Cruzeiro 5 x 0 Santa Rita – Tinha que ser de mais

Todo mundo sabia que seria o duelo mais desigual das oitavas da Copa do Brasil. Afinal, tratava-se do atual campeão e melhor time do país, enfrentando uma equipe que não joga nenhuma das quatro divisões do nacional. Talvez por isso havia a expectativa de que o Cruzeiro jogaria sem correr tanto, sem marcar pressão, deixando o tempo passar e resolvendo sem pressa. Mas não foi isso o que aconteceu.

O Cruzeiro entrou em campo como se estivesse jogando contra um time de Série A. E isso foi a maior demonstração de respeito ao modesto Santa Rita, antigo Corinthians Alagoano. O Cruzeiro marcou, correu atrás da bola e não deixava os jogadores do time visitante trocarem passes tranquilamente. E assim construiu o placar, que poderia ser ainda maior não fosse uma certa displicência dos finalizadores.

Escalações

O 4-3-1-2 losango do Santa Rita sofreu para segurar o 4-2-3-1 celeste, principalmente pelos lados com Mayke e Samudio tendo muita liberdade

O 4-3-1-2 losango do Santa Rita sofreu para segurar o 4-2-3-1 celeste, principalmente pelos lados com Mayke e Samudio tendo muita liberdade

O Cruzeiro entrou em campo com peças diferentes, mas manteve o 4-2-3-1 tradicional. O gol de Fábio foi protegido por Dedé e Manoel, com Mayke fechando a linha defensiva pela direita e Samudio do outro lado. Henrique e Lucas Silva fizeram a proteção, ajudando o ponteiro direito Alisson, o central Júlio Baptista e o ponteiro esquerdo Dagoberto. Na frente, sempre ele, Marcelo Moreno. Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart foram poupados.

Já o Santa Rita foi armado por Eduardo Neto num 4-3-1-2 losango. O goleiro Jeferson teve sua última linha formada por Edir na lateral direita, Júnior Carvalho e Selmo Lima no miolo e Jeanderson na esquerda. Na frente da área, Adriano, Edson Magal e Cristiano Fontes fizeram a tríplice volância, deixando Lucas na ligação para Rafael Silva, mais pela esquerda, e Reinaldo Alagoano, na frente.

Superioridade técnica e tática

A saída era do time visitante. Tão logo apitou o juiz uma horda de azuis partiu pra cima dos adversários querendo a bola a todo custo. Para surpresa deste, os jogadores do Santa Rita conseguiram tocar a bola e sair da marcação pressão, ficando mais tempo com a bola do que nas outras oportunidades de posse. E ainda finalizou primeiro, um chute pra fora de Lucas aos 3 minutos. Porém, o time de Alagoas só finalizaria pela segunda vez 75 minutos depois.

O domínio celeste foi flagrante, mas as razões não são puramente técnicas. Primeiro porque o Santa Rita deixava espaço entre o sistema defensivo e os três homens de frente, exatamente onde o Cruzeiro jogava. O Santa Rita até tinha mais jogadores no setor, mas Lucas não fazia muito o trabalho defensivo e assim ficou três contra três. Só que os três celestes tinham muito mais técnica e velocidade e ocupavam melhor os espaços, ganhando a posse de bola facilmente.

Além disso, um sistema sem jogadores abertos, como é o 4-2-3-1 losango, expõe os laterais. Dessa forma, o Cruzeiro fazia dois contra um dos dois lados: Mayke e Alisson em cima de Jeanderson e Samudio e Dagoberto pra cima de Edir. Não foi à toa que os gols saíram em jogadas pelo lado. O primeiro numa falta sofrida na esquerda que Moreno cabeceou pro gol; o segundo num escanteio conseguido após jogada de Alisson pela direita; e o terceiro em cruzamento de Mayke.

Mas o Cruzeiro teve chance pra fazer muito mais. Moreno acertou a trave duas vezes, Dagoberto concluiu jogada de Mayke dentro da pequena área mas parou em Jeferson, que também defendeu um chute certeiro de Lucas Silva do meio da rua. Isso sem falar nas bolas que foram pra fora. Talvez esse tenha sido o único pecado do Cruzeiro na noite de ontem: finalizar mal. Fazer 3 gols em 45 minutos foi ótimo mas não traduziu a superioridade celeste, foi pouco.

Segundo tempo

Do intervalo em diante, o Santa Rita marcou num 4-2-3-1, fechando os lados mas abrindo o meio: melhor para os volantes celestes

Do intervalo em diante, o Santa Rita marcou num 4-2-3-1, fechando os lados mas abrindo o meio: melhor para os volantes celestes

Nenhum treinador mudou peças no intervalo, mas o Santa Rita voltou marcando diferente. Edson Magal saiu da linha dos volantes e centralizou entre os meias. Lucas abriu pela direita e Rafael Silva oficializou seu posicionamento na esquerda: estava formado um 4-2-3-1.

A mexida deu certo — por assim dizer. No segundo tempo, Mayke e Samudio já não tinham tanta liberdade assim e apoiaram bem menos do que na etapa inicial. Além disso, as linhas ficaram ligeiramente mais próximas, diminuindo um pouco o espaço no meio. Mas isso foi “compensado” com menos gente no centro do meio-campo. Se com três volantes o Cruzeiro já era bem superior, com dois volantes ficou ainda mais fácil. Tanto que Lucas Silva arriscou do meio da rua, Jeferson rebateu pra frente e Moreno não perdoou.

O quarto gol deu a tranquilidade necessária para rodar o elenco. Marcelo tirou Moreno e lançou Marlone, e depois, a pedidos da torcida, estreou o garoto Neílton no lugar de Alisson. Neílton veio para a direita, Marlone ficou centralizado, Dagoberto passou à esquerda e Júlio avançou para o ataque. Com Marlone e Neílton, a intensidade, que naturalmente já começava a cair, voltava com a necessidade de mostrar serviço. Neílton deu velocidade mas não conseguia passar pelos marcadores, perdendo bolas sem falta. E Marlone participou bastante da construção mas chegou pouco à área, papel fundamental para um central. Na vez em que chegou, mandou um balaço no travessão.

Já as mexidas do Santa Rita não mudaram o sistema até o fim do jogo. Assim, o Cruzeiro continuou dominando o meio-campo com facilidade. O maior sinal disso era a posição dos volantes: Willian Farias, que entrou na vaga de Lucas Silva, aparecia pra jogar bem próximo da grande área adversária, quase como um meia armador. Já Henrique estava dentro da área quando marcou o quinto e último gol.

 

Sobre as conclusões

O placar foi dilatado, mas poderia ter sido ainda mais. O Cruzeiro concluiu a gol nada menos do que 30 vezes, sendo 16 delas (53,33%) certas e 5 gols (16,67%). É uma taxa de acerto e de conversão maior do que as do time no Brasileirão até a 17ª rodada (44,59% e 14,86% respectivamente), mas o que deixa com a pulga atrás era a qualidade das chances. Contando somente as três bolas na trave e um cabeceio de Júlio Baptista pra fora, sozinho dentro da pequena área, já seriam mais quatro gols. Isso sem falar nos vários chutes fracos em cima do goleiro e pra fora em posições muito boas de chute.

O mapa de finalizações mostra como o domínio foi maior que o placar final mostrou: 30 chutes a gol, 16 certos (Footstats)

O mapa de finalizações mostra como o domínio foi maior que o placar final mostrou: 30 chutes a gol, 16 certos (Footstats)

Mas isso me parece cornetar demais. De toda forma, o resultado largo permite agora ao Cruzeiro poupar jogadores na partida de volta em Alagoas. Chance para rodar ainda mais o elenco e dar ritmo, pois confirmada a classificação às quartas, a próxima possibilidade de semana livre será somente entre os dias 26 de outubro e 2 de novembro — isso se o Cruzeiro não se classificar para as semifinais da Copa do Brasil.

Como ninguém quer isso, é quarta e domingo até dezembro — por isso, rodar o elenco não será importante: será uma necessidade.

Goiás 0 x 1 Cruzeiro – Exagero na dose

O Serra Dourada é o maior campo do Brasil. O gramado possui as medidas máximas permitidas pela regra 1 para jogos oficiais internacionais, 110 x 75 m. O Mineirão usa as medidas oficiais para jogos da Copa, 105 x 68 m. A diferença parece pequena, mas não é: só nas laterais, são 3,5 metros a mais de espaço para cada lado — provavelmente a largura do quarto ou sala onde você está agora lendo este texto.

Um campo com medidas tão grandes tem influência direta na estratégia de marcação de uma equipe no jogo. É preciso dosar o desgaste físico, pois não há como aplicar a mesma intensidade de marcação que se usa num campo como o Mineirão, por exemplo, pois corre-se o risco de cansar em demasia no fim da partida e ficar em desvantagem numérica em alguns setores.

Foi esse controle que o Cruzeiro tentou fazer em Goiânia neste domingo. Mas exagerou na dose e quase correu o risco de perder dois pontos.

Sistemas iniciais

No primeiro tempo, ambas equipes no 4-2-3-1, espalhados, e se movimentando pouco no enorme campo do Serra Dourada

No primeiro tempo, ambas equipes no 4-2-3-1, espalhados, e se movimentando pouco no enorme campo do Serra Dourada

Como de costume, Marcelo Oliveira manteve o 4-2-3-1. Sem Mayke, Henrique e Ricardo Goulart, todos poupados para evitar lesões, Fábio teve sua linha defensiva formada por Ceará, Dedé, Léo e Egídio. Nilton reeditou a parceria com Lucas Silva no meio-campo, dando suporte a Willian na direita, Éverton Ribeiro como central e Alisson pela esquerda. Na frente, Moreno.

O Goiás não foi a campo com três zagueiros, como informou o SporTV no início da transmissão. Ricardo Drubscky também armou um 4-2-3-1, com Renan no gol, Jackson e Felipe Macedo como zagueiros, Moisés na lateral direita e Léo Veloso na esquerda. Valmir Lucas entrou como volante preso, com David tendo ligeiramente mais liberdade. O quarteto ofensivo tinha Thiago Mendes na direita, Tiago Real por dentro e Samuel na esquerda atrás de Bruno Mineiro.

Ritmo lento: Sonolência ou estratégia?

O jogo começou e parecia não ter começado, tal a lentidão que os jogadores de ambas as equipes colocavam em campo. Muitos amigos nas redes sociais já cornetavam, dizendo da sonolência do time, mas este blogueiro preferiu avaliar pelo lado da estratégia: se poupar para não cansar no enorme gramado do Serra Dourada. Assim, não vimos o Cruzeiro que normalmente vemos em outras partidas, aplicando pressão sobre a zaga adversária para roubar a bola e tocando com velocidade e intensidade quando a tinha nos pés.

Quando o Cruzeiro acelerou, chegou ao gol. Bola roubada no meio-campo, a defesa do Goiás ainda estava se arrumando, mas Éverton Ribeiro, de frente e sem marcação, tinha três opções de passe: Ceará, que já passava na direita; Alisson, totalmente livre pelo lado esquerdo com o lateral Moisés correndo para alcançá-lo; e Marcelo Moreno, marcado por um zagueiro e com outro na sobra. A escolha de Éverton foi a mais difícil: um passe em profundidade, fora do alcance da cobertura e apostando na velocidade do boliviano, que concluiu cruzado para marcar. Oitava assistência de Éverton no certame, o líder no quesito.

Talvez pela facilidade, os jogadores de certa forma se acomodaram. Conseguiam repelir as investidas goianas com facilidade, e não quiseram correr muito mais para fazer o segundo e matar logo a partida.

Segundo tempo

Nenhuma mudança houve depois do intervalo. A única diferença foi que o Cruzeiro passou a ter mais posse de bola na intermediária ofensiva ao invés da defensiva, mas com poucas tentativas de passe agudo. Só aos 15 o jogo mudaria um pouco, com Drubscky trocou Moisés por Murilo, um meia, passando Valmir Lucas para a lateral direita. Murilo foi jogar aberto na direita, e os dois Tiagos ficaram mais próximos por dentro do campo, com Real mais à direita e Mendes mais à esquerda. Uma espécie de 4-3-3, pendendo muito para a direita.

O mapa de passes do 2º tempo (Opta) mostra como o Goiás insistiu pela direita, tendo um jogador aberto naquele setor (Murilo) mas não do outro lado

O mapa de passes do 2º tempo (Opta) mostra como o Goiás insistiu pela direita, tendo um jogador aberto naquele setor (Murilo) mas não do outro lado

No Cruzeiro, Egídio deu seu lugar a Samudio. Naquele momento, achei que fosse para poupar e dar mais segurança, mas Egídio teve um problema na mão e teve que sair. Depois, com Alisson por Dagoberto, Marcelo queria definir a partida de uma vez, mas não foi o que aconteceu. O Goiás começou a ocupar a intermediária ofensiva e trocar passes muito próximo da área de Fábio, muito porque o Cruzeiro não dava pressão sobre o homem da bola neste setor. Um risco desnecessário, já que seria melhor ocupar o meio-campo e empurrar o time verde para trás.

Com Henrique, Cruzeiro fechou o meio-campo mas abriu os corredores, permitindo vários cruzamentos -- um risco desnecessário

Com Henrique, Cruzeiro fechou o meio-campo mas abriu os corredores, permitindo vários cruzamentos — um risco desnecessário

Marcelo Oliveira tentou mexer no time com Henrique na vaga de Willian, numa rara modificação de sistema tático. O Cruzeiro se postou num 4-3-1-2, com Henrique e Lucas ligeiramente mais avançados que Nilton no meio. Dagoberto se juntou a Moreno no ataque e Éverton ficou na ligação. O meio-campo central ficou mais forte defensivamente, mas sem jogadores abertos o Cruzeiro abriu os corredores, e o Goiás que começou a atacar com seus dois laterais ao mesmo tempo. O resultado foi uma profusão de bolas na área, que o Cruzeiro conseguia afastar até com certa facilidade. Mas novamente corria riscos desnecessários.

Já Ricardo Drubscky trocou seus dois atacantes para poder encaixar passes em profundidade e pegar a defesa celeste correndo pra trás. Não tinha funcionado até o último lance da partida, quando a postura cautelosa demais quase cobrou seu preço. Uma bola espirrada de Léo acabou servindo de passe para Esquerdinha. Dedé foi com ele e ganhou na bola, mas o juiz viu pênalti, que David mandou pra fora.

Segurando demais

Esta partida contra o Goiás mostrou que o Cruzeiro está ciente de sua capacidade e também tem maturidade para acelerar o jogo quando bem entende. É compreensível que os jogadores não quisessem se aplicar tanto na marcação, visto o tamanho do campo e a maratona de jogos que está por vir. No entanto, talvez tenha exagerado no freio. Era preciso acelerar um pouco, mas apenas um pouco, não a ponto do desgaste físico ser um fator. E seria suficiente para que o Cruzeiro não corresse os riscos que correu no fim da partida.

No empate contra o Botafogo e na vitória que só valeu um ponto contra o Criciúma, o time foi elogiado pela busca constante do gol e pelo jeito de jogar ofensivo e consciente. Apesar de ter valido mais pontos, esta partida não merece tantos elogios quanto as outras. O Cruzeiro quase perdeu dois pontos por puro desleixo. O tamanho do campo é um atenuante, mas não pode ser a única desculpa.

Que bom que a maioria dos próximos jogos será em campos menores, e assim poderemos ver o Cruzeiro verdadeiro em ação.

Cruzeiro 3 x 0 Santos, Cruzeiro 1 x 0 Grêmio – Desmantelando muros

O calendário corre. Se o Cruzeiro, como todos queremos, chegar à final da Copa do Brasil, será quarta e domingo até dezembro — a próxima semana livre seria apenas entre a penúltima e a última rodada do Brasileirão. Com isso, o blogueiro também fica sem tempo. Por isso, abaixo seguem textos mais curtos sobre as partidas em casa contra Santos e Grêmio, antes de começar a rodada 17.

Com espaço

Cruzeiro 3 x 0 Santos

Para compensar a falta de trabalho defensivo de Robinho, volantes ficavam recuados para a cobertura e abriam espaço no meio, que o trio de meias celestes aproveitou

Na partida contra o Santos, ambos os times entraram num 4-2-3-1. Marcelo Oliveira manteve Mayke na lateral direita, e por isso todos esperavam o duelo com Robinho. Isso porque o santista joga normalmente pelo lado esquerdo do ataque, mas nessa partida, Oswaldo de Oliveira optou por escalá-lo do outro lado, provavelmente para explorar os espaços que Egídio deixa ao subir para o ataque.

Teria funcionado se esse movimento não ocasionasse um efeito cascata. Mesmo com Robinho, Egídio não deixou de apoiar, e Robinho não voltava com ele. Pra evitar o dois contra um em cima de Cicinho, os volantes do Santos iam para a cobertura, principalmente Alan Santos. Isso abriu uma cratera no meio campo, por onde os meias celestes tinham espaço para jogar. O Cruzeiro dominou todo o primeiro tempo, dando chances apenas quando errava os passes e as coberturas nos contra-ataques. Destaque para a atuação de Henrique, senhor do meio-campo, com 5 desarmes.

Na etapa final, Osvaldo entrou com Rildo na vaga de Damião, centralizando Robinho no ataque. A ideia era dar mais movimento e velocidade pelos lados, já que os contra-ataques entraram no primeiro tempo, mas o gol logo no início da segunda etapa acabou com os planos do time paulista. Este gol é fruto da total inteligência tática de Ricardo Goulart e merece destaque.

Depois de troca rápida de passes pela esquerda, Egídio acionou Willian. O bigode já estava longe do alcance de Cicinho, obrigando Edu Dracena a sair na cobertura. Assim que Edu abandona a área para dar o combate, Ricardo Goulart percebe o espaço nas costas do zagueiro e o ocupa, recebendo o passe e finalizando bem. É importante ressaltar que Goulart só faz isso porque Edu Dracena saiu do seu posicionamento. Se o zagueiro continuasse mantendo a linha, é bem provável que Goulart continuasse na frente da área esperando o passe lateral. Isso é inteligência tática: perceber os espaços, ir até eles e saber o que fazer quando chegar lá.

Com 2 x 0, o jogo assentou. O Cruzeiro apenas controlava o ritmo e o Santos tentou dar velocidade. Rildo, que havia entrado como ponteiro esquerdo, começou a levar perigo em cima de Mayke, que já havia levado o amarelo. Marcelo aproveitou a troca por Ceará para lançar também Júlio Baptista na vaga de Moreno, para segurar a posse no meio e dar cadência, tirar a velocidade do jogo que naquele momento favoreceria ao Santos. Goulart foi fazer a função na frente, mas logo depois sentiria um incômodo e seria trocado por Dagoberto, fazendo Éverton Ribeiro ser o central, com Dagoberto na direita e Júlio na referência.

Oswaldo até tentou colocar Leandrinho na vaga de Alan Santos, abrindo o time num 4-3-3 com um volante só para tentar diminuir. Mas o Cruzeiro ensaiou duas vezes o contra-ataque, errando sempre o último passe. No terceiro, Éverton passou a Júlio Baptista, que com um drible mágico tirou do carrinho de Dracena antes de completar pro gol e matar o jogo.

Sem espaço

Cruzeiro 1 x 0 Grêmio

Já na partida contra o Grêmio, o 4-3-2-1/4-5-1- de Felipão fechou o meio, e o único espaço disponível era o setor de Lucas Silva e Henrique

Na partida contra o Grêmio, porém, a postura do adversário foi diferente. Contra um Cruzeiro sem Moreno por força de contrato e com Júlio Baptista em seu lugar, Felipão fez o que devia ter feito no jogo contra a Alemanha e escalou três volantes, fechando todos os espaços no meio-campo. Além disso, Dudu e Luan, os meias, jogavam abertos em cima dos laterais e voltavam com eles. Apenas o jovem Ronan ficava à frente da linha do meio-campo, fazendo uma espécie de 4-5-1 com o meio em linha sem a bola. A consequência era que os meias celestes não tinham o mesmo espaço que tiveram na partida contra o Santos, dificultando muito as ações ofensivas.

Com 9 homens atrás da bola, o espaço para jogar se encontrava entre a linha divisória e a intermediária ofensiva. Assim, o Cruzeiro chegou mais quando os meias recuavam até este espaço para iniciar a construção, ou quando Henrique e Lucas Silva, que naturalmente jogavam por ali, faziam este primeiro passe. Lucas, no entanto, não estava em um bom dia e errou muitos passes, gerando os contra-ataques perigosíssimos do Grêmio que paravam nas mãos de Fábio. O primeiro tempo terminou com o placar em branco muito por conta da atuação do capitão celeste.

Na volta, Marcelo mandou Alisson a campo na vaga de Willian, que não fez bom primeiro tempo, errando muitos passes e interrompendo a construção do ataque. Alisson tinha a missão de não só manter a intensidade e dar profundidade do lado esquerdo. Do lado oposto, Felipão trocou Riveros por Edinho, por lesão. Agora o sistema parecia bem mais um 4-1-4-1, com Edinho bem próximo da defesa e fixo entre as linhas.

Com 3 minutos, Edinho foi amarelado, mas Lucas Silva e Henrique também foram — um sinal de um jogo brigado no meio. Temendo o vermelho, Marcelo mandou Nilton na vaga de Lucas, e depois queimou a regra três aos 17 minutos, com Dagoberto na vaga de Júlio Baptista. Goulart avançou para a referência, Éverton Ribeiro foi ser o central e Dagoberto entrou pela direita. O jogo continuou encardido, e só aí Felipão sentiu segurança para tentar algo mais. Tirou Ronan e lançou Fernandinho, ex-rival, como ponteiro. Com isso, Luan foi ser o centro-avante. A tentativa era a clássica: dar velocidade nos contras.

Mas as alterações não mudaram a partida. O Cruzeiro continuou tendo a posse da bola, e o Grêmio continuou fechadinho. A equipe gaúcha parecia feliz por empatar sem gols com o melhor time do Brasil fora de casa — de fato, teria sido um grande resultado. Teria, se Dedé não fizesse jogada de lateral e acertasse um dos dois cruzamentos certos do Cruzeiro em toda a partida. Dagoberto, que naquele momento era o ponteiro esquerdo, cabeceou fora do alcance de Grohe e fez o gol que valeu 5 pontos de folga na liderança. Felipão ainda tentou lançar Alan Ruiz, meia, na vaga de Riveros, mas a área de Fábio não foi mais ameaçada.

Demolição de muros

Tanto Santos como Grêmio mostraram formas de se tentar jogar contra o Cruzeiro no Mineirão. Oswaldo confiou em Robinho para decidir, pois abriu o meio-campo para deixá-lo sem responsabiliade defensiva. Arriscou e perdeu, pois Robinho não fez boa partida e o espaço fornecido foi fundamental na vitória por 3 a 0. Portanto, o Santos foi um bom exemplo de como não se portar.

Já Felipão não quis arriscar. Usou a política do “erro zero” na defesa, para pelo menos deixar o placar em branco e quem sabe conseguiu um gol na frente. Quase um anti-futebol, onde o importante é não perder. Considerando que o Cruzeiro impõe respeito, é compreensível. E apesar do resultado não ter sido favorável, a postura gaúcha na partida de quinta à noite abre um precedente perigoso para que outros treinadores tentem fazer o mesmo.

Existe uma máxima no futebol que diz: por mais que uma equipe seja inferior técnica e taticamente a outra, pelo menos uma ou duas chances de gol ela terá. E no livro “Os Números do Jogo” é mostrado, por análises estatísticas, que a chance de vitória aumenta mais quando se evita sofrer o primeiro gol do que quando se marca o primeiro gol. Esses dois fatos corroboram com a teoria do “erro zero”: defender-se bem e marcar nas poucas chances que aparecerem é uma estratégia válida.

É claro que nem todos os adversários terão a qualidade defensiva que o Grêmio teve, nem jogadores técnicos e rápidos o suficiente para ameaçar em contra-ataques. Mas esse futebol negativo, de reação, é o que podemos esperar de quase todos os adversários do Cruzeiro no Mineirão, e até de alguns outros times na sua própria casa.

E o Cruzeiro, como melhor time do Brasil, tem a obrigação de desmantelar esses muros — para o bem do futebol brasileiro.

Criciúma 0 x 0 Cruzeiro – Enfrentando um 3-4-4-1-1

Este é um blog que fala principalmente de tática no futebol, e de vez em quando sobre estatísticas e gráficos também relacionados a futebol. A premissa principal é falar sobre essas coisas e somente sobre essas coisas, apenas dando pinceladas em outros assuntos que são importantes para os dois principais. Entretanto, quando o plano de jogo, a estratégia, a tática e a técnica dão todos certos, mas o resultado não vem assim mesmo, somente duas coisas explicam. Uma é o acaso do futebol, que de fato existe. Outra é a arbitragem.

Assim como o placar verdadeiro da partida foi 2×0, com gols de Marquinhos e Willian, o título deste texto é uma referência ao sistema tático “real” da equipe catarinense. Ora, isso dá mais de dez jogadores de linha, mas quando se consegue passar da defesa e do goleiro, aí foi preciso vencer outro trio: o de apitadores. E dessa vez o Cruzeiro não conseguiu vencer essa última “linha defensiva”.

Escalações

Criciúma no 4-4-1-1: volantes Serginho e Martinez causavam tripla marcação no lado da jogada e Paulo Baier ocupava o volante, forçando o passe de retorno aos zagueiros do 4-2-3-1 cruzeirense

Criciúma no 4-4-1-1: volantes Serginho e Martinez causavam tripla marcação no lado da jogada e Paulo Baier ocupava o volante, forçando o passe de retorno aos zagueiros do 4-2-3-1 cruzeirense

Sem Henrique, suspenso e lesionado, Nilton voltou à volância ao lado de Lucas Silva, reeditando a parceria que deu muito certo no ano passado. O goleiro Fábio ainda foi protegido pela sua linha defensiva, ainda com Mayke à direita, e também com Egídio na esquerda, e Dedé e Léo na zaga central. Mais à frente, Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Marquinhos articulavam coletivamente com a ajuda de Marcelo Moreno na referência: o 4-2-3-1 imutável de Marcelo Oliveira.

O técnico do Criciúma, Wagner Lopes, sabia do poder de criação celeste e articulou seu time num 4-4-1-1 com muita movimentação defensiva, sempre para ter superioridade numérica no seu campo. A última linha de proteção da meta de Luís tinha Eduardo à direita, Fábio Ferreira e Gualberto centralizados e Giovanni à esquerda; e a segunda linha tinha João Vitor à direita, os (velhos conhecidos) volantes Serginho e Martinez pelo centro e do lado esquerdo fechava o atacante Silvinho. Tudo para compensar a falta de combatividade do veteraníssimo Paulo Baier, que se limitou a ocupar os volantes junto com o atacante solitário Gustavo.

Sem espaço

O plano de marcação do treinador do Criciúma funcionou bem no primeiro tempo, e consistia de três partes. Primeiro, aproximar as duas linhas, evitando o trânsito entre elas e o espaço — com a diferença de que era a linha média que se aproximava da de defesa, e não o contrário. Ou seja, o Criciúma marcou em bloco médio-baixo. Segundo, pressionar imediatamente o lateral do Cruzeiro que recebesse a bola, subindo o bote dos meias abertos e fazendo a rotação, de forma que o meia aberto do lado oposto fechava no centro. E terceiro, bloquear o passe de retorno para os volantes do Cruzeiro, ocupando-os com Paulo Baier e o atacante Gustavo, para evitar a inversão rápida para o lado fraco da marcação.

Essas medidas forçavam o Cruzeiro a voltar o lance para os pés dos zagueiros Dedé e Léo, que acabaram por ficar encarregados do primeiro passe. Nesse ponto, Henrique fez falta, pois vinha fazendo muito bem esse papel. Além disso, quando o Cruzeiro conseguia engatar os passes mais rapidamente, o movimento lateral dos volantes centrais, Serginho e Martinez, superlotava o lado da jogada, fazendo não dois contra dois mais sim três contra dois e um na sobra: o lateral pegava o ponteiro mais à frente, o ponteiro e o volante pegavam o lateral, que ainda tinham o outro volante na cobertura cercando Ricardo Goulart.

Mapa de passes do 1º tempo ilustra como foi difícil entrar na bem postada defesa catarinense e Criciúma usando muitas bolas longas

Mapa de passes do 1º tempo ilustra como foi difícil entrar na bem postada defesa catarinense e Criciúma usando muitas bolas longas

Mover, mover

A única forma de sair desse ferrolho seria se movimentar. E muito. Os meias do Cruzeiro se movimentaram bem, mas não foi suficiente. E aqui, cabe a cobrança: não adianta culpar o posicionamento adversário pela falta de gols. Cabe ao Cruzeiro, como melhor time do país, encontrar os espaços ou senão criá-los.

Não foi capaz, e o primeiro tempo se esvaiu com apenas três “meias chances” para o Cruzeiro: um contra-ataque desperdiçado em um chute ruim de Marquinhos; um cruzamento de Mayke que Moreno resvalou e achou Goulart, que finalizou duas vezes em cima do goleiro Luís, e a jogada que deveria ter sido gol: em rebote da cobrança de falta de Dedé, Nilton devolve pra área de cabeça e acha Goulart, que divide em lance normal com Fábio Ferreira. Marquinhos completa para o gol e marca, mas o Sr. Jaílson viu um empurrão inexistente de Goulart.

Do outro lado, Fábio devia ter pago ingresso. Pois simplesmente assistiu ao jogo em um lugar privilegiado do estádio Heriberto Hulse.

Fábio foi espectador privilegiado: dos 4 chutes do Criciúma no 1º tempo, nenhum foi na direção certa

Fábio foi espectador privilegiado: dos 4 chutes do Criciúma no 1º tempo, nenhum foi na direção certa

Observação e trocas

A segunda etapa começou sem trocas. Alguns amigos questionaram nas redes sociais, entendendo que Marcelo deveria fazer as trocas já no intervalo. A ideia, no entanto, era observar a postura dos catarinenses no segundo tempo. Caso eles saíssem um pouco mais, abririam mais espaços e o time que iniciou a partida poderia render mais; caso contrário, uma substituição teria que ser feita.

E foi o que aconteceu. No início do segundo tempo, o Criciúma até saiu um pouco mais, mas apenas nas bolas paradas, mandando uma artilharia aérea na área do Cruzeiro para ver o que acontecia. Um futebol ruim, coisa de time sem repertório. A estratégia é válida, mas não é dá preferência deste. O Cruzeiro se viu defendendo mais do que o normal e não conseguia encaixar as sequências de passes. Mas logo o jogo voltou ao modo do primeiro tempo, e Marcelo tomou providências: mandou Willian na vaga de Marquinhos, dando total liberdade para Éverton Ribeiro se mexer por trás do ataque celeste.

A troca teria sido um sucesso se não fosse o árbitro, Sr. Jaílson, ter entrado em ação novamente. Éverton Ribeiro apareceu na esquerda, tabelou com Egídio e aplicou um corte seco no zagueiro, finalizando no ângulo oposto, tirando de Luís. O arqueiro do Criciúma ainda conseguiu encostar na bola, que beijou caprichosamente a trave e voltou nos pés de Moreno, em totais condições. Ele pegou mal o rebote, mas Willian, atrás da linha da bola, completou para as redes. O assistente viu impedimento.

Baier sai, Éverton recua

Cruzeiro antes da última troca: Willian próximo a Goulart e Ribeiro armando de trás, com Mayke pouco acionado pelo lado direito

Cruzeiro antes da última troca: Willian próximo a Goulart e Ribeiro armando de trás, com Mayke pouco acionado pelo lado direito

Wagner Lopes só tinha o contra-ataque como opção. Por isso, Paulo Baier teve que dar seu lugar ao veloz Lucca — aquele mesmo que passou pelo Cruzeiro no início do ano. O jovem foi jogar aberto à direita, centralizando Gustavo de vez. Silvinho manteve-se na esquerda, e estava configurado um 4-3-3, mas com três volantes preenchendo o meio. Isso acabou abrindo um espaço à frente da defesa do Cruzeiro, que era por onde Paulo Baier transitava. Quase que imediatamente, Éverton Ribeiro sentiu o espaço e já começou a buscá-lo, para armar o time de trás. O Cruzeiro passou a dominar a posse de bola ainda mais.

Sentindo o mesmo espaço, Marcelo Oliveira mudou pra vencer: oficializou Éverton Ribeiro como o “Pirlo cruzeirense”, tirando Lucas Silva e lançando Dagoberto no jogo. O camisa 11 foi para sua posição costumeira à esquerda, mas Willian não foi para a direita, ficou mais próximo de Goulart. Em teoria, Mayke teria campo livre para avançar, mas foi pouco acionado. Assim, o Cruzeiro forçou muito pela esquerda.

Wagner Lopes trocou de centroavante, uma troca física, por cansaço. O sistema não foi alterado. Faltando cinco minutos, Marcelo deu sua última cartada: Alisson na vaga de Moreno, mandando Goulart para a área. Agora havia cinco jogadores leves na frente e dois laterais apoiadores. Não se pode ser mais ofensivo do que isto. Porém, como definiu o próprio treinador na coletiva pós-jogo: faltou o “algo mais”, aquele toque final caprichado para chegar ao terceiro gol, que seria o primeiro válido. Infelizmente o zero teimou em permanecer no placar.

Mapa de passes do Cruzeiro no segundo tempo mostra como o time procurou muito mais o lado de Egídio do que o de Mayke

Mapa de passes do Cruzeiro no segundo tempo mostra como o time procurou muito mais o lado de Egídio do que o de Mayke

A oscilação normal e a “forçada”

Oscilar num campeonato tão longo e tão equilibrado é normal. Como dito pelo Marcelo Bechler: no Brasil não há nenhum Bayern. Perder pontos considerados mais fáceis é normal aqui. O próprio Cruzeiro fez isso no ano passado. Porém, encaixou uma sequência de 12 jogos sem perder, sendo 11 vitórias, e isso sim esteve fora da normalidade: o Cruzeiro de 2013 foi espetacular. Uma sequência que começou justamente a partir da 15ª rodada, a próxima do certame atual.

Mas a oscilação “normal” do Cruzeiro terminou no sábado. O time jogou o suficiente para fazer dois gols e voltar do sul com mais três pontos. Mas a arbitragem não deixou. E já são sete pontos pelo caminho: 2 contra o São Paulo (a falta invertida no último lance do jogo que gerou o gol de empate), 3 contra o rival citadino (os pênaltis, o inexistente marcado contra e o claro e cristalino não marcado a favor, além do impedimento ridículo da bandeirinha bonitona) e mais 2 agora.

A atuação foi um pouco abaixo do que a apresentada na última partida, mas mesmo assim foi suficiente pra vencer o Criciúma. Taticamente, não há do que reclamar: Marcelo mexeu bem e nos momentos certos, fez a leitura correta da partida. Se a vitória não veio, foi só por conta dos fatores externos já citados. Se o campeonato já seria mais difícil este ano por que os adversários diretos estão melhores, estes fatores fazem o bi se tornar ainda mais difícil. Ainda mais depois de já ter vencido o certame anterior. E ainda mais por ter nos encalços times que têm força política nos bastidores da entidade que rege o futebol.

Mesmo assim, o Cruzeiro mostrou novamente que tem bola pra vencer os 19 adversários do campo — e também os outros fora dele.

Botafogo 1 x 1 Cruzeiro – O futebol é mais importante que o resultado

O Cruzeiro foi ao Maracanã sabendo do tamanho da crise do Botafogo. Mesmo assim, tinha um discurso de respeito ao adversário. Quando a bola rolou, parecia que era o time celeste que jogava em casa: controle da posse de bola e de território, jogando bom futebol e buscando a vitória a todo instante. Foi superior técnica e taticamente, anulando a maioria das poucas ameaças que sofreu e procurando criar espaços diante da retranca carioca.

Não foi suficiente desta vez, muito por conta de um único erro coletivo e também do goleiro adversário, mas valeu. Pois não foi uma busca pelo resultado a qualquer custo, de qualquer jeito: existe uma filosofia por trás. E o Cruzeiro deste sábado foi o verdadeiro Cruzeiro, e isso é o mais importante.

Sistemas e nomes

O 4-4-1-1 do Botafogo bloqueou os laterais celestes e forçou o 4-2-3-1 celeste a jogar pelo centro; Edilson era o puxador de contras

O 4-4-1-1 do Botafogo bloqueou os laterais celestes e forçou o 4-2-3-1 celeste a jogar pelo centro; Edilson era o puxador de contras

Para este jogo, Marcelo Oliveira lançou Mayke na vaga de Ceará, lesionado, pelo lado direito da linha defensiva do goleiro Fábio. Dedé e Léo repetiram o miolo e Egídio fechava o lado canhoto. Lucas Silva e Henrique mais uma vez fizeram a parceria na proteção e apoio ao ataque, se juntando ao trio de criativos: Everton Ribeiro à direita, Ricardo Goulart como central e Marquinhos à esquerda. Moreno completava o escrete na referência.

Vágner Mancini mudou em relação às últimas partidas. Ao invés do 4-3-1-2 losango esperado, para dar suporte a Carlos Alberto como criador no meio, o Botafogo entrou num 4-4-1-1, que variava para 4-2-3-1 com a bola. Jefferson teve Lúcio à direita e Júnior César à esquerda, com Bolivar e Dória protegendo o centro. Na segunda linha, Edilson fechava o lado direito, Bolatti e Gabriel protegiam a entrada da área e Rogério, estreante, foi escalado para fechar o lado esquerdo. Carlos Alberto, sem responsabilidade defensiva, ficava logo atrás de Emerson, que se movimentavam para os lados.

Flancos fechados

O Botafogo foi humilde e reconheceu a superioridade técnica do Cruzeiro, desde o início deixando claro qual era sua proposta de jogo: bloquear o Cruzeiro e partir em contra-ataques. Assim, deixava a bola com o Cruzeiro e não pressionava no alto do campo. Carlos Alberto apenas cercava Henrique e Lucas Silva, e Emerson fazia o mesmo com os zagueiros celestes.

Se a bola chegava a um dos laterais, no entanto, o Botafogo imediatamente subia a marcação. A ideia era forçar o jogo celeste pelo centro, e foi o que aconteceu: as duplas pelos lados fecharam os espaços de Mayke e Egídio. Sem a saída pelos lados, o Cruzeiro tinha duas opções pra compensar: invertendo o lado da jogada — pois os defensores do lado oposto compactavam o time horizontalmente para tirar o espaço dos toques rápidos dos meias celestes — ou os meio-campistas se movimentavam mais, dando mais opções de passe.

Mas as duas opções envolviam velocidade, e o Cruzeiro não aplicou velocidade suficiente para sair do ferrolho botafoguense. Tentou usar a solução conhecida: trocar passes rápidos pelo centro. Não havia espaço. Parecia que era o Cruzeiro que jogava em casa, tal era a proposta defensiva do adversário.

Erros e infelicidades

O Botafogo pouco chegou ao ataque. A rigor, Fábio só fez uma defesa difícil, em cobrança de falta de Edilson — bola parada. A estratégia com a bola era dar velocidade, principalmente com Edilson pela direita nas costas de Egídio. Incrível como todos os treinadores adversários tentam explorar essa brecha no sistema defensivo celeste.

Só não fez outra porque escorregou na hora do gol local. Mas o erro neste lance foi generalizado: Marquinhos e Egídio deixaram Lúcio escapar pela direita, fazendo Léo ter que sair na cobertura. O lateral cruzou e Dedé não conseguiu ganhar de Edilson, que nem cabeceou forte. A bola veio fácil, mas o escorregão tirou a possibilidade de Fábio espalmar.

A vantagem no placar fez o Botafogo se fechar ainda mais e praticamente abdicou do ataque. Tanto é que só foi finalizar de novo já na metade do segundo tempo, quando o jogo já estava empatado. De sua parte, o Cruzeiro jogou o seu futebol, sem afobação. Tocou a bola, tentou achar espaços, se movimentou, mas não foi suficiente para empatar ainda no primeiro tempo.

Em destaque, o momento do jogo em que Fábio foi mero espectador: depois de conseguir o gol, o Botafogo não chutou nenhuma vez até levar o empate

Em destaque, o momento do jogo em que Fábio foi mero espectador: depois de conseguir o gol, o Botafogo não chutou nenhuma vez até levar o empate

Alugando o campo ofensivo

O time do empate era uma espécie de 4-3-3 com Ribeiro armando de trás, Willian e Dagoberto nas pontas e Lucas Silva sozinho na volância

O time do empate era uma espécie de 4-3-3 com Ribeiro armando de trás, Willian e Dagoberto nas pontas e Lucas Silva sozinho na volância

O segundo tempo começou sem mudanças, tanto em peças quanto nos sistemas e nas propostas. Aos dez, a entrada criminosa de Emerson em Henrique lesionou o volante e foi a deixa para Marcelo abrir o time: tirou Henrique e lançou Willian como ponteiro direito, recuando Éverton para ser um armador recuado. No mesmo movimento, Dagoberto substituiu Marquinhos: menos poder de marcação, mas mais verticalidade e drible. Com a proposta do Botafogo, não era tão arriscado.

As trocas surtiram efeito e Cruzeiro alugou o campo ofensivo. Willian mandou no travessão antes da blitz que resultou no gol celeste. Éverton Ribeiro teve que cruzar duas vezes, com os zagueiros na área todo o tempo, para achar Dedé que fez a deixadinha para Léo. O zagueiro fez um gol típico de centroavante: girou e bateu sem olhar. A bola bateu no travessão e quicou dentro da meta.

Com o empate, o Botafogo voltou à estratégia do zero a zero: sair em contra-ataques. E desta vez havia espaço, pois com um volante só a cobertura dos laterais é mais difícil. Mancini — que àquela altura já havia trocado Bolatti por Rodrigo Souto sem modificar nada — sacou Rogério e lançou Júlio César, tentando replicar a função de Edilson do outro lado: um “assistente de lateral” que puxa contra-ataques. Marcelo respondeu com Nilton na vaga de Moreno, avançando Goulart para a referência.

O mapa de passes mostra como o Cruzeiro jogou o tempo todo no campo adversário; foi a partida em que o Cruzeiro mais trocou passes em todo o campeonato

O mapa de passes mostra como o Cruzeiro jogou o tempo todo no campo adversário; foi a partida em que o Cruzeiro mais trocou passes em todo o campeonato

O fator Jefferson

Risco controlado, o Cruzeiro seguiu atacando, e a bola não saía do campo de ataque. Quando o Botafogo conseguia interceptar, só respondia com chutões para frente, onde não havia ninguém de cinza. Vágner Mancini ainda tentou dar um novo fôlego para a estratégia de contra-ataques com Zeballos na vaga do inoperante Carlos Alberto, mas não funcionou.

Já o time celeste buscava a vitória, mas não a qualquer custo. Com calma, mas com velocidade, tocando a bola pelo chão, sem muitos chuveirinhos na área. Só tentava o jogo aéreo quando era bola parada. Nilton cabeceou duas vezes: na primeira Jefferson milagrou, e na segunda beijou caprichosamente a trave direita. Depois, o Cruzeiro fez uma espécia de contra-contra-ataque: o time local errou sua tentativa de pegar a defesa celeste aberta e o Cruzeiro aproveitou o espaço para realizar um contra-ataque lindíssimo, partindo do meio-campo e levando a bola até dentro da área, onde Éverton perdeu a bola.

O Cruzeiro tentou 18 vezes contra a meta de Jefferson: um gol (preto), duas na trave (azul) e seis defendidas por Jefferson (vermelho escuro)

O Cruzeiro tentou 18 vezes contra a meta de Jefferson: um gol (preto), duas na trave (azul) e seis defendidas por Jefferson (vermelho escuro)

O Cruzeiro seguiu tentando, inclusive com Dagoberto no finalzinho, quando Jefferson fez novamente uma defesa espetacular e garantiu o empate.

Jogar bem sempre: somos Cruzeiro

Se no futebol os resultados fossem decididos como na ginástica artística ou nos saltos ornamentais, onde há uma junta de juízes que dão suas notas para quem foi melhor, certamente o Cruzeiro teria saído vencedor. Foi a equipe que buscou o gol a todo instante, não se alterou com o resultado adverso e o mais importante: não foi só na base da raça. Teve técnica e tática, bem aplicadas, e que só não geraram o resultado por que o goleiro adversário foi o melhor em campo.

Mesmo assim, o resultado positivo teria acontecido se o Cruzeiro não tivesse cometido seu único deslize grave na partida. O erro de marcação do lado esquerdo, a falha de Dedé e o escorregão de Fábio foi uma sequência de eventos desafortunados que nos tiraram dois pontos. Deve-se sim tentar corrigir os erros, mas é impossível anulá-los por completo. Nenhum time no mundo consegue fazer uma partida perfeita.

No fim, o que fica é que o Cruzeiro jogou bem, não se conformou com o empate e buscou o resultado, mesmo fora de casa. Postura de time que quer ser campeão novamente. E com bom futebol, que é o mais importante. Quando César Menotti assumiu a Seleção Argentina em 1974, definiu como um de seus mandamentos que “não me interessa ganhar de 1 x 0 com gol de falta; quero vencer por superar futebolisticamente o nosso rival”. Em outras palavras, o que o treinador campeão mundial em 1978 quis dizer é que jogar bem é mais importante que jogar apenas pelo resultado de apenas um jogo. No longo prazo, a filosofia e o bom futebol trarão mais vitórias.

Mas não as garantem. Pos isso, sendo Cruzeiro, prefiro empatar jogando bem do que vencer jogando um futebolzinho chulé.