Cruzeiro 1 x 0 Corinthians – A defesa avançada e a velocidade

Com gols de Fábio e Dagoberto, o Cruzeiro venceu o Corinthians por 1 a 0 na Arena do Jacaré e voltou provisoriamente à liderança. Não, eu não escrevi errado. O jogo teve a contagem mínima com gol de Dagoberto, mas Fábio garantiu o placar em branco no primeiro tempo com ótimas defesas em chutes de Alexandre Pato.

O Cruzeiro teve muitas dificuldades em passar pela excelente defesa do Corinthians, e também sofreu em alguns momentos defensivamente no primeiro tempo, mas conseguiu uma vitória importante, mas que não pode esconder alguns defeitos táticos que devem ser corrigidos.

Sistemas iniciais

No primeiro tempo, a defesa alta foi explorada pela velocidade de Pato, e o quarteto ofensivo ficou estático demais

No primeiro tempo, a defesa alta foi explorada pela velocidade de Pato, e o quarteto ofensivo ficou estático demais

Ambos os treinadores optaram pelo mesmo esquema: o 4-2-3-1 tradicional das duas equipes. O Cruzeiro de Marcelo Oliveira tinha Fábio no gol, com Ceará à sua direita e Egídio à sua esquerda, flanqueando a dupla de zaga Dedé e Bruno Rodrigo. Leandro Guerreiro, mais plantado, e Nilton, um pouco mais à frente, eram os volantes que davam suporte ao trio de meias ofensivos, com Diego Souza centralizado e com a companhia de Everton Ribeiro mais contido à direita e Dagoberto mais espetado à esquerda. Na frente, Anselmo Ramon duelando com os zagueiros.

No Corinthians, a linha defensiva que protegeu o gol de Cássio foi armada por Tite com Paulo André e Gil na zaga, flanqueados por Alessandro na lateral direita e Fábio Santos do outro lado. Ralf foi o primeiro volante, tendo a seu lado Guilherme Torres mais solto. Na linha de três, Emerson pela direita, Danilo pela esquerda e Douglas por dentro procurando Alexandre Pato à frente.

Bola nas costas

O jogo começou com a marcação bem encaixada, com duelos bem definidos em campo — como é costume quando dois times postados num 4-2-3-1 se enfrentam. Quinze minutos se passaram com a ação totalmente concentrada do lado esquerdo do Cruzeiro, e sem nenhum dos oponentes levando clara vantagem sobre seu marcador, precisou acontecer algo diferente para que o primeiro lance de perigo fosse criado. Emerson recebeu a bola pela esquerda, e ao invés de tentar o fundo, trouxe para o meio. A marcação cruzeirense se indefiniu: Nilton deixou o atacante passar por ele, Diego estava muito avançado e Leandro Guerreiro do outro lado, mas longe. Quando Bruno Rodrigo subiu o bote, Emerson já estava à frente da área e passou a Alexandre Pato, nas costas de Dedé. Ali começava o pesadelo do atacante corintiano na noite, com Fábio como protagonista.

Depois desse lance, Pato começou a tentar explorar a velocidade. Primeiro saiu da área, tabelou com Danilo e entrou com velocidade, novamente nas costas de Dedé, mas concluiu pra fora. Depois, Recebeu uma ligação direta de Alessandro, ganhou na corrida do camisa 26 e parou novamente em Fábio. E por fim, em um lance de erro de domínio de Dedé, Pato recolheu um passe que nem era pra ele e novamente Fábio pegou.

Essas chances expuseram uma vulnerabilidade da defesa celeste: o posicionamento avançado, necessário para a compactação do time, mas que deixa espaços atrás para onde bolas incisivas, pelo chão ou pelo alto, podem ser tentadas. Contra um centroavante mais “tradicional”, ou seja, mais forte mas não tão veloz (por exemplo, Fred, Damião, Anselmo Ramon), é aceitável, pois Dedé e Bruno Rodrigo são zagueiros rápidos e conseguem se recuperar com facilidade. Mas Pato era um atacante de movimentação, veloz, e a característica muda. Contra jogadores rápidos na frente, a defesa não pode ficar tão alta.

Cruzeiro atacando

Com a bola, o Cruzeiro não conseguiu sair da forte marcação imposta pelos defensores corintianos, muito bem treinados por Tite. Os quatro defensores à frente de Cássio permaneceram alinhados durante quase todo o jogo, muito próximos e compactados do lado da bola, e ainda tinham o auxílio de Ralf, patrulhando a entrada da área e negando espaços a Diego Souza. Danilo acompanhava as subidas de Mayke pela direita e Emerson auxiliava Alessandro na marcação.

Com os três meias presos na marcação, sobrava aos volantes pensarem no jogo. Como já dissemos várias vezes aqui no blog, entretanto, o Cruzeiro não tem esse volante passador, que avança ao ataque. Nilton ficou no suporte para o giro da bola de um lado para o outro, mas não arriscava um passe mais vertical. Guerreiro ficou mais atrás na proteção e cobertura de contra-ataques. Mesmo assim, o Cruzeiro chegava perto da área corintiana, mas erros no último passe impediram o Cruzeiro de criar mais chances e o placar permaneceu em branco.

Segundo tempo

Com a correção do posicionamento defensivo, Marcelo usou a velocidade com Élber e Dagoberto nas pontas

Com a correção do posicionamento defensivo, Marcelo usou a velocidade com Élber e Dagoberto nas pontas

Já tendo feito uma troca, Marcelo Oliveira resolveu voltar com o mesmo time, assim como Tite. Mas algo havia mudado: o posicionamento da defesa. Um pouco mais recuada, atenta a eventuais infiltrações de Alexandre Pato e com mais vigor na marcação à frente da área. Com essa opção, o Cruzeiro dava campo para o Corinthians trabalhar mais a bola, e o time paulista não soube o que fazer com ela. Douglas pouco apareceu na partida, e Danilo e Emerson, pelos lados, estavam novamente bem marcados.

Assim, o Cruzeiro foi aos poucos dominando as ações. Aos 15, Marcelo trocou Anselmo por Luan. Com isso, Diego Souza passou a ser o homem mais avançado, Dagoberto foi temporariamente para a direita do ataque e Luan ficou na sua posição tradicional, ponteiro pela esquerda, com Everton Ribeiro como meia central. Era a tentativa de abrir ainda mais o jogo pelos lados, já que pelo centro era bem mais difícil com Ralf protegendo bem o setor.

Élber

Dez minutos depois, Everton Ribeiro daria seu lugar a Élber, que foi jogar na sua posição de costume: ponteiro direito. Dagoberto de voltaria ao lado esquerdo, e Luan recuaria para ser o meia central. O plano de atacar pelos lados ficava ainda mais claro, com dois jogadores velozes nas alas. E o plano funcionou, também porque o Cruzeiro subiu a marcação de novo, mas dessa vez com muito mais ímpeto, forçando o chutão corintiano. Em poucos minutos, Dagoberto seria derrubado pela esquerda e Élber teria duas chances para marcar, a segunda num domínio de bola magistral do passe pelo alto de Diego Souza, mas com uma conclusão horrorosa.

O pênalti pode não ter acontecido, mas o lance que o antecedeu foi um bom resumo do domínio territorial azul no segundo tempo. Passe para Luan, no círculo central, que girou e imediatamente lançou o garoto Élber ganhar na corrida de Fábio Santos e cair dentro da área, causando não só o pênalti mas a expulsão do lateral corintiano por acúmulo de amarelos.

No fim, o Corinthians ainda tentou o empate meio que no desespero, partindo para o ataque com tudo como não tinha feito no jogo todo, mas com um a mais o Cruzeiro não levou mais sustos.

Problemas novos e velhos

É preciso valorizar a vitória, porque foi construída primeiro com um grande goleiro, que evitou os gols que fatalmente mudariam o rumo do jogo, e depois com os acertos de Marcelo Oliveira, no posicionamento da defesa e principalmente nas substituições. Mas o resultado poderia ter sido bem mais tranquilo se tanto o treinador como os jogadores tivesse uma leitura de jogo melhor e mais rápida, reposicionando a defesa para evitar as chances de Pato. Ontem Fábio defendeu tudo, mas em outros dias e contra outros atacantes, isso pode não acontecer.

E, novamente, faltou criatividade ante uma defesa bem posicionada. O Cruzeiro tem boas armas ofensivas, como a movimentação dos meias, bolas aéreas e o jogo pelos lados. Mas o jogo central não flui, pois Diego Souza não é um meia de criação e sim de chegada, e os volantes são muitos mais marcadores que passadores. Não raro era ver o Cruzeiro atacando por um lado, com um dos ponteiros, e Diego Souza e Anselmo Ramon enfiados na área, sem ninguém para receber um passe na entrada da área.

O primeiro problema será resolvido com o tempo, já que é típico de falta de entrosamento e pouca experiência, do treinador e jogadores. Já o segundo pode ser resolvido com a contratação de Souza, apresentado hoje. Então a tendência é melhorar ainda mais, principalmente com a parada para a Copa das Confederações.

A vitória veio. Mas diferente do que a maioria pensa, não é só isso que importa.

Botafogo 2 x 1 Cruzeiro – Aquele ditado

Em outros esportes, ser melhor que o adversário em uma partida ou disputa quase sempre leva à vitória. Mas no futebol essa relação é bem menos direta: você pode ser melhor que o seu adversário em vários aspectos, mas mesmo assim sair de campo derrotado. É o famoso resultado “injusto” (entre aspas porque este blogueiro não acredita em injustiças no futebol).

Foi assim na partida contra o Botafogo em Volta Redonda. O Cruzeiro fez uma partida taticamente quase perfeita no primeiro tempo, mas não conseguiu transformar este domínio em gols, e alguns erros técnicos causaram oportunidades para o time adversário, que, mais eficiente nas finalizações, converteu as chances. O resultado foi ruim, mas taticamente foi uma excelente partida do time azul, o que projeta boas perspectivas.

Onze inicial

O 4-2-3-1 de marcação avançada e compacta fez o Cruzeiro ter mais posse e criar mais chances, quase todas desperdiçadas

O 4-2-3-1 de marcação avançada e compacta fez o Cruzeiro ter mais posse e criar mais chances, quase todas desperdiçadas

O cruzeirense já sabe qual é o time titular do Cruzeiro, e foi esse 4-2-3-1 que iniciou a partida, com a exceção de Borges, lesionado. Fábio no gol, Ceará e Egídio nas laterais direita e esquerda, Dedé e Bruno Rodrigo fazendo a parceria de zaga. À frente da área, Leandro Guerreiro e Nilton faziam a dupla volância atrás da conhecida linha de três meias: Everton Ribeiro partindo da direita para o centro se aproximando de Diego Souza, e Dagoberto mais incisivo pelo lado esquerdo. À frente, Anselmo Ramon foi o centro-avante substituto.

O Botafogo se postou no mesmo esquema, mas Oswaldo de Oliveira não tinha Fellype Gabriel, passador, e portanto teve de fazer mudanças. Protegendo o gol de Renan, os zagueiros Bolívar e Antônio Carlos formavam a linha defensiva com os laterais Lucas pela direita e Júlio César pela esquerda. Mais à frente, os volantes Marcelo Mattos e Gabriel davam suporte aos meias Lodeiro pela direita, Seedorf centralizado e Vitinho pela esquerda. Na frente, Rafael Marques.

Marcação alta, passe errado

Logo no início já se pôde perceber a diferença nas posturas defensivas: o Cruzeiro com um time compacto, linha defensiva alta e intensidade na marcação, com os quatro ofensivos pressionando os zagueiros e laterais e prevenindo passes para os volantes botafoguenses. Provocada a bola longa, os zagueiros cruzeirenses recolhiam a bola com tranquilidade para iniciar mais um ataque. Já o Botafogo se contentava em esperar o Cruzeiro em seu campo, deixando a última linha do Cruzeiro bem à vontade com a bola nos pés, tentando fechar os passes em sua própria intermediária.

Jogar com a defesa avançada é excelente para fechar os espaços, mas tem uma única vulnerabilidade: a velocidade em bolas verticais atrás da defesa. Normalmente, se um jogador tem tempo com a bola nos pés, pode tentar encaixar um desses passes. Esse homem era para ser Seedorf, mas o meio-campo cruzeirense marcava bem e não deixava o holandês ter liberdade ao receber a bola. É irônico, portanto, que este passe tenha vindo dos pés de um cruzeirense: Leandro Guerreiro. O camisa 55 tomou à frente de Vitinho e passou pra trás procurando Dedé, mas passou no contrapé do zagueiro, deixando a bola livre atrás da defesa azul. O próprio Vitinho vinha na corrida e tomou à frente de ambos, levando até a grande área e passando a Lodeiro do outro lado, que avançava sem marcação, já que a defesa ainda corria para trás.

Chances desperdiçadas

Após o gol, o Cruzeiro precisou de um certo tempo, mas voltou à estratégia do início da partida. O resultado foi uma posse de bola “barcelonesca” para o time celeste, que ultrapassou os 60% em um determinado momento da partida. Ter mais posse geralmente significa criar mais chances, mas que foram desperdiçadas em conclusões ruins ou decisões erradas no último passe.

Exemplos: bola de Guerreiro para Ceará ultrapassar livre pela direita, que cruzou fazendo a bola sobrar nos pés de Anselmo Ramon. O 99 chutou duas vezes em cima do goleiro, desperdiçando grande oportunidade. Em outro lance, já após o gol merecido de empate, Éverton Ribeiro ganhou de seu marcador e avançou até a área, mas tentou driblar a cobertura quando tinha Anselmo Ramon penetrando livre e de frente para o gol para concluir no centro.

Um bom resumo está no número de finalizações. Enquanto o time mandante concluiu 4 vezes, o Cruzeiro concluiu 8, o dobro. Mas em gol foram apenas 3 para cada lado: 75% de eficiência contra 38%.

Quem não faz…

As máximas do futebol são folclóricas, mas não seriam máximas se não acontecessem frequentemente. Muricy Ramalho, recém-demitido do Santos, diria que “a bola pune”.

Pelo amarelo no primeiro tempo — e não pelo erro individual — Leandro Guerreiro deu seu lugar a Lucas Silva no intervalo. A intenção era prender Nilton e soltar o garoto, que vai bem mais à frente do que os volantes titulares, para justamente ter ainda mais a posse de bola e ao mesmo tempo não desproteger a retaguarda. Deu certo e o Cruzeiro já chegou criando chances com Diego Souza aos 5 (para fora), Everton Ribeiro, aos 7 (em cima da zaga) e Dagoberto aos 8 (defendida por Renan). A virada parecia questão de tempo.

Mas aos 10, Nilton levantou demais o pé dentro da área, num lance totalmente controlado, e o juiz apontou um pênalti altamente contestável. Pênalti convertido, e a nova desvantagem no placar parece ter desanimado os jogadores, que sabiam estar dominando a partida e mesmo assim sofreram um gol — é o futebol. O Botafogo cresceu na partida e o Cruzeiro já não tinha o mesmo físico para fazer a pressão alta, o que equilibrou o confronto. O jogo cadenciado favoreceu Seedorf, que até aquela altura fazia um jogo tímido. O holandês começava a aparecer perigosamente na partida, tendo tempo com a bola nos pés para pensar o melhor passe.

Outras substituições

Aos 20, Dagoberto, escondido no jogo, deu seu lugar a Luan. O posicionamento é o mesmo, mas a característica muda, pois Luan é mais físico que o camisa 11. Sete minutos depois, Everton Ribeiro, que vem deixando a desejar, cedeu seu lugar a Ricardo Goulart. Diego Souza foi para a direita e Goulart ficou por dentro. As alterações não mudaram o panorama do jogo, que seguiu equilibrado com chances de parte a parte, mas desperdiçadas — desta vez por ambos os times.

No Botafogo, a primeira mudança foi aos 38, com o volante Renato entrando na vaga de Lodeiro. Isso liberou Vitinho para se movimentar pelos dois lados, com Renato mais preso para dar mais consistência ao meio-campo. Depois foram substituições protocolares para ganhar tempo e garantir o resultado.

Evoluir sempre

Sem analisar o que foi a partida, um torcedor mais desavisado pode achar que o Botafogo tem um time melhor que o Cruzeiro. Este blogueiro discorda, e afirma categoricamente que o Cruzeiro é mais time que o Botafogo, principalmente se considerarmos a desvantagem no tempo de trabalho do treinador. A marcação avançada, sufocando o Botafogo em seu próprio campo é fruto de um trabalho bem feito e mostra que Marcelo quer um futebol moderno no Cruzeiro de 2013.

Mas como não é só a parte tática que traz resultados, outros aspectos causaram o revés de sábado. Passes errados em momentos chave, decisões erradas na conclusão da jogada, finalizações ruins — tudo entra na conta da parte técnica. E o desânimo após o segundo gol botafoguense também impediu um eventual empate, já que permitiu ao Botafogo que crescesse na partida. É preciso, portanto, treinar estas situações mais exaustivamente. Aparentemente, é o que será feito.

Mais uma vez: taticamente, foi uma excelente partida. Ainda é preciso corrigir algumas coisas aqui e acolá, principalmente na chegada à frente de um dos volantes, algo que insisto nesse blog há algum tempo. Defensivamente, é preciso afinar a compactação e a marcação alta, que tem que ser mais sincronizada, mas o Cruzeiro me parece uma equipe bem sólida.

Uns dirão que o empate seria o resultado mais justo, mas eu não. O resultado “justo” seria a vitória. Mas assim é o futebol.