Os Cruzeiros de Mano Menezes

(originalmente publicado no blog Nós Somos Cruzeiro, do Portal UAI)

Depois de dois trabalhos emergenciais, em que pegou o time no meio da temporada e com objetivo claro de fugir do descenso no Brasileiro, Mano Menezes pôde finalmente começar uma temporada na Toca II. E, conforme ele mesmo vinha dizendo, a proposta de jogo para esta temporada é outra: um time veloz com a bola nos pés e agressivo sem ela, de forma a tomar as rédeas do jogo, de ser o protagonista. Em resumo, um futebol com mais a cara da escola cruzeirense.

Nas duas temporadas anteriores, o diagnóstico era o mesmo: o time sofria gols demais. Mas a razão era diferente. Em 2015, Luxa deixou terra arrasada, e Mano apostou num time marcando por zona, com as linhas mais retraídas e bem próximas. Já em 2016, isso era por opção: Paulo Bento usou um modelo de jogo de grande volume ofensivo, o que Mano destacou logo em sua primeira entrevista nesta segunda passagem. Ele reduziu o volume ofensivo, mas como o elenco era melhor que o do ano anterior, conseguiu produzir mais ofensivamente.

Agora, começando um trabalho novo, o time realmente parece diferente. Mano vem usando principalmente duas equipes, que ele diz não serem titulares e reservas. Pode até ser, mas está claro que um time joga melhor que o outro, tendo em vista o novo modelo de jogo. E, ainda assim, há pequenas diferenças em relação ao sistema, devido às características dos jogadores.

Os “titulares” do Cruzeiro de Mano no início de 2017

Ambos os times jogam em linha de 4 com dois volantes, e à frente dois jogadores pelos lados e dois na faixa central. Para o time de cima, eu chamaria a formação de 4-2-4-0, pois a intensa movimentação do quarteto de frente não permite dizer quem é o jogador que fica mais à frente. Em tese é Sobis, mas ele não fica entre os zagueiros como um nove típico, se mexe bastante para ajudar na construção, e Arrascaeta também avança com frequência para finalizar. O uruguaio, por sua vez, não é o camisa 10 clássico, centralizado que fica distribuindo passes, é muito mais próximo de ser um segundo atacante. Daí o time jogar sem um homem de referência.

Robinho é ponteiro passador, ou seja, joga pelo lado, mas centraliza para pensar o jogo junto aos outros, abrindo o corredor direito pra Ezequiel ir ao fundo. Do lado oposto, Alisson é um ponteiro mais típico: veloz, bom no um contra um e entrando na área pra finalizar quando a jogada é do lado oposto. Também é o que se chama de “ponteiro de pé trocado”: um destro do lado esquerdo, o que faz com que seu movimento natural seja cortar pro meio e bater, ou mesmo se aproximar dos outros tentar uma tabela.

Mais atrás, temos dois volantes que sabem jogar com a bola. Aliás, nenhum volante do elenco do Cruzeiro é tipicamente destruidor, aquele cabeça-de-área clássico que fica desarmando e depois entrega para alguém jogar. Cada vez mais no futebol atual, essa posição é que faz o time jogar. Henrique e Cabral alternam com frequência no apoio, mas tipicamente o primeiro fica mais pra ajudar na saída, no primeiro passe, e o segundo aparece nos espaços pra oferecer linhas de passe e continuar a progressão.

Na última linha temos Léo e Manoel, mas não creio que essa será a zaga titular. A ideia, no futuro, será usar Manoel e Caicedo, ou mesmo Dedé e Caicedo. Isso porque o equatoriano é veloz, assim como Dedé e Manoel, e pra jogar com a linha defensiva longe da própria área, de forma a compactar o time ofensivamente, é importante ter zagueiros velozes, para poder ter uma boa recuperação em caso de bolas longas por cima da defesa.

O time “reserva” de Mano neste início da temporada 2017

Já o outro time joga num 4-2-3-1 mais claro, muito por causa da presença de Ábila, um centroavante muito mais típico. Ele não possui o perfil de recuar pra ajudar na construção do jogo, e quando isso acontece, a probabilidade da jogada morrer no pé dele é alta. Pra mim essa é a razão pela qual ele não é titular: não é a falta de gols, obviamente, mas sim porque ele ainda não se encaixa bem no modelo de jogo que Mano quer para o Cruzeiro, de ter um sistema ofensivo veloz, maleável e sem posições definidas. Não é coincidência que esta formação tenha tido mais dificuldades em controlar os jogos.

Na meia central, o garoto Alex tem sido bastante utilizado. É um jovem, tem talento e boa visão de jogo, mas acredito que ainda se movimente pouco para ser um central nestes tempos de futebol tão sem espaço. Hoje em dia é preciso pensar correndo, ou mesmo pensar antes da bola chegar. Ainda falta mais intensidade ao garoto, de procurar um espaço, de sair de sua característica.

Nas outras posições temos características semelhantes à do time principal. Zagueiros rápidos, laterais com bom apoio, volantes que sabem jogar e um ponteiro mais armador (Rafinha) e um mais veloz (Élber). Apenas nas duas funções centrais do ataque é que existe uma diferença maior, como dito acima.

Diante disso tudo, cabe a pergunta: onde entraria Thiago Neves? Com o time de cima já azeitado e bem entrosado, me parece difícil tirar um jogador. Vejo quatro possibilidades:

  1. na vaga de Alisson, com TN jogando aberto pela esquerda. Nesse caso, com dois armadores pelos lados, isso iria contra um princípio de jogo que Mano diz gostar, que é ter dois jogadores de lado com características diferentes: um mais armador e outro mais ponta típico.
  2. na vaga de Alisson, com TN jogando centralizado e Arrascaeta como ponteiro esquerdo. Essa se aproxima mais do que Mano gosta, já que Arrascaeta é mais atacante do que meia, mas isso significaria tirar o uruguaio da posição onde ele rende mais, que é ter essa liberdade na faixa central.
  3. na vaga de um volante e recuar Robinho pra armar de trás. É bastante improvável que Mano comece algum jogo assim, pois é uma formação desequilibrada, servindo mais pra circusntâncias de jogo como recuperar um placar adverso com o adversário bem recuado.
  4. na vaga de Sobis, com Arrascaeta e TN alternando por dentro. Ainda mais improvável, pois TN é bem mais meia do que atacante, e faria com que Arrascaeta ficasse mais preso à frente, minando seu melhor rendimento.

Um possível time com a entrada de Thiago Neves e outros jogadores

Dessas, acredito que a primeira opção seja a mais provável. Não ter um ponta típico é uma coisa a analisar, mas isso pode ser compensado com a ultrapassagem dos laterais. De qualquer forma, é bom saber que existem muitas variações possíveis pela versatilidade que Thiago Neves possui.

Ainda é preciso mais tempo para que possamos ver se a nova ideia de Mano Menezes vai funcionar. As atuações do clássico e contra o Tupi chamaram a atenção pela imposição. Resta saber se isso se tornará uma constante. Uma coisa, porém, é certa: a ideia é respeitar a identidade da escola cruzeirense de futebol.

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