sob o risco de deixar um buraco nos flancos defensivos e tomar bolas nas costas em contra-ataque. O Cruzeiro só conseguia sair com a bola pelos lados, quando Montillo ou Wellington Paulista caíam pelo setor e se apresentavam para o primeiro passe, mas a essa altura já estavam muito longe do gol.

Defensivamente, o Cruzeiro se portou bem, pressionando a bola assim que perdia a posse, diminuindo ainda mais a qualidade do passe dos meio-campistas do Democrata, que eram volantes por natureza. A rigor, a única chance criada pelos valadarenses foi num erro de arbitragem, quando a defesa do Cruzeiro fez a linha de impedimento e o auxiliar nada marcou, fazendo com que Fábio tivesse que mostrar porque é um dos ídolos da torcida. De resto, alguns lampejos de Léo Andrade, que tentou se movimentar mais, na tentativa de puxar a marcação de um defensor para fora de sua zona, gerando um efeito cascata. Note como, aos 01:14 deste vídeo, como o zagueiro Leo está fora da área, à caça do atacante democratense, abrindo um buraco na defesa celeste. Diego Renan teve que sair pra fazer a cobertura, deixando dois jogadores sozinhos do lado direito do ataque. A sorte foi que Flávio Lopes, vendo-se sozinho, tentou chutar ao invés de passar para seus companheiros.

Tudo isso, aliado à péssima qualidade do gramado e ao forte calor que fazia em Valadares, contribuíram para um primeiro tempo, ironicamente, morno, de baixa qualidade técnica. O Cruzeiro teve mais posse de bola, mesmo tendo menos homens no meio-campo do que o time mandante (3 contra 4, já que Montillo era praticamente um atacante). Rudnei, mas enérgico que Roger, não conseguiu suprir a ausência deste criativamente, e mais uma vez a ligação entre o trio ofensivo e o trio de volantes foi fraca, com um buraco entre as linhas.

A saída de Rudnei abriu um buraco na meia direita celeste, recomposto mais tarde por Roger

No intervalo, Mancini substituiu Rudnei pelo atacante Walter. Com mais homens à frente, o treinador tentou fazer o time da casa se preocupar mais em defender e dar mais espaço no meio-campo para os volantes jogarem. Efetivamente, o que aconteceu foi que WP recuou ainda mais para se tornar um meia-armador de fato, Montillo continuou na sua posição normal e um buraco se abriu no meio-campo defensivo, onde antes estava Rudnei, já que os volantes não se reposicionaram no novo 4-2-2-2 “torto”. A assistência primorosa de calcanhar de Anselmo Ramon para Montillo marcar seu primeiro gol na temporada e se tornar o maior artilheiro estrangeiro do Cruzeiro (com o perdão das rimas) escondeu um pouco o alto risco da substituição escolhida pelo treinador cruzeirense.

Em desvantagem no placar, o Democrata tratou de tentar atacar o Cruzeiro, e aproveitaram o tal buraco. Se os visitantes tinham um homem a menos no meio-campo no primeiro tempo, com dois a menos ficou impossível ganhar a batalha pela posse. Com a tentativa de pressão, os dois volantes cruzeirenses recuaram ainda demais, e os mandantes ganhavam praticamente todas as bolas rebatidas pela zaga azul. No entanto, o Democrata não conseguiu criar muitas chances, seja pela baixa qualidade criativa de seus volantes, seja pelo ótimo desempenho dos defensores cruzeirenses, particularmante Victorino e Diego Renan. A pressão só foi terminar quando Mancini corrigiu seu próprio “erro” e colocou Roger no lugar de Wellington Paulista, voltando o time ao 4-3-1-2 losango. Roger, novamente, entrou na função de box-to-box, indo de uma área à outra, para fazer o time ter saída de bola e se apresentar a todo momento para receber o passe. Quando recebia, cadenciava o jogo e fazia a bola rodar, invertendo o jogo quando necessário.

Com a pressão “aliviada”, o Cruzeiro conseguiu sair um pouco mais, e gradativamente foi empurrando o time da casa para trás. Para tentar evitar a derrota em sua estréia pelo time, José Maria Pena arriscou e tentou colocar Anderson, um meia de fato, no lugar do volante Elton, para melhorar a ligação ao lado de Bob. O risco era estreitar o meio-campo, agora um quadrado de fato, e “chamar” os laterais cruzeirenses para o apoio. E o castigo veio no minuto seguinte: Diego Renan conseguiu avançar e combinou com Anselmo Ramon, que, novamente fazendo bem uma das funções do homem de referência, que é o pivô, devolveu de calcanhar para o lateral chutar forte em cima do goleiro reserva Jonathan. Montillo, desmarcado, aproveitou o rebote e cavalgou mais uma vez pelo Mamudão, definindo o jogo.

Com a expulsão de Bob, o Democrata se reorganizou num ousado 4-3-2 (ou 4-2-1-2), mas com Adriano voltando para ajudar na marcação, efetivamente um 4-4-1. O time ainda tentou se arriscar, mas o Cruzeiro tinha uma defesa recomposta com a entrada de Roger e parecia satisfeito com o resultado, se postando atrás e dificultando muito a vida dos mandantes. Wallyson ainda entrou no lugar de Anselmo Ramon, fazendo o ataque WWW (Walter Montillo, Walter e Wallyson, que é a aposta de muita gente para o decorrer do ano), mas o time manteve o desenho tático.

Fim de jogo, terceira vitória seguida e mais tranquilidade para Mancini continuar tentando dar uma cara para o Cruzeiro este ano. Destaques para as atuações de Anselmo Ramon (que vem demonstrando ser muito mais um camisa 9 do que WP) e Diego Renan, que, apesar de não ter sido brilhante ofensivamente, teve participação fundamental quando o Cruzeiro não tinha a posse de bola. No entanto, é bom não ficar muito animado, pois foram vitórias contra times mais fracos. Os verdadeiros testes serão contra América e Atlético, mais para o fim da primeira fase.

Será uma caminhada longa, e a estrada já é esburacada o suficiente.

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