O Cruzeiro tem o melhor elenco do Brasil. Uma frase que é unanimidade entre os analistas, e até entre torcedores de outros times. Mas nem mesmo o melhor elenco do Brasil teve reposição à altura quando todos os jogadores de uma mesma posição não estão aptos.
Ricardo Goulart, o titular, está no DM. Seu reserva imediato, Júlio Baptista, também. Éverton Ribeiro, que também sabe jogar na posição, está na China com a Seleção. Até mesmo Tinga, se recuperando de uma fratura, seria uma opção. A solução foi improvisar – em termos.
Onzes iniciais
Como Marcelo Oliveira não tinha opções de meia central, optou por Marlone para a função. Com isso, o Cruzeiro foi a campo com Fábio no gol, Mayke e Egídio nas laterais, e Manoel e Léo no miolo de zaga. Lucas Silva e Henrique fizeram a parceria usual na volância, e fazendo companhia a Marlone estavam Marquinhos à direita e Willian à esquerda. Moreno ficou na referência.
Mano Menezes escolheu o mesmo 4-2-3-1. Protegendo a meta de Cássio, Fagner fechava o lado direito, Felipe e Anderson Martins fizeram a zaga e Fábio Santos ficou do lado esquerdo. Bruno Henrique e Guilherme Andrade fizeram a proteção atrás do trio formado por Malcom à direita, Renato Augusto centralizado e Petros à esquerda. Solitário à frente, Mano optou por Romero.
Um começo promissor
O Cruzeiro começou o jogo dando pinta de que não sentiria a falta dos selecionáveis e lesionados, chegando principalmente pelos lados do campo. Na direita, Petros marcava o avanço de Mayke quando a jogada era no setor, mas se fosse na esquerda, ele se juntava a Renato Augusto no centro. Assim, quando a bola chegava em Lucas Silva, ele tinha espaço para inverter a jogada e achar Mayke livre e com espaço para avançar. Ele e Marquinhos combinaram bem por ali para criar algumas boas jogadas.
Já no outro flanco, Malcom foi orientado a não voltar com Egídio, numa tentativa de usar de sua velocidade quando o Corinthians recuperasse a bola. A estratégia se revelou quando, após uma falta, a transmissão da TV fechou em uma imagem de Renato Augusto, que fez um claro sinal para Malcom com a mão, como quem diz: “vai, corre”. Era a ideia de Mano, igual à de todos os outros times que enfrentam o Cruzeiro no Mineirão.
Corinthians equilibra
Porém, Egídio fez várias vezes dois contra um junto com Willian em cima de Fagner, fazendo o Cruzeiro ter grande volume por ali. Mano ficou preocupado e a todo momento dava orientações para que seu time se organizasse defensivamente, sendo que uma dessas instruções foi pedir a Malcom que voltasse com Egídio. O Corinthians perdeu a jogada óbvia de velocidade, mas equilibrou seu lado direito.
Com isso, o Cruzeiro passou a ficar sem opções. Marlone até que se movimentou no início do jogo, assim como Willian e Marquinhos, que por vezes invertiam o lado, mas não foi suficiente para sair da marcação por zona disciplinada do time paulista. Lucas e Henrique tinha dificuldades em achar alvos para bons passes e acabavam por forçar alguns, elevando os erros.
A partir daí, o jogo ficou equilibrado, entre as duas intermediárias, pois o Cruzeiro também não dava chances. Os únicos momentos de maior tensão foram nos erros do próprio Cruzeiro, em passes displicentes ou desnecessariamente enfeitadas, como a letra de Marlone que gerou um contra-ataque desperdiçado por Malcom. Parecia ser um aviso do que estaria por vir.
Trocas por opção, ou não
No intervalo, Marcelo queria aumentar a intensidade na frente, e para isso ele tinha o jogador certo: Alisson. O garoto entrou no jogo, mas não na vaga de Marlone como a torcida esperava, e sim na de Willian — o que é natural, já que Alisson é muito mais ponteiro do que meia central. Mas nem bem começou o segundo tempo e Marcelo foi obrigado a queimar a segunda troca, pois Egídio sofreu pancada nas costas e não conseguiu prosseguir. Ceará foi improvisado do lado esquerdo.
Alisson até deu mais intensidade como esperado, mas o jogo seguiu equilibrado, sem chances claras de parte a parte. A estratégia do Corinthians ia dando certo, mas Mano quis timidamente arriscar um pouco mais, lançando Luciano na vaga de Romero, mantendo o 4-2-3-1. Sem opções, Marcelo tentou um movimento novo, mandando Dagoberto a campo na vaga de Marlone. O atacante foi jogar na direita do ataque, com Marquinhos invertendo o lado e Alisson centralizando.
Desorganização e erro
A alteração não funcionou bem, como o próprio Marcelo admitiu na coletiva pós-jogo. Nas palavras dele, o time “ficou um pouco desorganizado”. Isso porque Alisson tende naturalmente a cair pelas pontas, mas era acompanhado pelos volantes. Na teoria, isso abriria espaço para Lucas e Henrique avançarem, mas Renato Augusto e o próprio Luciano fechavam nos volantes celestes e, ao contrário do primeiro tempo, não os deixavam jogar. O resultado era um espaço vazio no meio-campo central, perto da área corintiana.
Com o Cruzeiro sem inspiração e totalmente neutralizado, bastou ao Corinthians aproveitar só um dos muitos erros de passe cometidos. Henrique sofreu pressão dos volantes paulistas, e Lucas Silva apareceu pra salvá-lo. Mas Henrique tentou dar um passe de letra que foi interceptado por Petros. O avanço do adversário não foi contido, e Luciano achou um espaço do lado direito para passar por Léo – que nitidamente evitou o pênalti ao recolher a perna – e bater no canto oposto de Fábio.
Fim de jogo
Já não havia muito mais o que fazer, pois o Corinthians já controlava o jogo com o placar em branco. Com a vantagem, concentrou toda a sua atenção em conter o Cruzeiro. Conseguiu na maior parte do tempo, só levando perigo no chute cruzado de Moreno que Cássio mandou a escanteio com a ponta dos dedos, e nos acréscimos, quando Dagoberto cabeceou pra fora totalmente livre na pequena área.
Mano ainda colocaria Danilo na vaga de Bruno Henrique, aberto pelo lado direito, nitidamente para segurar a posse de bola. Com isso, Petros recuou para a volância e Malcom inverteu de lado. E no fim, trocou Guilherme Andrade por Ferrugem, que nem teve trabalho.
Opções (ou a falta delas)
Ficou claro que o Cruzeiro teve dificuldades ofensivas por não ter um meia central típico. As ausências de Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart, por si só, não seriam um problema grande, se o Cruzeiro ainda tivesse Júlio Baptista ou Tinga disponíveis. Portanto, coube a Marlone a tarefa de ser este jogador. Ele já vinha sendo preparado por Marcelo Oliveira para jogar assim em alguns jogos anteriores, mas ontem não teve uma boa atuação.
Dessa forma, o mais coerente seria sacá-lo do time para a partida contra o Flamengo. Mas Marcelo literalmente não tem alternativas se quiser manter o 4-2-3-1. Se houvesse mais tempo para treinar, Alisson poderia ser o meia central, fazendo a função com uma característica ligeiramente diferente. Mas como não há, isso seria reproduzir a desorganização que o time demonstrou no final do jogo.
Outra opção seria lançar Nilton e abdicar da função, efetivamente mudando para um 4-1-4-1, com Henrique e Lucas na dupla função de marcar e passar. O Cruzeiro já jogou assim antes, mas sempre no fim dos jogos e quando já estava em vantagem no placar. Iniciar uma partida nessa formação seria muito arriscado, pois mexe na estrutura do time.
Marlone, Alisson ou Nilton? Pois é. Às vezes, até a vida do treinador do melhor time é difícil.