Cruzeiro 3 x 0 Grêmio – Bola no pé e taça na mão

As compensações de marcação feita por Renato Gaúcho até que compensaram os problemas clássicos do sistema com três zagueiros, que já havíamos visto no jogo do turno. Mas acabaram por ceder demais a posse de bola ao Cruzeiro, e este time, com a bola nos pés, é muito difícil de ser parado.

A vitória, apoteótica, foi digna de levantar o caneco. Os livros de história do futuro deveriam registrar esta partida como sendo a que selou a taça, ainda que a matemática brigue contra o óbvio.

Escalações

Werley encostava em Dagoberto para liberar Pará, mas do outro lado Bressan fazia a sobra com Rhodolfo na marcação em Borges: uma das compensações do 3-1-4-2 gaúcho contra o 4-2-3-1 celeste

Werley encostava em Dagoberto para liberar Pará, mas do outro lado Bressan fazia a sobra com Rhodolfo na marcação em Borges: uma das compensações do 3-1-4-2 gaúcho contra o 4-2-3-1 celeste

Marcelo Oliveira e seu imutável 4-2-3-1: Fábio, o melhor goleiro do Brasil, teve sua linha defensiva com Ceará e Egídio nas laterais e Léo acompanhando Dedé na zaga central. Nilton protegia a área e tinha Lucas Silva a seu lado, mais solto para receber o passe de retorno e inverter o lado da jogada quando os meias Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Dagoberto não conseguiam um lance mais incisivo para eles mesmos ou Borges, no comando do ataque, concluírem.

Renato Portaluppi, o Gaúcho, escalou o Grêmio na fórmula que levou seu time ao grupo dos 4 primeiros: três zagueiros e três volantes, com um mais plantado e liberando os alas — mas com uma particularidade nesta partida, como veremos mais adiante, fazendo um 3-1-4-2. A meta de Dida, velho conhecido, foi protegido por Werley à direita, Rhodolfo centralizado e Bressan à esquerda. Souza foi um volante puramente de marcação, enquanto Ramiro à direita e Riveros à esquerda eram os volantes-meias, em funções similares às dos vértices laterais de um meio-campo em losango. Pará e Alex Telles eram os alas, e Kléber e Barcos formaram o ataque.

A velha questão: problema deles

Em outras análises já foi falado o que normalmente acontece quando sistemas com três zagueiros enfrentam uma equipe que possui dois jogadores abertos. Ou você recua os alas para marcar os ponteiros (deixando espaço para os laterais adversários e ainda ficando com três contra um no centroavante, e portanto, com menos gente em outro setor do campo), ou você deixa no mano a mano, com um zagueiro pra cada ponteiro e mais um no centroavante.

E a segunda opção foi a que Renato escolheu no lado direito de sua defesa. Por ali, Dagoberto jogou bem aberto, e quem marcou o jogador na maioria das vezes era Werley. Tudo para deixar Pará livre e bater com Egídio na linha divisória. Do outro lado, entretanto, a situação era diferente, pois Éverton Ribeiro, prefere partir da direita para o centro. Com isso Alex Telles não tinha que marcá-lo diretamente, ficando livre para se preocupar apenas com Ceará. Assim, Rhodolfo e Bressan faziam o combate direto em Borges e garantiam a sobra.

Meio-campo central

Mas essa movimentação de Ribeiro em direção ao centro causava superioridade numérica celeste no meio-campo central, pois ele acabava sendo um elemento “intruso” no embate entre os triângulos de meio: Nilton, Lucas Silva e Ricardo Goulart, contra Souza, Ramiro e Riveros. Para resolver isto, um dos atacantes, ou até mesmo os dois, recuavam para marcar os volantes, deixando Dedé e Bruno Rodrigo com muito tempo na bola. Por causa disso, o Cruzeiro acabaria o jogo com sua maior porcentagem de posse de bola de todo o campeonato, enquanto o Grêmio teve seu terceiro pior índice.

Além disso, o fato de Alex Telles não ter a cobertura de um zagueiro como Pará tinha a de Werley fazia com que ele não avançasse tanto sua marcação. Com isso, Ceará teve mais campo que Egídio e foi a principal saída do time, com 38% dos ataques celestes pelo lado direito (WhoScored.com). Não por acaso, foi dele o cruzamento que originou o gol de abertura, a “bicicanela” de Borges que todo mundo viu, menos o seu autor que bateu a cabeça na grama ao cair.

O Cruzeiro (em azul) atacou mais pelo lado direito, já que Alex Telles não podia se posicionar muito alto, dando liberdade para Ceará. Também por isso, foi com Pará pela direita que o Grêmio (em laranja) saiu mais

O Cruzeiro (em azul) atacou mais pelo lado direito, já que Alex Telles não podia se posicionar muito alto, dando liberdade para Ceará. Também por isso, foi com Pará pela direita que o Grêmio (em laranja) saiu mais

Defesa

Por outro lado, no pouco tempo em que recuperava a bola, o Grêmio buscava jogar na transição ofensiva rápida — mais conhecida como contra-ataque, principalmente com Pará pela direita. Ramiro e Riveros, os volantes-meias do meio-campo, só se preocupavam com a marcação e por isso a saída era direto com Kleber, mais recuado e móvel que Barcos. O atacante segurava a bola para chamar faltas ou então distribuía rápido para o lado do campo, como no lance em que Fábio chegou primeiro que Pará na bola lançada por ele.

A outra possibilidade era a bola parada, e o Grêmio quase chegou nesse quesito, mas após os dois rebotes do escanteio cobrando pela direita, Fábio no mínimo deve ter colocado um ponto de interrogação na cabeça de Felipão. Menos que isso é difícil de acreditar.

Segundo tempo

Nenhum treinador mexeu no intervalo e o jogo seguiu da mesma forma, mas o Cruzeiro cedia mais a posse de bola que no primeiro tempo. Com isso o Grêmio pode respirar um pouco em relação à marcação, e começou a chegar mais perto do que devia da área celeste. A intensidade na frente já não era a mesma, equilibrando de certa forma a partida. Como 1×0 é um placar perigoso, Marcelo resolveu agir após um chute de Kleber que Fábio mais uma vez salvou brilhantemente.

Primeiro lançou Júlio Baptista na vaga de Borges, na já costumeira troca que avança Ricardo Goulart para o comando do ataque com Júlio de central. Com a troca, o Cruzeiro reteve mais a bola, mas perdia poder de marcação no meio. A retaguarda ficou um pouco mais exposta e Léo estava perdendo os duelos diretos com Barcos, que parou na trave e em mais uma defesa de cinema de Fábio.

Willian, ponteiro atacante

No fim, Renato ainda tentou dar criatividade com Maxi, mudando para um 3-4-1-2, mas a mobilidade e profundidade de Willian pela direita já haviam resolvido o jogo

No fim, Renato ainda tentou dar criatividade com Maxi, mudando para um 3-4-1-2, mas a mobilidade e profundidade de Willian pela direita já haviam resolvido o jogo

Ao invés de se proteger, Marcelo escolheu atacar, e aí sim colocou outros jogadores para renovar a movimentação ofensiva: Luan e Willian nas vagas de Dagoberto e Éverton Ribeiro. Luan foi para a esquerda e Willian ficou mais pela direita, mas também tem característica de entrar pelo meio. E a entrada do bigodudo provaria ser essencial.

Praticamente em seu primeiro lance, Willian aumentou a contagem após cobrança de lateral de Ceará — uma arma que o Cruzeiro já usou antes neste campeonato. Mineirão em festa total, mas a fatura ainda não estava liquidada. Renato tentou diminuir dando criatividade ao seu meio com Maxi Rodriguez na vaga de Riveros e mais presença de área com Kléber por Mamute. O Grêmio avançou o quanto podia, o que não era tanto, e com isso o Cruzeiro acabou ganhando espaço para tocar a bola no campo de ataque.

E a característica de Willian de dar profundidade pelo lado acabou fazendo Alex Telles recuar ainda mais para a defesa, o que no fim acabou originando a falta do terceiro gol. O próprio Willian cobrou a falta que sofreu e viu Goulart completar de primeira totalmente sem marcação e selar a vitória.

Entreguem a taça

A frase acima foi a que Dagoberto disse após o jogo. Em um país do politicamente correto, esta frase proferida por um jogador que ainda não é matematicamente campeão certamente causaria revolta nos adversários e nos não-cruzeirenses. Todavia, não foi isso o que se viu, e muita gente até aplaudiu a volta olímpica dos jogadores.

Nada mais simbólico para o campeonato que esta festa tenha acontecido no jogo contra o Grêmio, notadamente uma equipe que busca um futebol de forte marcação. No confronto de estilos, o futebol que procura o ataque a todo instante saiu vencedor. Não por acaso, após muitos anos o time de melhor ataque é o campeão. Méritos de Marcelo Oliveira.

A falta de oposição à frase, portanto, é mais que isso. É um sinal claro do respeito e esse estilo de futebol, praticado pelo Campeão Brasileiro de 2013, o Cruzeiro Esporte Clube.

Resende 1 x 2 Cruzeiro – O preço da preguiça

Bem consciente de sua superioridade sobre o adversário — o que pode ser bem perigoso no esporte bretão — o Cruzeiro venceu mais uma. Mas num lance de falta de sorte com uma pitada generosa de preguiça, terá de jogar a partida de volta contra o Resende no Mineirão.

Apesar de Marcelo Oliveira colocar o que é considerado o time titular em campo, à exceção de Ceará, o time claramente se poupou, pois sabia que o adversário era inferior. Mas o Resende, por sua vez, também sabia disso, e tratou de fechar todos os espaços possíveis para poder visitar o Mineirão. E não teriam conseguido se o Cruzeiro tivesse jogado com um pouco mais de afinco.

O Cruzeiro entrou no 4-2-3-1 usual, mas sem velocidade e movimentação dos homens de frente, imporantíssimos neste sistema

O Cruzeiro entrou no 4-2-3-1 usual, mas sem velocidade e movimentação dos homens de frente, importantíssimos neste sistema

O treinador do time da casa, Eduardo Allax, escalou o Resende num 4-3-1-2, mas diferente do comum para este sistema, o meio-campo não era um losango. A linha defensiva do goleiro Mauro era composta pelos zagueiros Marcelinho e Thiago Sales, Filipi Souza fechando pela direita e Kim na lateral esquerda. Os três volantes formavam uma parede na frente da área, com Dudu por dentro, Léo Silva na direita e Denilson na esquerda. Hiroshi ficava mais à frente e com a responsabilidade de puxar os contra-ataque, e era ladeado por Geovane Maranhão e Elias.

Já o Cruzeiro foi escalado por Marcelo Oliveira no mesmo padrão que você, caro leitor assíduo deste blog, já está acostumado a acompanhar. De trás pra frente e da direita pra esquerda: Fábio no gol; Mayke (na vaga de Ceará), Léo e Bruno Rodrigo e Everton na linha defensiva; Leandro Guerreiro e Nilton na volância; e Everton Ribeiro, Diego Souza e Dagoberto atrás de Borges. Nenhuma novidade.

Bloqueio pelo centro

O treinador Eduardo Allax talvez tenha entrado neste blog e lido sobre a facilidade que Diego Souza teve na entrada da área na primeira semifinal contra o Villa (sim, eu sei que não). Isso porque plantou os três volantes fazendo uma muralha contra Diego Souza. O camisa 10, sem imprimir mesma movimentação de jogos anteriores, ficou sumido na primeira etapa. Além disso, Allax plantou os laterais para fazer a cobertura dos volantes de lado, que saíam à caça dos meias cruzeirenses e ainda fazia seus atacantes recuarem pelos flancos com Mayke e Everton. Quase um 4-5-1.

O Cruzeiro ficou muito com a bola nos pés (quase 70%) mas era previsível, lento, sem intensidade. Não tentou achar espaços entre as linhas, não tentou se movimentar para confundir a marcação carioca. O 4-2-3-1 estava lá, rígido, sem nenhuma maleabilidade. E aqui esbarramos num velho problema: a volância pouco criativa. Leandro Guerreiro e Nilton são bons marcadores, mas não os vejo fazendo mais do que entregar para um meia ou lateral quando têm a bola nos pés.

E basicamente foi isso o que aconteceu no primeiro tempo, um jogo modorrento, moroso, como o próprio Marcelo Oliveira definiu em entrevista após a partida. A melhor ilustração sobre isso, no entanto, é o “narrador” do tempo real da ESPN Brasil no site: “Fulano está fora do jogo”, “Cruzeiro toca a bola”, “O jogo está equilibrado”, “O Cruzeiro fez 18 gols nos últimos jogos”. Pouco era sobre o que acontecia dentro de campo, o que, ironicamente, era de fato o que acontecia em campo.

Leve pisada no acelerador

No intervalo, Allax lançou o veteraníssimo Acosta na vaga de Geovane Maranhão. Foi quase um seis por meia dúzia, tirando o fato de que Acosta, pela experiência, tinha mais qualidade para fazer a retenção da bola longa e esperar os companheiros mais rápidos — e jovens — chegarem para a trama ofensiva. O treinador do Resende pode ter pensado que o Cruzeiro ficaria naquela passividade o jogo todo, mas não. Com o mesmo time do primeiro tempo, o Cruzeiro entrou mais intenso e não demorou a causar problemas. A movimentação dos meias — principalmente de Dagoberto — e a velocidade nos passes foram determinantes, e o Cruzeiro chegou ao primeiro gol justamente assim: jogada rápida para Dagoberto pela esquerda, que partiu para o drible veloz e cruzou forte. A zaga rebateu pra frente e Éverton Ribeiro, presente no meio da área, pegou o rebote fatal.

Logo depois, Nilton ampliaria em chutaço de fora da área, o que ilustra bem o que acabei de dizer ali em cima. Nilton não é um jogador criativo mas tinha bastante espaço para avançar. Então, usou sua melhor arma ofensiva: o chute. Com um volante com mais qualidade de passe, mais visão de jogo, muito provavelmente algum defensor teria de deixar a formação para encurtar a marcação neste volante, e isso consequentemente abriria mais espaços em outros setores que estavam congestionados, dando mais liberdade para os meias.

Mudança tática num time, psicológica no outro

Após o gol, Eduardo Allax tirou seu lateral direito Filipi Souza e lançou Guto, que foi jogar na meia direita. Uma tímida tentativa de alcançar um gol que provocaria a partida de volta. Com isso, o volante Léo Silva foi puxado para a lateral e o Resende agora estava num típico 4-2-2-2, mas ainda com a maioria dos jogadores com atribuições defensivas. Já o Cruzeiro voltou a fritar o jogo depois do placar “necessário” construído. Quis se poupar e ficar com a bola, confiando na sua própria capacidade de manter o time adversário longe de seu próprio gol.

Marcelo Oliveira pressentiu o placar perigoso e lançou Ricardo Goulart na vaga de Everton Ribeiro, tanto para “energizar” o time como para poupar o camisa 17, que jogava com um torcicolo homenageado na hora do gol. Depois entrou Élber na vaga de Diego Souza, e Goulart foi para o centro, com Élber na direita.

Não deu muito tempo pra avaliar. Num ataque despretensioso, a bola sobrou para Guto na entrada da área. Nilton estava perto e podia ter tentado bloquear o chute, mas não foi com aquela vontade (veja aos 02:10 neste vídeo na repetição por trás do gol). A bola saiu torta, pegou em Léo no meio do caminho e matou o goleiro Fábio. Era a morosidade cobrando o seu preço no futebol.

O gol animou o time da casa, que tentou vir pra cima na vontade, mas faltou qualidade. O Cruzeiro também não mostrou vontade de eliminar o jogo de volta, e com isso, dia 22, no Mineirão, tem mais.

Pecados futebolísticos

É claro que os jogadores do Cruzeiro tinham plena consciência de que eram superiores, bem como os do Resende. Não há dúvida que se o Cruzeiro aplicasse a mesma vontade de vencer que teve contra o Atlético no primeiro jogo da temporada, por exemplo, venceria por goleada. Mas os jogadores se pouparam e acharam que fariam o gol quando bem entendessem. Bem, isto até aconteceu, mas os deuses do futebol cobram seu preço. O gol de Guto foi uma punição para a preguiça demonstrada em campo.

Mesmo assim, o gosto amargo do jogo de volta poderia ter sido evitado se tivéssemos mais qualidade na volância, algo que venho falando já há alguns posts. Com um volante chegando como um quarto homem, com bom passe e boa visão de jogo, certamente o Resende teria sofrido mais gols e provavelmente não feito nenhum.

Mas nem tudo são espinhos. Se olharmos por outro ponto de vista, o Cruzeiro venceu uma equipe semifinalista de Taça Rio — superando inclusive equipes da série A — sem jogar o seu melhor futebol, e simplesmente porque não quis fazer isto. Então, quando quiser jogar tudo que sabe, podemos esperar algo de muito bom. Talvez eu esteja um pouco otimista demais, mas o Cruzeiro deu mostras em outras partidas que que pode ir muito longe nesta temporada. O melhor início de ano da história do Cruzeiro, superando até 2003, é um indício. Sim, o nível dos adversários enfrentados não foi dos melhores, mas o Cruzeiro enfrentou este mesmo nível de oposição nos anos anteriores e não teve o mesmo desempenho. Portanto, o otimismo é justificado.

O Campeonato Mineiro foi bem usado por Marcelo Oliveira para encaixar o time. O resultado: 95% de aproveitamento, que provavelmente será aumentado no próximo jogo contra o Villa, em ritmo de treino.

Um número melhor que qualquer outro time no Brasil tem — nem o “badalado” rival. Então é hora de colocar este número à prova.

Guarani/MG 0 x 0 Cruzeiro – O anti-futebol

Diz-se na física que quando matéria e antimatéria colidem, o resultado é o aniquilamento de ambos. Traduzindo para o futebol, seria mais ou menos assim: quando o futebol e o “anti-futebol” se encontram, o resultado é um zero a zero.

Assim foi na Arena do Calçado, em Nova Serrana, onde o Guarani mandará seus jogos. Que o time de Divinópolis entraria para se defender era certo; o que foi surpresa foi abdicar também do contra-ataque. Ao Cruzeiro faltou velocidade no início e paciência no fim.

Foi um jogo razoável do Cruzeiro, que ainda podemos dar um desconto por ser início de temporada. Mas também temos que dar créditos ao esquema defensivo do Guarani, que cumpriu melhor sua proposta de jogo.

Estreias

Dagoberto mais espetado pela esquerda e a movimentação do trio de meias no 4-2-3-1 cruzeirense do primeiro tempo

Dagoberto mais espetado pela esquerda e a movimentação do trio de meias no 4-2-3-1 cruzeirense do primeiro tempo

Regularizado, Diego Souza pôde enfim ser escalado por Marcelo Oliveira no centro da linha de três meias do 4-2-3-1, atrás de Anselmo Ramon. Dagoberto, que começou jogando, estava à esquerda do camisa 10, e Everton Ribeiro era o ponteiro direito. Nilton e Leandro Guerreiro protegiam a linha defensiva composta por Ceará e Everton, de volta à lateral esquerda, e Bruno Rodrigo e Paulão no miolo de zaga, todos capitaneados por Fábio debaixo das traves.

O Guarani do técnico Leston Jr. veio num teórico 4-3-1-2, mas os inúmeros ajustes defensivos descaracterizaram o esquema. O goleiro Leandro, destaque do jogo, teve Adalberto e Asprilla à sua frente, com os laterais Choco à direita e Rafael Estevam à esquerda. O meio-campo começavam com André Silva centralizado, mas os volantes de lado, Rafael Pulga pela direita e Eder pela esquerda, se alinhavam a ele e abriam, para fazer dois contra um nos ponteiros do Cruzeiro. À frente, Joubert, o armador, era flanqueado pelos atacantes Lucas Newiton e Carlos Júnior, fazendo a primeira linha de marcação. Na prática, uma espécie de 4-3-3-0 super defensivo.

Bloco baixo

Como se não bastasse, a marcação só começava mesmo a partir da linha do meio-campo, o que é comumente chamado de bloco baixo (com o bloco médio sendo a marcação a partir da intermediária adversária, e o bloco alto a pressão nos zagueiros, o famoso pressing). O time vermelho deixava os zagueiros do Cruzeiro tocarem a bola livremente entre si e até para os volantes Leandro Guerreiro e Nilton, que conseguiam ficar com a bola no pé sem ser incomodados. O trio avançado, comandado por Joubert, ficava bem agrupado para forçar a saída celeste com os laterais. Porém, quando a bola chegava neles, os três giravam e pressionavam o lado da bola, congestionando o setor e fechando as linhas de passe, obrigando o Cruzeiro a voltar ou virar o jogo.

Obviamente, a segunda opção era a melhor, mas não pelo alto, direto para o ponteiro, como queria o comentarista da TV. O certo era girar pelo chão, voltando no zagueiro e, este sim, direto para o outro lateral, com velocidade para pegar a defesa aberta. Mas o Cruzeiro fazia isso com uma certa preguiça, dando tempo para o Guarani se recompor.

O trio de meias não guardava posição e tentava se movimentar. Everton Ribeiro partia da direita mas circulava por todo o campo; Dagoberto ficava mais espetado pelo lado esquerdo mas por vezes invertia de lado; e Diego Souza ora vinha buscar a bola no pé dos volantes, ora caía pela esquerda para tentar desarmar a setorização defensiva do Guarani. Diego, no entanto, parecia um pouco fora de sintonia, com a bola meio “queimando” no pé e ainda faltando ritmo de jogo. Acredito que vá melhorar.

Mesmo assim, o Cruzeiro conseguiu criar algumas chances. Um delas, ironicamente, foi num contra-ataque de bola parada. Anselmo Ramon, que estava na área ajudando na bola aérea, recebeu passe e lançou rapidamente a Everton Ribeiro, que avançou pela direita e mandou preciso e rasteiro para Dagoberto no meio da área, que infelizmente não esperava que a bola passasse do zagueiro e não conseguiu concluir. Em outro lance, Everton tabelou com Dagoberto em passes de primeira e concluiu no canto alto de Luciano, que praticou bela defesa.

E foi só isso no primeiro tempo: oito contra onze em uma metade do campo só.

Segundo tempo

No intervalo, Marcelo Oliveira lançou Egídio na lateral esquerda, avançando Everton e tirando Dagoberto do jogo, aparentemente ainda sem muitas condições físicas. O Cruzeiro aumentou a velocidade com a dupla Egídio e Everton, mas ainda continuava sem muitas opções para passar a bola, na mesma toada do primeiro tempo. Foi só quando Luan entrou como ponteiro esquerdo substituindo Leandro Guerreiro, com Everton para ser volante pela esquerda, é que o Cruzeiro ameaçou mais, sempre buscando o lado do campo para a conclusão do centro-avante.

No fim, Cruzeiro se lançou à frente no mesmo 4-2-3-1, embora mais na vontade do que na organização tática

No fim, Cruzeiro se lançou à frente no mesmo 4-2-3-1, embora mais na vontade do que na organização tática

Percebendo que a ameaça era por aquele setor, Leston Jr. sacou um de seus “atacantes defensivos”, Lucas Newiton para colocar mais um volante, Nando, para dar suporte naquele lado, aberto pela esquerda, com Pulga na centro-esquerda. O repaginado 4-4-2 (ou seja, meio-campo em linha) travou as ações pelos flancos do Cruzeiro e ainda proporcionou o melhor (e único) momento ofensivo do Guarani na partida, já que Everton estava de volante mas com uma incumbência clara de sair para o jogo, deixando apenas Nilton na proteção à zaga.

O Guarani então começou a rebater bolas em velocidade para Carlos Júnior, que agora tinha mais liberdade para circular. Leston Jr. então dobrou sua capacidade de contra-ataque colocando o veloz Eric na vaga de seu único criador, Joubert, oficializando o jogo de ligação direta: quatro volantes e dois atacantes.

Funcionou por um tempo até que o Cruzeiro começou a perder a paciência, e tentar sair com velocidade mas sem organização. Os jogadores se afobavam e tentavam levantar a bola na área de qualquer jeito para Borges, que a essa altura havia entrado na vaga de Anselmo Ramon. Só quem parecia mais lúcido era Everton Ribeiro, que por vezes conseguia se desvencilhar da marcação e cruzar com mais perigo. Mesmo na afobação, algumas finalizações de cabeça ainda aconteceram, muito mais na vontade do que na técnica ou na paciência. Mas não teve jeito: o zero insistiu em permanecer no placar.

Sem afobação

Se os jogadores não podem se afobar no fim do jogo, tendo que ter paciência, o mesmo vale para nós torcedores. Ainda é cedo para tirar uma conclusão definitiva, foi só o primeiro jogo deste que provavelmente será o trio de meias titular da temporada. Então, devagar com o andor.

Mas o aspecto mais importante é que este jogo não pode servir de parâmetro. Os grandes jogos, que todos nós esperamos que o Cruzeiro irá disputar na temporada, não serão de ataque contra defesa desta forma. Os outros times, no Campeonato Brasileiro e fases finais da Copa do Brasil, tentarão sair mais para o jogo, abrindo espaço para nós também, e aí que acredito que faremos a diferença. Enfrentar retrancas como essa não será, nem de longe, a tônica da nossa temporada.

Que sirva de lição, entretanto. Afinal, quando estivermos atrás no placar contra grandes times brasileiros, certamente se fecharão em muralhas tão bem postadas como a do Guarani de hoje.

Mas nós havemos de derrubá-las.