Cruzeiro 1 x 1 Fluminense – Fail

Jogando de igual para igual contra um elenco superior, o Cruzeiro mostrou evolução tática mas não conseguiu segurar a vitória contra o Fluminense no Independência na noite de quarta. Uma falha de cada defesa — mais algumas da arbitragem — sacramentaram o primeiro empate com gols do Cruzeiro na competição.

O onze inicial do Cruzeiro num 4-3-1-2 losango que variava para um 4-2-3-1 com o avanço de Everton e a cobertura de Leandro Guerreiro na esquerda na caça à Thiago Neves

Oficialmente, o Cruzeiro entrou em campo num 4-3-1-2 losango, a mesma formação da vitória contra o Bahia, mas com uma modificação no meio. Debaixo das traves, Fábio teve Ceará pela destra, Léo, Thiago Carvalho centralizados e Everton — escalado ao invés de Diego Renan no lugar de Marcelo Oliveira — na canhota de sua defesa. A entrada da área era protegida por Leandro Guerreiro, que tinha Charles pela direita e Lucas Silva pela esquerda — uma inversão em relação ao jogo em Pituaçu, provavelmente para dar mais segurança ao lado esquerdo da defesa. No topo do losango, Montillo pensava para Fabinho, mais aberto pela direita, e Wellington Paulista na referência.

Vendo o diagrama, é possível pensar que o lado esquerdo do ataque ficaria abandonado, fazendo as ações ofensivas ficarem previsíveis e facilitando a marcação adversária. A entrada de Everton ao invés de Diego Renan, porém, explica: Leandro Guerreiro perseguia Thiago Neves, que caía constantemente pela direita do ataque. Com isso, Guerreiro fechava a defesa pela esquerda, “empurrando” Everton à frente para fazer a linha de 3 com Montillo por dentro e Fabinho à direita, atrás de WP, e Lucas Silva e Charles faziam uma dupla de volantes com bom passe. Estava configurado um 4-2-3-1.

Abel Braga, para surpresa deste blogueiro, armou o Fluminense num estreito 4-2-2-2. O goleiro Diego Cavalieri viu Gum e Leandro Euzébio à sua frente, flanqueados por Wallace à direita e Carlinhos do lado oposto. Edinho e Jean protegiam a defesa e suportavam a dupla criativa Thiago Neves e Wagner (aquele mesmo). Na frente, Fred era a referência e tinha Samuel caindo pelos lados. Quando tinha a bola, Thiago Neves abria pela direita, deixando Wagner pensar mais o jogo pelo outro lado, fazendo um híbrido de 4-2-1-3 e 4-3-3 com triângulo alto no meio-campo, com o avanço de um dos volantes.

O Cruzeiro começou numa intensidade incrível já desde os primeiros minutos. Logo aos três, Montillo carregou a bola em um contra-ataque velocíssimo, atraindo a marcação, e depois passando a Fabinho, que concluiu assim que entrou na área. A bola passou por Cavalieri, beijou sua trave esquerda e a zaga do Fluminense afastou para a lateral. Na cobrança, Ceará mandou direto para a área, e a zaga do Fluminense ficou olhando WP dominar meio com a cabeça meio com a mão, e completar pro gol. Os jogadores do Fluminense foram reclamar com o assistente de fundo, mas o árbitro confirmou o gol, e mesmo se WP de fato tiver dominado com a mão, isso não justifica a falha da zaga carioca no lance, que deixou um lateral ser cobrado diretamente para um atacante dentro da pequena área — ainda que o gol não acontecesse.

A intensidade continuou após o gol. O Cruzeiro atacava por ambos os lados e dificultava muito a marcação adversária, e algumas chances foram criadas, com Montillo saindo de dois adversários e concluindo mal, e Fabinho chutando para fora ao ficar de frente para Cavalieri dentro da pequena área, tendo Everton e WP como alvos para passar a bola.

A coisa estava tão feia para o Fluminense, que em um lance de atendimento médico, consegui ver da arquibancada atrás do gol alguns jogadores se reunindo próxmo ao círculo central, discutindo e apontando com a mão para algumas regiões do campo. Estavam certamente tentando entender o que havia de diferente e o que precisava ser corrigido. Deve ter funcionado, pois a partir da metade do primeiro tempo, a intensidade cruzeirense foi diminuindo — nenhum time no mundo conseguiria manter ritmo tão forte durante os noventa minutos — e o jogo ficou mais equilibrado. O Cruzeiro escolheu uma estratégia de partir em contra-ataques velozes ou usar bolas longas, como no lance de pênalti não marcado de Wallace sobre Everton, o que poderia ter ampliado a vantagem e dar outra cara ao jogo. O Fluminense passou a ter mais volume e foi se aproximando da área de Fábio aos poucos, e começava a criar chances. Fred, por duas vezes, foi parado por Fábio, mas em uma jogada ensaiada não conseguiu pará-lo pela terceira vez no finzinho da primeira etapa: bola parada, cobrança de falta para a direita da área onde Thiago Carvalho marcava Gum. O zagueiro carioca cabeceou para dentro da pequena área, onde estava Fred, que completou para o gol praticamente em cima da linha. Quem marcava o jogador era Ceará, e Fábio não saiu do gol. Falha geral da defesa celeste.

Os times voltaram os mesmos do intervalo, mas pareciam totalmente diferentes. Parecia que nenhuma das duas equipes queria se arriscar demais para não dar campo para o adversário. O Cruzeiro levantava muitas bolas na área, mas na maioria das vezes elas eram seguras por Cavalieri ou iam para fora. Já o Fluminense pouco ameaçava, e Abel Braga resolveu mexer duplamente: trocou Carlinhos por Tiago Carleto, sem alteração na formação, e um atacante por outro, o lento Samuel por um Matheus Carvalho um pouco mais móvel. Mas somente cinco minutos se passaram até que Matheus Carvalho se desentendesse com Charles dentro da área cruzeirense e o juiz mandasse os dois pra fora.

Uma possível formação do Cruzeiro após a dupla expulsão: sem atacante de referência e Wallyson e Fabinho fechando os flancos, para chamar o Fluminense e usar os contra-ataques. Mas Celso preferiu manter WP em campo

Sem Charles, Guerreiro voltou ao meio-campo, e Everton recuou para a lateral esquerda. No Fluminense, nenhuma alteração. O que significava ambos os times no 4-2-2-1. Celso Roth demorou a mexer no time, aos 35, e ainda assim trocando um velocista por outro, Fabinho por Wallyson. Wallyson era sim a opção correta, mas o jogador a sair era WP, com dois jogadores velozes combinando com Montillo para tentar a velocidade em um campo com muito espaço. Talvez o comandante celeste tenha ficado receoso de perder a referência na área, mas era exatamente isso que faria nos ganhar o meio-campo com um homem a mais numa espécie de 4-2-3-0, causando sobra redundante na defesa adversária.

Rafael Sóbis entraria no lugar de Wagner para configurar de vez o 4-2-3 suicida do Fluminense. A ideia era reter a posse de bola, mas os volantes do Cruzeiro conseguiam fazer isso com mais qualidade e o Cruzeiro acabou avançando mais e mais, mas sem sucesso no último passe. Ceará saiu para Diego Renan, por cansaço, sem configurar alterações táticas, e só bem no fim Souza entrou no lugar de Montillo, também cansado. Nem deu muito tempo do meia tocar na bola e o juiz já havia apitado o fim do jogo.

O primeiro empate com gols poderia vir de duas formas: com o Cruzeiro saindo atrás no placar e empatando ou vice-versa. Infelizmente foi do segundo modo, quebrando a escrita de sempre vencer quando fazia o primeiro gol. Poderíamos considerar isso um mau sinal, em uma primeira análise, mas a verdade é que o Fluminense tem um dos elencos mais qualificados do campeonato, o time joga junto há bem mais tempo e por isso mesmo está bem mais maduro. O Cruzeiro jogou de igual para igual e até melhor do que os cariocas em determinados momentos do jogo, portanto há mais coisas positivas a se destacar do que negativas nesta partida.

Mais uma vez, Everton demonstrou que pode ser um bom ponteiro esquerdo, desde que esteja devidamente protegido em sua defesa. Talvez um bom teste seria escalá-lo do lado direito, com Montillo de ponteiro esquerdo e tendo Souza ou Tinga por dentro no 4-2-3-1. A dupla Charles e Lucas Silva também foi muito bem, e pode ser útil quando o time precisar sair para o abafa tendo dois volantes passadores no meio. Lucas Silva, em particular, fez sempre jogos consistentes nas três oportunidades que teve, contra Portuguesa, Bahia e Fluminense.

A nota negativa desta partida fica por conta da demora de Roth em mudar o time após as expulsões. É claro que ele não tem o elenco que gostaria, com uma miríade de opções no banco, mas os jogadores que lá estavam poderiam sim dar uma outra cara ao jogo naquele momento. Além disso, quando fez as substituições, fez trocas conservadoras. Alguns torcedores chamaram o treinador de “burro” atrás de mim na arquibancada naquele momento.

Contra o Coritiba, que é o time que mais joga pela direita do campeonato, o time terá de ter um lado esquerdo forte defensivamente. Charles, Léo e Everton estão suspensos, com Lucas Silva e Rafael Donato entrando nos lugares dos dois primeiros, mas com a dúvida na lateral esquerda: Marcelo Oliveira ou Diego Renan? O primeiro tem mais poder de marcação que o segundo, mas sai bem menos para o jogo, e o segundo é lateral de ofício, apesar de não estar em boa fase. Para mim, Marcelo é a melhor opção em termos táticos.

Seria excelente voltarmos com a vitória de Curitiba para termos moral no clássico. E num clássico, confiança é fundamental.

Bahia 0 x 1 Cruzeiro – Sofrer sem sofrer

Mesmo sem jogar bem ofensivamente e correndo riscos desnecessários, sair à frente no placar deu a tranquilidade que o Cruzeiro precisava para fazer o frágil ataque do Bahia passar em branco, no último sábado em Pituaçu.

O 4-3-1-2 losango cruzeirense do primeiro tempo, com Ceará bem mais solto que Marcelo Oliveira e sendo coberto por Lucas Silva, que sobrou no meio-campo e também chegava ao ataque com qualidade

Celso Roth fez mudanças em cinco posições e escalou o Cruzeiro num 4-3-1-2 losango “a la” Vagner Mancini. O gol de Fábio foi defendido por Ceará na direita, Marcelo Oliveira na esquerda e Léo e Thiago Carvalho no miolo. À frente destes, Leandro Guerreiro foi o vértice mais baixo do losango, que ainda tinha Lucas Silva pela direita e Charles pela esquerda. No topo, Montilo ligava para Borges, mais centralizado, e Wellington Paulista, mais pelos lados.

O Bahia foi escalado por Caio Júnior em seu esquema preferido, o 4-2-3-1, mas que tinha uma característica diagonal. O goleiro Marcelo Lomba teve os volantes Diones e Hélder nas laterais direita e esquerda respectivamente, com Danny Morais e Titi de zagueiros centrais. Fabinho e Fahel suportavam na volância Mancini, articulador central, que tinha Zé Roberto, um pouco mais recuado e aberto pela direita, Gabriel mais à frente do lado oposto e Rafael no comando do ataque.

Os dois flancos cruzeirenses tinha comportamentos diferentes. Do lado esquerdo, Marcelo Oliveira ficava naturalmente mais preso. Com isso, Charles não precisava cobrir as investidas do camisa 6 e continuou exercendo sua função de marcador no meio campo, pegando principalmente o volante adversário Fabinho, que era quem se arriscava mais — Fahel ficava mais plantado, por vezes recebendo a marcação de Montillo.

Mas o lado mais forte do Cruzeiro era o direito. Tudo porque, como Guerreiro perseguia Mancini, Lucas Silva sobrava no meio-campo. Assim, ora o garoto cobria os avanços de Ceará pela direita, marcando o meia-atacante Gabriel, ora tinha liberdade para sair, fazer o primeiro passe e até se juntar ao ataque. Tanto que em um determinado lance, mandou um petardo de fora da área que passou rente à trave direita de Lomba. Exerceu a função de meio-campista pela direita com qualidade, fazendo uma excelente partida.

E foi pela direita que nasceu o gol, em avanço de Ceará. Marcado de longe por Hélder, Ceará encaixou um cruzamento para os dois alvos dentro da área. Os zagueiros até conseguiram rebater, mas a bola sobrou para Montillo, dentro da área e com espaço. Ajeitou e finalizou primorosamente, fora do alcance dos pés dos zagueiros e da mão do goleiro adversário.

Sair na frente, como tem sempre acontecido nas partidas do Cruzeiro, acalmou os ânimos. Com um homem a mais no meio-campo, o Cruzeiro se dava ao luxo de rodar a bola com paciência, e conseguia chegar até com certa facilidade perto da área baiana. Porém, como aconteceu na partida contra a Ponte Preta, o time só atacava por um lado e ficava previsível na marcação, facilitando o trabalho dos defensores da casa. A rigor, a única boa chance do Cruzeiro além do gol foi uma bola roubada por Montillo, fazendo pressão alta no zagueiro do Bahia. Roubada a bola, o argentino esperou o posicionamento de Borges, dando um passe primoroso, fora do alcance de Lomba. Borges mandou pra fora o que seria o gol da tranquilidade absoluta.

Já o Bahia não ameaçou a meta cruzeirense nenhuma vez com real perigo no primeiro tempo, muito por conta da boa marcação que o Cruzeiro exercia nos articuladores Zé Roberto, Mancini e Gabriel. Rafael praticamente não tocaria na bola se não recuasse algumas vezes para participar do jogo no meio-campo. Com a linha de três bem marcada, quem tinha de sair para o jogo era Fabinho, o que abria ainda mais o meio-campo com quatro jogadores do Cruzeiro.

Além disso, estranhamente o Bahia não saía pelo lado direito com Diones, preferindo sair pela esquerda com Hélder. Ambos estavam livres, mas quando Hélder era acionado, Ceará e Lucas Silva alternavam na marcação, e pelo lado oposto Diones tinha campo livre, já que Charles estava mais para dentro do campo e Marcelo Oliveira estava mais preso na defesa. Isso também facilitou a marcação, e o primeiro tempo terminou com o Cruzeiro controlando a posse e o Bahia ameaçando pouco.

Os dois times voltaram modificados do vestiário. Roth tirou Borges e lançou Anselmo Ramon. A intenção era chutar a bola em direção ao pivô, para que ele segurasse a bola e esperasse a chegada dos companheiros. Já Caio Júnior colocou Lulinha na vaga de Fabinho. Ele foi jogar do lado esquerdo, Gabriel inverteu para a direita, recuando Zé Roberto para pensar o jogo ao lado de Mancini. O time se transformou num 4-3-3 brasileiro, ou 4-1-2-3.

A segunda etapa começou, entretanto, com o Cruzeiro postado num 3-4-1-2, com Guerreiro afundado entre os zagueiros. Talvez Celso Roth tivesse pensado que Lulinha seria mais um atacante ao lado de Rafael, e portanto fez a sobra sem prender os laterais, que continuariam marcando os jogadores abertos. Assim, os dois times passaram e ter trios no centro do campo, desfazendo a vantagem numérica cruzeirense no setor que havia no primeiro tempo. A consequência foi um pequeno sufoco que o Bahia aplicou nos minutos iniciais, ma sem finalizações perigosas e com muitas bolas na área, todas rebatidas pela zaga.

Aparentemente o próprio Leandro Guerreiro deve ter percebido que estava fazendo uma sobra redundante tendo apenas um jogador dentro da área, e avançou novamente para o meio-campo, recompondo o 4-3-1-2 losango inicial. A pressão baiana arrefeceu e o Cruzeiro começou a controlar novamente a posse no meio-campo, sempre tendo linhas de passe para sair tocando com tranquilidade.

Aos 20, trocas de laterais direitos nas duas equipes, mantendo a formação de ambas. Ceará deu lugar a Diego Renan, por contusão. No Bahia, Diones, volante improvisado, saiu para a entrada de Gil Bahia, revelação da base do Cruzeiro. O garoto, muito mais ofensivo que Diones, entrou para equilibrar os dois lados, e acabou fazendo dois contra um em cima de Marcelo Oliveira, junto com Gabriel. WP teve que começar a recuar pelo lado direito para ajudar Marcelo, e com os três volante do Cruzeiro postados na frente da área, o Cruzeiro ficou postado num estranho 4-4-1-1, meio torto, com um buraco do lado esquerdo, eventualmente preenchido por Montillo fazendo um 4-5-1 em linha pouco usual.

O Bahia avançava suas linhas cada vez mais, empurrando o Cruzeiro para dentro de sua própria área. Com a frente da área bem protegida, o Cruzeiro forçava o jogo do Bahia pelos lados, e o atacante adversário do lado oposto entrava na área para ser alvo dos inúmeros cruzamentos tentados. De tanto insistir, alguns foram certos, mas para sorte do Cruzeiro, nenhuma finalização foi muito perigosa, e Fábio teve pouco trabalho.

O estranho híbrido de 4-4-1-1 e 5-3-1-1 super defensivo do final da partida, tendo WP quase como volante e Anselmo Ramon como alvo das rebatidas para segurar a bola e esperar os companheiros

A última cartada de Caio Júnior foi sacar seu atacante Rafael e lançar o estreante Caio em seu lugar. O meia jogou um pouco mais recuado, os atacantes abertos entraram um pouco mais no campo e o Bahia ficou com cara de 4-1-3-2, sem centro-avante. O treinador baiano queria tentar o gol pelo chão, mas a alteração não deu muito certo e o Bahia continuava levantando bolas na área. A zaga do Cruzeiro começou a ganhar as bolas, e a entrada de Souza no lugar de um cansado Montillo, quase como um lateral esquerdo, mandando Marcelo Oliveira mais para dentro do campo e dando uma cara de 5-3-1-1 ao time, fez com que o ímpeto baiano fosse diminuindo e matando o jogo aos poucos. A bola foi ficando pelo meio-campo e a vitória veio.

Uma vitória, aliás, que veio muito mais pela qualidade técnica de Montillo na finalização do que no posicionamento tático. É verdade que com um homem a mais no meio-campo o Cruzeiro teve mais controle do setor, mas não soube aproveitar muito isto. Além disso, continuou a previsibilidade do ataque, insistindo praticamente somente pela direita ao invés de tentar virar o lado da jogada e surpreender o adversário. Isso precisa ser corrigido rapidamente.

Particularmente, não gosto dessa formação em losango. É uma boa formação quando se tem laterais ofensivos, que apóiam com qualidade, mas nossos laterais, com uma reticente ressalva feita a Ceará, não tem essa qualidade e acabam ficando muitos expostos. Se medidas forem tomadas para ajudá-los, como por exemplo, mandar os lados do losango na cobertura, abrimos o meio-campo e provavelmente perderemos a batalha pela posse de bola. Eu ainda prefiro o 4-2-3-1 com Montillo de ponteiro esquerdo.

Mas nem tudo são espinhos. Mais uma vez o garoto Lucas Silva provou que pode sim ser titular neste time, é uma grata surpresa para Celso Roth. Provavelmente será mantido. Outra virtude a se ressaltar foi que o passe errado na transição — um dos maiores defeitos da equipe atual — não apareceu na partida, o que foi consequência direta da calma do time. Esta, por sua vez, foi causada pelo fato de o time já estar à frente no placar. É um efeito cascata, que evidencia o quanto o fator psicológico vem influenciando na atuação da equipe no campeonato.

O próximo jogo será em casa contra o vice-líder Fluminense. Será o primeiro depois do episódio da torcida versus Charles na partida contra a Ponte Preta. É preciso que a torcida jogue junto, para não desestabilizar ainda mais o emocional do time.

Outra coisa importante será a formação: o Fluminense joga num conhecidíssimo 4-2-3-1, com Fred sendo suportado por três entre Deco, Thiago Neves, Wagner (aquele mesmo), Rafael Sobis e Wellington Nem. Um meio-campo ofensivo de dar inveja. Deco e Nem devem estar fora, portanto o quarteto ofensivo deve ser Sobis, Thiago Neves, Wagner e Fred. Não sou da opinião de que o losango deva ser mantido, mas a julgar pela sequência de trabalho de Celso Roth, isso deverá acontecer, e portanto podemos esperar um Cruzeiro mais recuado esperando o Fluminense em seu campo para partir em velocidade nos contra-ataques, mesmo em casa.

Sair para o jogo com essas formações em campo será arriscar demais, e o que importa atualmente são os três pontos, mesmo que seja com um futebol desagradável aos olhares brasileiros.

Corinthians 2 x 0 Cruzeiro – Xeque-mate

No jogo de xadrez que a partida contra o Corinthians certamente seria, Celso Roth perdeu para Tite. O treinador corintiano mostrou que, mesmo sem brilho, um time aplicado taticamente consegue controlar o jogo e errar menos para construir a vitória.

Na volta do 4-2-3-1 diagonal, WP e Magrão mal como ponteiros, e Sandro Silva se preocupando somente com Paulinho sem sair para o jogo

Celso Roth “atendeu” aos meus apelos e voltou ao 4-2-3-1 diagonal, mas um pouco diferente dos anteriores: a meta de Fábio foi defendida por Ceará pela direita e Diego Renan pela esquerda, flanqueando Léo e Mateus; estes eram protegidos por Leandro Guerreiro, ligeiramente pela direita, Sandro Silva um pouco mais avançado e mais à esquerda, e William Magrão, fazendo um híbrido de meia e terceiro volante, mais aberto pela direita. Montillo articulava pelo centro caindo pelas pontas, Wellington Paulista caía mais pela esquerda mas ficava mais avançado — daí o “diagonal”.  No centro do ataque, Borges.

Tite mandou um 4-2-3-1 “clássico” a campo, mas sem um centroavante de área, por vezes parecia um 4-2-4-0, devido à intensa movimentação do quarteto ofensivo. O goleiro Cássio viu sua dupla de zaga Chicão e Paulo André formarem a linha defensiva com Alessandro pela direita e Fábio Santos do outro lado. Ralf e Paulinho na dupla volância, o primeiro mais preso, à esquerda, o segundo saindo mais para o jogo, à direita. Jorge Henrique e Romarinho fechavam os lados do campo e Emerson e Danilo alternavam entre o comando do ataque e a criação central.

Quando dois 4-2-3-1 se enfrentam, os duelos naturais são: lateral contra ponteiro nos quatro cantos do campo, dois zagueiros contra um centroavante nas duas áreas e dois trios no meio, normalmente com um volante se ocupando do meia central adversário e o outro volante mais livre. Assim foi: Guerreiro se ocupava com Danilo e Ralf com Montillo: sobravam Sandro Silva e Paulinho. Teoricamente, ambos deveriam sair mais para o jogo, mas o que aconteceu foi que Sandro ficou por conta de marcar as investidas de Paulinho quando o Corinthians tinha a bola. Até funcionou, mas isso deixou o Cruzeiro sem muitas opções de saída, já que os laterais apoiavam pouco, presos pelos ponteiros adversários, e William Magrão marcava mais do que jogava. WP recuava para buscar o jogo mas ficava isolado contra dois ou três corintianos e perdia a bola.

Por isso, até os 20 minutos, o jogo seguiu equilibrado, sem muitas chances de gol para cada lado. Mas havia uma diferença clara: ambos os times marcavam muito, mas enquanto o Cruzeiro era forçado ao erro quando era pressionado, o Corinthians conseguia encaixar uma sequência de passes, fazendo os jogadores cruzeirenses correrem mais atrás da bola do que os adversários. Assim, o Corinthians conseguia impedir as jogadas adversárias forçando o passe ruim ou a devolução da posse, enquanto o Cruzeiro chegava atrasado e fazia mais faltas. Sandro Silva, sem ritmo de jogo, seria amarelado já aos 14 minutos por cometer seguidas infrações consecutivamente.

Este amarelo viria a ser crucial na partida momentos depois. Sandro Silva, em um lance em que tinha a bola controlada e era só clarear para frente, tentou sair jogando, errou o tempo da bola e ela escapou, muito mais para Jorge Henrique, já dentro da área, do que para ele próprio. Assim que ele partiu para tentar dividir a bola, este blogueiro previu o pênalti acontecendo. Carrinho imprudente, pênalti indiscutível. Só não foi pior porque o árbitro da partida, Leandro Vuaden, errou ao não mostrar o segundo amarelo para o jogador.

Chicão converteu o pênalti e pôs o time da casa em vantagem. E se o juiz não expulsou Sandro do jogo quando deveria, foi o próprio técnico Celso Roth quem o fez: “expulsou” o jogador via substituição, temendo o inevitável cartão vermelho, e lançando Fabinho em seu lugar. Com isso, Magrão foi para a esquerda segurar Paulinho e Fabinho foi jogar aberto pela direita, mas como atacante. O Cruzeiro se configurava num 4-2-1-3 ainda no primeiro tempo.

Tite respondeu mudando seus jogadores de posição. Romarinho inverteu para tentar jogar mais avançado às costas de Diego Renan, e Jorge Henrique veio para o lado esquerdo mais recuado, fazendo um 4-2-3-1 diagonal que era quase um losango de meio-campo. A intenção era clara: dominar a posse de bola no meio-campo, fazendo quatro jogadores contra três, e foi isso o que aconteceu. Depois do gol o Cruzeiro passou a ser pressionado em sua própria área, e não conseguia sair dela. Todas as segundas bolas eram dos mandantes, e o segundo gol só não saiu ainda na primeira etapa porque temos Fábio debaixo das traves: o camisa 1 fechou em cima de Romarinho, que tentou encobri-lo ao receber lançamento de Emerson.

Os times voltaram do intervalo sem mudanças. Talvez Celso temesse queimar a segunda substituição ainda no intervalo, o que é um argumento plausível, mas era hora de arriscar. Para a sorte do treinador, Tite desconfiou do poderio de ataque celeste e recuou seu time para jogar em velocidade nos contra-ataques. Os volantes cruzeirenses tiveram mais tempo na bola em algums momentos, com a marcação corintiana variando na pressão alta e no bloco médio. Porém, novamente os passes errados apareceram novamente, e o Corinthians jogava extamente aí: em um lance, a bola já havia sido perdida pelos atacantes da casa, mas ainda estava em disputa. Magrão recuou para Diego Renan, que recuou de primeira para Fábio, sob pressão de Fábio Santos. O goleiro tentou dar um chutão para frente, a bola pegou na mão do lateral corintiano, o juiz nada marcou e ele cruzou para Emerson, sozinho e sem goleiro, furar.

O estreito e cambaleante 4-2-2-2 do fim da partida, com WP e Borges de vez no ataque, Souza tentando passar mas errando e com os laterais apoiando pouco; Fabinho entrou, mas saiu e por isso não está neste diagrama

Celso esperou 15 minutos para tirar Ceará do jogo e lançar Marcelo Oliveira, com Diego Renan indo para a direita. O treinador revelou na entrevista coletiva após o jogo que Ceará havia se contundido. Portanto, substituição nula em termos táticos. Somente aos 25 ele tentaria mudar novamente a partida, com sua última troca: Souza na vaga de Fabinho, que havia entrado no primeiro tempo. O resultado foi um estreito 4-2-2-2, com Borges e WP se transformando em centroavantes de vez e com os flancos teoricamente abertos para os laterais apoiarem, e fazer cruzamentos na área. Mas Tite plantou seus laterais e, com os ponteiros recuando para ajudar na marcação, fazendo dois contra um de cado lado, as chances de cruzamento se tornaram raras. Mesmo quando o jogador conseguia chegar ao fundo para cruzar, errava.

Só aos 38 do segundo tempo é que Tite foi fazer a primeira mudança — sinal de que as coisas iam bem para ele, e mal, muito mal para nós. Edenilson entrou no lugar de Romarinho para fazer um losango no meio: Ralf atrás, Edenilson na direita, Paulinho na esquerda e Danilo à frente, com Emerson e Jorge Henrique no ataque. Foi o movimento final para matar a tentativa de apoio pelos lados do Cruzeiro: com dois atacantes, pelo menos um dos laterais tinha que ficar para fazer a sobra, diminuindo muito o já baixo poderio ofensivo do Cruzeiro. Guerrero, centroavante de ofício peruano, ainda estrearia pelos paulistas no lugar de Emerson, para tentar fazer o pivô e reter a bola no ataque para chegada dos seus companheiros.

O jogo caminhou para seu final melancólico, com o Corinthians dominando as ações e o Cruzeiro já entregue. O gol de Paulinho foi só a ilustração do que aconteceu durante todos os 90 minutos: com facilidade, Jorge Henrique achou Danilo no meio, que tocou de primeira a Paulinho, já partindo para receber e enganando a marcação. Com espaço, encaixou um chute tão rente à trave que Fábio nem foi na bola. O jogo terminou sem a terceira substiuição de Tite.

A impressão que ficou é que o Cruzeiro perdeu a chance de vencer um jogo teoricamente difícil. Afinal, perder para o Corinthians em São Paulo tem que estar nos planos de qualquer clube do Brasil, por isso o jogo de ontem foi uma chance de ouro para ganhar pontos certamente não previstos. Entretanto, o Corinthians, mesmo não jogando todo o seu potencial — assim como o Cruzeiro — conseguiu vencer o Cruzeiro até com certa facilidade. A culpa cai sobre Sandro Silva, claro, mas também sobre Roth, que escalou o volante sem ritmo para atuar desde o início. Se a intenção era parar Paulinho, porque não escalar Marcelo Oliveira ou Magrão? Porque deixar Fabinho no banco, que faz a função de ponteiro muito melhor do que WP ou Magrão? Ou ainda pior: porque escalar WP e Borges no mesmo time num 4-2-3-1? São perguntas difíceis de explicar.

Na última substituição, poderia ter sido melhor lançar Souza no lugar de um dos centroavantes ao invés de sacar Fabinho. Souza entraria centralizado e Montillo poderia jogar aberto, tendo uma única referência no ataque. Acredito que assim o Cruzeiro teria força tanto pelo chão quanto pelo ar. Porém, Celso disse, após o jogo, que precisava de um passador, e eu concordo; mas ao mesmo tempo, optou por deixar dois centroavantes dentro da área para aproveitar uma jogada aérea que nunca aconteceu. Passador e jogadas aéreas — não me parece coerente.

Por fim, deixo as seguintes estatísticas do jogo, de acordo com números da ESPN Brasil, para reflexão: quem mais desarmou foi Jorge Henrique — um ponteiro — 4 vezes; Quem mais finalizou foi Danilo, apenas 2 vezes; e a mais incrível de todas: das 6 finalizações do Cruzeiro, 6 foram erradas.

Isso mesmo. Aproveitamento zero.

Evolução da porcentagem de acerto de finalizações do Cruzeiro: nota zero no último jogo

Cruzeiro 1 x 0 Flamengo – Raça

Para ir à Arena Independência, preciso tomar uma condução que tem como parte do seu itinerário passar na Praça Sete, no centro de Belo Horizonte. Porém, o “P” do letreiro adesivado que indicava isto no pára-brisa do ônibus havia caído ou se desgastado, fazendo com que no letreiro se lesse “RAÇA 7”. Era um sinal, mas eu só fui me dar conta depois do jogo.

Cruzeiro repetindo o 3-4-1-2, dando liberdade a Ceará pela direita e bloqueando Léo Moura pela esquerda com Marcelo Oliveira, mas com poucos homens no meio com Magrão sendo arrastado para fora do campo por Luiz Antônio

Ao contrário do que tentou prever este blogueiro, Celso repetiu o 3-4-1-2 da vitória contra a Portuguesa. Fábio viu Leandro Guerreiro de pertinho mais uma vez, jogando na sobra dos zagueiros Mateus e Rafael Donato, permitindo aos laterais Ceará e Marcelo Oliveira — substituto do suspenso Diego Renan — jogarem mais avançados. William Magrão e Charles, de volta ao time, fizeram a dupla volância atrás de Montillo, que armava para Wellington Paulista e Borges.

Joel Santana (que não deixou nenhuma saudade por aqui) levou o Flamengo a campo num previsível 4-3-1-2 losango: o gol de Paulo Victor foi defendido pela dupla de zaga Gonzales e Marllon, com Léo Moura e Ramon fechando os flancos. No vértice mais baixo do losango, Amaral tinha Ibson pela direita e Renato Abreu pela esquerda, suportando Luiz Antônio atrás de Vágner Love e Adryan.

No enfrentamento dos esquemas, dois aspectos já se notaram claros. O primeiro era que os alas cruzeirenses, jogando bem à frente, fechavam a porta para o avanço dos laterais do adversário, com Marcelo Oliveira praticamente neutralizando o excelente apoio de Léo Moura. Do outro lado, Ceará fez um bom jogo, marcando bem as subidas de Ramon e dando opção de passe pela direita. Com três volantes bloqueando a entrada da área, como é característica do losango, o ataque pelos lados era o caminho: Ceará cruzou uma bola que passou pelos dois centro-avantes azuis dentro da área, e deopis serviu William Magrão na linha de fundo, que cruzou para cabeceio fraco de WP.

O segundo aspecto era que, com Leandro Guerreiro afundando entre os zagueiros, o Cruzeiro tinha a sobra garantida contra os dois atacantes adversários, mas tinha menor número no meio-campo. William Magrão ficou por conta de perseguir Luiz Antônio, e com isso Charles só podia encurtar em um de dois adversário: ora Ibson, ora Renato Abreu. Quem sobrava tinha certo tempo com a bola e podia pensar melhor a jogada. Além disso o Cruzeiro perdia muitas segundas bolas, a ponto de um torcedor atrás de mim nas arquibancadas ficar gritando “cadê os três volantes, cadê os três volantes”.

Na metade do primeiro tempo, Luiz Antônio passou a abrir pela direita, arrastando William Magrão consigo e abrindo ainda mais espaço para seus companheiros. Renato Abreu arriscou alguns chutes de longe, e Ibson virava o jogo de forma inteligente, aproveitando a compactação lateral do time da casa, fazendo sua equipe ter profundidade rapidamente. Aos poucos o Flamengo foi descobrindo este caminho e ameaçou em dois lances: Adryan teve uma boa escapada pela esquerda, mas cruzou mal, e Vágner Love chegou a ficar de frente com Fábio, mas talvez tinha ficado esperando a decisão do melhor goleiro do mundo. Perdeu o duelo.

Mas justo quando o Flamengo tentava sair mais para o jogo, o Cruzeiro marcou. Montillo passou a Ceará, bem aberto pela direita como um bom lateral. O camisa 2 encaixou um bom cruzamento e achou Borges na pequena área. O atacante se livrou do zagueiro e se antecipou a Paulo Victor, demonstrando excelente senso de posicionamento, cabeceando baixo para o fundo das redes flamenguistas.

Na volta do intervalo não houve mudanças. Joel deve ter considerado o gol um lance isolado, porque seu time teve mais volume de jogo no fim da primeira etapa, e portanto deve ter considerado que assim continuaria o jogo. Mas o Cruzeiro voltou diferente mesmo sem alterações. Ceará recuou um pouco mais, e Leandro Guerreiro pôde enfim participar da briga no meio do campo. Marcelo Oliveira continuava um pouco mais à frente, em mais precauções contra Léo Moura. O Cruzeiro passou então a usar o mesmo 4-3-1-2 do adversário.

O movimento desarmou o ataque flamenguista. Nas arquibancadas, este blogueiro pernsou que o Cruzeiro se fecharia, deixaria a bola com o Flamengo e partiria em contra-ataques, o que tem sido sua arma mais letal nos últimos jogos. Mas a equipe acabou ficando mais com a bola do que o Flamengo, que já não tinha o mesmo espaço de antes. Além disso, Guerreiro tinha mais liberdade para se juntar às ações ofensivas, aparecendo em vários momentos como elemento surpresa, inclusive arriscando finalizações. No entanto, a grande quantidade de erros no último passe, como tem sido quando o Cruzeiro quer criar, não resultaram em chances claras.

Borges se contundiu sozinho em um lance e Anselmo Ramon entrou em seu lugar, mantendo a formação, apesar da característica diferente deste último Anselmo — Borges tem mais presença na área, e Anselmo é mais forte, faz melhor o pivô. Talvez por isso, Anselmo recuava um pouco mais para receber um bola longa e segurá-la até a chegada de seus companheiros. A consequência direta foi o avanço das linhas do Flamengo, o que ajudou Ramon a explorar mais o corredor à sua frente, já que Ceará estava mais preso na segunda etapa.

O Flamengo foi avançando e ganhando volume: livre, Ibson recebeu passe de Ramon na entrada da área e arriscou, mas Fábio espalmou a escanteio; Adryan finalizou dentro da área em rebote da defesa e foi bloqueado por William Magrão; e logo após um bom avanço de Marcelo Oliveira em contra-ataque veloz, mas desperdiçado pelo péssimo passe, Léo Moura aproveitou o espaço, passou a Adryan do outro lado, que passou a Renato Abreu finalizar, mas Ceará não deixou a bola chegar a Fábio.

Vendo a situação, os treinadores trataram de mexer em suas equipes, e dos 27 aos 31, quatro substituições em sequência: no Cruzeiro, Élber e Sandro Silva entravam nas vagas de Charles e Wellington Paulista, e no Flamengo Hernane e Camacho substituíam Adryan e Renato Abreu. A intenção de Joel era abrir o time, e Hernane foi jogar aberto pela direita, com Camacho e Ibson articulando para ele, Love e Luis Antônio do outro lado. Já Celso queria explorar o espaço que se abria nas costas de Ramon para puxar o contra-ataque com Élber naquele setor, e também auxiliar Marcelo Oliveira na marcação pela esquerda, com Sandro Silva caindo por ali.

Uma árvore de natal (4-3-2-1) que Joel Natalino Santana tentou, mas não conseguiu derrubar

Não era o jogo que o Cruzeiro costuma fazer, fechando os flancos e partindo em velocidade num 4-4-1-1. Era um espécie de 4-3-2-1 “torto”, já que Sandro Silva e Marcelo Oliveira praticamente ocupavam o mesmo setor, muito afundados, e do outro lado Élber esperava ao lado de Montillo uma bola perdida para contra-atacar, o que acabou não acontecendo. O jogo tinha ficado perigoso demais, e o Cruzeiro precisava avançar um pouco, afastar o Flamengo de sua área.

Mas é preciso fazer isso com inteligência, pois aos 33, com a linha defensiva jogando muito alta, Léo Moura saiu de trás e recebeu uma bola longa da defesa, iniciando o lance mais emblemático da partida. Ele entrou na área e preferiu cruzar ao invés de finalizar, talvez por respeitar demais o melhor goleiro do mundo. Do lado esquerdo chegavam Vágner Love e Hernane, acompanhados por Donato. O zagueiro conseguiu atrapalhar a primeira conclusão de Love, mas a bola ainda sobrou para ele, Fábio abafou, a bola bateu em Hernane e beijou o travessão, voltando mais uma vez para Love, que foi novamente abafado por Fábio em defesa espetacular. Na sobra, Hernane girou e bateu, mas Marcelo Oliveira já tinha conseguido voltar e estava debaixo das traves, mandando o empate para escanteio.

Parecia ter sido o último suspiro do time carioca, que não conseguiu mais finalizar. Matheus ainda entraria na vaga de Luis Antônio, oficializando o 4-3-3 alto, mas foi o Cruzeiro quem teve outra chance, com Élber pela esquerda. O garoto pôs velocidade e cruzou para Montillo que chegava pelo meio. O argentino deixou a bola passar para Anselmo Ramon, mas ela veio um pouco antes do que ele esperava e a conclusão saiu torta.

A vitória chegou, mas foi muito mais fruto de raça e entrega dos jogadores do que pelo posicionamento tático. A mexida para proteger o lado esquerdo dos avanços de Léo Moura foi inteligente, mas desguarneceu o meio-campo no primeiro tempo. O losango do segundo tempo poderia ter sido usado desde o início, diminuindo o tempo de bola dos meias flamenguistas. Claro, isso faria com que Ceará avançasse menos, mas a experiência do lateral compensaria.

Por outro lado, Leandro Guerreiro vem se mostrando um jogador versátil, expandindo sua área de atuação ao invés de ficar preso à frente da zaga. Universalidade, como diz Jonathan Wilson na última frase de “Invertendo a Pirâmide”, parece ser o futuro do futebol, e a desenvoltura de Guerreiro em outra função é excelente notícia.

Além disso, Ceará parece ter resolvido o problema da lateral direita. Assim, a dúvida sobre a recuperação de Borges dirige minha aposta para o jogo contra o Corinthians para a volta de Fabinho ao time, retomando o 4-2-3-1 diagonal para o enfrentamento contra o 4-2-3-1 variando para 4-2-4-0 (ou seja, sem centro-avantes de ofício) de Tite. Afinal, jogar no 3-4-1-2 contra um time que executa o 4-2-3-1 tão bem é problemático. Além disso, Tite provavelmente vai armar algum esquema para não deixar Montillo jogar, talvez destacando Ralf para a marcação do argentino. Daí a importância de se ter, também, volantes que saiam para o jogo com qualidade, para aproveitar o espaço que certamente será gerado com a movimentação de Montillo para as pontas. A volta de Tinga poderá ser importante neste sentido, ainda mais se Roth escalá-lo como ponteiro direito, abrindo o corredor para o apoio de Ceará e fazendo número no meio-campo.

O Cruzeiro é visitante indigesto do Corinthians no Brasileirão. No entanto, para vencer o Corinthians de Tite — um dos times mais táticos do país, senão o mais tático —  é preciso acrescentar à gororoba um tempero a mais do “chef” Roth. Ou temos grandes chances de voltar de São Paulo com a barriga vazia.

Cruzeiro 1 x 3 Grêmio – Irreconhecível

O título acima é um jargão futebolístico bastante usando. Serve para descrever resumidamente a atuação muito abaixo do que se espera de um time de futebol. Portanto, é um título apropriado, mesmo porque este blog trata de tática — e o Cruzeiro esteve, de fato, irreconhecível taticamente.

Cruzeiro num 4-3-1-2 losango, com zero profundidade pelos lados do campo e um ataque inerte – difícil de explicar porque Celso mandou esta formação a campo

Celso Roth surpreendeu a todos escalando Marcelo Oliveira no meio-campo. O volante jogou pela esquerda num inexplicável 4-3-1-2 losango, tendo o estreante Borges acompanhado por Wellington Paulista à frente, uma combinação de ataque pouco móvel e lenta. A saída de Fabinho é um mistério. Talvez Roth tivesse ficado com receio de perder a batalha no meio, já que Luxemburgo manteve seu preferido esquema com 4 no meio-campo, mesmo com a estreia confirmada de Elano. O meio-campo gremista, no entanto, tinha dois meias mais claros, ou seja, um 4-2-2-2 com Elano pela esquerda e Zé Roberto pela direita.

Assistindo ao vivo das arquibancadas, a primeira coisa que veio na cabeça deste blogueiro quando saíram as escalações foi a de que seria um jogo sem amplitude. Sem jogadores caindo pelas pontas mais claramente, o jogo tendia a ser concentrado entre as duas intermediárias. E assim foi, com o Cruzeiro tomando mais a iniciativa, mas sem grandes perigos de lado a lado, exceção feita em um cabeceio de Borges em bola alçada por Leandro Guerreiro pela direita — mas de uma posição mais recuada.

Com o jogo preso no meio e a falta de jogadas pelas laterais, o caminho para tentar algo diferente era — obviamente — os lados do campo de ambas as equipes. Atrás de mim na arquibancada, saíam gritos insistentes de “abre o jogo, abre o jogo!”. Estava claro que fizesse a primeira jogada bem trabalhada pelo setor levaria muito perigo ao gol adversário, e para nossa infelicidade, foi o Grêmio quem o fez. Na aproximação de Elano e Kléber com o lateral Tony, Everton e Leandro Guerreiro foram sobrecarregados e Elano fez a ultrapassagem pela esquerda para receber passe profundo de Kléber. Com muita liberdade, o estreante cruzou na cabeça de Marcelo Moreno, destaque da partida, que ganhou de Léo para vencer Fábio.

Nem bem a bola rolou novamente e o Cruzeiro tomou outro gol pelo mesmo lado. Desta vez, foi o próprio Tony que acreditou numa bola muito longa colocada por ele mesmo. Everton desistiu da jogada achando que a bola ia sair, mas o lateral conseguiu alcançar e, mesmo tendo o combate de Léo, mandou rasteiro para a área. Moreno, mais esperto que Mateus, tomou a frente e deu um toque sutil para trás, o suficiente para chegar a Kléber que estava de prontidão para concluir com muita liberdade. Efeito cascata: Everton saiu da bola, Léo teve que ir pra cobertura, saindo da marcação de Moreno, fazendo Mateus dar combate e deixando Kléber livre. Leandro Guerreiro só chegou depois que o camisa 30 já havia concluído.

Como aconteceu nas últimas partidas, o Cruzeiro saiu atrás no placar, e não poderia mais usar a estratégia da reatividade. Teria que sair ainda mais para o jogo. Já o Grêmio, ciente de que tinha construído uma imensa vantagem, contentou-se em cozinhar o jogo e repelir a investidas celestes — deixando claro que o Cruzeiro não deve apostar em uma proposta de jogo de iniciativa. A expulsão de Werley no fim do primeiro tempo pelo segundo cartão amarelo foi, por incrível que pareça, prejudicial ao Cruzeiro, pois significaria que o Grêmio iria se fechar atrás para segurar a vantagem, dificultando ainda mais a vida celeste.

Dito e feito: no intervalo, Luxemburgo sacou Kléber e mandou Vilson a campo, recompondo a zaga e fazendo duas linhas de quatro bem definidas, com Elano e Zé Roberto abertos e somente Moreno à frente. No Cruzeiro, Souza ia a campo na vaga do vaiado Everton, com Marcelo Oliveira passando à lateral esquerda. Montillo foi jogar aberto do lado direito com Tinga e Souza de meias: uma espécie de 4-3-3, já que Wellington Paulista não permanecia aberto pela esquerda do ataque. A alteração não funcionou, pois o Grêmio tinha agora seus flancos bem fechados e as duas linhas bem compactadas. Celso então colocou Fabinho em campo, algo que deveria ter feito desde o início, já aos 7 minutos da segunda etapa, no lugar de Diego Renan. Tinga passou a jogar na lateral direita, mantendo o 4-3-3. Montillo pela direita e Souza pela esquerda, protegidos por Leandro Guerreiro, passaram a compor o meio-campo celeste.

Mas o Cruzeiro pecou e muito em fundamentos básicos: passes e cruzamentos. O goleiro Marcelo Grohe foi pouco incomodado, já que os constantes erros de passe anulavam a possibilidade de criação de chances. Os poucos cruzamentos na área na área eram afastados pela zaga gremista. E com praticamente todo o time à frente e o meio-campo despovoado, somente Leandro Guerreiro ficava atrás da área adversária para pegar as sobras, contra 2 ou 3 do Grêmio. O resultado era previsível: na grande maioria das jogadas o Grêmio recuperava a posse nas segundas bolas, evitando que o Cruzeiro tivesse a bola por períodos prolongados, e conduzia-a sem dificuldades até o campo de ataque.

Foi assim que veio o golpe fatal: uma jogada de Souza (do Grêmio) pela esquerda do ataque. De posse da bola, o volante não teve marcação e avançou até um vazio atrás de Mateus, que estava cobrindo pelo a subida de Tinga para o ataque. Leandro Guerreiro foi atrás, mas marcou de longe, e o volante conseguiu achar Marcelo Moreno totalmente livre de marcação dentro da área. O atacante limpou o combate de Léo e bateu cruzado, sem chances para Fábio. Fim de jogo aos 19 do segundo tempo.

O desorganizado 4-3-3 cruzeirense do fim da partida, sem qualquer criatividade e super exposto na retaguarda

As três últimas substituições foram diretas: Borges por Anselmo Ramon, e no Grêmio Moreno por André Lima e Elano por Marquinhos. O Grêmio seguiu no 4-4-1 até o fim, senhor da partida, contra um Cruzeiro desesperado e já desorganizado, mesmo com um jogador a mais. A equipe pouco finalizou, a não ser em uma bicicleta de Anselmo Ramon dentro da área que Grohe defendeu e alguns chutes sem direção. No fim da partida, um lance que resume bem a falta de criatividade celeste: o time rodou a bola de um lado a outro, mas sem partir para definição nem arriscar um passe mais profundo. Coube a Léo, um zagueiro, se juntar à ação ofensiva, receber um passe, limpar a marcação e finalizar. Grohe pôs a escanteio.

Celso Roth resumiu assim a partida: “(…) Até o jogo estar 0 a 0, o Cruzeiro tinha iniciativa e estava bem, mas o gol alterou tudo, duas falhas lamentáveis nossas. Depois coloquei o Souza e o Marcelo pelo lado esquerdo, o Souza para passar a bola e abrimos o Montillo para os dois jogarem com velocidade, mas não funcionou. Tentei o Montillo pela meia, junto com o Souza, e colocamos o Tinga aberto pela direita para ter profundidade com três atacantes, mas não funcionou. E quando nada funciona, aí cria essa confusão, e o Grêmio foi superior.”

De fato, o Grêmio foi superior, mesmo com um a menos. Cogitei dar o título de “Como jogar com 10” para esta análise, mas este é um blog sobre o Cruzeiro e não sobre os outros times.

É de Celso Roth grande parte da culpa pela derrota de hoje. Claro, os jogadores erraram fundamentos básicos, mas o jogo seria menos perigoso se Fabinho estivesse em campo desde o começo, pois seguraria o lateral direito gremista, protegendo Everton um pouco mais. Além disso, escalar Borges e WP no mesmo não contribuiu para a mobilidade do time, que ficava a cargo de Montillo — novamente anulado pela marcação forte, desta vez do excelente volante Fernando — e Tinga, que correu por todos.

É mais sensato retornar ao 4-2-3-1 diagonal de volta contra a Portuguesa, mais cauteloso. Foi a postura reativa que nos levou à liderança, e é assim que temos que continuar a jogar. Vai contra as tradições cruzeirenses de times vistosos e propositivos, mas é o que podemos fazer hoje. Sair para o jogo, atualmente, é fatal para nós.

E não, não esqueci o gol de Wellington Paulista, cobrando pênalti no fim. Mas é que ele foi tão irrelevante que nem valeria a pena citá-lo.

Eu nem comemorei.