O título deste artigo teria sido “o medo de perder tira a vontade de ganhar”, pois sintetiza bem as escolhas táticas de Celso Roth, nesta que foi a última partida do Cruzeiro no Olímpico. Seria, se o blogueiro PC Almeida não tivesse usado o mesmo título em sua crônica pós-jogo — o que indica o quanto foi óbvia a falta de coragem. Portanto, resolvi mudar o título para que refletisse o aspecto tático principal da partida.
Celso Roth finalmente conseguiu repetir a escalação inicial do último jogo, o que, ironicamente, neste caso não era o ideal. Fábio viu Léo e Thiago Carvalho formarem a defesa, auxiliados por Ceará à direita e Everton à esquerda. Leandro Guerreiro novamente posicionado na base do losango de meio-campo, com Diego Árias e Marcelo Oliveira como carrilleros (como são chamados os lados do losango na Argentina) segurando a barra defensiva para Montillo, que novamente caía pelos lados e tinha poucas atribuições defensivas. Na frente, Borges e Anselmo Ramon permaneciam como duas referências na frente.
Luxemburgo, o suposto autor da frase citada, armou o Grêmio como esperado no 4-4-2 britânico que variava para um quadrado (4-2-2-2) no meio com a posse da bola. A linha defensiva de Marcelo Grohe era composta, da direita para a esquerda, pelo lateral Pará, os zagueiros Werley e Naldo (ele mesmo) e pelo lateral Anderson Pico. Outra linha de quatro à frente, com os meias centrais Souza e Marco Antônio flanqueados por Elano à direita e Zé Roberto pela esquerda. Os dois centralizavam para pensar o jogo quando o Grêmio tinha a bola. À frente, Kléber se movimentava mais e André Lima ficava mais encaixotado entre os zagueiros celestes.
Times estreitos
Ambos os times tinham dois atacantes de fato, impondo a necessidade de prender um lateral com os zagueiros para garantir a sobra. Assim, os laterais só subiam na boa e alternadamente, para não prejudicar a marcação e deixar os zagueiros no mano-a-mano. A consequência direta era que haviam duas avenidas pelos lados do campo, com as equipes estreitas demais, sem amplitude. De certa forma, isso acabou favorecendo o Cruzeiro, fazendo com que o jogo passasse sempre pelo meio, facilitando a marcação.
O mesmo valia para o Grêmio, porém, e assim o Cruzeiro só foi concluir pela primeira vez aos 13, quando os gaúchos já haviam testado Fábio algumas vezes. Mas como o futebol é o futebol, foi o Cruzeiro quem marcou, na sua segunda finalização. Anselmo Ramon, bem aberto pela esquerda, conseguiu se livrar da marcação mais na raça e no corpo do que na habilidade, e mandou uma bomba dali mesmo. Marcelo Grohe foi atrapalhado pelas tentativas sem sucesso de desvio de Montillo e Borges, e a bola entrou.
O placar vantajoso fez o Cruzeiro ficar ainda mais conservador em campo, aceitando e repelindo as tentativas do Grêmio de empate. Postura típica de um time sem confiança, quando o correto seria tentar ampliar. No fim das contas, quem salvou mesmo a vitória parcial foi Fábio, com duas defesas espetaculares, à queima-roupa. Era um prenúncio do que seria a etapa final.
Vontade de ganhar
Estava claro que, com todo o espaço pelos flancos, quem explorasse estes setores primeiro iria se dar bem. Satisfeito com a retranca que armou, Celso Roth não fez substituições. Já Luxemburgo enxergou o problema e tirou Zé Roberto, poupado, lançando Leandro, que foi jogar aberto pela esquerda do ataque. Além disso, Luxemburgo deu sinal verde a seus laterais, que passaram a apoiar com muito mais ímpeto. Para evitar ser pego nos contragolpes, o treinador gremista ainda pediu a seus meias centrais que pressionassem a segunda bola — o rebote da zaga — para recuperar a bola o mais rápido possível ou para que os volantes do Cruzeiro não tivessem tempo para pensar, “rifando” o passe.
O plano foi executado com perfeição e o Cruzeiro sofreu uma pressão terrível. Os laterais ficavam no 2 contra 1 constantemente, já que Kléber saía da área e ajudava Pará do lado direito, enquanto Leandro e Anderson Pico sobrepujavam a marcação de Ceará. O Cruzeiro era atacado por todos os lados e repelia o que podia, mas sem dar sequência a suas posses, e assim foi até sofrer o gol de empate, em lançamento recebido por Marcelo Moreno, que havia entrado no lugar do estático André Lima, numa linha de impedimento mal feita da zaga cruzeirense.
Medo de perder
O contra-remédio era simples. Bastava tirar um dos atacantes, lançando um ponteiro veloz (como Élber ou Martinuccio, por exemplo) e abrir um dos volantes pelo outro lado. O novo 4-2-3-1 daria amplitude de ataque e seguraria os laterais gremistas em seu campo, diminuindo a pressão. Entretanto, Celso Roth preferiu tentar manter o empate do que correr atrás da possível vitória, e lançou Souza e Mateus nos lugares de Diego Árias e Borges. A princípio, pensei se tratar de um 3-4-1-2 que avançaria Diego Renan e Everton ao meio-campo, o que de fato o que aconteceu, mas em outro sistema. Leandro Guerreiro afundou entre os zagueiros, Léo foi para a lateral direita e Mateus foi parar na esquerda. Diego Renan e Éverton flanqueavam Marcelo Oliveira e Souza, com Montillo de segundo atacante e Anselmo Ramon na frente. Sim, era um 4-4-2 inglês, mas marcando em linha baixa, ultra-recuado, armado para contra-atacar usando Anselmo de pivô e a velocidade de Montillo.
O plano furou na primeira jogada. Marcelo Moreno ganhou na raça de seu marcador e deu um passe fraquinho para Leandro — desta vez na direita, invertido com Kléber. A bola passou devagar à frente de Mateus, mas o zagueiro-lateral-esquerdo errou o bote e proporcionou uma jogada em velocidade por aquele lado, resultando num cruzamento que Fábio desviou mas que Marquinhos completou no rebote, totalmente sem marcação.
Virada consolidada, o Grêmio tirou o pé, e só aí o Cruzeiro foi à frente. Mesmo com um sistema desfavorável, já que Mateus tentava dar uma de lateral ofensivo pela esquerda, algumas chances até apareceram, mas as finalizações e os últimos passes novamente deixaram a desejar, e o Cruzeiro completou sete partidas longe do triunfo.
Criatividade e filosofia
Este blogueiro não está no dia-a-dia da Toca II para tirar qualquer conclusão mais profunda, portanto falo baseado no que vejo nos jogos. E a impressão que tenho é que, infelizmente, Celso Roth não é um técnico inventivo — não no sentido de improvisar, mas no sentido de saber ler o jogo, ler o adversário e fazer uma substituição mais cirúrgica, sem recorrer a fórmulas prontas. Além disso, é um treinador que tem uma filosofia de futebol que não é compatível com a linhagem histórica da camisa celeste. O futebol vistoso e ofensivo é o tipo de jogo que a torcida está acostumada a ver. A posição do rival influencia na pressão, mas acredito que a irritação do torcedor vai muito além disso, pois tenho certeza que, estivesse o Cruzeiro jogando o futebol que lhe é historicamente característico, mesmo sem resultados a torcida estaria um pouco mais calma, pois teria alguma perspectiva de melhora.
Na entrevista coletiva, Roth botou a culpa na arbitragem, o que, sinceramente, foi o menor dos problemas da partida — tanto é que nenhum jogador fez coro com o o treinador. Mas o corajoso repórter Samuel Venâncio perguntou se a responsabilidade também não seria dele, visto que ele trocou um atacante por um zagueiro — que foi exatamente quem errou no segundo gol — quando o jogo ainda estava empatado. Roth respondeu que todos têm responsabilidade, mas não disse em nenhum momento a palavra “eu”. Coisa que um grande treinador faria sem problemas.
Sou sempre a favor da manutenção, pois trabalhos longos é que geram resultados. Mas a filosofia do clube é que tem que ser seguida, e não a do treinador. Portanto, que venham logo os 45 pontos para que possamos trocar já e pensar em um 2013 melhor.