Cruzeiro 1 x 0 Santos – Retomadas

Voltar a vencer após uma sequência ruim de resultados foi importante. Não sofrer gols em casa na Copa do Brasil, ainda mais. Mas o primordial foi retomar o velho estilo, ainda que por pouco tempo, para mandar um recado a todos os outros times do país, para a própria torcida a para si mesmo: o Cruzeiro ainda sabe ser Cruzeiro, e deve ser temido.

O desgaste físico é inegável, mas enquanto teve pernas, o Cruzeiro foi infinitamente superior ao Santos, tanto com a bola quanto sem ela, e construiu o resultado nesse período. Depois, quando foi obrigado a “descansar”, controlou o jogo, perdeu o controle e o retomou novamente, e ainda foi prejudicado pela arbitragem — elementos que certamente veremos nas últimas partidas do ano.

Escretes

As duas equipes entraram no 4-2-3-1; Cruzeiro muito mais intenso, com movimentação do quarteto ofensivo e Mayke sem ser perseguido por Robinho

As duas equipes entraram no 4-2-3-1; Cruzeiro muito mais intenso, com movimentação do quarteto ofensivo e Mayke sem ser perseguido por Robinho

Marcelo Oliveira mandou o costumeiro 4-2-3-1 a campo, mesmo sem ter Marcelo Moreno 100% fisicamente. Júlio Baptista foi o escolhido para ficar à frente do trio de meias, formado por Éverton Ribeiro à direita, Ricardo Goulart centralizado e Willian à esquerda. No suporte, a dupla dinâmica Henrique e Lucas Silva, e protegendo o goleiro Fábio, a última linha tinha Mayke à direita, Egídio à esquerda, e Dedé e Léo no miolo.

O Santos de Enderson Moreira também entrou num 4-2-3-1. O goleiro Aranha teve Cicinho na lateral direita, Edu Dracena e David Braz pelo meio e Mena aberto à esquerda. Mais à frente, Alisson ficava mais plantado liberando Arouca, que se juntava ao trio formado por Rildo à direita, Lucas Lima como central e Robinho pelo lado esquerdo, com Gabriel sendo o homem mais avançado.

Cruzeiro sendo Cruzeiro

O temor era que Júlio Baptista, sem ritmo, quebrasse um pouco a intensidade que o Cruzeiro sempre aplica no início das partidas, mas isso não aconteceu (muito). A movimentação e troca de posições que Willian, Ribeiro e Goulart impunham desorganizava a marcação santista, com o maior exemplo sendo o lance do gol. Naquele momento, Willian estava à direita, Ribeiro estava do outro lado e Júlio era o meia central, com Goulart sendo o centroavante. Tudo invertido.

A bola saiu da esquerda para Júlio, e de Júlio foi a Willian, totalmente livre do lado direito. O bigode chutou, a bola voltou e em um lance técnico maravilhoso, bateu com o lado do pé esquerdo, que não é o bom, aplicando uma curva de fora pra dentro que saiu totalmente do alcance de Aranha e fazendo a bola bater na bochecha da rede. Golaço.

Ponteiros x laterais

Além da movimentação ofensiva, havia outro fato que causava o grande domínio de posse de bola e territorial do Cruzeiro: a passagem dos laterais. Se pelo lado esquerdo Rildo tentava voltar com Egídio até a própria linha de fundo — e mesmo assim perdendo o duelo, do outro lado Robinho não fazia o mesmo com Mayke. Mena teve problemas em lidar com o jovem lateral e o ponteiro que caía por ali.

No meio do primeiro tempo, Enderson inverteu os lados para fazer Robinho ficar em Egídio e Rildo acompanhar Mayke, uma medida que teve um certo sucesso — mas num período do jogo em que o Cruzeiro já não estava mais tão intenso, como explicado nos parágrafos abaixo.

Pressão alta

Além disso, o Cruzeiro não era intenso só na movimentação ofensiva. Quando o ataque não se completava, o Cruzeiro sufocava a saída do Santos, sem deixar os jogadores respirarem. Lucas Silva e Henrique marcavam na intermediária de ataque; o ponteiro do lado da bola e o meia central faziam pressão no homem da bola e o ponteiro oposto fechava para o centro para recuperar um possível rebote, e o centroavante fechava as linhas de passe para os zagueiros e goleiros. Uma coordenação de time bem treinado, e que gerou muitas roubadas de bola já no campo de ataque.

Esse é o estilo deste Cruzeiro. Porém, toda essa intensidade vem sendo usada há dois anos. Nenhum time consegue aplicar essa velocidade defensiva e ofensiva durante os 90 minutos, que dirá durante duas temporadas inteiras. E agora, no fim da temporada, os jogadores estão cansando e naturalmente tendo que dosar. Após o gol, o time começou a preferir esperar o Santos já a partir da linha de meio-campo.

Mas não tive certeza quanto ao motivo: seria cansaço ou estratégia, uma vez que o placar era favorável? Ou ainda, seria o Santos que conseguiu concatenar mais passes? As duas primeiras opções me parecem mais prováveis, e foi assim que acabou o primeiro tempo: com o Cruzeiro “descansando” com a bola e às vezes sem ela, mas controlando o jogo. Fábio sequer sujou o uniforme.

Após o intervalo

Diferente do que alguns analistas da mídia disseram, o segundo tempo começou igual ao primeiro. Nada havia mudado: a vantagem no placar permitia ao Cruzeiro se posicionar mais pragmaticamente, fechando os espaços em seu próprio campo. Isso obrigava os zagueiros do Santos a trocarem passes entre si, sem encaixar uma bola mais aguda. E mesmo quando isso acontecia, o recebedor do passe imediatamente recebia pressão e era obrigado a voltar a bola para a última linha.

Numa dessas ocasiões, Willian subiu o bote em David Braz e roubou a bola, partindo num contra-ataque de três contra dois. Edu Dracena correu de costas até a grande área, e quando parou para dar o bote, Willian passou a Júlio na esquerda. O meia bateu para rebote de Aranha que Goulart completou para as redes. Mas o gol, bem construído, foi mal anulado pelo bandeira, que deu impedimento de Júlio no primeiro lance.

Perigo de gol

O segundo gol sem dúvida teria um impacto psicológico e na estratégia de ambos os times. O Cruzeiro passaria a proteger o resultado com mais calma, e o Santos tentaria se expor um pouco mais para tentar marcar ao menos um gol fora de casa, devido à abominável regra do gol qualificado. O gol anulado manteve as coisas como estavam, o que acabou sendo pior para o Cruzeiro no decorrer do segundo tempo.

Já sem muito vigor físico, o Cruzeiro começou a ceder espaços importantes no meio-campo ofensivo. Arouca começou a se sentir à vontade para se juntar à construção, e não era marcado por nenhum dos meias celeste. Além disso, Lucas Lima começou a voltar para pegar a bola nos pés dos zagueiros — um movimento que Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart repetem constantemente no Cruzeiro — e também não era perseguido. Com liberdade, o meia começou a encaixar passes nas costas dos laterais para os ponteiros, que geraram lances muito perigosos. Só não aconteceu o gol porque os jogadores santistas finalizaram muito mal.

Trocas

Com o Cruzeiro já cansado e mais espaçado em campo, Lucas Lima e Arouca tentaram aproveitar os buracos da marcação, mas a entrada de Damião travou o time, e a partir daí o Cruzeiro controlou melhor a posse com Goulart mais fixo na faixa central tendo Moreno à sua frente

Com o Cruzeiro já cansado e mais espaçado em campo, Lucas Lima e Arouca tentaram aproveitar os buracos da marcação, mas a entrada de Damião travou o time, e a partir daí o Cruzeiro controlou melhor a posse com Goulart mais fixo na faixa central tendo Moreno à sua frente

Marcelo foi obrigado a lançar Dagoberto na vaga de Willian, que havia sofrido uma fratura na costela ainda no primeiro tempo e continuou jogando por mais um tempo. Dagoberto entrou inicialmente pelo lado direito, invertido com Éverton Ribeiro, mas logo isso se desfez. Já Enderson Moreira trocou o opaco Gabriel por Serginho. Com isso, Robinho passou ao centro do ataque e Serginho passou ao lado esquerdo.

O jogo não mudou muito, com o Santos ainda com mais posse de bola. Visando uma melhor recomposição e também numa tentativa de colocar sangue novo na sua equipe, Marcelo Oliveira colocou Marlone na vaga de Éverton Ribeiro. Dessa vez, Marlone jogou na sua posição “original”, que é o lado do campo. Se ofensivamente não contribuiu para equilibrar a posse de bola, taticamente foi importante para fechar os espaços a Mena pelo lado esquerdo.

Centroavantes

Por fim, Júlio Baptista, ainda sem ritmo, não aguentou os 90 minutos e Marcelo Moreno entrou em seu lugar. Mais fixo à frente, Moreno fazia com que Ricardo Goulart ficasse mais fixo como meia central, passando a organizar melhor o ataque celeste. Enderson respondeu com Jorge Eduardo na vaga do Rildo e também com Leandro Damião na vaga de Robinho, mas as trocas não deram certo, pois Damião travou o time e facilitou a marcação da defesa celeste.

As duas coisas somadas — Goulart fixo como meia central e Damião fixo como centroavante — acabaram por reequilibrar a posse de bola e a disputa no meio-campo. Com ambas as equipes cansadas e taticamente iguais, a melhor técnica dos jogadores celestes começou a aparecer e o Cruzeiro ainda criaria boas chances de aumentar, principalmente em cruzamentos de Mayke pela direita, mas o placar permaneceu inalterado.

Chover no molhado

O jogo foi importante para reafirmar, não só para todo o Brasil como também para si mesmo, que o Cruzeiro ainda é o melhor time do país. E foi isso o que Marcelo Oliveira e seus comandados buscaram na primeira meia hora de jogo: amassando o Santos, o Cruzeiro foi muito superior e teve azar nas finalizações. Mas o fim de temporada cobrou seu preço, e já no primeiro tempo o Cruzeiro teve que dosar o ritmo.

E é isso que devemos esperar para todos os jogos até o fim do ano. Dificilmente o Cruzeiro jogará com a intensidade que lhe é característica durante mais de 30 minutos por jogo, e em alguns casos não vai fazer isso em nenhum momento das partidas. Em 2014, o Cruzeiro já fez 3 partidas a mais que em 2013, e não há como negar que isso tem um impacto.

Sim, todos os outros times também estão desgastados, mas o estilo de jogo que o Cruzeiro prefere usar faz com que os jogadores se desgastem mais. Então é seguro concluir que isso afeta mais ao Cruzeiro que a outros times. No entanto, agora é a hora de se superar. Apesar do desgaste, falta pouco agora. Longas viagens sempre cansam, mas quando se está perto do destino, sabendo que falta tão pouco, um ânimo surge do nada para que demos um último gás e completemos a jornada.

Dez jogos, talvez menos, para dois títulos. Seguiremos confiantes como nunca.

Vitória 0 x 1 Cruzeiro – Habemus centralis

Ah, o meia central. Figura tão importante do sistema da moda no futebol mundial, o 4-2-3-1. Ele preenche o espaço mais nobre de um campo de futebol: a faixa central do meio-campo ofensivo. Incomoda os volantes adversários quando o time está defendendo, e foge deles abrindo espaço para os companheiros quando o time está atacando. Às vezes ajuda o ponteiro e o lateral a criar superioridade numérica dos lados. Em outras, entra na área para confundir os zagueiros e concluir. E até mesmo se alinha aos companheiros volantes pra bloquear o avanço adversário. Pra frente, para os lados, para trás.

Eis que Éverton Ribeiro voltou da Seleção. E além do óbvio ganho técnico, isso significou também a retomada do sistema que consagrou o Cruzeiro nestes dois anos, ainda que Ribeiro não seja normalmente o titular da função. O camisa 17 normalmente sai do lado direito para armar, mas também sabe jogar por dentro, como na partida contra o Internacional. E foi fundamental para retomar o caminho das vitórias.

Formações de partida

Cruzeiro de volta ao 4-2-3-1 com Éverton Ribeiro como central se movimentando bastante, mas Egídio preso em Marcinho, o homem que fazia o sistema do time baiano variar entre um 4-1-4-1 e 4-3-1-2 como meia de ligação

Cruzeiro de volta ao 4-2-3-1 com Éverton Ribeiro como central se movimentando bastante, mas Egídio preso em Marcinho, o homem que fazia o sistema do time baiano variar entre um 4-1-4-1 e 4-3-1-2 como meia de ligação

Depois de começar no 4-1-4-1 contra o Flamengo e ABC, Marcelo Oliveira finalmente pôde voltar ao 4-2-3-1 já treinado e comprovado. Assim, Fábio viu Dedé e Manoel protegerem seu gol, com Mayke à direita e Egídio à esquerda. Um pouco mais à frente, a dupla de volantes titular, Henrique e Lucas Silva, dava suporte ao trio ofensivo que procurava o centroavante Marcelo Moreno: Marquinhos pelo lado direito, Alisson pela faixa esquerda e Éverton Ribeiro como ponto de referência central no meio-campo.

Já Ney Franco armou o Vitória de forma a tentar parar o Cruzeiro, como já é comum, mesmo dentro de casa. Era um híbrido de 4-3-1-2 e 4-1-4-1, de acordo com a movimentação de Marcinho. Defendendo a meta de Wilson estavam Nino à direita, Kadu e Roger Carvalho na zaga central e Juan pela esquerda. Luiz Gustavo (não é o da seleção) ficou como volante preso à frente da defesa, tendo Luis Aguiar mais à direita e Richarlyson mais aberto à esquerda. Marcinho, em teoria o meia de ligação, transitava entre o centro e a direita, com Edno bem aberto pela esquerda e Dinei de centroavante.

De volta ao modo normal

Mesmo após uma sequência de resultados ruins, o Cruzeiro ainda é temido ao ponto de, mesmo jogando em casa, o Vitória escolher esperar o Cruzeiro no seu próprio campo, compactado e marcando muito, e tentar sair em velocidade. Mas, ao contrário das últimas partidas, os defensores erraram pouco e o Vitória não conseguiu fazer muita coisa. Então, basicamente foi um primeiro tempo de ataque contra defesa.

Tendo muito mais posse de bola e com Ribeiro em campo, o Cruzeiro criou. Principalmente pelo centro e pela direita, já que Egídio ficava preso na marcação de Marcinho e pouco se aproximou de Alisson no início. Mas Mayke ignorou a presença de Edno e avançou corajosamente para encontrar o espaço que nem Richarlyson nem Juan ocupavam: a intermediária esquerda.

Além disso, com um central à frente, Lucas Silva e Henrique puderam jogar nos espaços em que executam melhor as suas funções, ligeiramente atrás, oferecendo linhas de passe de retorno. Além disso, conseguiam quase sempre recuperar a segunda bola que vinha estourada da defesa do Vitória, dando continuidade à pressão ofensiva e aumentando ainda mais as estatísticas de posse de bola em favor do Cruzeiro.

Faltou algo

Mas, apesar de todo o domínio territorial e das chances criadas, o Cruzeiro pecava ao se aproximar da área. Cruzamentos muito fortes ou mal colocados, que facilitavam para os defensores; escolher chutar quando seria melhor passar a bola e vice-versa; e quando havia a finalização, era ruim. Ficou a impressão de estar faltando uma peça, um alvo a mais na área que dividisse a atenção dos defensores e desse mais uma opção de passe. Soa familiar?

Sim, o Cruzeiro sentiu ligeiramente a falta de Ricardo Goulart para dar esse toque final. Apesar de fazer bem a função de central, Éverton Ribeiro tem uma característica diferente de Goulart. Enquanto um é mais passador, criador e assistente, o outro é mais concatenador e definidor. Alguns números ilustram isso: 19 cruzamentos para a área, mas apenas 4 corretos; 8 finalizações, apenas duas obrigaram Wilson a trabalhar, ambas de Alisson.

Vitória muda

Ney Franco voltou do intervalo com uma troca dupla. Uma das substituições foi direta, de lateral por lateral: Juan cedeu lugar a Mansur. Mas a outra mudava o sistema, já que o meia Marcos Junio entrou na vaga de Luis Aguiar. Richarlyson foi se alinhar a Luiz Gustavo, Marcos Junio entrou do lado direito e Marcinho centralizou, formando o novo 4-2-3-1.

Isso era uma tentativa clara de tirar o time de trás, numa mudança até surpreendente de estratégia. Mas o tiro foi na água, e acabou por facilitar a vida celeste. Sem Marcinho em seu encalço, e com o trabalho defensivo ruim de Marcos Junio, Egídio começou a aparecer no ataque pela esquerda se aproximando de Alisson. O Cruzeiro agora invertia o lado de preferência das investidas e chegava com muito perigo por ali, sem se esquecer do lado direito. De repente o Vitória se viu sendo atacado por todos os lados, e o Cruzeiro cresceu. O gol parecia maduro, mas o placar insistia em ficar inalterado — até por ajuda do senhor juiz.

Mapa de passes de Egídio no primeiro tempo (à esquerda) e no segundo (à direita) mostra  como o lateral teve mais liberdade  para subir ao ataque após Marcinho centralizar de vez

Mapa de passes de Egídio no primeiro tempo (à esquerda) e no segundo (à direita) mostra como o lateral teve mais liberdade para subir ao ataque após Marcinho centralizar de vez

A redenção de Dedé

Vitória mudou para 4-2-3-1 e depois deixou somente Richarlyson como volante, mas isso abriu o time e o Cruzeiro teve ainda mais espaço, principalmente pela esquerda com Egídio e Ribeiro caindo por ali

Vitória mudou para 4-2-3-1 e depois deixou somente Richarlyson como volante, mas isso abriu o time e o Cruzeiro teve ainda mais espaço, principalmente pela esquerda com Egídio e Ribeiro caindo por ali

Marcelo Oliveira foi obrigado a trocar Alisson por Willian, sem alterar o sistema. Porém, o bigode não deu a intensidade que o garoto dava, e o ímpeto celeste diminuiu um pouco mas não cedeu. Ney Franco então deu sua última cartada, lançando William Henrique no lugar de Luiz Gustavo. Ele entrou pelo lado esquerdo, fazendo Edno se aproximar de Dinei e Marcinho mais recuado para ligar o contra-ataque: algo entre um 4-2-3-1 com Marcinho de volante e um 4-4-2 de linhas, com Edno mais recuado.

Depois, por causa do amarelo recebido minutos antes, Lucas Silva deu seu lugar a Willian Farias. O Cruzeiro perdia o passe de Lucas, mas a troca foi uma resposta à tentativa de Ney Franco, colocando um jogador exatamente no espaço que Edno e Marcinho queriam explorar. Com o Vitória anulado, o jogo continuou na mesma toada.

E finalmente, depois de um escanteio pela esquerda rebatido pela defesa baiana, a bola sobrou para Mayke do outro lado. Com isso, Manoel e Dedé permaneceram na área, e Mayke achou Dedé sozinho no meio da confusão, que cabeceou com firmeza. A bola passou acima da cabeça de Wilson, mas foi tão rápida que não houve nenhum tempo para reação. O gol do alívio não podera ter tido melhor autor.

Depois disso, o Cruzeiro apenas controlou o jogo, tocando a bola no campo de ataque e dando facilmente a volta na correria do já cansado time baiano. Eurico entrou no lugar de Éverton Ribeiro, mas apenas para consolidar o placar.

Técnica, tática, físico e mental

Você sempre leu neste blog que, mais importante do que vencer era jogar bem, pois ao longo prazo, o bom futebol vai trazer os resultados positivos naturalmente. No caso específico desse jogo, porém, era também muito importante que o Cruzeiro vencesse, seja como fosse, para recuperar a confiança. Mas o Cruzeiro fez mais: venceu e convenceu. Voltou a jogar com autoridade e tranquilidade, não foi ameaçado em nenhum momento e mereceu totalmente o resultado.

Muito se deve, é claro, à volta de Éverton Ribeiro à equipe. Não só pelos ganhos técnicos e táticos, mas a própria presença do camisa 17 no time fez o resto da equipe ter mais tranquilidade para jogar. E mais: ao contrário dos outros selecionáveis, Ribeiro não jogou na quarta-feira, e portanto estava devidamente descansado; junto com os demais poupados do jogo de Natal que voltaram nesta partida, o Cruzeiro também esteve melhor fisicamente.

Por isso tudo, mesmo pecando nas finalizações ao longo de todo o jogo, foi de fato uma das melhores partidas celestes no certame, como Marcelo disse na entrevista pós-jogo. E com a possível volta dos outros centrais, recuperados de lesão, o Cruzeiro tende a crescer ainda mais.

Que assim seja.

Flamengo 3 x 0 Cruzeiro – Supresa desagradável

Você já viu algumas vezes aqui neste blog explicações pelos “atrasos” nas análises pós-jogo. No caso do último domingo, porém, as mesmas razões de sempre acabaram por ajudar. Afinal, a atuação celeste foi de dar raiva, e assim como jogadores e treinadores de sangue quente após a partida tem grandes chances de falar asneiras, também este blogueiro sofreria do mesmo mal. O tempo foi bom para poder analisar os fatos de maneira fria.

Pela primeira vez no Brasileirão, o Cruzeiro perdeu duas vezes seguidas. E nesta segunda derrota, não é preciso ser expert para saber que o problema principal da foi o excesso de erros defensivos individuais. Mas como este blog fala de tática, o novo sistema que Marcelo Oliveira foi obrigado a usar também foi, na opinião deste, um dos motivos do revés.

A surpresa

O surpreendente 4-1-4-1 celeste com Nilton entre as linhas teve dificuldade de dar a volta no 4-4-2 em linha do Flamengo, pois não tinha força criativa central

O surpreendente 4-1-4-1 celeste com Nilton entre as linhas teve dificuldade de dar a volta no 4-4-2 em linha do Flamengo, pois não tinha força criativa central

Diante da indisponibilidade de TODOS os centrais do elenco – Éverton Ribeiro na seleção e Ricardo Goulart, Júlio Baptista e Tinga lesionados – e da atuação insegura de Marlone na função diante do Corinthians, Marcelo Oliveira fez uma coisa inédita em todo o seu tempo de Cruzeiro. Iniciou uma partida num esquema diferente do 4-2-3-1 usual.

Nilton foi o escolhido para entrar na equipe, e assim o Cruzeiro se armou num 4-1-4-1. A meta de Fábio foi protegida por Mayke à direita, Egídio à esquerda e Dedé e Manoel na zaga central. Nilton ficou à frente da área, com Henrique e Lucas Silva ligeiramente mais à frente, completando a trinca de volantes. Marquinhos fechou o lado direito, com Alisson pelo outro lado e Moreno fazendo a referência na frente.

Já o Flamengo de Vanderlei Luxemburgo entrou no mesmo 4-4-2 que jogou na última partida. Luxemburgo não tinha João Paulo, e optou pelo estreante Anderson Pico na lateral esquerda. À frente do goleiro Paulo Victor, Marcelo e Wallace fizeram a dupla de zaga, e o veterano Léo Moura fechou o lado direito da defesa. A segunda linha começava à direita com Márcio Araújo, mais contido, próximo a Canteros e Cáceres, liberando um pouco mais Éverton pelo outro lado. Na frente, Eduardo da Silva e Alecsandro.

Dificuldade de criar

Ciente das limitações de seu time, e do poderio celeste, Luxa optou pela estratégia de dar a bola ao Cruzeiro e tentar parar o ataque celeste e partir em contragolpes, mesmo em casa. Portanto, cabia ao Cruzeiro, enquanto time que tinha a posse de bola, encontrar espaços ou criá-los a partir da movimentação ofensiva – nenhuma novidade para o time de Marcelo.

Porém, a tarefa do Flamengo foi facilitada diante de um Cruzeiro pouco acostumado a jogar no novo sistema. Sem um jogador central ocupando o espaço entre os volantes cariocas, e com Marquinhos e Alisson presos pelos lados do campo, caiu nos pés de Lucas Silva e Henrique a tarefa de criar e aparecer na frente para concatenar as jogadas ofensivas. E por mais que Lucas e Henrique saibam bem o que fazer com a bola nos pés, ainda são volantes. A função deles é marcar e dar o primeiro passe. Mas quando é deles a responsabilidade de construir a jogada propriamente dita, encontrando companheiros e boas posições de finalizar ou de dar o último passe, a jogada não flui.

Os erros defensivos

Diante disso, e de um Flamengo feliz em apenas repelir as tentativas celestes, o primeiro tempo tinha tudo pra terminar com o placar em branco. Mas isso não aconteceu, porque Egídio errou o drible e perdeu a bola para Márcio Araújo, que imediatamente acionou Alecsandro exatamente no espaço em que Egídio deveria estar. O cruzamento foi ruim, e Fábio faria a defesa tranquilamente, se Dedé não “intervisse”.

O gol deu uma certa tranquilidade ao Flamengo, que parou de pressionar no alto do campo. O Cruzeiro lentamente tentou se recuperar, e até conseguiu criar algumas chances, a mais clara delas a inversão para Egídio já dentro da área, que assistiu Moreno de cabeça. A bola ficou um pouquinho longe, e Moreno se esticou e conseguiu desviar, mas não com força suficiente.

Mudanças de sistema, mas…

Depois do intervalo, o Cruzeiro voltou ao 4-2-3-1 diante de um Flamengo no 4-1-4-1, e teve mais volume, mas cometeu mais dois erros defensivos individuais e matou o seu próprio jogo

Depois do intervalo, o Cruzeiro voltou ao 4-2-3-1 diante de um Flamengo no 4-1-4-1, e teve mais volume, mas cometeu mais dois erros defensivos individuais e matou o seu próprio jogo

Mesmo tendo mais posse de bola e mais finalizações que o Flamengo, o Cruzeiro ficou longe do volume ofensivo que normalmente tem. Por isso, Marcelo voltou para o 4-2-3-1 com Willian na vaga de Nilton. Com isso, o Cruzeiro agora tinha Alisson como meia central. Luxemburgo, querendo explorar ainda mais as subidas de Egídio, e ao mesmo tempo “fechar a casinha”, entrou com Gabriel na direita, centralizando Márcio Araújo ao lado de Canteros e recuando Cáceres para a frente da zaga – um novo 4-1-4-1. Os sistemas se inverteram.

Naturalmente, o Cruzeiro se avolumou, roubando as segundas bolas após as tentativas repelidas pelo Flamengo e continuando a pressão. Mas nenhum sistema tático ou estratégia resiste a mais um erro defensivo capital. A falha de comunicação entre Manoel e Fábio definiu o jogo logo aos 12 minutos do segundo tempo. E, como se não bastasse, poucos minutos depois, em mais um chutão da zaga carioca, Manoel perdeu dividida para Alecsandro pelo alto e demorou a se recuperar para acompanhar Éverton. Alecsandro avançou pela esquerda sem ser incomodado, já que Egídio estava no campo de ataque, e cruzou para Éverton, sozinho dentro da área e longe de Manoel, completar sem chances para Fábio.

Substituições inúteis

Marcelo Oliveira bem que tentou. Mas o jogo já estava 3×0 quando Marlone entrou na vaga de Marquinhos, novamente jogando Alisson para a ponta esquerda e invertendo Willian. Depois, uma troca direta, Moreno por Borges. Mas pouco adiantou. Ironicamente, Marlone foi o único jogador que obrigou Paulo Victor a fazer uma defesa – todas as outras finalizações foram bloqueadas pela zaga carioca ou para fora.

Luxemburgo simplesmente gastou sua última troca – já havia trocado seis por meia dúzia ainda no primeiro tempo, com Wallace por Chicão – para lançar Muralha na vaga de Márcio Araújo. O Flamengo facilmente repeliu as investidas celestes, garantindo o zero no placar celeste.

Não é só Ribeiro e Goulart

É claro que o Cruzeiro sentiu falta dos selecionáveis, que fariam falta em qualquer time do Brasil. Mas não foi apenas a ausência de Ribeiro e Goulart que minou o poderio ofensivo celeste. Todos os jogadores da mesma posição não estavam disponíveis, e isso obrigou Marcelo a mudar o sistema, sem ter tempo pra treiná-lo.

Não dá pra botar a culpa da derrota na mudança de sistema. Mas talvez a história fosse outra se o Cruzeiro iniciasse o jogo na formação em que está acostumado a jogar. Fosse um 4-2-3-1, o Cruzeiro certamente teria mais volume, como teve já no início do segundo tempo, e a chance e ir para os vestiários com pelo menos um gol seria maior.

Apesar da maior posse de bola, o Cruzeiro só deu um chute na direção do gol -- no finzinho e bem de longe

Apesar da maior posse de bola, o Cruzeiro só deu um chute na direção do gol — no finzinho e bem de longe

Mas, como disse no texto, não há sistema que resista a erros defensivos individuais como os cometidos por Dedé e Manoel. Na coletiva pós-jogo, Marcelo Oliveira disse que não estava muito preocupado, porque o Cruzeiro não foi massacrado. De fato, teve posse de bola, mais finalizações, principalmente no primeiro tempo, mas não foi capaz de sequer ameaçar a meta de Paulo Victor.

Portanto, o blog discorda de Marcelo. Pois mesmo que o Cruzeiro não tenha sido dominado, teve desequilíbrio ofensivo, com pouca produção, e defensivo, com erros em demasia. E isso é, sim, sinal de preocupação.

Cruzeiro 0 x 1 Corinthians – Uma questão (de) central

O Cruzeiro tem o melhor elenco do Brasil. Uma frase que é unanimidade entre os analistas, e até entre torcedores de outros times. Mas nem mesmo o melhor elenco do Brasil teve reposição à altura quando todos os jogadores de uma mesma posição não estão aptos.

Ricardo Goulart, o titular, está no DM. Seu reserva imediato, Júlio Baptista, também. Éverton Ribeiro, que também sabe jogar na posição, está na China com a Seleção. Até mesmo Tinga, se recuperando de uma fratura, seria uma opção. A solução foi improvisar – em termos.

Onzes iniciais

Times no 4-2-3-1: no começo da partida, o Cruzeiro até levava vantagem pelos lados, já que Malcom não acompanhava Egídio e Petros tinha dificuldade com as bolas longas de Lucas Silva para Mayke

Times no 4-2-3-1: no começo da partida, o Cruzeiro até levava vantagem pelos lados, já que Malcom não acompanhava Egídio e Petros tinha dificuldade com as bolas longas de Lucas Silva para Mayke

Como Marcelo Oliveira não tinha opções de meia central, optou por Marlone para a função. Com isso, o Cruzeiro foi a campo com Fábio no gol, Mayke e Egídio nas laterais, e Manoel e Léo no miolo de zaga. Lucas Silva e Henrique fizeram a parceria usual na volância, e fazendo companhia a Marlone estavam Marquinhos à direita e Willian à esquerda. Moreno ficou na referência.

Mano Menezes escolheu o mesmo 4-2-3-1. Protegendo a meta de Cássio, Fagner fechava o lado direito, Felipe e Anderson Martins fizeram a zaga e Fábio Santos ficou do lado esquerdo. Bruno Henrique e Guilherme Andrade fizeram a proteção atrás do trio formado por Malcom à direita, Renato Augusto centralizado e Petros à esquerda. Solitário à frente, Mano optou por Romero.

Um começo promissor

O Cruzeiro começou o jogo dando pinta de que não sentiria a falta dos selecionáveis e lesionados, chegando principalmente pelos lados do campo. Na direita, Petros marcava o avanço de Mayke quando a jogada era no setor, mas se fosse na esquerda, ele se juntava a Renato Augusto no centro. Assim, quando a bola chegava em Lucas Silva, ele tinha espaço para inverter a jogada e achar Mayke livre e com espaço para avançar. Ele e Marquinhos combinaram bem por ali para criar algumas boas jogadas.

Já no outro flanco, Malcom foi orientado a não voltar com Egídio, numa tentativa de usar de sua velocidade quando o Corinthians recuperasse a bola. A estratégia se revelou quando, após uma falta, a transmissão da TV fechou em uma imagem de Renato Augusto, que fez um claro sinal para Malcom com a mão, como quem diz: “vai, corre”. Era a ideia de Mano, igual à de todos os outros times que enfrentam o Cruzeiro no Mineirão.

Passes de Lucas Silva (à esq.) e de Renato Augusto (à dir.) nos 20 primeiros minutos: volante celeste preferindo inversões para Mayke aproveitar o espaço; Renato Augusto sempre procurando Malcom

Passes de Lucas Silva (à esq.) e de Renato Augusto (à dir.) nos 20 primeiros minutos: volante celeste preferindo inversões para Mayke aproveitar o espaço; Renato Augusto sempre procurando Malcom

Corinthians equilibra

Porém, Egídio fez várias vezes dois contra um junto com Willian em cima de Fagner, fazendo o Cruzeiro ter grande volume por ali. Mano ficou preocupado e a todo momento dava orientações para que seu time se organizasse defensivamente, sendo que uma dessas instruções foi pedir a Malcom que voltasse com Egídio. O Corinthians perdeu a jogada óbvia de velocidade, mas equilibrou seu lado direito.

Com isso, o Cruzeiro passou a ficar sem opções. Marlone até que se movimentou no início do jogo, assim como Willian e Marquinhos, que por vezes invertiam o lado, mas não foi suficiente para sair da marcação por zona disciplinada do time paulista. Lucas e Henrique tinha dificuldades em achar alvos para bons passes e acabavam por forçar alguns, elevando os erros.

A partir daí, o jogo ficou equilibrado, entre as duas intermediárias, pois o Cruzeiro também não dava chances. Os únicos momentos de maior tensão foram nos erros do próprio Cruzeiro, em passes displicentes ou desnecessariamente enfeitadas, como a letra de Marlone que gerou um contra-ataque desperdiçado por Malcom. Parecia ser um aviso do que estaria por vir.

Trocas por opção, ou não

No intervalo, Marcelo queria aumentar a intensidade na frente, e para isso ele tinha o jogador certo: Alisson. O garoto entrou no jogo, mas não na vaga de Marlone como a torcida esperava, e sim na de Willian — o que é natural, já que Alisson é muito mais ponteiro do que meia central. Mas nem bem começou o segundo tempo e Marcelo foi obrigado a queimar a segunda troca, pois Egídio sofreu pancada nas costas e não conseguiu prosseguir. Ceará foi improvisado do lado esquerdo.

Alisson até deu mais intensidade como esperado, mas o jogo seguiu equilibrado, sem chances claras de parte a parte. A estratégia do Corinthians ia dando certo, mas Mano quis timidamente arriscar um pouco mais, lançando Luciano na vaga de Romero, mantendo o 4-2-3-1. Sem opções, Marcelo tentou um movimento novo, mandando Dagoberto a campo na vaga de Marlone. O atacante foi jogar na direita do ataque, com Marquinhos invertendo o lado e Alisson centralizando.

Desorganização e erro

Com a vantagem no placar, Corinthians se fechou e resistiu a um desorganizado Cruzeiro, que sentiu falta de um central típico: Alisson também não conseguiu fazer a função

Com a vantagem no placar, Corinthians se fechou e resistiu a um desorganizado Cruzeiro, que sentiu falta de um central típico: Alisson também não conseguiu fazer a função

A alteração não funcionou bem, como o próprio Marcelo admitiu na coletiva pós-jogo. Nas palavras dele, o time “ficou um pouco desorganizado”. Isso porque Alisson tende naturalmente a cair pelas pontas, mas era acompanhado pelos volantes. Na teoria, isso abriria espaço para Lucas e Henrique avançarem, mas Renato Augusto e o próprio Luciano fechavam nos volantes celestes e, ao contrário do primeiro tempo, não os deixavam jogar. O resultado era um espaço vazio no meio-campo central, perto da área corintiana.

Com o Cruzeiro sem inspiração e totalmente neutralizado, bastou ao Corinthians aproveitar só um dos muitos erros de passe cometidos. Henrique sofreu pressão dos volantes paulistas, e Lucas Silva apareceu pra salvá-lo. Mas Henrique tentou dar um passe de letra que foi interceptado por Petros. O avanço do adversário não foi contido, e Luciano achou um espaço do lado direito para passar por Léo – que nitidamente evitou o pênalti ao recolher a perna – e bater no canto oposto de Fábio.

Fim de jogo

Já não havia muito mais o que fazer, pois o Corinthians já controlava o jogo com o placar em branco. Com a vantagem, concentrou toda a sua atenção em conter o Cruzeiro. Conseguiu na maior parte do tempo, só levando perigo no chute cruzado de Moreno que Cássio mandou a escanteio com a ponta dos dedos, e nos acréscimos, quando Dagoberto cabeceou pra fora totalmente livre na pequena área.

Mano ainda colocaria Danilo na vaga de Bruno Henrique, aberto pelo lado direito, nitidamente para segurar a posse de bola. Com isso, Petros recuou para a volância e Malcom inverteu de lado. E no fim, trocou Guilherme Andrade por Ferrugem, que nem teve trabalho.

Opções (ou a falta delas)

Ficou claro que o Cruzeiro teve dificuldades ofensivas por não ter um meia central típico. As ausências de Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart, por si só, não seriam um problema grande, se o Cruzeiro ainda tivesse Júlio Baptista ou Tinga disponíveis. Portanto, coube a Marlone a tarefa de ser este jogador. Ele já vinha sendo preparado por Marcelo Oliveira para jogar assim em alguns jogos anteriores, mas ontem não teve uma boa atuação.

Dessa forma, o mais coerente seria sacá-lo do time para a partida contra o Flamengo. Mas Marcelo literalmente não tem alternativas se quiser manter o 4-2-3-1. Se houvesse mais tempo para treinar, Alisson poderia ser o meia central, fazendo a função com uma característica ligeiramente diferente. Mas como não há, isso seria reproduzir a desorganização que o time demonstrou no final do jogo.

Outra opção seria lançar Nilton e abdicar da função, efetivamente mudando para um 4-1-4-1, com Henrique e Lucas na dupla função de marcar e passar. O Cruzeiro já jogou assim antes, mas sempre no fim dos jogos e quando já estava em vantagem no placar. Iniciar uma partida nessa formação seria muito arriscado, pois mexe na estrutura do time.

Marlone, Alisson ou Nilton? Pois é. Às vezes, até a vida do treinador do melhor time é difícil.

Cruzeiro 2 x 1 Internacional – Correr, construir, controlar

Cruzeiro e Internacional protagonizaram grandes duelos no passado, principalmente na década de 70, quando o Cruzeiro se vingou da derrota na final do Brasileiro com uma vitória na Libertadores do ano seguinte, que culminaria no título. E o jogo deste sábado não ficou pra trás, disputado e tecnicamente agradável.

Mas além destes fatores, houve também um duelo tático interessantíssimo entre os dois treinadores. Abel Braga fez o primeiro movimento e complicou muito o jogo, mas Marcelo Oliveira respondeu à altura e garantiu o resultado.

Escalações iniciais

Domínio total do Cruzeiro no 1º tempo de muita intensidade, contra um 4-1-4-1 frágil pelos lados e com volantes celestes livres e com tempo na bola

Domínio total do Cruzeiro no 1º tempo de muita intensidade, contra um 4-1-4-1 frágil pelos lados e com volantes celestes livres e com tempo na bola

Com Ricardo Goulart e Júlio Baptista lesionados, era natural que Marcelo optasse por Éverton Ribeiro como meia central do 4-2-3-1 costumeiro. Com isso, o gol de Fábio foi protegido por Dedé e Manoel, com Mayke e Egídio fechando os lados da defesa. Protegendo a área, Henrique e Lucas Silva formavam o meio-campo com Marquinhos à direita, Ribeiro central e Willian pelo lado esquerdo, atrás do centroavante Moreno.

Já Abel Braga não tinha Eduardo Sasha, e criou-se uma expectativa pelo substituto do ponteiro esquerdo. O treinador do Internacional optou por Valdívia mais surpreendeu, tirando Alex do time e armando um 4-1-4-1, com Dida no gol, Gilberto na lateral direita, Paulão e Juan na zaga central e Fabrício fechando o lado esquerdo da defesa. Willians ficou entre a defesa e segunda linha formada, da direita para a esquerda, por D’Alessandro aberto, Aranguiz e Wellington mais centralizados e Valdívia na outra ponta. Na frente, Rafael Moura duelava com os zagueiros celestes.

Volantes livres

Diferentemente do que anunciara durante a semana, Abel postou seu time marcando a partir da linha do meio-campo, tentando tirar a velocidade que o Cruzeiro queria impor. A ideia era parar o ataque do Cruzeiro e acionar Valdívia e D’Alessandro pelos lados para os contra-ataques. Ou seja, a mesma coisa que quase todos os times que vieram ao Mineirão tentaram. Eis o respeito que quase dois anos de bom futebol impõem.

Mas, ao contrário de vários outros times, o Internacional não se preocupou com a marcação de Lucas Silva e Henrique. Os próprios volantes do Internacional ficavam muito próximos à própria área, distantes dos volantes celestes. Assim, ambos tiveram bastante tempo na bola e liberdade para levantar a cabeça e iniciar a construção, alavancando as estatísticas de posse de bola celeste.

Dois contra um

Com isso, D’Alessandro e Valdívia acabavam por tentar ajudar, indefinindo a marcação: ou fechavam nos volantes ou perseguiam os laterais subirem livres. Não dúvida, não fizeram nenhuma das duas coisas bem, e o resultado foi que tanto Egídio quanto Mayke subiam e faziam dois contra um junto com Willian e Marquinhos em cima de Gilberto e Fabrício.

Em um determinado lance, foi possível ver D’Alessandro perto de Egídio, preparado para acompanhar o lateral celeste caso ele subisse, mas a bola chegou nos pés de Lucas Silva, livre. O argentino então decidiu centralizar para marcá-lo, e bastaram dois passes para que a bola chegasse nos pés de Egídio, sem marcação e já numa posição avançada do campo, fora do alcance de D’Alessandro.

Marquinhos do lado “errado”

E outro fator que contribuiu para o desmoronamento da estratégia gaúcha foi o posicionamento de Marquinhos. Normalmente, o ponteiro joga pela esquerda, mas nesse jogo Marcelo optou por invertê-lo de lado com Willian para que ele pudesse marcar Fabrício, o mais ofensivo dos dois laterais adversários. Marquinhos cumpriu bem a função e ainda jogou bem com a bola, como visto no segundo gol.

Tudo isso contribuía para que o jogo fosse totalmente dominado pelo Cruzeiro no primeiro tempo: intensidade ofensiva e defensiva, volantes com liberdade, laterais sem marcação quando apoiavam.

A marcação no alto do campo, pressionando o homem da bola, gerou o primeiro gol, em que Moreno bloqueia o passe de Aranguiz, a bola sobra para Willian, que limpa o marcador com um drible, mas o próprio Moreno “rouba” a conclusão de Willian para vencer Dida. E em jogada pelo lado esquerdo, onde o Cruzeiro tinha superioridade numérica, cruzamento de Éverton Ribeiro para Marquinhos, livre do lado contrário, marcar o segundo.

Com Alex, Internacional mudou para um 4-2-3-1 e  tinha superioridade numérica com o movimento do meia da direita para o centro, causando problemas para Lucas Silva e Henrique

Com Alex, Internacional mudou para um 4-2-3-1 e tinha superioridade numérica com o movimento do meia da direita para o centro, causando problemas para Lucas Silva e Henrique

Inferioridade numérica no centro

O Cruzeiro voltou para o segundo tempo mais cadenciador, tentando descansar com a bola. Já o Internacional fez o contrário: começou a correr e querer roubar a bola de qualquer forma. Mas foi a alteração de Abel no intervalo que mudou o panorama da partida. Wellington deu seu lugar a Alex, que entrou pela esquerda do ataque; Valdívia foi pro outro lado, D’Alessandro centralizou e Aranguiz recuou para perto de Willians, formando o novo 4-2-3-1.

Com a bola, Alex centralizava e se aproximava de D’Alessandro, causando problemas na marcação para Lucas Silva e Henrique. Tanto na jogada que gerou a falta que bateu na trave quanto no gol, Alex e D’Alessandro se encontravam em posições centrais, e no lance do gol especificamente, os dois meias tabelaram e deram a volta na marcação dos volantes celestes.

A resposta de Marcelo

Marcelo Oliveira não estava gostando do que estava vendo e demorou a achar uma solução, mas achou. De uma só vez, tirou Éverton Ribeiro e Willian, lançando Nilton e Dagoberto, formando um 4-1-4-1 que remediava a inferioridade numérica no meio, mas perdia em capacidade de criação.

Marcelo Oliveira respondeu com Nilton e Dagoberto, configurando um 4-1-4-1 que encaixou a marcação e corrigiu o problema de inferioridade numérica no centro

Marcelo Oliveira respondeu com Nilton e Dagoberto, configurando um 4-1-4-1 que encaixou a marcação e corrigiu o problema de inferioridade numérica no centro

O jogo reequilibrou e o Internacional não conseguia mais chegar com facilidade. Até ficava mais com a bola, mas com a marcação encaixada, os volantes e zagueiros adversários, agora com tempo pra pensar, não tinham opções de passe. O Internacional parou de ameaçar a meta de Fábio, e o Cruzeiro controlava o jogo sem ter a bola em seus pés.

Outras trocas

Sem alternativas, Abel tentou mais velocidade com Leandro na vaga de Valdívia, sem sucesso, e depois abrindo o time de vez com Alan Patrick na vaga de Willians. Aranguiz passou a ser o volante único, mas o tiro saiu pela culatra e quem passou a dominar o meio-campo foi o Cruzeiro, já que o Internacional também arrefeceu o ritmo. A partir de então teve mais chances reais de ampliar do que sofrer o empate.

Borges ainda entrou na vaga de Moreno, mas apenas para fazer o tempo passar e garantir a vitória e aumentar a diferença para o vice-líder para impressionantes nove pontos.

A linha do tempo mostra as quatro fases distintas do jogo: 1- Cruzeiro arrasador até o 1ª gol; 2- Cruzeiro menos intenso mas ainda dominando até o fim do primeiro tempo; 3- Internacional tentando contra Fábio até a entrada de Nilton; 4- controle do jogo sem a bola até o final.

A linha do tempo mostra as quatro fases distintas do jogo: 1- Cruzeiro arrasador até o 1º gol; 2- Cruzeiro menos intenso mas ainda dominando até o fim do primeiro tempo; 3- Internacional tentando contra Fábio até a entrada de Nilton; 4- controle do jogo sem a bola até o final.

Maturidade para dosar o esforço

No último texto, questionei se a falta de intensidade do Cruzeiro nas últimas partidas havia sido uma coisa pensada ou se era um resultado natural do cansaço pelas partidas em sequência. A resposta veio nesse jogo, e foi um pouco das duas coisas: a temporada desgastante fez com que Marcelo usasse conscientemente uma estratégia mais cautelosa para diminuir o cansaço dos jogadores. Tudo visando os jogos mais importantes, como este contra o Internacional, o perseguidor mais próximo.

Ao que parece, a estratégia funcionou bem e os jogadores deram o máximo durante os primeiros 45 minutos, construíram o placar e apenas controlaram no segundo tempo, ainda que o Internacional tenha tido um domínio devido à entrada de Alex no time. Isso é sinal de um time maduro, que sabe em que momentos deve acelerar ou cadenciar o jogo. E mais: sabe também em que momentos da temporada deve se poupar para poder usar mais gás nas partidas decisivas.

E, com a reta final da temporada começando, o fator desgaste pesa ainda mais, para todas as equipes. Saber dosar o esforço será fundamental. E até nisso o Cruzeiro parece sair na frente.