Internacional 1 x 2 Cruzeiro – Celso Roth e os olímpicos

Um jogo equilibrado entre um time em formação e um time mais acostumado a jogar junto. Assim podemos definir o confronto entre Internacional e Cruzeiro no sábado, pela oitava rodada do Brasileirão 2012 em Porto Alegre. Erros táticos coletivos – causados por méritos táticos dos jogadores adversários – aliados à excelência técnica dos jogadores da Seleção Olímpica causaram o segundo revés seguido do Cruzeiro no certame.

O 4-2-3-1 diagonal de Celso Roth, com Tinga centralizando da mesma forma que no jogo contra o São Paulo, e William Magrão cobrindo; o lado direito ficou despovoado

Com Charles contundido e Wellington Paulista suspenso, Celso Roth reeditou o 4-2-3-1 diagonal sem lado direito do último jogo, mandando William Magrão e Anselmo Ramon em seus lugares. Mateus voltou ao time após suspensão no lugar de Rafael Donato. Já o Internacional armado por Dorival Júnior era o costumeiro 4-2-3-1, contando com um quarteto ofensivo de dar inveja a qualquer clube brasileiro: Oscar pela direita, D’Alessandro centralizado e Dagoberto na esquerda atrás de Leandro Damião.

O jogo começou com muitos passes errados de lado a lado. O Inter marcava em bloco médio e deixava os zagueiros do Cruzeiro jogarem, mas daí pra frente fazia pressão intensa na marcação. Porém, logo aos 7 minutos, o Inter abriu o placar em uma movimentação inteligentíssima de Dagoberto. O meia pela esquerda duelava com Léo, novamente jogado pela lateral direita. Ele arrastou seu marcador para dentro do campo, tocando uma bola de primeira para D’Alessandro servir, também de primeira, Oscar, que entrava justamente pelo lado direito onde deveria estar Léo. O meia da Seleção concluiu antes da marcação chegar e conseguiu achar um buraco entre Fábio e a trave.

(i) Dagoberto atrai Léo para o meio-campo, toca para D’Alessandro, (ii) que lança Oscar no espaço aberto por Dagoberto

Assim como no jogo contra o São Paulo, o gol logo no início da partida obrigou o Cruzeiro a correr atrás e sair para criar. Bem armado defensivamente, o Inter fechava seus flancos com até 3 jogadores, e dificultava as ações ofensivas celestes. O próprio Cruzeiro facilitava, já que não variava muito suas jogadas, forçando mais pelo lado esquerdo. Tinga derivava para o meio-campo e o Cruzeiro teve pouca profundidade pela direita. Teve até mais posse de bola, mas só ameaçou de verdade em conclusão de fora da área de William Magrão que explodiu no travessão.

Defensivamente, o Cruzeiro passava por dificuldades quando o Internacional imprimia velocidade. Victorino em particular, porque não é um zagueiro rápido, tem mais característica de ser zagueiro da cobertura. Mas Damião jogava em cima do camisa 4 deixando Mateus na sobra. Além disso, o time da casa já está muito mais acostumado a jogar com três meias ofensivos, e as premissas básicas desse esquema são inversões de posicionamento e movimentação constante, coisa que o Internacional fez muito bem, confundindo a marcação azul.

Para ilustrar isto, justamente quando o Cruzeiro parecia equilibrar as ações, Dagoberto aprontou mais uma vez. Desta vez aparecendo pelo meio, o camisa 20 do Internacional recebeu um passe de ligação direta que Damião conseguiu ganhar, girou e conseguiu enfiar uma bola pela direita, entre Victorino e Léo, devolvendo para o atacante da Seleção ganhar do uruguaio na corrida e chutar cruzado para aumentar. Dagoberto ainda teria a chance do terceiro, quando recuperou bola perdida e no primeiro toque driblou Léo, tocando cruzado. A bola caprichosamente foi para fora.

Na volta do intervalo, Dagoberto foi entrevistado e disse que o primeiro tempo foi uma surpresa, pois eles achavam que o Cruzeiro iria jogar contra-atacando e o Inter é que seria propositivo, mas na verdade foi o contrário. Um bom resumo. O time da casa aproveitou as poucas chances que teve com muita qualidade técnica e, principalmente, tática.

Celso Roth sacou Victorino, talvez temendo que o uruguaio perdesse mais duelos para Damião. Léo voltou ao miolo de zaga e William Magrão foi fazer a lateral direita, com Wallyson entrando no jogo na ponta direita. Com isso, Tinga recuou para o meio de vez. O sistema se tornava um 4-2-1-3, já que Fabinho e Wallyson voltavam pouco pelas alas: a ideia era pressionar o Inter em seu campo para conseguir um gol cedo e partir para o empate.

Mas foi o Internacional quem segurou mais a bola. Sob marcação intensa do time celeste, a equipe mandante tocava a bola em sua intermediária mas não conseguia chegar além disso. Também uma clara estratégia de diminuir o ritmo intenso que o Cruzeiro tentava impor na partida. Quando recuperava a bola, o Cruzeiro partia para tentar resolver. Logo aos 4 minutos, em boa jogada de Wallyson — desta vez pelo lado esquerdo — com Anselmo Ramon — que mais uma vez fez um bom pivô no comando do ataque — Everton apareceu debaixo das traves, na cara de Muriel para concluir… por cima.

A postura defensiva do Internacional continuava da mesma forma que no primeiro tempo: bem posicionados, os jogadores bloqueavam os flancos com muitos jogadores e dificultavam o jogo azul. O Cruzeiro passou a ter mais posse de bola, e o Internacional se contentava em repelir as investidas visitantes. Roth então sacou Fabinho e mandou Souza a campo, e o time passou a ter Souza e Tinga armando para Montillo pela direita, Anselmo na referência e Wallyson pela esquerda. Um 4-3-3 clássico.

A recompensa veio minutos depois. Em escanteio cobrando pela direita, Leandro Guerreiro dividiu com o zagueiro do Internacional e a bola sobrou limpa para Léo dentro da pequena área. O zagueiro girou numa linda bicicleta para diminuir.

O time que terminou o jogo, com Montillo caindo mais pela direita num clássico 4-3-3, que abusou dos cruzamentos na área

O Cruzeiro ainda teria metade do segundo tempo para tentar empatar o jogo, e foi o que fez, com Diego Renan no lugar de Everton, alteração feita antes do escanteio. Tentou de todas as formas, abusando dos cruzamentos na área adversária (foram 7 acertos e 22 erros, de acordo com números da Footstats publicados pela ESPN Brasil). Dagoberto e D’Alessandro sairiam para as entradas de Marcos Aurélio e Jajá, e o time se postaria num 4-4-1-1 que segurar o Cruzeiro até o fim, que só ameaçou em alguns chutes de fora da área. Bolatti ainda entraria no lugar de Oscar para ganhar tempo.

Os erros cometidos na partida demonstram que o Cruzeiro é claramente um time ainda em formação, apesar de ter conseguido 4 vitórias seguidas. Só com o tempo é que o entrosamento de fato fará a diferença, como fez neste jogo para o lado dos gaúchos: os ataques celestes pelos flancos eram frequentemente sobre-povoados pelo adversário, e o ataque produzia movimentos interessantes que bagunçaram a linha defensiva celeste. É por essa razão que, contra jogadores experientes e técnicos, que sabem aproveitar estes espaços criados, o defesa cruzeirense têm tido problemas.

Ofensivamente também existe espaço para evoluir. Com a tendência de Tinga de ser atraído para o meio-campo, a escalação do meia — sim, ele é um meia de origem — pela direita no 4-2-3-1 inicial só faz sentido se tivermos um lateral-direito ofensivo, para que o time tenha profundidade por aquele lado. Léo não é este jogador, e o Cruzeiro acabou sendo um time “torto”: foi a equipe que mais investiu pelo lado esquerdo na rodada, novamente de acordo com números do site da ESPN Brasil:

Para o próximo jogo, contra o Grêmio em casa, Diego Renan provavelmente voltará à lateral direita. Nesse caso sim Tinga seria uma boa opção para a meia-direita, já que os times de Vanderlei Luxemburgo, técnico do time gaúcho, costumam jogar no 4-3-1-2 losango, ou seja, com um maior número de jogadores centrais no meio-campo. A movimentação de Tinga pode resolver este problema, e ao mesmo tempo dar mais amplitude no setor.

Assim, é preciso provar que conseguimos não tomar gols contra equipes técnicas e experientes, e ao mesmo tempo atacar o adversário por todos os lados, sendo menos previsível.

Que Luxemburgo seja a próxima vítima.

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