Cruzeiro 2 x 0 Villa Nova – Quando o craque tem espaço

Montillo se aproveitou das raras vezes em que teve alguma liberdade para dar a sexta vitória seguida ao Cruzeiro contra o Villa Nova hoje em Sete Lagoas.

Cruzeiro no 4-3-3 com Walter de centroavante e Anselmo Ramon aberto pela esquerda, variando para o 4-2-3-1 na fase defensiva

Vágner Mancini optou por uma formação ofensiva, com Everton e Wallyson substituindo o suspenso Marcelo Oliveira e o lesionado Roger, efetivamente compondo um 4-3-3, com Walter de centro-avante e Anselmo Ramon aberto pela esquerda. Já o Villa Nova veio a Sete Lagoas num 3-5-2 clássico, com Francismar na articulação central e os laterais-alas Alex Santos e Zé Rodolfo bem avançados, como é característico do esquema.

Nos primeiros 10 minutos, o Cruzeiro teve total domínio de posse de bola, mas claramente sentiu a falta de Roger na intermediária defensiva para qualificar a saída. Os passes eram lentos e o Villa Nova tinha bastante tempo para encurtar os espaços e se fechar atrás com 9 homens. Nas poucas vezes em que os mandantes arriscavam, as decisões de passe não eram boas e o time perdia a posse de bola. A pressão no alto do campo, porém, fazia o time visitante recorrer a bolas longas para o ataque, que sempre chegavam aos pés de cruzeirenses para mais uma tentativa.

O erro grotesco de passe de Gilson, que produziu mais um milagre de Fábio aos pés do bom lateral Alex Santos, pareceu acordar o Villa Nova. Francismar não era vigiado de perto nem por Leandro Guerreiro, que ficava mais recuado na proteção à zaga, e nem por Everton, que se lançava mais à frente pelo setor esquerdo. O camisa 10 villanovense jogou exatamente no espaço entre os dois, produzindo bons lances. E, com três homens no meio contra cinco adversários, o Cruzeiro não conseguia fechar os espaços do adversário e criar espaços para si próprio.

A primeira finalização cruzeirense só veio depois de uma jogada de muita raça de Montillo. O argentino disputou a bola no chão com um adversário e conseguiu espanar para a chegada de Marcos. O centro achou Anselmo Ramon, que cabeceou fraco. No lance, o atacante bateu a cabeça em um defensor e viria a ser substituído 5 minutos depois. Durante o atendimento ao camisa 11, foi interessante notar a postura do time de Nova Lima. Com um a mais, os visitantes tentaram sobrecarregar o meio-campo com o avanço de um dos defensores, mas o Cruzeiro se fechou bem e evitava jogadas mais agudas.

A entrada de Rudnei no lugar de Anselmo Ramon reequilibrou a equipe no 4-3-1-2 losango habitual. Leandro Guerreiro pôde se concentrar mais em Francismar e deixar Rudnei e Everton com mais liberdade. Os laterais cruzeirenses passaram a avançar muito mais, pois não encontravam mais a barreira natural dos atacantes muito abertos. Walter continuou na referência e Wallyson jogou mais recuado, procurando Montillo. Um exemplo disso foi o primeiro gol, um efeito dominó de uma jogada de Wallyson: ao driblar seu marcador na meia-direita, indefiniu a marcação de Carciano, que não sabia se encurtava em Wallyson ou acompanhava Montillo, que se posicionava para receber. A bola chegou ao argentino que, com espaço e avançando perigosamente, fez o zagueiro central Álvaro deixar a marcação de Walter para tentar barrar o camisa 10. O passe genial por cima achou o atacante que, agora livre dentro da área, só teve o trabalho de bater no canto esquerdo de Elisson.

Em seu melhor momento no jogo, um Cruzeiro num 4-3-3 com muita mobilidade, com Élber na articulação central e Montillo aberto pela direita, de onde saiu o golaço do argentino

No segundo tempo, Mauro Fernandes lançou o veloz Thiaguinho no lugar do lateral esquerdo Zé Rodolfo. O meia jogou bem aberto pela esquerda e pôde atacar sem preocupações, já que Carciano e o volante Higo faziam a cobertura pelo setor. A estratégia deu certo e o lado direito da defesa celeste passou por apuros. O chute para fora de Thiaguinho, em uma jogada iniciada por ele próprio para Henrique e Francismar servir, foi o sinal de alerta para o Cruzeiro recuar a sua linha de volantes e segurar Marcos. Os ataques dos visitantes passaram a não ter tanto efeito, pois Thiaguinho já não tinha tanta liberdade, mas em contra-partida os próprios mandantes não conseguiam atacar com perigo também.

O técnico do Villa Nova então tentou sobrecarregar a defesa azul, colocando o atacante Vinícius. Mas tirou o jogador errado de campo: Francismar, o principal articulador da equipe. Thiaguinho e Eliandro não conseguiram suprir com a mesma criatividade, e o efeito foi que o Villa Nova passou a ter apenas quatro jogadores no meio, o mesmo número que o Cruzeiro. O Villa perdeu em posse, e, para piorar (ou melhorar, do ponto de vista azul), Vágner Mancini lançou o jovem Élber no lugar de Gilson, com Everton indo ocupar a lateral esquerda. O garoto ocupou a faixa central do meio-campo, empurrando Montillo para o ataque, e sem Francismar para vigiar, Leandro Guerreiro pôde fazer a dupla de volantes com Rudnei, fazendo um 4-2-1-3 bem ao estilo da Seleção Brasileira de Mano Menezes.

Não demorou muito a surtir efeito. Em dois lances, Montillo foi lançado pelo lado direito do ataque, em velocidade e sem marcação. No primeiro, centrou rasteiro para Élisson defender a conclusão de Élber e o rebote de Wallyson. No segundo, recebeu inversão de Wallyson, cortou para dentro deixando o volante Anderson Toto na saudade e concluiu rasteiro. Golaço.

Anderson Toto, diga-se de passagem, havia entrado no lugar do zagueiro central Álvaro, fazendo o Villa voltar a ter uma linha de 4 jogadores atrás. No momento do gol, porém, a equipe visitante parecia estar jogando no início do século com 2 zagueiros e 3 volantes, como pode se ver na imagem abaixo.

Acredite, Montillo está sozinho, sem marcação, fora do quadro, momentos antes de fazer o segundo gol do Cruzeiro (globo.com)

Um 2-3-5? Certamente que não, mas sim a velocidade da jogada pegou os laterais villanovenses desprevenidos.

Com a boba expulsão de Walter, o Villa Nova se mandou à frente e Mancini lançou Amaral no lugar de Wallyson. O Cruzeiro recuou bastante num 5-3-1, com Montillo sozinho à frente e Leandro Guerreiro se posicionando afundado entre Victorino e Leo. Os visitantes tiveram muito espaço na intermediária ofensiva, mas o Cruzeiro defendeu bem sua área e cozinhou o jogo até o tempo acabar.

Se por um lado vemos pequena evolução, jogo a jogo, no 4-3-1-2 losango, os jogadores ainda têm certa dificuldade ao executar outros esquemas, já que a vitória por 6 x 0 sobre o fraquíssimo Rio Branco não pode servir de parâmetro. No entanto, o Campeonato Mineiro (e a Copa do Brasil nestas primeiras fases) são excelentes laboratórios para testar o comportamento do time em posicionamentos diferentes. A decisão de se jogar com três na frente contra um 3-5-2 provavelmente não é a melhor, mas é improvável que, no decorrer da temporada, o Cruzeiro vá enfrentar times mais experientes que joguem neste esquema.

Mas, uma coisa é certa: temos um jogador que decide, mesmo sem espaço. Com espaço então…

Nota: Somente ao preparar as imagens deste último post é que percebi que o posicionamento dos zagueiros Léo e Victorino está invertido. Como todos sabem, Léo joga na direita e Victorino na esquerda. A partir do próximo post, tudo estará normal.

Cruzeiro 3 x 0 Tupi – A caminho da maturidade

Substituições certeiras – e dois gols de Anselmo Ramon como único homem de referência – deram a tranquilidade que o Cruzeiro precisava para espantar a crise.

Vágner Mancini escalou os 11 esperados, sacando Amaral para a entrada de Roger no meio, e Marcos no lugar de Gilson, com Diego Renan voltando à lateral esquerda. Já o Tupi veio para o jogo num misto de 4-2-2-2 e 4-2-3-1, com a chave sendo o posicionamento de Alan Taxista pelo lado direito, muito mais posicionado como meia do que como atacante. Michel e Leo Salino completavam o trio criativo com Adenilson sozinho à frente.

O losango “torto” celeste com Roger de box-to-box pela direita

A agradável surpresa foi o posicionamento de Roger, que recuava tanto que frequentemente se encontrava atrás da dupla de volantes, dando mais qualidade à saída de bola azul. Era um 4-3-1-2 em losango “torto”: o meia jogou mais pela direita, fazendo um papel de “box-to-box” (uma expressão inglesa que denota um jogador que transita no espaço entre as duas grande-áreas), Marcelo Oliveira na sua posição habitual pela esquerda e com um pouco mais de liberdade do que Leandro Guerreiro, primeiro vértice. Este ficou mais responsável por cobrir o apoio do lateral Marcos, muito bem na partida.

O resultado é que o time celeste teve muito mais ação ofensiva pela direita do que pelo outro lado. O primeiro gol saiu numa excelente jogada de Montillo, que, como de costume, circulava por todos os lados. O argentino recebeu a bola naquele flanco e girou em cima de seu marcador George, que o perseguiu por todo o campo. O volante teve que recorrer à falta, e a excelente cobrança de Roger achou Wellington Paulista livre para abrir o placar.

Sem a bola, o Cruzeiro se defendeu com o mesmo esquema das partidas anteriores, mas com uma fundamental diferença: Roger, como volante, se posicionava um pouco mais à frente, ocupando o espaço entre o meio e o ataque, que era um problema crônico da defesa azul. Defendendo muito bem sua grande área, o Cruzeiro impediu o trio criativo do Tupi de fazer jogadas mais agudas, que eram quase sempre obrigados a recuar a bola para os volantes para manter a posse. Esses, por sua vez, não eram jogadores de criatividade, e por causa disso Fábio mal viu a bola no primeiro tempo.

Nos minutos antes do intervalo, Roger passou a ser melhor marcado e com isso o time passou a administrar o placar. E, com a dupla de ataque se desfez no segundo tempo, cabe aqui uma observação. Reparem como WP e Anselmo Ramon raramente se conectam no ataque. Isto acontece porque ambos são jogadores muito semelhantes – são o homem de referência, ora segurando a bola para a chegada do time, ora se posicionando dentro da área para uma conclusão de um passe pelo alto ou cruzamento (veja o posicionamento dos dois no primeiro gol). Quando atuam juntos, não são tão eficientes, já que um tem que sair do caminho do outro, abrindo, e não rendem tanto quando estão fora de suas posições “naturais”. Não é de se estranhar que a dupla tenha feito 100% dos gols do time este ano e 0% das assistências.

Cruzeiro com as alterações, com Rudnei e Walter se aproximando de Montillo

O segundo tempo começou como terminou o primeiro, com a exceção de que o Tupi se lançou um pouco mais à frente. Com Roger mais apagado, o Cruzeiro recuou suas linhas naturalmente, e um leve domínio dos juizforanos apareceu, mas nada muito contundente. As melhores chances criadas pelos visitantes foram chutes de fora de área, sendo que em um deles Michel obrigou Fábio a fazer uma dupla defesa espetacular.

Mas com as substituições, o jogo mudou novamente. Mancini promoveu a estréia do atacante Walter no lugar de WP, e pôs Rudnei no lugar de Marcelo Oliveira. Walter se posicionou como segundo atacante e Rudnei foi um volante com muita liberdade para atacar pela direita. Com isso, Roger passou para o lado esquerdo. No Tupi, o volante Jaílson deu lugar ao meia-atacante Ulisses, transformando o Tupi num 4-1-3-2 com o avanço de Alan Taxista, numa tentativa de empatar a partida aproveitando o melhor momento no jogo.

Foi em vão. O trio Rudnei-Montillo-Walter combinou bem as jogadas, ajudado pelo espaço criado à frente da zaga juizforana com a saída de um dos volantes. George, sozinho, não foi capaz de comandar a marcação e o lado direito azul ganhou mais velocidade. O segundo e o terceiro gols surgiram, novamente, por aquele lado: no segundo, uma jogada de Montillo com Walter, que achou Rudnei na entrada da área, jogando como um meia. Este serviu com açúcar para Anselmo Ramon – agora único homem de referência no ataque – que tocou no canto direito de Rodrigo. O terceiro foi um cruzamento certeiro de Marcos numa outra jogada do 10 argentino, que Anselmo Ramon cabeceou sem chances para Rodrigo.

Percebendo o erro, o técnico do Tupi voltou ao 4-2-3-1 original com a entrada do zagueiro Paulinho como volante, no lugar do meia Leo Salino, com Alan Taxista voltando ao meio-campo, para evitar uma goleada maior. O Cruzeiro também desacelerou e o jogo ficou morno até os minutos finais, com o Cruzeiro por vezes tentando impor velocidade, mas sem sucesso no último passe.

Algumas conclusões a serem tiradas desse jogo:

  • WP e Anselmo Ramon estão certamente com os dias contados como dupla de ataque titular, Walter foi muito bem e deve entrar no time em um futuro muito próximo;
  • Roger deu criatividade ao time enquanto conseguiu jogar, mas no segundo tempo desapareceu, então é preciso pensar em uma alternativa para a criação além de Montillo;
  • Marcos também foi bem na lateral direita, e deve manter o lugar no time;
  • Rudnei é uma ótima opção para destravar uma retranca, pois é um volante mais incisivo;
  • o lado esquerdo vai precisa de mais criatividade;
  • os problemas mais graves dos primeiros jogos foram resolvidos, mas a qualidade de passe não: o time ainda erra muito e perde a posse da bola.

A evolução foi pequena, mas é clara. Ainda há muito espaço para crescer, no entanto. Já era para estarmos andando, mas ainda estamos engatinhando. A minha aposta é que, à época da reinauguração do Independência, no reencontro com Belo Horizonte, a maturidade chegue.

Pit-stop na segunda volta

O técnico cruzeirense Vágner Mancini demonstrou hoje que pode entrar com mudanças para o próximo jogo contra o Tupi, domingo na Arena do Jacaré. Em relação ao time que iniciou o jogo contra o Guarani, Marcos entraria no lugar de Gilson, com Diego Renan se deslocando para a lateral esquerda, e Roger entraria no lugar de Amaral.

Roger é um meio-campista que cadencia o jogo, diferente de Montillo, que é mais driblador. Por já ter mais primaveras, tem uma forma física menos privilegiada, o que faz com que se poupe mais em campo. Por isso, atualmente, ele é um jogador que fica mais recuado, ditando o ritmo e mantendo a posse, esperando por uma oportunidade de fazer um passe mais agudo. Essa criatividade foi exatamente o que faltou ao Cruzeiro no primeiro jogo.

A entrada do meia significa uma mudança no desenho tático. O Cruzeiro poderia jogar num 4-2-2-2 “torto”, com Marcelo Oliveira um pouco mais solto que Leandro Guerreiro, se aproximando mais da dupla de criação, com Montillo avançando até dentro da área e Roger um pouco mais recuado.

Cruzeiro no 4-2-2-2 “torto”, com Roger mais recuado que Montillo

Essa tática funcionou bem no início do ano passado, mas havia uma diferença. A dupla de ataque era Thiago Ribeiro e Wallyson, dois velocistas, e que jogavam mais abertos do que o atual duo WP-Anselmo Ramon. Será preciso muita movimentação destes dois para que Montillo não fique sem espaço para correr à frente.

Mancini pode optar, também, por um 4-2-3-1 (o esquema da moda), abrindo Roger pela esquerda, deixando Montillo na articulação central e recuando WP pela direita, deixando Anselmo Ramon como homem de referência. Isso também exigiria uma movimentação maior de WP, pois sem a bola ele teria que recompor a marcação pelo lado, ajudando Marcos naquele setor. Mas nós sabemos como WP pode ser precipitado defendendo.

4-2-3-1 com Roger aberto pela esquerda e WP recuado

O treinador pode até tentar manter o losango, com Guerreiro no primeiro vértice, Marcelo Oliveira e Roger pelos lados e Montillo na ligação.

A manutenção do losango dos primeiros jogos

A impressão que fica é que, com tanto tempo para treinar – mais que qualquer outro time da Série A – o Cruzeiro não conseguiu encaixar suas peças e já parte para mudanças no segundo jogo da temporada. Das duas uma: ou Vágner Mancini não fez um bom trabalho, ou ele mesmo não acredita no que treinou. De qualquer forma, parece que o mês de pré-temporada foi jogado no lixo e o trabalho recomeçado.