Cruzeiro 0 x 2 São Paulo – No meio do caminho tinha um Muricy

Eis que a invencibilidade do Cruzeiro no Mineirão chegou ao fim. E o maior responsável foi o treinador do São Paulo, Muricy Ramalho. Uma verdadeira pedra no sapato cruzeirense.

Minimizar os erros e aproveitar ao máximo os do adversário é um dos pilares do famigerado Muricybol, estilo de jogo que veio à luz no tricampeonato do São Paulo de 2006 a 2008. Pois consciente da inferioridade técnica de sua equipe e jogando em campo desfavorável, Muricy aplicou este princípio muito bem ao armar o São Paulo para que não houvesse jogo algum, travando a movimentação celeste — principal trunfo do Cruzeiro até aqui. Com isso, o jogo se transformou em uma competição de quem errava menos e quem capitalizasse melhor as poucas oportunidades que apareceriam, e nesse quesito o São Paulo foi melhor.

Escretes

O sistema de coberturas do 3-4-1-2 de Muricy travou a movimentação dos três mais cruzeirenses: Goulart cercado e laterais pressionados pelos alas

O sistema de coberturas do 3-4-1-2 de Muricy travou a movimentação dos três mais cruzeirenses: Goulart cercado e laterais pressionados pelos alas

Marcelo Oliveira escalou o time atualmente considerado titular, desfalcado apenas de Dedé, na seleção, no já habitual 4-2-3-1. Fábio no gol, Ceará, Léo, Bruno Rodrigo e Egídio faziam a linha defensiva, Nilton e Lucas Silva na proteção e no suporte ao trio de meias, Everton Ribeiro da direita para o centro, Ricardo Goulart partindo do centro e Willian mais pela esquerda e mais agudo, se aproximando de Borges.

O São Paulo entrou num 3-4-1-2 com coberturas especiais para parar a fluidez celeste. Dênis era o goleiro e tinha em seu trio defensivo Paulo Miranda à direita, Rodrigo Caio no centro e Édson Silva à esquerda. Tudo para poder avançar os alas Douglas e Reinaldo para se alinharem aos volantes Wellington e Maicon — este último com mais liberdade para sair e se aproximar de Ganso na ligação. Na frente, Ademílson e Aloísio ficavam um de cada lado. Não havia centroavantes.

Encaixes

Os leitores mais assíduos do blog sabem que sempre menciono o problema que acontece quando trios defensivos encaram ataques com jogadores abertos, que aqui no blog chamo de ponteiros. Ou os alas têm que recuar para marcar os ponteiros — e com isso perdendo amplitude no ataque, cedendo espaços aos laterais adversários e ainda criando uma sobra dupla redundante na defesa — ou corre-se o risco de ficar no mano a mano.

Muricy optou pela segunda opção, pois ordenava constantemente seus alas a avançarem e baterem com Ceará e Egídio, travando o avanço pelos lados, deixando Rodrigo Caio com Borges e os zagueiros de lado fazendo a cobertura dos alas, deixando três contra três. Por isso a margem de erro do São Paulo era mínima, já que, ao ver o Cruzeiro se aproximar de sua área, um bote mal dado poderia gerar inferioridade numérica, o pesadelo de qualquer defesa. Mas com o setor central congestionado, com Goulart cercado pelo volantes e às vezes até por Ganso, a bola não chegava à frente com qualidade, fazendo com que a falta de um jogador na sobra da defesa fosse um problema menor.

Já na outra ponta do campo, Aloísio e Ademílson ficavam mais livres para pressionar Léo e Bruno Rodrigo, puxando Ganso para cercar o passe aos volantes, ou então eles mesmos marcarem Nilton e Lucas Silva, fazendo Ganso ficar próximo dos volantes e criando a compactação citada no parágrafo anterior.

Chama e vai

Diante da dificuldade, o Cruzeiro concedia a posse mais frequentemente que o normal e passou a tentar chamar o São Paulo para seu campo. Com a bola, Rodrigo Caio subia da da linha defensiva para junto de Wellington e confundia a marcação celeste. Num desses lances o volante-lateral avança sem ser incomodado, com Borges correndo atrás para tentar cercar, e chuta com perigo à meta de Fábio. Além disso, o São Paulo apoiava com os dois alas ao mesmo tempo, por vezes criando uma situação de quatro contra quatro na defesa celeste e obrigando um dos volantes a afundar, deixando Ganso no mano a mano com o outro volante.

Com dificuldade em reter a bola no ataque, o Cruzeiro acabava cedendo a posse e por isso o São Paulo foi a equipe com maior posse de bola no terço final do campo -- ou seja, da intermediária ofensiva para frente -- na rodada (Footstats)

Com dificuldade em reter a bola no ataque, o Cruzeiro acabava cedendo a posse e por isso o São Paulo foi a equipe com maior posse de bola no terço final do campo — ou seja, da intermediária ofensiva para frente — na rodada (Footstats)

Mesmo com dificuldades de reter a bola, o Cruzeiro conseguia se defender razoavelmente, passando a tentar explorar os contra-ataques em velocidade, talvez a única vulnerabilidade do sistema de Muricy. Porém, naquela noite os passes rápidos não estavam saindo com a mesma qualidade, e novamente a posse era perdida. Quando saiu uma jogada, foi o lance capital da partida: Éverton Ribeiro achou Goulart, que tabelou com Willian e bateu para ótima defesa de Dênis. No rebote, com o gol aberto e Dênis batido, Willian mandou na trave. O imponderável do futebol, uma espécie de Sobrenatural de Almeida às avessas entrou em campo e não queria que o Cruzeiro vencesse.

O jogo de xadrez

No início do segundo tempo o Cruzeiro foi pra cima e pressionou, sufocando o São Paulo com o time bem avançado. Foram cinco minutos em que só o Cruzeiro jogou. Mas depois disso o jogo voltou ao patamar do primeiro tempo, com cada treinador esperando o outro fazer o primeiro movimento. Como nenhum fez, os dois fizeram ao mesmo tempo: Marcelo Oliveira lançou Dagoberto, desta vez na vaga de Goulart — com isso, Ribeiro foi ser central e Dagoberto esquerda, com Willian invertendo de lado — e Muricy pôs Welliton na vaga de Aloísio, sem modificar seu sistema.

O jogo de xadrez continuou. Muricy viu que Dagoberto não voltava muito pra marcar e mandou seu ala apoiar ainda mais, dando dificuldades para Egídio. Marcelo respondeu lançando Mayke na vaga do camisa 6, invertendo Ceará de lado para reforçar a marcação. E foi justamente num lance de bote errado de Mayke em Maicon que o São Paulo abriu o placar. Note o efeito cascata nas coberturas por causa do erro: Léo, que devia estar em Welliton, saiu em Maicon. Bruno Rodrigo então saiu de Ademílson para marcar Welliton, e Ceará, por sua vez, saiu da esquerda para marcar Ademílson. A bola rodou e Douglas ficou sozinho do outro lado para finalizar.

Três minutos depois, o Cruzeiro errou mais uma vez. Méritos para Ganso, que não foi desarmado por três cruzeirenses que o cercavam na entrada da área. Na cobrança, novo erro de cobertura fez com que o rebote não fosse rebatido, e o São Paulo aumentou a vantagem. Com pouco tempo para fazer alguma coisa, Marcelo tentou Alisson na vaga de Lucas Silva, soltando de vez o Cruzeiro num 4-1-4-1/4-3-3. Muricy só fez mais uma troca, com Lucas Evangelista na vaga de Ganso, mas manteve o sistema que dava tão certo até ali e que, com o novo 4-1-4-1 celeste, ficou com a marcação ainda mais encaixada. Alisson até que se movimentou bem, causando certa confusão na marcação paulista, mas não foi suficiente para fazer Dênis trabalhar.

Acontece

Muricy mostrou porque é um grande técnico. Conseguiu descobrir um sistema que permitia maximizar as chances de parar o ataque celeste, arriscando ficar sem sobra na defesa para ter vantagem numérica no melhor setor cruzeirense, o meio ofensivo (defensivo para o São Paulo). Mesmo assim, não impediu o Cruzeiro de criar chances, que, se não foram muitas, foram perigosas. A bola de Willian na trave teria mudado o jogo completamente.

Mas não há o que lamentar. Talvez a oportunidade perdida de aumentar a vantagem de 11 para 14 pontos, já que o Grêmio conseguiu perder para o Criciúma em casa horas antes. A vantagem permaneceu a mesma, mas agora com menos jogos a serem cumpridos, o que na prática aumentou as chances celestes de título.

Na postagem passada o blog disse que o Cruzeiro poderia avançar em ritmo menor que os concorrentes que mesmo assim seria campeão. De fato, a vantagem de 11 pontos, faltando 11 partidas, nos permite fazer o seguinte raciocínio: se o Grêmio, o perseguidor mais próximo, fizer uma média de dois pontos por jogo — ou seja, um aproveitamento de 67%, que só o Cruzeiro tem no atual certame — ainda assim o Cruzeiro só precisaria fazer 1 ponto por jogo, o que daria um aproveitamento de 33%, o que seria o terceiro pior do campeonato. Mas as duas coisas me parece improváveis: nem o Grêmio dá sinais de que vai conseguir tudo isso, nem o Cruzeiro vai perder tanto gás assim até o fim do campeonato.

Assim, se não existe hora certa para perder, como disse Marcelo Oliveira na coletiva pós-jogo, não há dúvidas de que o revés, que cedo ou tarde aconteceria, veio no momento mais oportuno possível.

Seguimos olhando só para a frente.

Cruzeiro 0 x 4 Santos – O ocaso de Roth

A combinação de erros infantis com o imenso talento de Neymar resultaram em um hat-trick para o jovem santista e humilhação para o Cruzeiro em pleno Independência.

O estranho híbrido de 4-3-1-2 losango com 4-2-3-1 tendo Charles caindo pela direita e Sandro Silva se deslocando lateralmente, tudo por causa de Neymar

Ao contrário do que se esperava, Celso Roth não entrou com seu losango bem definido, mas com um híbrido entre este e um 4-2-3-1 torto, tudo para tentar parar Neymar. O pobre goleiro Fábio teve a linha defensiva formada por Ceará à direita, Rafael Donato e Mateus no miolo de zaga e Éverton pela esquerda. Leandro Guerreiro à frente da defesa, como de costume, mas tendo Sandro Silva perseguindo o camisa 11 santista e Charles com mais liberdade para se juntar ao ataque pelo lado direito. Montillo de ponta-de-lança, Martinuccio de ponteiro esquerdo, e Anselmo Ramon brigando com os zagueiros, na frente.

O Santos veio num esquema parecido. Rafael Cabral teve Bruno Rodrigo e Durval como dupla de zaga, flanqueados por Rafael Galhardo pela direita e Juan pela esquerda. Adriano ficava mais plantado, liberando Arouca e Henrique para se juntar ao trio Felipe Anderson no topo do losango, Neymar caindo mais pela esquerda mas com liberade de movimentação, e André centralizado.

A partida começou disputada e com a disputa no meio até certo ponto equilibrada, mas com os marcadores de Neymar falhando miseravelmente em suas missões. Sandro Silva, Rafael Donato, Mateus — todos, um a um, penaram para segurar a joia santista. Além de excelente driblador e finalizador, o jovem camisa 11 também consegue se posicionar de forma inteligente, enganando totalmente os volantes e zagueiros azuis.

O primeiro gol saiu de uma receita de bolo. Passo 1: pressione a zaga do Cruzeiro até um dos jogadores errar. Passo 2: Quando isso acontecer, você vai estar em uma posição de campo muito boa, bastando acrescentar qualidade para finalizar. E o Santos tinha isso em Neymar. Arouca passou como quis por Everton e achou o garoto dentro da área, que finalizou de primeira.

Para “desespero” de Celso Roth, o gol santista fez o Cruzeiro sair de sua cautela. Ao contrário dos últimos jogos, era Ceará o lateral que mais apoiava, e Éverton ficava mais preso, muito devido à presença de Felipe Anderson por ali. A “inversão” do comportamento dos laterais é surpreendente. Talvez a intenção de Celso fosse tentar explorar o espaço às costas de Neymar, que não ajuda na recomposição, fazendo dois contra um em Juan. Era Charles que ajudava por ali, e Montillo também caía por aquele lado. Porém, o jogo do Cruzeiro sob Celso Roth é cruzamento na área, sem qualquer alvo específico. Com Mateus, Donato e Anselmo Ramon na área, é bola alta pelos lados. Não existe jogada pelo chão.

Então veio o erro de Mateus em um ataque aparentemente dominado, culminando no segundo gol do Santos. A partir daí, foi um show de horrores, muito bem aproveitado pelo time visitante. Fábio evitou uma desvantagem maior ainda no primeiro tempo.

No intervalo, Celso tentou (?) colocar o Cruzeiro no jogo novamente, lançando Fabinho no lugar de Sandro Silva, que nada fez (nem marcar). O 4-2-3-1 era o que devia ter sido feito desde o início, mas com Ceará um pouco mais preso para tirar o espaço por onde Neymar joga. Porém, com dois gols de desvantagem, não havia alternativa senão atacar, e o Cruzeiro correu o risco. Ceará e Fabinho combinavam bastante pela direita, mas o resultado sempre era um cruzamento infrutífero.

E o risco de avançar apareceu no terceiro gol. Lateral cobrado com rapidez, Neymar com um toque bota a bola na frente e avança em velocidade. Não havia ninguém por ali para marcá-lo, e ele achou Felipe Anderson dentro da área, sem marcação nenhuma, para completar e matar o jogo.

No fim, Cruzeiro já sem forças, nem mesmo desesperado, apenas esperando acabar o jogo. Seria um 4-2-3-1 ou um 4-3-3? Não ficou claro

Jogo resolvido, o Santos se limitou a atacar no erro do Cruzeiro. E conseguia, porque o Cruzeiro errava demais. Celso Roth tirou Rafael Donato e lançou William Magrão na zaga — uma substitução técnica, não tática. Magrão não melhorou o combate. E pro fim, para a ira da torcida, sacou Martinuccio, um dos que mais lutava, para lançar Wellington Paulista dentro da área caindo pela direita, com Fabinho indo para o lado esquerdo. Substituição errada, mas coerente com a linha de pensamento do treinador: bola na área pra ver o que acontece. Não aconteceu nada.

Muricy só fez substituições para poupar seus jogadores, mantendo a mesma plataforma do início ao fim. E conseguiu até com facilidade segurar o frágil Cruzeiro, que vai caindo pelas tabelas. Celso Roth não vai continuar, e este jogo marcou, definitivamente, o fim de seu comando. Assim como o Cruzeiro, o treinador só vai cumprir tabela até o fim do campeonato.

Felizmente, o Cruzeiro só não tem chance real de descenso porque fez um bom início de campeonato, contra todos os prognósticos. Que não estavam tão errados, afinal.

Ponte Preta e Santos – A torcida contra o time

Muitos compromissos na última semana, o calendário quarta-e-domingo do Brasileirão e o fato deste blog não ser minha atividade principal (ainda, espero) foram determinantes para que três jogos se passassem sem análises táticas. Portanto, vou emendar duas numa só postagem, e deixo a partida contra o Bahia para mais tarde.

Cruzeiro 1 x 2 Ponte Preta

Dois fatores chamaram a atenção neste jogo. O primeiro é que, mesmo tendo todo o time à disposição e tendo todas as razões do mundo para manter o excelente 4-2-3-1 na vitória contra o Palmeiras, o técnico Celso Roth mexeu na formação. E não falo da alteração de Thiago Carvalho por Leo, na zaga, mas sim da inversão dos ponteiros: Montillo jogou pela direita e Wallyson pela esquerda.

A consequência foi que, com a escalação do ofensivo lateral Cicinho como ponteiro direito, Gilson Kleina prendeu Diego Renan na marcação e Wallyson ficou isolado à frente. Do outro lado, Ceará apoiava mais e Montillo recebia todos os passes, e o time ficou previsível, atacando apenas pela direita. Posicionar Montillo do lado esquerdo equilibraria o time, com opções de ataque por ambos os lados, ainda mais com a tendência que Wallyson tem de centralizar, arrastando o seu marcador e abrindo o corredor para Ceará.

Ironicamente, foi do lado esquerdo o gol da Ponte. Cicinho, invertido pelo lado esquerdo do ataque, recebeu uma bola rápida e profunda, originada de um passe errado – o maior defeito da equipe até aqui nesse campeonato. Fábio nada pôde fazer, mas o Cruzeiro empataria ainda no primeiro tempo, quando Montillo fez uma jogada pelo lado esquerdo de lado – eu já dizia – cruzando para Borges completar. Era o retrato da inversão tática.

O argentino nem teve tempo de desfrutar de vez do lado esquerdo na volta do intervalo. Numa falta sem nenhuma pretensão, Marcinho cobrou para a área, mas a bola enganou Fábio e entrou direto. Atrás no placar, o Cruzeiro ficou ansioso e errou ainda mais passes. A derrota ilustrou o momento psicológico instável da equipe.

Mas a pior atuação neste jogo foi… da torcida. Vaiou Charles ainda no primeiro tempo, com poucos minutos de jogo, devido a um ou dois passes errados que o volante deu. Jogou contra, afetou o jogador, e por extensão todo o resto do time. E isso teria consequências para além daquele jogo…

Santos 4 x 2 Cruzeiro

Celso Roth manteve o 4-2-3-1, mas trocou Charles por Sandro Silva. Ele havia dito no início da partida que era por questões táticas, para liberar o apoio dos dois laterais ao mesmo tempo. Porém, questionado por jornalistas no fim do jogo, Roth acabou dizendo que as vaias contra Charles foram também uma razão para não escalá-lo logo de cara.

Pois o que aconteceu no jogo foi que Muricy Ramalho bloqueou os flancos num 4-4-2 que passava por 4-2-3-1 e chegava a um 4-2-4 com uma movimentação interessantíssima do quarteto ofensivo de garotos, comandados de trás por Arouca. Este, aliás, foi senhor do meio-campo no jogo, já que com a saída pelos laterais bloqueada, o Cruzeiro era forçado a ir por dentro, mas tinha escalado dois volantes marcadores: Guerreiro e Sandro Silva. Ficou a cargo último deste tentar fazer o primeiro passe, mas ele não era o jogador certo para a função, mas Arouca é. O volante adversário explorou muito bem os espaços proporcionados pelo divórcio do time: 5 defensores e 5 atacantes, ou 6 defensores e 4 atacantes quando Sandro Silva ficava plantado.

Com o meio-campo vazio e uma distância enorme entre os setores, todas os rebotes eram do time santista, ofensivos e defensivos. Com isso, o time da casa chegava com muita facilidade perto da área celeste. A tranquilidade e o espaço que Felipe Anderson teve para armar o chute de fora da área no primeiro gol ilustram isto. O Cruzeiro empataria em lance de oportunismo de Borges.

Percebendo o erro, Celso mandou Charles a campo no segundo tempo e o Cruzeiro até melhorou, dominando a posse de bola. Era óbvio, pois agora o Cruzeiro tinha gente para quem passar a bola por ali. Foi Charles quem sofreu a falta cobrada por Ceará para novo empate. Mas os erros táticos eram muitos, e a igualdade não duraria muito: ninguém espanou a bola em cobrança de falta na área do Cruzeiro, e ela ficou rondando a meta de Fábio até que Durval, um zagueiro, completou. Novamente atrás no placar, novamente a ansiedade bateu, e, no fim, desesperado por um improvável terceiro empate, um drible errado no meio-campo deu um contra-ataque fácil para os rápidos atacantes adversários, e o jogo terminou no quarto gol.

Conclusões

Confesso que ainda tenho muito para viver, mas nunca havia visto a torcida ter uma influência tão negativa em um time como nessas partidas. As vaias para Charles tiveram consequências diretas na atitude e até na escalação da equipe. Arrisco dizer que, caso Charles fosse escalado desde o início contra o Santos, teríamos melhor sorte.

Listo aqui os três maiores defeitos do Cruzeiro até aqui, pela ordem de importância. Primeiro, a ansiedade e o descontrole emocional. O Cruzeiro joga bem quando sai na frente do marcador, mas quando tem de correr atrás, ainda precisa controlar seus nervos. A estatística prova: exceção feita ao jogo contra o Botafogo no início do campeonato, o Cruzeiro perdeu todos os jogos em que levou o primeiro gol e venceu todos nos quais fez o primeiro gol. Viradas em jogos do Cruzeiro são improváveis.

Segundo, o número absurdo de passes errados, principalmente em momentos chave, como na transição defesa-ataque. Ao recuperar a bola, todo o time já se posiciona para abrir as linhas de passes, desconfigurando momentaneamente a estrutura defensiva, que seria recomposta com a perda da posse ou a conclusão da jogada no gol adversário. Perder a bola rapidamente, ainda em seu campo, significa dar ao adversário a chance de explorar esses espaços criados, e os adversários tem feito isso sistematicamente.

E terceiro, Celso Roth tem experimentado demais. Após o jogo contra o Palmeiras, o treinador disse que tinha encontrado uma maneira de jogar para a equipe, com o 4-2-3-1 e Montillo como ponteiro, Tinga por dentro e Wallyson do outro lado, atrás de Borges. Não durou nem dois jogos, visto que contra o Bahia — cuja reprise ainda não assisti — aparentemente o losango no meio voltou, com dois centro-avantes. O rodízio intenso é prejudicial. Entendo a política de tirar do time jogadores que não tiveram boas atuações técnicas em seus jogos, mas é preciso equilibrar isso com insistência tática. Era preciso insistir com Leo e Victorino na zaga, por exemplo. Ou com Charles no meio-campo, ou ainda colocar Wallyson mais uma vez ao lado de Tinga e Montillo na linha de três. Talvez dar uma chance a Souza, um passador nato e apropriado para jogar centralizado, no lugar de Tinga. Até mesmo recuar este último, sacando Guerreiro para termos uma volância marcadora, como deve ser, mas ao mesmo tempo com técnica, com Charles e Tinga.

Entretanto, apesar dos pesares e aos trancos e barrancos, estamos neste momento em sexto lugar. Nada mal para quem está oscilando tanto. Sinal de que os resultados, se não vêm em abundância ou em sequência, estão sendo suficientes para não fazermos uma campanha tão sofrível quanto no ano passado. Mas é preciso insistir em uma formação, pois, a longo prazo, aí sim teremos sequências interessantes, pois elas só vem assim.