Atlético/MG 1 x 1 Cruzeiro – Jogando de maneira Horto-doxa

O Cruzeiro foi ao Horto mais uma vez para tentar acabar com a incômoda sequência negativa sem vitórias diante do rival. E seguiu o plano à risca do início ao fim: marcar bem e jogar quando possível, correndo o mínimo de risco necessário

Acabou fazendo um jogo seguro na defesa e com boa criação ofensivamente, até sofrer o gol, e depois empatou em gol antológico de De Arrascaeta. E nem mesmo a expulsão de Leonardo Silva fez o time abandonar sua estratégia ortodoxa, quando poderia ter saído com uma vitória.

Sistemas iniciais

No 1º tempo, os dois times no mesmo esquema e estratégia: 4-2-3-1 muito cautelosos, com muita gente atrás da linha da bola na fase defensiva; no Atlético, Guilherme saía da referência para armar

No 1º tempo, os dois times no mesmo esquema e estratégia: 4-2-3-1 muito cautelosos, com muita gente atrás da linha da bola na fase defensiva; no Atlético, Guilherme saía da referência para armar

Mesmo tendo jogo já na terça-feira, Marcelo Oliveira só poupou Mayke, e mesmo assim porque ele tinha desgaste excessivo. Assim, o time foi armado no 4-2-3-1, com a linha defensiva de Fábio começando com Fabiano na lateral direita, Léo e Paulo André na zaga e Mena na esquerda. Willians e Henrique novamente fizeram a parceria na proteção, atrás de Willian à direita, De Arrascaeta centralizado e Alisson à esquerda. Na centroavância, Damião.

Levir Culpi também mandou o Atlético a campo num 4-2-3-1. Protegendo o gol de Victor estavam Leonardo Silva e Jemerson, com Marcos Rocha na lateral direita e Douglas Santos do outro lado. Josué entrou na vaga do suspenso Leandro Donizete, com Rafael Carioca a seu lado e dando suporte à linha de três meias, que tinha o ponteiro direito Luan, o central Dátolo e o ponteiro esquerdo Carlos, deixando Guilherme livre para flutuar entre o meio e o ataque, quase como um “falso nove”.

Excesso de cautela

O jogo começou com os dois times com muito receio de se exporem aos ataques adversários. Nenhum marcava agressivamente no campo de ataque, preferindo fechar os espaços a partir da linha divisória, algo que contrariava a expectativa em relação à estratégia do Atlético, já que era o mandante e tinha que inverter a vantagem. Dessa forma, os zagueiros tinham bastante tempo na bola, e às vezes ficavam tocando um para o outro tentando achar a melhor saída.

Nesse ponto, as estratégias divergiram. O Cruzeiro preferia sair pelo chão, usando bastante as laterais do campo, principalmente o lado esquerdo com Mena e Alisson. Foi numa jogada dos dois que Damião completou o cruzamento do chileno na trave, logo as 7 minutos. Já o Atlético preferia usar bolas longas e inversões de um lado a outro do campo pelo alto.

O baixo número de finalizações no 1º tempo ilustra bem a postura dos dois times: Cruzeiro (vermelho) só finalizou uma vez contra 3 do Atlético (azul)

O baixo número de finalizações no 1º tempo ilustra bem a postura dos dois times: Cruzeiro (vermelho) só finalizou uma vez contra 3 do Atlético (azul)

Festival de cartões

Isso tudo em meio a uma festa de amarelos: foram 7 entre os 10 e os 34 minutos, um a cada 3 minutos e meio. Alguns muito mal aplicados, como foi o caso de Léo e Leonardo Silva pré-escanteio. O de Léo em particular forçou Marcelo a fazer a primeira troca já no primeiro tempo, colocando Manoel na vaga de Léo para prevenir uma muito provável expulsão posterior.

A partir dessa troca, o Atlético começou a tentar pressionar o Cruzeiro logo que perdia a posse, aumentando a velocidade do jogo e forçando o Cruzeiro a quebrar a bola. Com isso, o quarteto de frente, que até então estava até razoável, sumiu do jogo, e o Cruzeiro passou a se defender apenas. Mas fazia isso com muita segurança, já que o Atlético corria muito, mas não conseguia chegar próximo da meta de Fábio.

Infelizmente, o futebol não perdoa erros, por mais raros que eles sejam. Depois que o Cruzeiro perdeu a bola no ataque, Guilherme — que frequentemente saía da posição de avante e aparecia entre as linhas — ficou sozinho no círculo central, longe dos zagueiros e dos volantes do Cruzeiro, que estavam fora de posição. Com tempo e espaço, o ex-cruzeirense conseguiu inverter para Luan do lado direito, que cruzou para uma falha geral da zaga celeste, sintetizada em Fabiano perdendo na corrida para Carlos.

No lance do gol do Atlético, Guilherme está recuado e com muito espaço pra pensar, já que os volantes Henrique e Willians (destacados) estavam fora de posição; note também os dois zagueiros do Cruzeiro sem um adversário pra marcar

No lance do gol do Atlético, Guilherme está recuado e com muito espaço pra pensar, já que os volantes Henrique e Willians (destacados) estavam fora de posição; note também os dois zagueiros do Cruzeiro sem um adversário pra marcar

Jogo segue igual

No intervalo, Marcelo Oliveira novamente fez uma troca por causa do excesso de amarelos. Promovendo a estreia de Fabrício na vaga de Mena, que travava um duelo feroz com Luan no setor esquerdo. Mas a mudança esperada não veio: a de estratégia. O Cruzeiro continuou cauteloso, sem pressionar a saída sem colocar muita gente à frente da linha da bola.

Menos mal que, em uma jogada de Willians, avançando com inteligência nos espaços deixados pelo meio-campo atleticano, passou a De Arrascaeta, que quase perdeu a bola, mas num lance de pura genialidade deu no meio das pernas de Josué e driblou outros dois defensores rivais antes de vencer Victor com um tiro cruzado. Segundo golaço do garoto uruguaio na semana.

Finalmente, algo pra mudar o jogo?

Mesmo com o gol, o jogo seguiu igual, com os dois times ainda com receio de sair muito. Alguns minutos depois do empate, Damião e Leonardo Silva se estranharam e o zagueiro acabou expulso. Até a entrada de Edcarlos na vaga de Josué, Luan preencheu o lado direito da zaga, e depois voltou ao lado direito no novo 4-4-1 de Levir, com Dátolo ao lado de Rafael Carioca. Com a bola, o Atlético se tornava um ousado 4-2-3 com o avanço dos ponteiros.

Fim de jogo: Cruzeiro num 4-2-3-1 muito paciente, diante de um Atlético postado no 4-4-1 pra segurar as ações ofensivas celestes

Fim de jogo: Cruzeiro num 4-2-3-1 muito paciente, diante de um Atlético postado no 4-4-1 pra segurar as ações ofensivas celestes

Mas o jogo seguiu igual. Se o Atlético já estava cauteloso, com um a menos se postou atrás e tentou chamar o Cruzeiro para contra-ataques. Quando recuperava a bola, também não acelerava, pois não queria ceder o contra-ataque. Marcelo então lançou mão de Gabriel Xavier, tirando Willian da partida, numa tentativa de cadenciar mais a partida e tocar com paciência, para achar os espaços que um time com um a menos e atrás no placar naturalmente cederia.

Sem ímpeto no fim

Isso aconteceu em parte, já que o Cruzeiro tocou a bola com paciência e tentando não arriscar muito no último passe. Rodou a bola, mas os jogadores da frente não se movimentaram tanto para ajudar a criar espaços. Gabriel Xavier perambulou pelo meio, De Arrascaeta subiu para dentro da área e deixou o primeiro passe para os volantes. Não foi suficiente para entrar nas duas linhas do Atlético. Após a expulsão, o Cruzeiro só conseguiu dois chutes de fora da área e nada mais.

Já quando o Atlético recuperava a bola, o Cruzeiro não pressionava no alto do campo, o que era até compreensível, mas também não pressionava o homem da bola na intermediária defensiva. Os jogadores rivais conseguiam ter a bola em zonas bem próximas da área de Fábio, conseguindo faltas e escanteios perigosos. Felizmente, a equipe da casa nada conseguiu, e estava decretado mais um empate em clássicos pelo Campeonato Mineiro. Já são 5 nos últimos dois anos.

Dois lados de um tabu

É claro que o tabu de não vencer clássicos incomoda a torcida. Após o jogo choveram críticas de muitos torcedores, principalmente em relação à postura do time após a expulsão de Leonardo Silva. Apesar de exageradas, as críticas tem certo fundamento, pois a impressão que fica é que se o Cruzeiro tivesse arriscado um pouco mais teria conseguido sair do Horto com uma vitória.

Por outro lado, há muitas razões pelas quais o Cruzeiro não quis se arriscar. Além de ter a vantagem no confronto por ter melhor campanha, era um jogo na casa do rival, com a totalidade da torcida contra. Isso sem falar que o Cruzeiro jogará em menos de 48 horas na Argentina pela Libertadores, uma partida que é sim muito importante, mesmo que a classificação para as oitavas já esteja bem encaminhada.

Isto posto, é seguro dizer que esta foi uma das melhores partida do Cruzeiro no Independência, desde que os clássicos passaram a ter mando em 2013. Defensivamente foi uma equipe bem sólida, exceção feita ao erro coletivo que resultou no gol do rival. Com a bola, considerando a estratégia, foi razoável, criando boas oportunidades nos primeiros minutos. A única ressalva é em relação à postura após a expulsão, defensiva e ofensivamente.

Marcelo falou na coletiva que foi o primeiro clássico em que o Cruzeiro não foi dominado no Independência. De fato. E é um bom indício de que a sequência negativa diante do rival tem tudo pra terminar no fim de semana que vem.

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