Muito mais intenso do que nas outras partidas do ano, o Cruzeiro fez transparecer a diferença técnica entre ele e o time do Mineros e conseguiu uma vitória categórica. A surpreendente estratégia do time venezuelano de marcar no alto do campo atrapalhou no início, mas o Cruzeiro soube construir o placar rapidamente para lidar com isso com mais tranquilidade.
Tudo isso usando o mesmo esquema tático e praticamente os mesmos jogadores da derrota para o Tombense, inclusive no mesmo posicionamento referencial, com De Arrascaeta centralizado.
Esquemas de partida
Marcelo Oliveira insistiu no 4-2-3-1, com Damião à frente do central De Arrascaeta e Alisson e Willian pelos lados. No suporte, Henrique teve a volta de Willians, e a linha defensiva tinha Mayke e Mena pelas laterais, com Léo e Paulo André logo à frente do gol de Fábio.
O time venezuelano do técnico Marcos Mathias também veio a campo num 4-2-3-1. O gol de Romo foi protegido por Vallenilla na lateral direita, Matos e Machado na zaga e Cíchero na esquerda. Na entrada da área estavam os volantes López e Jiménez, e mais à frente estava Peña de ponteiro direito, Cabello pela esquerda e Blanco centralizado, atrás do centroavante Valoyes.
Um início diferente
O esperado era que o Mineros se fechasse em duas linhas e marcasse a partir do meio-campo, mas não foi isso o que aconteceu. Marcos Mathias mandou seus jogadores pressionarem a saída de bola com os zagueiros do Cruzeiro, forçando a quebra de bola. O Cruzeiro teve alguma dificuldade na transição para o campo de ataque, e em um momento Willian teve de entrar entre os zagueiros pra fazer a saída de 3 e sair da pressão dos dois avançados do Mineros, Blanco e Valoyes.
Porém, quando a bola chegava ao campo de ataque, o Cruzeiro finalmente teve a mobilidade e a intensidade que tanto cobrávamos, principalmente com De Arrascaeta, Alisson e Damião. O uruguaio aparecia dos dois lados, no centro e dentro da área; Alisson frequentemente centralizou no campo e até foi pro outro lado; e Damião saía da área constantemente pra ajudar na construção. Assim, aos poucos, o Cruzeiro foi apertando o Mineros contra sua própria área, com Henrique e Willians recuperando bolas já no campo de ataque e participando do reinício da fase ofensiva.
Dois golpes rápidos
O lance do primeiro gol tem tudo isso. Alisson na esquerda, De Arrascaeta na direita e Willian central, todos bem próximos. Willians recebe um passe de retorno e já passa a Alisson, que manda de letra para Mayke que estava passando para o apoio pela direita. O cruzamento foi bloqueado, mas Mayke disputou no ar e conseguiu mandar pra área, onde estava De Arrascaeta sozinho pra marcar um golaço de bicicleta.
Nem bem a torcida comemorava, o Cruzeiro já fazia o segundo. Mena vai cobrar um lateral e tem Alisson e Damião próximos e fora da área, o que puxou a marcação para o lado esquerdo. O outro zagueiro do Mineros não compactou lateralmente e um espaço se abriu entre os dois defensores, que Jiménez não cobriu. Foi justamente onde Damião colocou a bola para fuzilar no ângulo contrário de Romo.
Mesmo com a vantagem construída rapidamente, o Cruzeiro não diminuiu o ritmo. Continuou tendo a iniciativa do jogo, com a bola nos pés, tentando marcar o terceiro. Já o Mineros já não se arriscava tanto na pressão alta, talvez temendo uma goleada e mesmo assim, o Cruzeiro continuou tendo problemas na transição ofensiva, cedendo contra-ataques perigosos.
Intervalo
A sensação era que tinha sido o melhor primeiro tempo do Cruzeiro no ano, e não foi à toa que o time voltou dos vestiários sem nenhuma modificação. Já o Mineros voltou sem Vallenilla, que já havia recebido um amarelo que poderia ser muito bem um vermelho. O zagueiro Velásquez entrou no seu lugar e Matos foi para a lateral direita.
O Cruzeiro teve o mesmo onze, mas diminuiu o ritmo no ataque, tentando fazer uma saída de bola mais cautelosa e menos arriscada. Mas não deixou de se movimentar e aplicar intensidade na hora certa, como na jogada pela direita que envolveu Willian, Willians e Mayke. Aproximação, toques rápidos e Mayke aparecia na frente para dar uma meia-lua no zagueiro, mas infelizmente cruzar errado. Um pequeno lampejo do futebol de 2013/14.
Outras trocas
Vendo que nada ia mudar, Marcos Mathias trocou Peña pelo volante Acosta, que saiu sinalizando pra todo mundo. O time do Mineros mudou para um 4-1-4-1, com Jiménez atrás de uma linha formada por, Valoyes, Cabello, Acosta e López, com Blanco à frente. Parecia que ia funcionar, já que logo após a troca aconteceu uma das três únicas finalizações do Mineros na etapa final (a única certa). Mas logo o jogo assentou novamente e o Cruzeiro continuou com o controle total da partida.
Marcelo trocou Willians por Seymour, prevenindo uma possível expulsão já que o volante estava amarelado, e também Willian por Gabriel Xavier, fazendo a linha de 3 que muita gente pedia: Gabriel Xavier à direita, De Arrascaeta central e Alisson à esquerda. O esquema continuou sendo o 4-2-3-1.
Mal o chileno havia entrado em campo e o Cruzeiro fez o terceiro com Henrique cabeceando um escanteio — uma rara bola parada que funcionou este ano. A partida terminou de vez ali. O atacante Cabezas ainda entrou no lugar de Cabello, com López voltando ao centro do meio-campo e Blanco ocupando o flanco esquerdo, e no Cruzeiro, Alisson deu seu lugar a Joel, mas nada de mais interessante aconteceu na partida, exceção feita à caneta de Gabriel Xavier e ao chapéu de De Arrascaeta no finzinho que deveria ter terminado em gol.
Com intensidade, tudo dá
Quem acompanha esta coluna sabe que o diagnóstico detectado não era o sistema nem a posição de De Arrascaeta, mas sim a falta de mobilidade e intensidade na fase de organização ofensiva. Isso porque o Cruzeiro jogou só contra defesas bem fechadas quando era visitado no Mineirão, e para abrir espaços nessas defesas, é preciso se mexer.
Foi o que aconteceu na quarta. Os mesmos onze jogadores — com Willian na vaga de Judivan, no mesmo esquema tático e nos mesmos posicionamentos iniciais, fizeram um jogo bem diferente da derrota para o Tombense. De Arrascaeta e Alisson se mexiam bastante, Damião foi intenso como vem sendo sempre durante todo o ano. Além disso, a presença de Willians no meio contribuiu para a solidez do meio-campo e para a manutenção da bola no campo de ataque, importante para um time que quer se impor em casa.
Muitos podem argumentar que o Mineros é fraco, e por isso o Cruzeiro venceu com facilidade. É verdade, mas a “facilidade” (entre aspas porque nunca é realmente fácil) só aparece quando o time que é teoricamente superior joga perto do seu máximo. Aí a diferença no placar aparece. Foi 3×0, mas poderia ter sido mais se o Cruzeiro não tivesse desacelerado na segunda etapa.
Mais do que encaminhar a classificação, a vitória sobre o Mineros dá confiança. Que este jogo seja o marco zero da arrancada para o tricampeonato.