Boa 0 x 2 Cruzeiro – Tranquilo apesar dos problemas

Sem forçar muito, o Cruzeiro venceu o Boa ontem em Varginha por 2 a 0, gols de Wellington Paulista e Montillo, apesar de mostrar alguns aspectos táticos que podem ser problema para o Superclássico.

O 4-3-3 espetado celeste de sempre do primeiro tempo contra o Boa, com excelente participação de Marcelo Oliveira pela esquerda

Vágner Mancini escalou o mesmo onze dos últimos jogos no 4-3-3 “espetado” usual, promovendo a frequente troca de posições entre os dois atacantes abertos (Wallyson e WP), com Anselmo Ramon mais na referência. Já o Boa veio a campo com um 4-3-1-2 num losango torto, quase um 4-2-2-2: Claudinei recuado e perseguindo Montillo, Olívio à sua esquerda na cobertura ao lateral Radar e o volante Radamés adiantado pela direita, trabalhando mais na articulação com Yuri.

O jogo começou com o Boa fazendo pressão no campo do adversário, com Radamés marcando Marcelo Oliveira e Yuri na caça à Leandro Guerreiro. Os atacantes Pedro Paulo e Rafael Gomes se encarregavam de perseguir os zagueiros e laterais, e o Cruzeiro demorou a equilibrar as ações. Aos 10 a pressão já havia esfriado, mas o Boa continuava com mais posse de bola, muito devido ao encaixe de marcação: Montillo era vigiado de perto por Claudinei e Olívio ficava na sobra; os laterais vigiavam os atacantes abertos e os dois zagueiros faziam frente a Anselmo Ramon; e os volantes azuis eram vigiados por Yuri e Radamés. Assim, o Boa tinha um a mais no meio e um a mais na zaga, dificultando muito a criação cruzeirense. Victorino e Leo ficavam tocando bola entre si sem ter a quem passar, e quando um dos volantes do Cruzeiro recuava para receber a bola, não conseguia arrastar a marcação consigo, ficando igualmente sem alvos para o passe.

Além disso, as parcerias pelos lados que deram certo no último jogo não estavam funcionando hoje. Marcos e Diego Renan pouco apoiaram o ataque: do lado direito, o volante Olívio na cobertura a Radar por vezes se posicionava como um terceiro zagueiro, bem aberto, fechando os espaços de Marcos, Montillo (caindo por aquele lado para tentar fugir de Claudinei) e Wallyson ou WP. Do outro lado, a presença de Radamés e Pedro Paulo empurrava Diego Renan para trás. Porém, quando os laterais conseguiam se adiantar, quase sempre algum lance de perigo era produzido: o cabeceio pra fora de WP logo aos 4 minutos em jogada de Montillo e Marcos pela direita, e a conclusão na trave de Anselmo Ramon recebendo passe de Diego Renan, após jogada veloz de Marcelo Oliveira pela esquerda.

Quando o Cruzeiro não tinha a bola, as responsabilidades defensivas de WP e Wallyson no esquema com três atacantes — recuar pelos lados para fechar o meio com Montillo — não estavam sendo bem exercidas. Isso dava espaço e tempo para os volantes do Boa acharem Yuri e Radamés, que estavam ganhando a disputa particular contra Leandro Guerreiro e Marcelo Oliveira. Yuri às vezes atraía a marcação de ambos, dando espaço para Radamés, autor do cruzamento que passou por cima de Leo, mal posicionado, achando o cabeceio de Rafael Gomes para fora. Ou então jogava às costas de ambos, recebendo passes em profundidade para pegar a defesa desprevenida, como no lance em Victorino, muito adiantado, permitiu um passe às suas costas do camisa 10 adversário para Pedro Paulo, que concluiu para Fábio mostrar porque é um dos melhores goleiros do mundo.

Mesmo tendo feito talvez o pior primeiro tempo taticamente na “era” do 4-3-3, o Cruzeiro criou mais chances, muito devido à qualidade técnica de seu elenco, bem superior à do adversário. A edição dos melhores momentos da TV comprova isso: a rigor, houve somente um lance de real perigo de gol contra o Cruzeiro, que foi o lance da defesa de Fábio. No mais, os outros lances foram do Cruzeiro.

Nenhuma alteração foi feita no intervalo, e o jogo também não teve alterações. O Cruzeiro jogava com uma certa preguiça tática, talvez pelo fato de o próximo jogo ser o Superclássico, e por isso se poupava para não correr riscos de amarelos desnecessários, principalmente Montillo e Diego Renan, que estavam pendurados. Não fazia muita força para sair da forte marcação imposta pelo Boa, nos mesmos moldes do primeiro tempo, mas já sem tanto fôlego. No Boa, Yuri já não conseguia render tanto, e a partida ficou meio morna, sem muitas chances de parte a parte.

Na primeira vez em que o Cruzeiro resolveu acelerar, marcou: Victorino, sem opções mas desmarcado, avançou em velocidade e passou a Anselmo Ramon, de costas para o gol, que abriu na esquerda para Marcelo Oliveira driblar seu marcador com um lindo corte e cruzar na cabeça de WP, que desta vez não errou. Pelas estatísticas levantadas por este blog, foi a 18ª finalização do camisa 9 em todos os jogos da temporada: 8 gols, 2 defendidas, 3 bloqueadas e 5 para fora. A grande maioria de dentro da grande área (14), contra 3 na pequena área e somente uma de fora da grande área. Dos gols, 4 de cabeça, 2 de pé direito e 2 de pênalti.

Atrás no placar, o Boa se lançou à frente e o Cruzeiro contra-golpeava perigosamente. Sidney Moraes tirou então Yuri e lançou Vinicius Kiss para jogar atrás dos atacantes, numa tentativa de dar mais velocidade à articulação do Boa sem mudar o esquema. Infelizmente, não deu muito tempo para a alteração surtir efeito, já que dois minutos depois, Marcos roubou a bola ainda em sua intermediária, tabelou com WP e avançou sem marcação. Montillo ganhou na velocidade de sua “sombra” Claudinei, achou um espaço atrás do zagueiro e recebeu lançamento primoroso do camisa 2 celeste – que ainda dá uma “freadinha” antes de passar para tirar o zagueiro do lado esquerdo do caminho do argentino – e concluiu com maestria de pé esquerdo.

Após as alterações, Cruzeiro no 4-2-2-2 quase 4-3-3, tendo Montillo aberto, quase atacante, e Walter e Élber ajudando na recomposição

O técnico do Boa não tinha opção senão atacar, e trocou um atacante (Pedro Paulo) por outro teoricamente mais veloz (Robert), que veio jogar aberto pela esquerda. Ele e Vinicius Kiss entraram com muita disposição e até conseguiram alguns espaços nas costas dos laterais celestes, mas pecaram no individualismo e eram facilmente desarmados. O Cruzeiro segurava a bola no ataque com facilidade. Com o jogo resolvido, Mancini mexeu: lançou walter no lugar de Anselmo Ramon, mandando WP para a referência. Depois, protegeu Diego Renan de levar uma eventual terceira advertência e ficar de fora do Superclássico, lançando Everton na lateral esquerda. O esquema só mudou (um pouco) com a entrada do garoto Élber na criação central no lugar de Wallyson, fazendo um 4-2-2-2 com Montillo aberto na direita, e Walter na dupla com WP. O jogo se manteve na mesma toada. Sidney Moraes ainda tirou o volante Olívio e lançou o atacante Marques, tentando o 4-3-3, mas o Cruzeiro se fechou bem com Élber e Walter voltando para recompor, e o Boa não tinha por onde passar.

A vitória veio sem muita força, mas liga um alerta para o treinador cruzeirense. O esquema com três atacantes tem funcionado em várias situações, mas tem mostrado também algumas falhas que podem ser fatais no Superclássico, mais especificamente: se a dupla de volantes e a dupla de laterais for bem vigiada, o Cruzeiro perde em saída, já que Montillo terá ou marcação individual ou dois volantes em seu encalço; e a pressão no alto do campo deve ser melhor executada, e isso significa que os volantes devem se aproximar mais de Montillo e a zaga deve se adiantar mais se aproximando dos volantes. Do contrário, abrem-se espaços que o adversário pode explorar.

É quase certo que Vágner Mancini mantenha o esquema para o Superclássico. Se não mantiver, estará sendo incoerente, pois é hora de testar o esquema contra equipes mais fortes. A expectativa é de um duelo tático interessante.

Vejo o Cruzeiro em ligeira vantagem. Mas talvez isso seja pelo fato de eu ser cruzeirense.

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