O Cruzeiro já não possui mais aproveitamento máximo de pontos no Mineirão. Sim, Claudinei Oliveira armou o Santos de forma a minar as principais saídas ofensivas do Cruzeiro, mas mesmo assim o Cruzeiro criou, principalmente no segundo tempo, mas esbarrou na própria ineficiência ao concluir.
Escalações
Sem o suspenso Everton Ribeiro, Marcelo Oliveira optou por Martinuccio em seu lugar pelo lado direito do 4-2-3-1. Assim, Fábio teve sua meta protegida por Dedé e Bruno Rodrigo, ladeados por Mayke na lateral direita e Egídio do outro lado. Nilton voltou a fazer a parceria com Souza à frente da área, dando suporte alternado a Martinuccio pela direita, Ricardo Goulart centralizado e Luan pela esquerda. Na frente, Vinicius Araújo era o centro-avante.
Claudinei Oliveira mostrou bastante respeito ao Cruzeiro. Armou o Santos num 4-3-1-2 losango, com uma compensação no ataque para segurar os laterais celestes. Aranha viu sua linha defensiva formada por Cicinho na direita, os veteranos Durval e Edu Dracena na zaga central e o chileno Mena pela esquerda. Plantado, Arouca tinha Alison à sua direita e Cícero à sua esquerda, liberando Montillo para circular no topo do losango e pensar o jogo para Henrique, pouco móvel mas caindo mais pela direita, e Neilton pela ponta esquerda.
Segurando os lados
O técnico santista certamente estudou a formação cruzeirense a fundo, porque seu plano de jogo consistia em segurar a principal saída ofensiva do Cruzeiro, que são os laterais. Seu plano era segurar Mayke com a presença de Neilton por ali, forçando o lateral direito a compor a zaga com Dedé e Bruno Rodrigo para garantir a sobra contra Henrique. Do outro lado, assim que Egídio recebia a bola, Arouca se deslocava para marcá-lo e Alison continuava compondo o meio-campo.
Deu meio certo, pois logo no início do jogo Arouca se lesionou e teve de ser substituído por Alan Santos, que não fez o mesmo movimento e ficava mais preso ao centro. Com Alison ainda junto ao meio-campo, provavelmente para fazer número e ter mais posse no setor, Egídio ficou completamente livre para avançar. Essa situação durou até quase metade do segundo tempo, o que ajuda a explicar porque o Cruzeiro atacou 38% do tempo pelo lado esquerdo.
Porém, chegar é uma coisa, e criar é outra. Claramente, o Cruzeiro sentiu a falta de Everton Ribeiro e seu estilo único de sair da direita para armar o jogo do centro — Martinuccio ficou muito preso à direita, setor no qual não é muito confortável, e foi facilmente marcado por Mena. Luan travava duelos épicos com Cicinho do outro lado, mas o lateral santista venceu quase todos. E Ricardo Goulart até tentava se aproximar de Vinicius, mas com pouco espaço para pensar, errava passes ou procurava a segurança dos volantes ou zagueiros. Assim, a bola chegava pouco a Vinicius Araújo.
Montillo
Além da compensação no posicionamento, o Santos ainda tinha como meta cadenciar o máximo possível, tirando a velocidade do jogo para minar a intensidade do Cruzeiro. Isso ficou evidente quando, numa bola roubada e em boa possibilidade de contra-ataque, Cícero optou por dominar a bola e procurar um companheiro próximo. Só quando a bola chegava em Montillo o jogo era acelerado — talvez pela característica do jogador, tão falada neste blog quando ele ainda jogava por aqui.
O argentino, aliás, fazia uma função que Michael Cox, do blog Zonal Marking, batizou de “ponteiro central“. Isto é, um jogador que tem todas as características de ponteiro — velocidade, drible, e bom passe — mas centralizado atrás do centroavante. Ou seja, sem a bola, Montillo ocupava o centro, fazendo pressão em um dos volantes cruzeirenses, e quando o Santos tinha a posse, ele procurava os flancos para receber a bola ali e dali procurar um melhor passe ou o drible.
Essa movimentação causou problemas para a marcação do Cruzeiro, que frequentemente tinha que deslocar Niltou ou Souza para evitar que o argentino causasse superioridade numérica contra os laterais celestes. Isso abria espaço no meio para a chegada de outros jogadores, mas Cícero não esteve em boa jornada e pouco ajudou. Além disso, a excelente fase de Dedé e Bruno Rodrigo conseguiu repelir a maioria das jogadas, sendo também ajudados por Mayke, muito mais preso à marcação do que indo pro apoio, como explicado.
Pé torto… de novo
Sem mudanças no intervalo, o Cruzeiro voltou mais avançado. Intensificou a marcação e forçou o Santos a jogar somente no contra-ataque, na contra mão do plano inicial de cadenciar a partida. Afinal, não existe jogo de transição ofensiva sem intensidade. Ciente de que dava espaços, Nilton e Souza começaram a avançar para tentar sobrepujar a marcação. Montillo era frequentemente visto à frente de sua própria área, empurrado pra trás pelo ímpeto ofensivo celeste.
E assim o Cruzeiro conseguiu criar um pouco mais. As finalizações agora eram mais frequentes. Mas um problema de duas partidas recentes apareceu novamente: o pé pouco calibrado. Ricardo Goulart foi quem teve as duas chances mais claras — uma em finalização de Vinicius Araújo que caiu no seu pé, e outra em passe de cabeça de Borges — e não as converteu.
Substituições
Marcelo Oliveira só mexeu nas características dos jogadores, preservando a formação. De uma só vez, lançou Élber e Borges nas vagas de Martinuccio e Vinicius Araújo. Já Claudinei Oliveira abriu mão de seu maior número no meio-campo para tentar parar a ameaça Egídio, colocando Leandrinho na vaga de Alison. O jogador foi ser ponteiro direito, postando o time visitante num 4-2-3-1.
De fato, Egídio não teve mais tanta liberdade para subir, mas o Cruzeiro compensou isso com grandes investidas dos volantes, alternando-se na aventura ao ataque. Tanto Nilton quanto Souza tiveram suas finalizações, contribuindo para que o jogo ficasse ainda mais ao feitio do Cruzeiro. A partir daí, foi praticamente ataque contra defesa — só o Cruzeiro finalizou, por oito vezes.
Depois, Lucca entrou na vaga de Luan, e no Santos, Thiago Ribeiro faria sua estreia justamente contra seu ex-time, no lugar de Neilton. Nada mudou nos sistemas, nem no jogo, nem no placar.
Líder não por acaso
Estava claro que o Santos veio ao Mineirão para não perder, e conseguiu seu objetivo. O esquema montado por Claudinei Oliveira também foi bastante eficiente nesse sentido. Anulando um dos lados e com vantagem numérica no meio, o Santos forçou o Cruzeiro mais previsível em suas ações, o que facilita a marcação.
De sua parte, o Cruzeiro sentiu a ausência de Everton Ribeiro, que dá qualidade no último passe, divide as atenções da marcação com Ricardo Goulart, dando espaço para este último render mais. Mesmo assim, o Cruzeiro mateve a excelente média e chutou a gol por 22 vezes. Mas apenas 6 foram no alvo — a ineficiência nas finalizações iria cobrar seu preço em algum momento, e foi neste jogo.
Mas a sorte anda ao lado dos competentes, e mesmo com os dois pontos perdidos, o Cruzeiro continuou líder. O próximo jogo, contra o Grêmio fora de casa, é considerado por este blogueiro o mais difícil do restante do turno, em que pese o momento do time gaúcho. Uma vitória será a prova definitiva de que este time pode sim chegar, e um alerta para todos os concorrentes, que, de certa maneira, ainda desconfiam deste Cruzeiro.
Pois o Cruzeiro os provará errados, e, como o Santos, eles hão de respeitá-lo.