Botafogo 2 x 3 Cruzeiro – A camisa 10 não é por acaso

É claro que os números de camisa não obrigam um jogador a um determinado posicionamento em campo. Mas bastou ter uma companhia na extrema direita e voltar ao meio-campo para o futebol do Caballero Azul despertar novamente e quebrar a maldição do Engenhão, na vitória por 3 a 2 sobre o Botafogo ontem. Direta ou indiretamente, o argentino teve papel importante nos três gols da virada convincente do time celeste.

Cruzeiro do primeiro tempo num 4-2-2-2 pendendo pra o lado direito, com Souza lento, Marcelo Oliveira alto demais e muitas compensações defensivas

O Cruzeiro entrou no jogo com o mesmo onze da partida anterior, mas com uma mudança tática: Souza voltou ao lado direito e “puxou” o 4-2-2-2 cruzeirense para seu lado, já que ele pouco centralizava, forçando Tinga a fazê-lo para cobrir os avanços de Montillo, novamente usado como segundo atacante. Oswaldo de Oliveira armou o Botafogo no tradicional 4-2-3-1, com Vitor Júnior, Andrezinho e Maicosuel atrás de Herrera, e Renato mais livre que Jadson.

O detalhe tático mais importante do primeiro tempo foi o lado direito do ataque local, esquerdo da defesa celeste. Dois aspectos: com Tinga mais por dentro, Marcelo Oliveira tinha dois adversários para marcar, já que Lucas avançava sem ser incomodado. Além disso, o camisa 6 jogava frequentemente muito alto, talvez numa tentativa de explorar este espaço que havia no ataque, e o Botafogo tratou de aproveitar aquele setor. Charles e Tinga tentavam revezar a primeira marcação pela canhota, mas o primeiro frequentemente tinha que cobrir as investidas de Marcelo Oliveira e o segundo estava centralizado demais.

Assim, o Botafogo começou a controlar as ações através dos pés de Vitor Júnior, o extremo direito. O meia foi o melhor do primeiro tempo, criando várias chances para si e para seus companheiros. Sorte nossa que temos Fábio embaixo do gol e que eles têm Herrera, que perdeu duas chances excelentes de marcar. Ele próprio emendou uma finalização na rede por fora, e no lance do escanteio que originou o gol contra de Amaral, foi ele quem serviu Herrera mais uma vez, que dividiu com Léo e Fábio num lance estranho, e a bola acabou sobrando e se encaminhando lentamente para o gol, que o camisa 1 conseguiu mandar para fora.

Amaral, aliás, não fez uma má partida, mas ficou sobrecarregado na marcação de vários jogadores. Souza e Diego Renan até que conseguiam dar conta do recado pelo lado direito, mas quando ambos avançavam era o camisa 5 que fazia a cobertura. Ele também tinha de marcar Andrezinho, o articulador central botafoguense. Ainda bem que o meia não fez uma boa partida e, como já dito, o Botafogo escolheu mais o lado direito para atacar, com Maicosuel apagado na partida. Por isso o volante só apareceu no jogo na hora do gol contra, quando poderia ter sido muito pior.

Ofensivamente, o Cruzeiro pecou em dois aspectos: previsibilidade e lentidão. Souza, preso do lado direito, cadenciava demais o jogo, por duas razões: a característica dele é essa, segurar a bola, dar um ritmo mais lento ao jogo, e também porque ele não tinha opções para o passe rápido. Montillo era vigiado de perto por Jadson, que se afundava na defesa atrás do argentino; WP encaixotado entre os dois zagueiros, Diego Renan era bem marcado por Maicosuel e Amaral ficava mais preso na proteção à zaga. Tinga tentava ser opção, mas estava centralizado demais e era perseguido por Renato. O Cruzeiro só criou quando Montillo conseguiu se livrar da marcação e centrar a bola. Ela chegou a WP que tentou driblar seu marcador, mas recebeu um toquezinho leve no joelho, o suficiente para tentar cavar uma penalidade inexistente.

Cruzeiro lento e previsível, Botafogo veloz e com espaço pela direita. Assim foi o primeiro tempo, e os números comprovam: apesar de ter tido mais posse de bola (53%), comprovando o excesso de cadência, o Cruzeiro só finalizou uma vez, contra 8 do Botafogo. De nada adianta reter a bola se o time não souber o que fazer com ela.

No intervalo, Celso Roth fez o óbvio e tirou Souza do jogo. O meia não conseguiu dar profundidade pela direita, coisa que Fabinho fez muito bem. E logo de cara o jogo mudou, pois Montillo havia voltado à sua posição original e Fabinho foi ser o segundo atacante acompanhando WP. O veloz camisa 17 confundiu a marcação e congelou o lateral esquerdo Márcio Azevedo. Além disso, se tornava opção para o passe de Montillo, que buscava a bola no círculo central e avançava com liberdade e velocidade, como lhe é característico. O Cruzeiro passou a ter volume e ocupou o campo adversário.

Mas o futebol é futebol: justo quando estava melhor na partida, o Cruzeiro sofreu o segundo gol. Tinga perdeu uma bola para Renato no meio-campo, ela sobrou para Vitor Júnior que rapidamente enfiou uma bola longa para Herrera, entre os zagueiros do Cruzeiro. Mateus estava longe do camisa 9 botafoguense e foi pego de surpresa, mas nada pode fazer para evitar o gol. Surpreendentemente, o Cruzeiro não se abalou e logo no primeiro lance após a saída de bola, Fabinho, excelente no jogo, completou cruzamento de Marcelo Oliveira para mandar na trave e reafirmar a blitz no campo de ataque.

Celso Roth então soltou o time mandando Anselmo Ramon e Everton nas vagas de Tinga e Marcelo Oliveira. Estava formado o 4-2-1-3 da era Vágner Mancini, mas com Everton como opção de velocidade pelo lado esquerdo, Fabinho pelo lado direito e WP pela esquerda próximo a Anselmo Ramon, enfiado e brigando com os zagueiros. Os dois pecados do primeiro tempo foram resolvidos, e no primeiro lance de Anselmo, ele tabelou com WP e mandou na rede pelo lado de fora. Depois, recebeu passe de Montillo e dividiu com o goleiro Milton Raphael, a bola sobrou para WP, fora da área, que tentou encobrir o jovem arqueiro, mas sem sucesso.

Então aconteceu a virada. Primeiro, Montillo recebeu passe pela direita, tentou driblar seu marcador e acabou arrumando um escanteio. Na cobrança, a zaga afastou mal, Mateus concluiu e Anselmo desviou levemente para fazer o primeiro gol cruzeirense no Brasileirão 2012.

Um minuto depois, em um contra-ataque ultraveloz, Montillo conduziu com muito espaço e conectou a Anselmo Ramon na quina direita da área. Ele viu WP dentro mas viu também Everton erguendo os braços e correndo como um raio, sem marcação pelo outro lado. O impulso da corrida fez o cabeceio sair forte e vencer Milton Raphael.

A velocidade no gol de empate celeste: Montillo com muito campo pra avançar, e Everton livre pela esquerda para testar para o fundo das redes

O Botafogo se lançou à frente para buscar a vitória, mas o Cruzeiro não deixou o time da casa respirar, e mais alguns minutos depois, Fabinho recebeu uma bola longa, dominou com categoria e achou Montillo que ia escapando entre os zagueiros do time da casa. O goleiro dividiu com ele, mas cometendo falta. Pênalti que WP converteu contra seu ex-time.

O time que virou o jogo era um 4-2-3-1 que virava um 4-2-1-3 com a bola, muito mais equilibrado, veloz e atacando por todos os lados

Logo após o terceiro gol, que WP preferiu não comemorar, foi possível ver Celso Roth passando instruções para o camisa 9. Certamente foi para recuar pelo lado esquerdo para recompor o 4-2-3-1, deixando Anselmo Ramon sozinho à frente. Ele conseguiu bloquear bem os avanços de Lucas, de maneira análoga a Fabinho do lado direito. Oswaldo de Oliveira tentou um único movimento: puxou Vitor Júnior para o centro, tirou Andrezinho e lançou Elkeson pela direita. Isso acabou facilitando o trabalho de Everton, que conseguiu bloquear bem os avanços dele. Vitor Junior já não tinha mais o mesmo espaço para jogar e nada fez. O Botafogo seguiu tendo mais posse de bola mas não conseguiu produzir boas chances até o fim do jogo.

Conclusões deste jogo: primeiro, Montillo é meia, e fim de papo. O próprio Celso Roth admitiu na coletiva após o fim da partida que o argentino é bom driblador, porém não dá profundidade. Ora, se ele não dá profundidade, então porque escalá-lo como segundo atacante? Além disso, ele mesmo disse preferir atuar como camisa 10. Segundo, Tinga deve render melhor se jogar como segundo volante, ao lado de Amaral ou Leandro Guerreiro. Terceiro, Fabinho entrou muito bem e fez muito mais que Souza, que não é jogador de lado de campo, é central. Merece uma chance pelo lado direito. Quarto, talvez seja melhor dar uma chance a Everton no time titular, escalando-o na extrema esquerda, e prendendo Marcelo Oliveira, como foi na primeira partida contra o Atlético/GO. Isso geraria uma 4-2-3-1 torto a la Brasil 2010, mas com os lados invertidos. E quinto, Anselmo Ramon talvez faça melhor a função de referência do que WP. É o caso de se dar uma chance.

Meu time para o jogo contra o Sport, portanto, seria Fábio; DR, Leo, Mateus e MO; Amaral e Charles (Tinga); Fabinho, Montillo e Éverton; WP (Anselmo Ramon). No entanto, como só avalio os jogos, e o treinador está lá todo dia, não acredito que isso vá acontecer.

Mas que Montillo tem que voltar à meia central, ah, pelo menos isso tem.

Sobre as análises táticas da grande mídia

O futebol moderno hoje impõe versatilidade aos jogadores. É fato que o Barcelona, sob a batuta de Pep Guardiola, acaba por ditar a filosofia do futebol ofensivo em todo o mundo: todos jogam, mas todos marcam. Não existe mais aquele jogador que não tem obrigações defensivas, que fica esperando a bola para poder num lance decidir o jogo. Assim como também não existe mais aquele jogador super-defensivo, que “carrega o piano” para o craque do time poder jogar mais tranquilo.

Portanto, é mais do que natural, e cada vez mais comum, que jogadores joguem em posições que não são a sua de origem. Um caso emblemático é o de Marcelo Oliveira, que com a chegada de Celso Roth, foi parar na lateral esquerda. O volante de origem vinha jogando como segundo volante, ou pelo lado esquerdo do losango no 4-3-1-2 de Vagner Mancini, ou como vértice esquerdo do triângulo de base baixa quando num 4-3-3.

Estes jogadores comumente são taxados de “improvisos” pela grande mídia brasileira, como se a opção pela escalação do jogador naquele setor fosse um remendo que não necessariamente durará. Não raro, comentaristas gostam de dar ênfase a isto, para evidenciar que um determinado time precisa de reforços naquela posição ou que o técnico está inventando. É claro que jogar em sua posição de origem é melhor, pois o jogador está mais acostumado às funções que este papel lhe impõe. Mas ninguém pode guardar posição e ficar estático em sua zona – a Holanda de 74 foi a pioneira neste quesito, e o Barcelona atual aperfeiçoou o conceito.

Pois bem, para se fazer uma boa análise tática de uma partida, é preciso diferenciar bem três conceitos: posição, posicionamento e função. Como o excelente blog do Eduardo Cecconi já explicou:

“POSICIONAMENTO é a região do campo de onde o atleta parte NO JOGO em análise, a sua ZONA. Somados os posicionamentos de cada jogador chegamos ao sistema tático base da equipe. POSIÇÃO diz respeito à característica do jogador, é a ‘profissão’ dele, INDEPENDENTEMENTE da partida em andamento. É imutável. E a FUNÇÃO é o conjunto de atribuições que o jogador cumpre também NO JOGO observado.”

Entretanto, mesmo com essa clareza, algumas vezes percebo análises táticas muito ruins de comentaristas tarimbados, que não conseguem ir além da posição do jogador. Apresento dois casos para o mesmo jogo: Cruzeiro 0 x 0 Atlético/GO, pela primeira rodada do Campeonato Brasileiro 2012.

Como este blog já disse, o Cruzeiro jogou num 4-2-3-1, que variava para um 4-4-1-1 na fase defensiva com o recuo dos alas do meio-campo, como se pode ver em dois momentos do primeiro tempo, abaixo:

Dois momentos das duas linhas de quatro do Cruzeiro na fase defensiva

O 4-2-3-1 com a posse também fica evidenciado quando se vê o gráfico de passes recebidos pelos 5 jogadores do meio-campo no primeiro tempo:

Locais onde os jogadores de meio estavam posicionados quando receberam um passe: Amaral (vermelho), Charles (verde), Souza (branco), Montillo (azul) e Everton (amarelo)

Durante o jogo, era claro o posicionamento: Everton aberto pela esquerda, Souza pela direita, Montillo se movimentando por dentro mas caindo mais pela direita, e Charles e Amaral fazendo a dupla volância, com Charles tendo mais liberdade e Amaral mais preso na cobertura a Marcos. Até a própria abertura da transmissão acertou na hora de apresentar o gráfico com a escalação, pelo menos no sistema, pois os alas apareceram invertidos:

Até a abertura da transmissão acertou na disposição tática do time celeste, apenas invertendo os alas de lado

Durante o jogo, o comentarista Leonardo Figueiredo, durante a transmissão do pay-per-view, dizia que os dois times se posicionavam taticamente iguais, o que não é verdade. Disse que o Cruzeiro jogava com dois meias – o que é meia verdade, se consideramos apenas a posição dos jogadores, e não seu posicionamento. Mas se assim fosse, teríamos que dizer que o Cruzeiro jogou com 4 volantes, pois Marcelo Oliveira estava na lateral esquerda. Certamente o Cruzeiro não jogou num 3-4-2-1.

Dias depois, o mesmo comentarista apresentou uma análise tática muito equivocada do meio-campo cruzeirense. Ele posicionou Souza pelo lado esquerdo, plantou Amaral à frente dos zagueiros e deslocou Charles para a direita. Ora, as imagens acima desmentem isto. O que houve? Ele simplesmente não conseguiu (ou se recusou a) enxergar as atribuições de articulação de Everton, cuja POSIÇÃO é volante, mas cujo POSICIONAMENTO neste jogo era aberto pela esquerda na linha de 3 do 4-2-3-1, e sua FUNÇÃO foi de meia-esquerda. Da mesma forma, Marcelo Oliveira é volante, mas neste jogo jogou do lado esquerdo da defesa e tinha como função fechar aquele setor, deixando as atribuições ofensivas daquele lado para o camisa 11, mais à frente.

Também, o comentarista Bob Faria, em seu programa noturno “MG Esporte Clube”, apresentou uma arte onde posicionava o Cruzeiro num 4-3-2-1, da mesma forma. Pelo menos ele não colocou nomes nas bolinhas que representavam os jogadores. Correu menos risco. Ainda assim, apresentou uma análise errada.

Esta é uma das razões pelas quais decidi iniciar este blog. O nível de expertise dos ditos comentaristas na imprensa (principalmente mineira) é deplorável. Alguns se destacam e fazem excelentes análises, mas são raras exceções. A grande maioria se limita a comentar a parte técnica, dizendo que o jogador está mal ou bem na partida. Pouco ou nada sobre a parte tática.

Por isso, quando descobri, nas minhas leituras sobre o assunto, que o excelente site de análises táticas Zonal Marking também foi motivado pelas mesma razões, eu me encho de esperanças…

Cruzeiro 0 x 0 Atlético/GO – Anselmo e o Bandeirinha

A passagem de Celso Roth no comando do Cruzeiro começou com um empate sem gols contra o Atlético/GO em Uberlândia. Com atuações tecnicamente ruins de alguns jogadores, o aspecto tático também sofreu e o time celeste teve dificuldades defensivas no início, se acertou aos poucos mas foi prejudicado por um palavrão de Anselmo Ramon ao bandeirinha, que dedurou.

O 4-5-1 de Celso Roth (4-2-3-1 com a bola, 4-4-1-1 sem ela), mas com problemas pelo lado direito: Souza sem profundidade ofensiva e a deficiência técnica de Marcos obrigando Amaral a fazer a cobertura, abrindo espaços no meio

Celso Roth escalou um 4-2-3-1, com Charles e Amaral fazendo a dupla volância e Souza, Montillo e Everton atrás de Wellington Paulista. Sem a bola, Everton e Souza recuavam até a linha de volantes, fazendo um 4-4-1-1. Adilson Batista armou o Atlético Goianiense num 4-3-2-1: Pituca, Marino e Fernando Bob eram os volantes, Bida era o articulador principal e Elias era quase um segundo atacante atrás de Diogo Campos.

Dois aspectos devem ser considerados no esquema azul. O primeiro é que Souza, sendo um meia de ligação cadenciador, tendia a centralizar e não abria pela direita. Além de deixar a equipe sem poderio ofensivo por aquele lado, já que Montillo, quando caía por ali, era cercado facilmente por dois ou três jogadores adversários, essa movimentação desguarnecia aquele flanco. Além disso, Marcos não fez uma boa partida nem tecnicamente nem taticamente, tendo que receber a ajuda de Amaral para fazer a marcação pelo setor.

Estes dois efeitos combinados geravam espaços generosos na defesa cruzeirense. Com Marcos e Amaral no posicionamento “normal”, o lateral ficava constantemente no um contra um. Quando Amaral recuava para fazer a cobertura a Marcos, este avançava um pouco, mas continuava aberto pela direita, abrindo um buraco onde Amaral deveria estar. E foi pelo lado esquerdo do ataque que o Atlético/GO criou as melhores chances. Fernando Bob, volante esquerdo dos visitantes, combinava bem com Bida e ofereceu muito perigo nas costas de Marcos. Ainda, estes buracos faziam o Cruzeiro perder praticamente todas as segundas bolas, gerando longos períodos de posse dos visitantes e tirando a possibilidade de contra-ataques.

Do outro lado, Everton e Marcelo Oliveira não reeditaram algumas boas parcerias que tiveram na temporada. Isto porque Marcelo jogou como lateral zagueiro, plantado, fechando o setor, e pouco se aventurou no ataque. Isto, teoricamente, liberava Everton para fazer a meia extrema esquerda. Mas este jogou recuado demais, e por vezes era visto afundado na esquerda, empurrando Marcelo Oliveira para o meio e fazendo uma linha de cinco na defesa. O Atlético não jogou muito por ali, exatamente pela super-população de defensores, mas isso fazia com que Everton deixasse de ser uma opção de saída de jogo e o Cruzeiro ficava ainda mais previsível.

Essa previsibilidade facilitava a pressão alta do Atlético/GO. Amaral e Charles não eram os responsáveis pelo primeiro passe, como deve ser um 4-2-3-1, e o Cruzeiro teve pouca posse de bola e passes ruins. Porém, nas poucas vezes que chegava, conseguiu criar algumas boas chances. Montillo tentava o que podia: caía pelos lados – como lhe é característico, mais pelo lado direito, onde Souza não chegava ao fundo e Marcos tinha dificuldades de apoio. Foi justamente numa combinação com Souza por aquele setor que saiu a melhor chance azul no primeiro tempo: Montillo recebeu em boas condições na grande área e inverteu o jogo para Everton, que demorou na conclusão, dando chance para o bom goleiro Roberto. No rebote, Charles também mandou em cima do arqueiro visitante.

No intervalo, Celso Roth acertadamente tirou Marcos e lançou Diego Renan, perfazendo duas substituições sem mudar o esquema tático, pois Victorino já havia entrado na vaga de Alex Silva, contundido. O 4-2-3-1 se manteve, mas com muito mais segurança pelo lado direito. O efeito imediato foi que Amaral pôde voltar ao posicionamento inicial, e o meio-campo do Cruzeiro conseguiu ter mais presença, sem tantos espaços. Tanto é que, se no primeiro tempo o time visitante trocava passes na intermediária ofensiva, desta vez eram os zagueiros que jogavam a bola um para o outro, tentando achar uma brecha. Mas ofensivamente o problema da saída ruim persistia: o Atletico insistia na marcação mais adiantada e os jogadores cruzeirenses ofereciam facilmente a bola.

Roth então decidiu que WP seria uma melhor opção de saída se abrisse pela ponta esquerda, pois podia reter uma bola e girar para servir um companheiro. O treinador queimou sua última substituição tirando Everton, lançando Anselmo Ramon na referência e espetando o camisa 9 pelo lado sinistro, mas com liberdade para chegar dentro da área e concluir como centro-avante. A alteração surtiu efeito e o Cruzeiro criou excelentes chances, apenas para ser parado pelo goleiro Roberto.

Adilson Batista, então, foi para sua primeira mudança no jogo, tirando o meia Elias e colocando o centro-avante trombador William. Bida passava a ser o único articulador, e agora eram 4 contra 4 no meio-campo. O jogo se equilibrou um pouco, com chances de parte a parte, mas o Cruzeiro ainda tinha mais posse de bola. Aos 31, Anselmo Ramon reclamou “inapropriadamente” de um arremesso lateral com o bandeira. Foi dedurado e expulso de campo.

Uma das duas variações do 4-4-1 do Cruzeiro no fim da partida; a outra variação é ilustrada pelas setas amarelas

Logo após a expulsão, Adilson mandou Felipe a campo na vaga de Diogo Campos: outro centro-avante. O losango do meio se manteve, o Atlético-GO tinha um homem a mais: os volantes e laterais passaram a avançar com muito mais frequência. O Cruzeiro teve de abdicar da vitória para proteger seu próprio gol, e o fez com autoridade. Com as duas linhas do 4-4-1 bem compactadas, com Montillo e WP alternando para ser o homem mais avançado, o Atlético-GO não conseguiu entrar no bloqueio e nada fez. Adilson Batista ainda tentou mandar mais um atacante, Juninho, no lugar do volante Marino, fazendo um 4-2-1-3, quase um 4-2-4 devido ao posicionamento ofensivo de Bida, mas o substituto mal viu a bola. Fábio sequer encostou na bola até o apito final.

A conclusão é de que, obviamente, ainda há muito trabalho pela frente. Mas, diferentemente de muitos comentaristas esportivos, não acredito que o Cruzeiro tenha tomado sufoco. Foi um jogo equilibrado, com o Cruzeiro claramente ainda tentando se entender novamente após a troca de comando, contra um adversário já entrosado e bem treinado. Foi dominado, sim, mas nem sempre o time dominado vence ou merece vencer – vide Chelsea, justo campeão da Europa. Nosso time demonstrou evolução, pelo menos defensivamente, e com os novos contratados melhorará ainda mais. Tinga chega para ser titular, e já deve entrar no próximo fim de semana contra o Náutico nos Aflitos.

A aplicação tática defensiva após a expulsão demonstra que a equipe tem sim capacidade. Acredito que as vitórias virão. Claro, desde que não se xingue o bandeirinha – ou quem quer que seja.

Atlético/MG 2 x 2 Cruzeiro – Fraqueza nos flancos mas força na cabeça

Vulnerável em seus dois flancos no primeiro tempo, o Cruzeiro teve frieza ártica para se reequilibrar e empatar o primeiro Superclássico do ano.

Note o posicionamento recuado de Guilherme e a liberdade de Bernard pela esquerda no mesmo lance

Nenhum dos dois treinadores mexeu no esquema de costume de suas equipes: o Cruzeiro no 4-2-1-3, com Wallyson pelo lado esquerdo e Wellington Paulista do lado oposto, e o Atlético Mineiro no 4-2-2-2, que com a presença de Bernard aberto pela esquerda e Danilinho um pouco mais centralizado, mas pela direita, por vezes variava para um 4-2-3-1, com Guilherme vindo jogar mais recuado na articulação central.

Além disso, para compensar a agressividade de seu lateral direito Marcos Rocha, Cuca orientou Richarlyson a ficar mais plantado, vigiando WP. Com mais os dois zagueiros, o Atlético Mineiro ficava numa situação de mano-a-mano em sua defesa contra o trio de ataque azul. Porém, isso não chegou a ser um problema, pois como havíamos previsto no fim do último post como um potencial problema, o Atlético pressionou os laterais e os volantes cruzeirenses e matou a saída de bola adversária. Marcos, que deveria vigiar Bernard, não fez uma boa partida, e cedeu bastante espaço ao meia atleticano. Do outro lado, Diego Renan e Marcelo Oliveira não se acertavam na marcação de Marcos Rocha e Danilinho, que centralizava mais. Pierre ficou no encalço de Montillo, liberando Filipe Soutto para duelar com Leandro Guerreiro. Eram 7 contra 7 no campo ofensivo, com ou sem posse de bola.

O domínio territorial e de posse de bola, no entanto, não vinha se traduzindo em chances para a equipe do Atlético Mineiro. A rigor, a maior chance de gol saiu em uma jogada de contra-ataque que Marcelo Oliveira salvou, não sendo, portanto, resultado direto da maior imposição em campo. O gol saiu numa movimentação inteligente de Bernard e numa falha de marcação de Diego Renan. O meia atleticano arrastou Marcos consigo para dentro da área, liberando um mundo de espaço para Richarlyson avançar e cruzar. Se um baixinho como Danilinho teve que se agachar para cabecear a bola dentro da pequena área, isso indica falha de marcação.

Bernard arrastou Marcos para o meio da área, abrindo espaço para Richarlyson cruzar para Danilinho, que se livrava de Diego Renan

Mesmo depois do gol, o panorama não mudou muito. Porém, a pressão na saída de bola finalmente deu resultado no lance do segundo gol. Fábio tentou sair pelo lado, mas o Atlético Mineiro conseguiu recuperar a posse de bola com André, que arrastou Leo para fora da área. Ele passa a Danilinho, que passa para Guilherme – novamente mais recuado para fazer o último passe – que devolve para Danilinho, novamente livre da marcação de Diego Renan. Leo, que deveria estar acompanhando André, preferiu encurtar em Guilherme, deixando André livre para invadir a área. Danilinho conseguiu passar a bola por baixo de Fábio e achar André livre para completar.

Léo é tirado da área por André, e Danilinho tabela com Guilherme sem que Diego Renan o acompanhasse; Léo prefere marcar Guilherme do que acompanhar André, que invade a área sem ser incomodado

Ao final da partida, Vágner Mancini negou que o esquema tivesse sido o culpado pela má atuação do Cruzeiro no primeiro tempo. Eu concordo com ele: se existem só três homens no meio-campo, é preciso que os atacantes abertos recuem para ajudar a recomposição, mas WP e principalmente Wallyson não fizeram isso. Assim, o Cruzeiro ficou virtualmente com 3 (LG, MO e Montillo) contra 6 (Marcos Rocha, jogando bastante avançado, Pierre, F. Soutto, Danilinho, Bernard, e por vezes, Guilherme). A má atuação dos laterais Marcos e Diego Renan, e dos ponteiros Wallyson e WP é que contribuiu para a fraqueza celeste nos flancos.

O 4-2-2-2 celeste após as alterações, com Roger ao lado de Montillo e os volantes mais livres

No intervalo, Wallyson saiu para entrada de Roger, desfazendo o 4-3-3. Além disso, Vágner Mancini lançou Everton no lugar de Marcos, mandando Diego Renan para a direita. A diferença é que Roger não foi jogar como volante, como nas primeiras partidas do ano, e sim como meia, um pouco mais recuado mas ao lado de Montillo. Essa simples mudança reequilibrou o meio-campo: com dois meias avançados, os volantes do Atlético Mineiro já não tinham tanta liberdade para apoiar o ataque. Everton vigiava Danilinho, Diego Renan seguia Bernard e os dois zagueiros cuidavam da dupla de ataque adversária. Leandro Guerreiro e Marcelo Oliveira estava, de repente, livres para apoiar mais ou dobrar a marcação nos meias abertos.

Com a marcação encaixada, o jogo ficou equilibrado, com chances de parte a parte. Pierre já não tinha tanto êxito em marcar Montillo, que agora tinha mais liberdade com Roger a seu lado. Numa das arrancadas, o argentino tabelou, invadiu a área e driblou Renan Ribeiro. Sem ângulo, cruzou de esquerda para Anselmo Ramon, que conseguiu perder.

Com o jogo equilibrado, os laterais passaram a avançar um pouco mais. Depois de Marcelo Oliveira recuperar uma bola ainda no campo de ataque, ele passou a Diego Renan, aparecendo na frente. O lateral fez o cruzamento, mas a bola desviou no zagueiro atleticano e chegou até Anselmo Ramon, que, como um bom centro-avante, acreditou na jogada e mandou pro fundo das redes, depois da falha do goleiro. Mas é preciso destacar que também há méritos para o cruzamento: o goleiro só falha em bolas que vão até ele. Se o cruzamento fosse evitado, a falha não existiria.

Bola roubada por Marcelo Oliveira e o posicionamento avançado de Diego Renan, o que não ocorreu no primeiro tempo, logo antes do cruzamento para o primeiro gol celeste

O gol assustou um pouco o time atleticano. Cuca tirou Bernard, que já não conseguia mais levar vantagem em cima de Diego Renan e espetou Neto Berola pela esquerda em seu lugar. Apesar de ser um meia no lugar de um atacante, o esquema praticamente se manteve. Depois, Cuca tirou André, bem anulado pela zaga celeste, para a entrada de Mancini. Este passaria à articulação junto com Danilinho e Guilherme se tornaria atacante clássico ao lado de Neto Berola, um 4-2-2-2 sem muita variação, espelhando o esquema do adversário.

A máxima no futebol é: se espelhar o esquema, a técnica sobressai. E a técnica, no time celeste, tem nome e sobrenome: Walter Montillo. O meia argentino, que já havia forçado um cartão amarelo de Pierre, roubou uma bola no meio-campo, avançou atraindo a marcação de dois atleticanos e mandou uma cavadinha espetacular achando Anselmo Ramon dentro da área. O centro-avante dominou com um pé e chutou com o outro, no giro. O justo empate havia chegado.

Montillo atrai a marcação de dois adversários e dá a cavadinha no meio dos zagueiros atleticanos achando Anselmo Ramon para o empate

Walter já havia entrado no lugar de WP antes do gol, mas não alterou muito o esquema. Montillo continuava vencendo Pierre, que acabaria levando o segundo amarelo e sendo expulso. Vendo que perderia o meio-campo, Cuca lançou um terceiro zagueiro, Luiz Eduardo, no lugar do atacante Guilherme, alterando o esquema para uma espécie de 3-5-1. Os laterais passaram a jogar no meio-campo e, incrivelmente, o Atlético Mineiro voltava a ter um homem a mais no setor, mesmo com dez homens em campo. O resultado foi mais posse de bola, mas sem ter referências na frente. O Cruzeiro não teve dificuldades para segurar o adversário, mas tampouco se lançou à frente para tentar vencer a partida.

As duas conclusões mais importantes a serem tiradas deste jogo são: primeiro, o esquema com três atacantes é sim muito interessante, mas serão necessárias muitas correções para levar este esquema ao Brasileirão e às fases finais da Copa do Brasil. Ou Vágner Mancini cobra aplicação tática de seus jogadores, ou então abandona o esquema e volta com quatro no meio. Segundo, há que se destacar o fator psicológico do Cruzeiro na recuperação durante o segundo tempo. Com frieza, como deve ser, diminuiu o ritmo do jogo e se impôs aos poucos.

Vágner Mancini soube cobrar de seus comandados e fazer as mexidas certas. Mas podia tê-las feito ainda no primeiro tempo. Portanto, nota 7 para ele.

Cruzeiro 2 x 1 América/MG – Gol de treinador também vale

Sem perder nem o controle do jogo nem a cabeça, o Cruzeiro passou com louvor no seu teste mais difícil na temporada, ontem na Arena do Jacaré, com gols de Anselmo Ramon e Vágner Mancini (Walter). Alessandro descontou para o América.

Cruzeiro no 4-3-3 anunciado, com Wallyson invertendo constantemente de lado com WP nas parcerias pelos flancos com os laterais e Montillo

O Cruzeiro foi a campo no 4-3-3 anunciado durante a semana, o mesmo esquema dos últimos jogos. Um movimento acertado, já que a equipe vem dando boas respostas com esta formação. Já o América veio num 4-2-2-2, tendo Fábio Jr. e Alessandro à frente de Luciano e Kaio na articulação.

No embate dos dois esquemas, vários duelos naturais se formaram. Anselmo Ramon batia de frente com os dois zagueiros americanos; Wallyson e Wellington Paulista seguravam os laterais adversários, que mal participavam do jogo; Montillo tentava (e conseguia) fugir da marcação dos dois volantes; Leandro Guerreiro e Marcelo Oliveira se encarregavam dos meias de criação e Fábio Jr. e Alessandro duelavam com a zaga azul. Os laterais cruzeirenses ficavam mais livres, e ajudavam os zagueiros.

O resultado é que, sem a bola, o Cruzeiro se defendia muito bem, tendo sempre um homem a mais na defesa – até mesmo quando um dos laterais do América avançava, deixando os atacantes azuis às suas costas. Assim, os dois volantes adversários (que não são jogadores criativos) ficavam procurando companheiros para passar a bola e não achavam, frequentemente tentando jogadas infrutíferas. O América só ameaçava quando o Cruzeiro errava no bote, e perdia o homem a mais. Em um desses lances, Léo tentou tirar de cabeça uma cobrança de lateral e não alcançou a bola, que sobrou para Luciano, pelo lado esquerdo. O meia ainda driblou Marcelo Oliveira, que foi cobrir, e concluiu para Fábio defender.

Ofensivamente, o Cruzeiro se aproveitou das saídas rápidas pelos lados, nas costas dos laterais americanos, com as excelentes parcerias que têm se formado neste esquema com três atacantes. Duplas e até trios se agrupam constantemente pelos flancos, sufocando a marcação adversária. Do lado esquerdo, Diego Renan tem sempre a opção de passar para o atacante que abre – Wallyson reveza com Wellington Paulista – ou para Montillo um pouco mais centralizado, e também pode ir para a diagonal para concluir. Do outro lado, Marcos tem as mesmas opções, e todos eles podem fazer uma tabelinha de pivô com Anselmo Ramon. Foi assim no lance em que Diego Renan concluiu de fora da área, e na tabelinha Montillo/WP (que desta vez estava na referência) para a linda conclusão de Montillo no ângulo, ambos os lances defendidos por Neneca.

WP não fechou a linha e Luciano recebeu livre nas costas dos volantes para sofrer a falta que originou o gol

O Cruzeiro tinha mais posse e o América não conseguia criar, pois Luciano e Kaio eram bem vigiados por Leandro Guerreiro e Marcelo Oliveira. O gol americano saiu numa tentativa mal executada de exercer marcação sob pressão. Como manda o figurino neste tipo de situação, os volantes azuis se encontravam bem avançados, empurrando os adversários para trás. Mas WP não fechou a linha de passe do volante do América, que achou Luciano livre atrás da dupla. De repente, o camisa 10 deles estava de frente pro gol com dois companheiros como possíveis alvos de passe. O Cruzeiro tinha 4 defensores: Diego Renan marcava Fábio Jr. e Marcos segurava Alessandro, com Léo na cobertura. Victorino, que estava “sobrando”, deu um passo à frente e retardou o ataque de Luciano, mas foi driblado, e Marcelo Oliveira, que teve de correr para trás para chegar no lance, acabou cometendo falta. A falta originou o gol num lance em que Victorino errou a linha de impedimento e deu condições a Alessandro.

Diferentemente do ano passado, quando o Cruzeiro tomava gols jogando melhor e se descontrolava emocionalmente, o time manteve a postura e continuou fazendo sua proposta. O time americano ganhou confiança com a vantagem no placar e tentou passar mais a bola, cozinhar mais o jogo, mas o time celeste continuou fechando os espaços e atacando com ainda mais veemência. Porém, pecava no último passe, oferecendo o contra-ataque. Os dois laterais azuis foram amarelados em lances desse tipo, e o segundo gol do América quase veio em outro. O erro de Luciano foi ter dado um drible a mais quando tinha condição de finalizar. Há que se destacar a recuperação da defesa justamente neste tempo “a mais” que o drible de Luciano proporcionou. Quando Fábio Júnior concluiu, já havia quatro defensores na área.

O dois a zero não teria refletido o que foi o primeiro tempo, injustiça que frequentemente acontece no futebol. Mas, pelo menos desta vez, o esporte foi justo: o empate chegou numa jogada de Wallyson, que recebeu a bola num duelo um contra um pelo lado esquerdo. Ele venceu Rodrigo Heffner na velocidade e cruzou para Anselmo Ramon marcar um gol típico de centro-avante, dominando de costas para a meta na pequena área e girando em cima do marcador.

O segundo tempo começou como terminou o primeiro: Cruzeiro em cima, com muita posse, e América sem criatividade, já que Luciano e Kaio continuavam bem marcados. O técnico Givanildo, vendo que nada mudaria, tirou Luciano e colocou o volante China, repaginando o América num 4-3-1-2 losango. A intenção era dupla: sufocar Montillo fazendo um 3 contra 1, e dar mais opções para a saída de bola americana quando a posse voltasse. Até que deu semi-certo: o ritmo cruzeirense diminuiu e partida ficou mais morna. O América conseguiu equilibrar as ações e teve algumas chances em bolas paradas.

Vágner Mancini tirou WP, amarelado infantilmente, e lançou Walter, mantendo o esquema. A situação do jogo não mudou, inclusive com o América tendo um gol anulado com justiça. O treinador celeste, então, lançou Élber no lugar de Anselmo Ramon, fazendo um 4-2-2-2, que virava um 4-2-3-1 com Wallyson recompondo. Agora eram dois (três) meias contra três volantes, e o jogo voltou ao que era antes: Cruzeiro com mais posse e América sem opções de criatividade, já que o jovem Kaio ficou encaixotado no meio do experientes volantes cruzeirenses. Na primeira bola do garoto Élber, uma enfiada digna de trequartista para Walter, que correu nas costas do zagueiro. Ele bateu de primeira, cruzado, e Neneca não conseguiu repelir. Gol do treinador do Cruzeiro.

A árvore de natal azul (4-3-2-1) após as alterações, Everton na proteção a Diego Renan contra Kaká e Montillo e Élber suprindo Walter

Givanildo, agora atrás no placar, tratou imediatamente de agir e mandou o atacante Adeilson no lugar do volante Moisés. Os esquemas agora estavam invertidos em relação ao início do jogo. Porém, o quarteto ofensivo cruzeirense, agora mais móvel do que nunca, continuava infernizando a zaga do América e criando chances. O técnico do América então lançou sua última cartada, sacando Alessandro, atacante mais central, e colocando o veloz Kaká (não aquele) para jogar nas costas de Wallyson pela direita do ataque, confrontando diretamente com Diego Renan. O jogador ofereceu bastante perigo por aquele lado, conseguindo inclusive uma jogada em que driblou o camisa 6 cruzeirense e centrou para Fábio Jr. mandar para fora. Mancini não tardou a responder com Everton no lugar de Wallyson, fechando o lado esquerdo na árvore de natal (4-3-2-1). Kaká deixou de ser uma ameaça e o Cruzeiro tocou a bola até o fim do jogo.

O técnico Vágner Mancini disse, após o fim do jogo, que foi o teste mais difícil do Cruzeiro na temporada. De fato: sair atrás no placar, manter o controle emocional e virar a partida com autoridade fazem deste jogo a melhor apresentação azul no ano (ainda melhor que as goleadas). No entanto, Mancini também disse que ninguém ainda está no ápice. Ou seja, na visão do treinador celeste, ainda há muito o que melhorar. E realmente há: é preciso ser menos afobado no último passe, tocar a bola com mais paciência – por mais que Montillo seja um jogador incisivo, que pega e parte. E defensivamente, melhorar o entrosamento da dupla de volantes e não pecar tanto em botes errados, pois podem ser fatais contra times mais técnicos.

Não chega a empolgar. Mas já dá uma esperança.