Mamoré 1 x 2 Cruzeiro – Pressão alta, velocidade baixa

Confesso que não assisti ao amistoso vencido pelo Cruzeiro sobre o Mamoré por 2 a 1, realizado hoje em Patos de Minas. Lendo as notícias do jogo, analisando a escalação e assistindo aos gols, no entanto, é possível tirar algumas conclusões. É claro que três lances não podem dizer como foi o jogo em si, mas é válido analisá-los mesmo assim.

O time celeste mandou a campo uma formação igual à do primeiro jogo, o 4-4-2 losango, com três volantes. Leandro Guerreiro fez o papel de centro-médio novamente, ficando à frente da defesa. Marcelo Oliveira teve desta vez Amaral como companheiro, no lugar de Diego Árias.

Os dois gols do Cruzeiro saíram no primeiro tempo, de pênalti, em dois lances que tem mais semelhanças do que parece numa primeira análise. Ambos saíram de jogadas em que o Cruzeiro recupera a bola ainda no campo do adversário, marcando alto no campo. No primeiro, Anselmo Ramon briga pela posse e dispara de longe. No rebote do goleiro, Wellington Paulista pressiona o zagueiro e consegue o pênalti. convertido por ele mesmo. No segundo, é o próprio WP quem disputa a bola, que acaba sobrando para Anselmo Ramon. Ele põe à frente, aposta corrida com o zagueiro, que comete mais um pênalti, novamente convertido por Paulista.

A conclusão é que a pressão sobre a defesa adversária, mesmo sob o forte calor, quando exercida, resultou em gols. Obviamente, temos de levar em conta a fragilidade do time de Patos. Talvez contra equipes mais experientes, ou mais técnicas, o Cruzeiro não conseguisse os pênaltis, mas no mínimo conseguiria fazer com que o passe do adversário saísse com menos qualidade.

No segundo tempo, o Cruzeiro desacelerou um pouco. Talvez o calor de Patos de Minas e a vantagem de dois gols no placar fez os jogadores celestes se pouparem naturalmente. Com isso, deixaram de fazer tanta pressão à frente e cederam espaço para o Mamoré, que conseguiu jogar um pouco mais. Num desses lances, Jônatan, do Mamoré, recebe uma bola de costas para o gol, consegue girar e tocar para seu companheiro Jouberth no meio. Este atrai a marcação e a cobertura (Victorino), deixando o lado esquerdo no mano a mano. O próprio Jônatan é quem corre por aquele lado, para receber a bola na frente depois de um corte seco de Jouberth que tirou os dois jogadores celestes. O cruzeirense que o marcava no início da jogada não conseguiu acompanhar e saiu o gol.

Taí um problema para Mancini resolver: velocidade contra nossos zagueiros pode ser fatal. Várias soluções existem, como mudar para zagueiros mais rápidos, ou posicioná-los um pouco mais recuados. O melhor mesmo seria manter a posse de bola e, quando a perdesse, continuar exercendo pressão alta. É claro que pressão alta cansa os atletas bem mais rapidamente, então este é um fator. Se bem que é possível descansar com posse, mas isso é outro papo.

Cruzeiro 2 x 3 América/MG – Tentando achar a direção certa

Um jogo típico de início de temporada. Assim podemos resumir o amistoso entre Cruzeiro e América, dispuado hoje no Parque do Sabiá em Uberlândia. O Cruzeiro sofreu com os problemas típicos de início de ano, como o cansaço – parte da origem do segundo, e totalmente a origem do terceiro gol do América – e a falta de tempo de bola – que resultou num acidente entre Diego Renan e Rudnei, com suspeita de fratura no nariz deste último. Torcemos pela recuperação rápida.

Os dois trios altos do losango celeste, muito centralizados e muito distantes entre si

O time celeste entrou como esperado, com um 4-3-1-2 losango, mas com Wellington Paulista e Anselmo Ramon recuando para fazer uma linha de três no primeiro combate. No entanto, o trio de volantes, com Leandro Guerreiro no pé do losango e os estreantes Diego Árias e Marcelo Oliveira dos lados, ficou recuado demais. Sem a bola, o Cruzeiro parecia muito mais um 4-3-3, porém com as duas linhas altas muito centralizadas e distantes entre si. Isso gerou dois problemas: os laterais do América tinham muito espaço para atacar sem ser incomodados, e os volantes tinham espaço para pensar o jogo e chegar facilmente à entrada da área cruzeirense. Como o trio ofensivo não fazia pressão, mas ficava centralizado demais, o América saía de trás sempre pelos lados e, com espaço, avançavam até encontrar o vão entre o ataque e o meio azul. Ali, ficavam tocando a bola até encontrar alguém livre. Foi assim no primeiro gol. Foi uma falha do goleiro Rafael, mas é preciso destacar que o jogador americano teve muito tempo para ajeitar a bola e chutar com qualidade sem que ninguém chegasse.

Esta distância que havia entre os volantes e Montillo foi também o fator que mais emperrou o time celeste ofensivamente. Neste 4-3-1-2 losango (e também na maioria dos sistemas atuais) os volantes são, tipicamente, os responsáveis pelo primeiro toque, procurando jogadores para iniciar a construção da jogada. Diego Árias e Marcelo Oliveira tiveram um pouco de dificuldade, pois ficavam muito atrás, e ora conduziam a bola sem encontrar muitas opções, ora optavam por passes muito longos, na maioria das vezes sem sucesso. Tanto que o primeiro gol saiu numa jogada de Leandro Guerreiro que, ao roubar a bola, avançou – apesar de ser o primeiro homem do meio-campo – e achou WP um pouco mais recuado. O atacante centralizou, chamou a marcação e lançou uma bola curta para Montillo fazer uma diagonal do centro para a direita, que acabou resultando no pênalti. O que Guerreiro fez é o que se espera – tipicamente – de Árias e Oliveira.

Além disso, os laterais também não subiam muito: Diego Renan só foi aparecer no campo de ataque aos 25 minutos, e com isso o Cruzeiro não abria seu ataque. Quando o fazia, era por causa da movimentação de Montillo e dos próprios atacantes, que caíam pelas pontas. Mas com isso havia poucos alvos na área adversária, o que tornava os cruzamentos infrutíferos. Se não me engano, no primeiro tempo, nenhum cruzamento foi conectado. O segundo gol só aconteceu porque o Cruzeiro saiu de sua proposta e pressionou a saída de bola. A pressão resultou na jogada típica de Montillo, a condução rápida e o passe preciso. Ele achou WP na esquerda, que bateu bem na bola e venceu Neneca.

O segundo tempo veio com algumas alterações, mas nenhuma delas resultou em uma alteração significativa do desenho tático. À medida em que eram processadas as substituições, a equipe ficou um tanto difícil de enxergar, um pouco pela inexperiência do blogueiro, mas também pelo desentrosamento típico de início de temporada, o que tornou o time um pouco desorganizado. No fim, o mesmo 4-3-1-2 losango estava posto, mas com várias improvisações: Léo, zagueiro, foi para a lateral direita; Marcelo Oliveira, volante, foi para a esquerda; e Sebá, atacante de área, foi para o enganche. A diferença era que, desta vez, o time estava um pouco mais aberto. Do lado esquerdo, Oliveira e Everton combinavam com certa frequência e conseguiram produzir alguma coisa; do lado direito, Léo mal subia e Bobô e Amaral não combinavam tanto. Com um meia-armador improvisado como Sebá, o ataque ficou um pouco “torto”, e um pouco mais fácil de marcar.

A virada adversária veio principalmente por causa do cansaço. É preciso destacar a excelente jogada do atacante americano, que deu um toque curto de primeira e enganou o zagueiro Mateus, outro estreante, que mesmo tendo entrado no segundo tempo, não conseguiu acompanhar a velocidade de Adeílson. No terceiro foi Marcelo Oliveira – que juntamente com Leo e Leandro Guerreiro foram os únicos que jogaram os 90 minutos – que foi deixado pra trás, resultando no pênalti.

No geral, um bom jogo, mas ainda com muito a fazer. Individualmente, destaque para Leandro Guerreiro (que nem parece que estava de férias, pois estava com um tempo de bola excelente), Marcelo Oliveira (que participou bastante e ainda vai nos dar muitas alegrias) e, invariavelmente, Montillo (que enquanto esteve em campo, desempenhou um bom papel, sendo responsável direto, junto com WP, pelos dois gols). Lembrando que ainda temos peças a avaliar, como o atacante Walter e o lateral Marcos, portanto, lá vai a frase feita: é um time ainda em formação.

Será necessário também trabalhar muito este trio de volantes que, ao que tudo indica, serão os titulares de Vágner Mancini para o início do Estadual. Particularmente, eu preferiria uma formação que privilegiasse o estilo de jogo de Montillo, como um falso 9, driblador e vertical, e não como um meia-armador (ou enganche, ou trequartista), como foi hoje. Para o losango funcionar, o argentino deveria recuar um pouco mais, e os volantes pelos lados teriam que avançar um pouco mais, diminuindo a distância entre os setores, e jogar mais criativamente. Outra forma seria avançar mais as linhas, fazendo pressão na defesa e recuperando a posse o mais rápido possível (o Barcelona manda lembranças). No entanto, aparentemente é no losango que nós vamos.

Enfim, esperamos todos que, com três volantes, Vágner Mancini ache a direção certa.