Com algum atraso, eis as notas táticas da difícil partida contra o Bahia no Mineirão. Depois de um primeiro tempo sem intensidade ofensiva e com problemas na marcação pela direita, o Cruzeiro reagiu já no início da segunda etapa, mesmo antes da expulsão. É verdade que o pênalti e o cartão vermelho diminuíram a dificuldade da virada, mas ninguém pode dizer que o Cruzeiro não venceria mesmo se esses lances não tivesse acontecido.
No fim, o time celeste ainda correu um risco desnecessário ao acelerar demais a partida mesmo tendo um homem a mais — a cadência, para proteger a bola e não dar chances a contras, seria o mais indicado. Felizmente, o Bahia não conseguiu sequer chutar a gol nesses momentos.
Escretes iniciais
Com a volta dos selecionáveis, Marcelo Oliveira tinha todos os jogadores à disposição, exceto os dois laterais esquerdos e o suspenso Dedé. Assim, seu 4-2-3-1 teve Ceará pela esquerda na linha defensiva, com Manoel e Léo no miolo e Mayke à direita, protegendo o gol de Fábio. Henrique e Lucas Silva reeditaram a parceria titular na proteção, atrás de Éverton Ribeiro na ponta direita, Ricardo Goulart por dentro e Marquinhos pela esquerda, todos procurando o centroavante Marcelo Moreno.
Já o Bahia do técnico Gilson Kleina tinha três atacantes na formação, mas se postava em um 4-1-4-1 sem a bola. Do gol, Marcelo Lomba viu Lucas Fonseca e Titi ficarem na zaga central, com Railan fechando pela direita e Guilherme Santos pelo outro lado. Fahel ficou à frente da zaga, entre as duas linhas de quatro. Rafinha protegia o lado direito, Léo Gago e Rafael Miranda ficavam mais centralizados e Rhayner ocupava a ponta esquerda. Solitário à frente ficava Maxi Biancucchi.
O setor direito
O Cruzeiro iniciou o jogo já tentando se impor, como sempre faz quando joga no Mineirão. Com o meio lotado por três volantes, o caminho natural era procurar os lados. Na esquerda, não só por estar improvisado mas também por fazer melhor a composição da linha, Ceará não avançava muito, tendo o bloqueio de Rafinha à sua frente. Mas do lado direito, Mayke foi ao fundo com bastante ousadia. Naturalmente, o Cruzeiro procurou o jogo por aquele setor, com Éverton e Goulart se achando por ali mas esbarrando na bem postada defesa baiana.
O problema, porém, era que Mayke deixou muitos espaços às suas costas. Por vezes, a formação celeste parecia ter três zagueiros, pois Mayke ficava muito avançado e Manoel acabava abrindo para fazer a cobertura. Não por acaso, foi por esse setor que o Bahia criou suas poucas chances no primeiro tempo: numa delas, a bola cruzou a extensão da área e sobrou para Rafael Mirando completar do outro lado e abrir o placar.
Com a bola
Quando perdia a bola, a estratégia do Bahia era de pressionar alto para tirar a saída veloz do Cruzeiro, e assim que o time fosse recomposto no 4-1-4-1, recuar as linhas e esperar. Em outras palavras, tirar a velocidade do jogo, cadenciar o ritmo do adversário. Cabia ao Cruzeiro acelerar a transição para pegar a defesa do Bahia desarrumada, mas não foi isso que o time celeste fez. Entrou na estratégia do time visitante e cadenciou. Recomposta, a defesa do Bahia não dava espaços e fez um bom primeiro tempo.
As duas bolas na trave no primeiro tempo parecem contradizer o descrito no parágrafo acima, mas o cabeceio de Manoel e o tirambaço de Lucas Silva foram lances de bola parada. Só no final do primeiro tempo o Cruzeiro aceleraria o suficiente para um contra que Marcelo Moreno chutou pra fora.
Segundo tempo
Marcelo Oliveira trocou Marquinhos por Alisson, numa tentativa de dar a intensidade que o Cruzeiro precisava com a bola. E deu muito certo. Nos primeiros minutos, o Bahia mal tocou na bola até o pênalti bem discutível cometido por Guilherme Santos em Goulart. Por reclamação exagerada, Titi levou dois amarelos no mesmo lance e foi expulso. Éverton converteu e igualou o marcador.
Com 11 contra 10, pareceria um jogo mais fácil, mas não foi. Gilson Kleina simplesmente recuou Fahel para a zaga e recompôs o time num 4-4-1, refazendo as duas linhas de quatro. O Cruzeiro continuou em cima, mas tinha dificuldade de dar o passe final. Marcelo, então, fez a sua variação tática mais comum nessa situação: tirou Henrique e lançou Dagoberto, recuando Éverton para armar de trás e chegar, e ao mesmo tempo avançando Ricardo Goulart para bem próximo de Moreno. Sem a bola, o 4-2-3-1 com Éverton como segundo volante, e atacando, um 4-1-3-2 com dois jogadores abertos e dois na área.
O efeito foi rápido. Entre a troca e o gol da virada, houve um espaço de 9 minutos em que Moreno e Goulart chutaram contra o gol de Marcelo Lomba nada menos do que 7 vezes. Uma delas foi o gol, com assistência de Moreno fazendo o pivô.
Gilson Kleina reagiu imediatamente e fez as três trocas quase sem sequência. Os três dianteiros deram seus lugares a Branquinho, William Barbio e Alessandro. Mas não houve alteração tática, eram apenas pernas mais descansadas para usar velocidade nos contras. Mas com dez homens é mais difícil, pois após os ataques celestes repelidos, a bola sempre acabava sobrando nos pés cruzeirenses — uma consequência natural de se ter um homem a mais.
Com a vantagem no placar, Marcelo reequilibrou o time, sacando Goulart para poupá-lo de levar o terceiro amarelo e ficar fora do jogo contra o São Paulo, e lançando Nilton. Com isso, Éverton Ribeiro voltou a ser o meia central.
Vice-versa
Se no primeiro tempo o Cruzeiro precisava acelerar para encontrar os espaços na defesa baiana antes que fossem preenchidos, após a virada e com vantagem numérica em campo, o Cruzeiro precisava fazer o contrário: cadenciar, para reter a posse de bola e também para encontrar os espaços que certamente se abririam no sistema defensivo do Bahia com um homem a menos.
Entretanto, o Cruzeiro fez o contrário: acelerou. Mal recuperava a bola e já partia para o ataque, às vezes tentando um passe mais arriscado e concedendo a posse de bola, sem necessidade. Isso deu ao jogo um certo ar de dramaticidade para este que vos fala, pois o jogo não estava decidido ainda. Felizmente, o Bahia não conseguiu chutar a gol, mas o Cruzeiro correu um risco desnecessário ao tentar marcar o terceiro de maneira afobada. Tanto é que após o gol, o Cruzeiro ainda chutou mais onze vezes, completando 31 finalizações no total — recorde do campeonato.
Perspectivas para domingo
Agora, é o duelo contra o São Paulo no Morumbi, o jogo que certamente será o mais difícil até aqui. O time paulista tem jogado bem, mas não tão bem quanto a mídia paulista — obviamente — quer fazer parecer. Os comandados de Muricy sofreram no jogo contra o Botafogo: o time carioca tinha uma defesa frágil e sofreu três gols, mas mesmo assim marcou dois gols e Wallyson ainda teve duas chances cara a cara com Rogério Ceni e perdeu. O São Paulo só deslanchou após a expulsão infantil de Aílton, pisando na cabeça de Pato.
Já o Cruzeiro teve este problema defensivo com Mayke, que tem que ser corrigido, e ainda teve pouca velocidade ofensiva para superar a forte marcação baiana. Mas no segundo tempo, já era bem superior até mesmo antes do pênalti e da expulsão de Titi. É até seguro dizer que, mesmo sem o cartão vermelho para o zagueiro do Bahia, provavelmente o Cruzeiro teria conseguido a virada.
O duelo de domingo, no entanto, se desenha diferente. O São Paulo vai atacar, e com a posse de bola, como é sua característica. Ganso e Kaká vão cadenciar e tentar encontrar Kardec e Pato. O Cruzeiro pode ser ver defendendo mais do que o normal. Mas o time paulista também vai deixar espaços que o Bahia não deixou, exatamente por se lançar à frente. E diferente de seu rival, o Cruzeiro não tem o estilo de tocar a bola e ter muita posse — é bem mais vertical e veloz. Portanto essa é uma característica quase certa do jogo: São Paulo com a bola, e Cruzeiro agudo e eficiente.
Não considero “final antecipada”, pois em finais o vencedor normalmente sai campeão. Não é o caso aqui — nem mesmo se for uma vitória azul. É só um bom jogo.
“Pouca velocidade ofensiva”, “primeiro tempo sem intensidade ofensiva”.
Óbviamente isso foi fruto da decisão errada do Marcelo Oliveira em escalar os selecionáveis. Completamente desnecessários, teria sido melhor poupá-los no banco e acioná-los em necessidade, no 2º tempo.
Até a entrada de Dagoberto, o Cruzeiro jogava mal, muito afoito, rifava bolas na área, tentava poucas tabelas. Me lembrou muito a partida de ida contra o Cerro Porteño, quando também desgastado (pela seqüência de jogos, finais do Mineiro e da fase grupos da Libertadores), o Cruzeiro sofreu um gol bobo e suou sangue para empatar. Seria ainda mais sofrido sem o pênalti e a expulsão.
O time não pode se apoiar na boa fase de Mayke e tentar tudo pela direita. A virtue vira vício, passa a ser marcada e o time sofre. O boa notícia foi Goulart: buscou mais o jogo, trabalhou mais no meio de campo.
O Mayke teve problemas defensivos, por exemplo, todas as divididas de cabeça com o atacante do Bahia que caia na lateral direita celeste, o atacante baiano levou a melhor. O Cruzeiro não fez uma partida brilhante, mas jogou para o gasto. O Bahia entrou muito bem postado, o que dificulta muito o jogo. Gostei muito do Manoel e do Alisson. Os atacante devem acertar a pontaria.
Avante Cruzeiro!