América/MG 0 x 2 Cruzeiro – Eficiente e suficiente

A partida contra o América foi bem melhor do que a de quinta na Venezuela, mas era bem difícil ser pior ou até mesmo igual. O Cruzeiro ainda teve alguns problemas, inclusive cansaço físico da longa viagem — como revelado por Marcelo Oliveira na coletiva — mas foi mais compacto, protegeu bem sua área e conseguiu explorar um pouco melhor os espaços no contra-ataque.

Não foi nada brilhante, mas o Cruzeiro errou muito pouco, tanto na marcação quanto nas poucas chances que teve, e por isso saiu com a vitória.

Formações iniciais

Cruzeiro e América entraram no 4-2-3-1. Cruzeiro numa postura reativa, com De Arrascaeta se mexendo um pouco mais para acionar os ponteiros em contra-ataque; América tinha mais a bola, com Renatinho caindo pelos lados para criar superioridade numérica

Cruzeiro e América entraram no 4-2-3-1. Cruzeiro numa postura reativa, com De Arrascaeta se mexendo um pouco mais para acionar os ponteiros em contra-ataque; América tinha mais a bola, com Renatinho caindo pelos lados para criar superioridade numérica

As duas equipes vieram no 4-2-3-1. Marcelo Oliveira mandou a campo o mesmo onze do jogo com o Mineros, com Fábio no gol, Mayke na lateral direita e Mena na esquerda, com Léo e Paulo André no miolo de zaga. Willian Farias e Henrique ficaram na proteção, e mais à frente Alisson e Marquinhos flanqueavam De Arrascaeta, atrás de Damião.

O América de Givanildo tinha João Ricardo no gol, Wesley Matos e Anderson Conceição na zaga, com Robertinho à direita e Bryan fechando o lado esquerdo. Na volância, Thiago Santos e Diego Lorenzi davam suporte ao central Renatinho, que tinha ainda Felipe Amorim pela direita e Sávio pela esquerda, com Rubens na referência.

Duelos por todo o campo

A marcação encaixou e gerou duelos interessantes nos quatro cantos do campo: Mayke x Sávio, Mena x Felipe Amorim, Alisson x Robertinho e Marquinhos x Bryan. No meio-campo, Henrique e Willian Farias se encarregavam de marcar Renatinho e o volante que subisse, que normalmente era Diego Lorenzi, enquanto Thiago Santos ficava a cargo de cuidar de De Arrascaeta. E os centroavantes duelavam com as duplas de zagueiros nas áreas.

Mas quem marcava mais eram os celestes. Isso porque o América tomou a iniciativa e ficou com a bola, tentando chegar pelos lados, devido à movimentação de Renatinho, que saía do centro para criar superioridade numérica nesses setores. Por duas vezes, a marcação celeste ficou indefinida e os jogadores americanos conseguiram chegar ao fundo. Talvez De Arrascaeta pudesse se espelhar nisso, apesar de ter sido muito mais móvel neste jogo do que na Venezuela.

Felipe Amorim deu muito trabalho para Mena pela esquerda. Até conseguiu passar em alguns lances, mas no cômputo geral, Mena fez um bom trabalho: o camisa 7 americano só conseguiu criar duas chances, uma em cada tempo. Do outro lado, Sávio se dava melhor contra Mayke, porque destro que é, partia para o centro e batia com a perna direita. Acertou a trave num desses chutes.

Zagueiros e contra-ataque

Com o time do Cruzeiro mais compacto, porém, o América não conseguia entrar na área adversária. No 1º tempo, o time da casa finalizou 6 vezes, mas todas de fora da área. Muito por causa de um bom trabalho da linha defensiva, mais uma vez. Léo e Paulo André venciam todas pelo alto e pelo chão, em contraste com o desempenho irregular da dupla de volantes.

Em azul, as finalizações do América, e em vermelho, as do Cruzeiro; os dois únicos chutes do América de dentro da área foram no 2º tempo (Footstats)

Em azul, as finalizações do América, e em vermelho, as do Cruzeiro; os dois únicos chutes do América de dentro da área foram no 2º tempo (Footstats)

Com as linhas avançadas, o América deixava espaços atrás, cedendo o contra-ataque ao Cruzeiro, que ensaiou uma, duas até acertar na terceira. Após cobrança de falta do América, a bola sobrou na esquerda, e a defesa rechaçou novo cruzamento. A bola sobrou para Marquinhos, que viu a movimentação de De Arrascaeta e deu na frente. O uruguaio girou e acionou Alisson imediatamente pela esquerda, onde estava apenas Diego Lorenzi, com o outro volante Thiago Santos, na cobertura — os zagueiros estavam na área adversária por causa da bola parada. Alisson avançou, cortou pra dentro e bateu maravilhosamente no canto, fora do alcance de João Ricardo.

Com o gol, Givanildo percebeu o perigo e recuou as linhas. O América passou a marcar a partir do meio-campo, dando um pouco mais a bola para o Cruzeiro e partindo em velocidade. Mas o primeiro tempo acabou mesmo com o Cruzeiro em vantagem.

Segundo tempo

As equipes voltaram do intervalo sem alterações, assim como o panorama do jogo após o gol. A posse de bola era equilibrada, e nenhuma das duas equipes via necessidade avançar as linhas: o Cruzeiro porque tinha o placar a seu favor, e o América porque não queria sofrer mais estocadas no perigoso contra-ataque celeste. A partida ficava sendo disputada entre as duas intermediárias, e a bola só se aproximava dos goleiros em bolas paradas.

Givanildo com quem fez o primeiro movimento, trocando de centroavante: Rodrigo Silva na vaga de Rubens. A partida não mudou, mas o Cruzeiro conseguiu achar alguns bons passes pela esquerda. Marquinhos achou Mena, que cruzou para Damião sozinho perder; e depois Alisson foi acionado, driblou duas vezes mas no último toque a bola escapou ligeiramente e ele bateu prensado.

Troca nas pontas

Marcelo então mexeu nos flancos. Trocou de ponteiros: Alisson deu lugar a Gilson — que sim, foi jogar na meia esquerda — e Marquinhos cedeu vaga a Judivan. O 4-2-3-1 estava mantido, mas com mais fôlego pelos lados e mais proteção a Mena pela esquerda, já que Gilson também é lateral e sabe recompor. Após o jogo, Marcelo justificou as trocas dizendo que era por cansaço, já que os titulares não estavam mais recompondo.

Fim de jogo: ambos os times mantiveram o 4-2-3-1 durante todos os 90 minutos; Cruzeiro teve Gilson como ponteiro esquerdo para recompor melhor e ajudar Mena

Fim de jogo: ambos os times mantiveram o 4-2-3-1 durante todos os 90 minutos; Cruzeiro teve Gilson como ponteiro esquerdo para recompor melhor e ajudar Mena

No América, Pedrinho entrou na vaga de Sávio, com câimbras. Ele se posicionou pela esquerda do ataque, mantendo o sistema original. Mas quem continuava dando trabalho era Felipe Amorim, que derivou para o centro a partir da direita, levando Mena consigo e causando o chileno a cometer falta. Ele mesmo cobrou, mas mal.

O que ele não imaginava é que o tiro de meta originaria o segundo gol celeste. Na bola longa de Fábio, Damião inverte com De Arrascaeta para brigar pelo alto, e foi exatamente o que aconteceu: uma casquinha para o uruguaio na frente, que driblou seu marcador e avançou pela esquerda. Damião também fez um movimento interessante: primeiro ele corre na direção do zagueiro, “empurrando-o” pra longe. Quando De Arrascaeta se aproxima da área, ele muda de direção, indo para a primeira trave. Isso fez ficar sozinho pra receber o passe e aumentar o placar.

No lance, o zagueiro Anderson Conceição se lesionou e teve de ser substituído por Allison, acabando com as trocas do América. E no fim, Marcelo tirou Damião apenas para receber os aplausos da torcida. Henrique Dourado jogou pouco mas conseguiu roubar uma bola excelente no meio-campo, fazendo o que se espera de centroavantes modernos.

Novo estilo

O Cruzeiro de 2013/14 nos acostumou a ver uma equipe com a bola nos pés, intensa na movimentação e inversão de posições. Mobilidade necessária para criar os espaços diante de times que enfrentavam o Cruzeiro com muito respeito, com muitos jogadores postados atrás da linha da bola. Em 2015, a equipe parece ter uma característica diferente: marca forte no meio (apesar das deficiências dos últimos dois jogos) e prefere jogar na transição, com velocidade. Quando acertou o passe nessa fase, venceu.

Já são dois meses na temporada e o Cruzeiro ainda não fez um jogo em que dominou a posse de bola criou chances em profusão. O entrosamento, que ainda não chegou totalmente, tem parte nisso, mas talvez já seja hora de reconhecer que o Cruzeiro de 2015 seja um time diferente, mais reativo, mais competitivo e letal.

Sofrer poucos gols e ser muito eficiente nas poucas chances que cria. Não me agrada, mas aí já é questão de gosto. E não que eu acredite nisso, mas torço para que esta característica seja mais eficaz para campeonar na Copa Libertadores — que, ao fim e ao cabo, é o objetivo principal.

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