Cruzeiro 1 x 1 Vasco – Muita calma nessa hora

Ao ler este título, o leitor mais assíduo (se é que existe um) deste blog vai notar que a análise da partida contra o Figueirense no sul não aconteceu por aqui. A intenção era escrever as duas, mas diante da situação, deixarei deliberadamente de fora a mudança brusca do losango para um inexplicável 3-4-1-2 — tão inexplicável que comprometeu até as substituições — armado por Celso Roth naquela partida. E nem existe a desculpa de que Léo estava suspenso: Diego Renan é ou não é lateral?

O 4-3-1-2 losango inicial do Cruzeiro no início da partida: Ceará “baleado”, sendo ajudado por Wallyson e Tinga, e do outro lado, mais uma vez, Everton com muita ofensividade e tendo cobertura de Guerreiro

Isto posto, Roth deve ter se iluminado e voltou ao esquema base que vinha usando, o 4-3-1-2 losango. Desta vez, Fábio teve Ceará na direita — um erro, já que o jogador claramente ainda não tinha condições físicas — Thiago Carvalho e Mateus na zaga e Everton na esquerda, novamente mais apoiando que defendendo. No losango de meio, Guerreiro era o vértice baixo, Tinga o direito, Charles o esquerdo e Montillo o alto. No ataque, Wallyson abria pela direita e WP ficava na referência.

O Vasco armado pelo estreante Marcelo Oliveira jogou no mesmíssimo esquema, o que encaixou a marcação no meio-campo criando duelos interessantes. O gol de Fernando Prass foi defendido pela dupla de zaga Dedé e Renato Silva, flanqueados por Jonas na direita e William Matheus na esquerda. Nilton ficou à frente da zaga, Juninho Pernambucano foi o volante direito e Wendell (aquele mesmo) foi o esquerdo. Carlos Alberto era o responsável por armar o jogo para Éder Luis, trabalhando pelos lados do campo, e Tenório, batendo com os zagueiros.

Duelos por todo o campo

Com a marcação encaixadinha como estava, os duelos faziam a diferença. Em alguns momentos, a dupla de zaga deixou o centro-avante concluir e quase-gols saíram: WP em dois cabeceios, um em cima de Prass e outro em cima de Dedé, e Tenório em uma jogada de profundidade, driblando Fábio mas concluindo bisonhamente. No mais, Dedé foi o senhor da grande área vascaína e engoliu WP, além de ter participações ofensivas com muita qualidade, como no lance do gol bem anulado de Tenório em furada incrível do garoto Lucas Silva, e em cabeceio livre para fora. Mateus e Thiago Carvalho fizeram o jogo razoável e tiveram sorte de não serem responsabilizados pelas chances criadas pelo time adversário, pois se defendiam como podiam.

Nas laterais, a escalação de Ceará foi claramente um erro de avaliação. O jogador não tinha condições e visivelmente mancava, por isso se limitou a defender o lado direito da área cruzeirense. Quase não cruzou a linha do meio-campo. Porém, Wallyson recuava com William e ajudava no combate, se juntando a Tinga. Some-se a isso o fato de que William Matheus também foi um lateral defensivo, e por isso o Cruzeiro foi pouco ameaçado por ali, mesmo quando Éder Luís e Carlos Alberto tentavam alguma coisa.

Lado esquerdo

Do outro lado era que o jogo fluía mais, principalmente quando o Cruzeiro tinha a bola. Mais uma vez, Everton fez um bom jogo ofensivo, explorando sua característica de velocidade e conseguia vencer alguns duelos com Jonas, criando boas jogadas. Foi com ele que saiu o primeiro gol, em tabela com Charles e aparecendo na área para um cruzamento desviado por Renato Silva jogar contra. Na defesa, como o Vasco não possuía jogadores oficialmente abertos pela esquerda, quem explorava o espaço aberto pela subida de Everton era Éder Luis, mas Leandro Guerreiro ia atrás dele e dificultava as coisas. Num desses lances, o juiz apontou uma falta inexistente, e na cobrança, Juninho mandou direto, e Fábio não conseguiu mandar para longe e evitar o rebote de Nilton, sem marcação.

A grande diferença, no entanto, foi no meio-campo. Enquanto Tinga e Wendell fizeram um duelo direto e equilibrado, os outros vértices eram diferentes. Carlos Alberto não apareceu no jogo e não fez muita coisa, e assim como Nilton, teve muita liberdade para se apresentar e ser o primeiro passe, pois os “camisas 10” não marcavam com intensidade. Montillo, mais especificamente, só marca quando o Cruzeiro faz pressão alta, tentando dificultar a saída de bola adversária; assim que a bola é aliviada, ou a marcação pressão cede, o argentino fica à frente com WP e não volta para recompor.

Juninho

O outro duelo do meio-campo é que era o mais interessante. Juninho jogou quase como um box-to-box, voltando para pegar a bola e dar passes profundos, cadenciar e dar ritmo ao Vasco. Charles penou para marcar o veterano volante-meia, que foi muito perigoso e conseguia encaixar passes muito agudos. Para nossa sorte, os alvos dos passes é que desperdiçavam os lances. Além disso, Charles tentou se desvencilhar de Juninho por várias vezes e até conseguia ficar livre em determinados momentos, quando Juninho subia para se juntar ao ataque e o Cruzeiro pegava a defesa vascaína desprevenida em contra-ataque. Mas o volante não tem a mesma qualidade de passe que seu adversário.

Todos esses fatores somados deram a característica do jogo: mais posse de bola do adversário, mesmo jogando fora, com mais trocas de passes e tendo mais volume. O Cruzeiro era mais objetivo, quando tinha a bola partia logo para definição ou então para o chutão para frente, mas os jogadores de meio do Vasco pareciam melhor posicionados nas segundas bolas e sempre o rebote da disputa de cabeça ficava com o Vasco. Foi o pior índice de posse de bola do Cruzeiro até aqui no campeonato. Assim, ambos os times tiveram chances excelentes de marcar no primeiro tempo, mas as finalizações e escolhas de último passe não eram as melhores.

Trocas

A formação só mudou de fato após as três alterações: um 4-2-3-1 com muita amplitude, com Souza e Montillo trocando de posição constantemente e Élber dando mais profundidade pela direita – a formação “ideal”

Celso Roth tirou Ceará do jogo no intervalo e mandou o garoto Lucas Silva fazer a lateral direita, efetivamente queimando uma substituição à toa. O melhor seria ter entrado com o Diego Renan já desde o início, mas o lateral nem sequer foi relacionado para o jogo. Aos 13, Tenório deu lugar a Romário (não é aquele) no Vasco. Os sistemas tático se mantiveram, mas o jogo perdeu ritmo. Em nenhum momento o Cruzeiro parecia dominar a posse de bola, sempre perdendo o meio-campo, mas o Vasco também não era muito ameaçador com a bola nos pés.

Depois, Carlos Alberto deu lugar a John Cley no meio-campo vascaíno. No Cruzeiro, Élber entrou no lugar de Wallyson, novamente sem alterar a plataforma tática, mas deste vez o Cruzeiro teve uma pequena melhora, com menos previsibilidade no ataque. Apesar de o garoto ter tido dificuldades, principalmente contra Dedé, ele conseguiu criar algumas chances pela ponta direita e incomodar.

A formação cruzeirense só iria mudar mesmo quando Souza entrou no lugar de Charles, e talvez até por acaso, ficou numa formação que considero ideal: um 4-2-3-1 com muita amplitude e ofensividade, com um passador no meio: Souza. O Cruzeiro apertou no fim e foi em busca do gol, mas parou em defesas de Prass e nas próprias escolhas de último passe, e teve que se contentar com o empate.

Destino de Roth

Muita gente apostava em queda de Roth se a vitória não viesse. De fato, isso aconteceria se o Cruzeiro não tivesse reagido e mostrado um mínimo de padrão tático e encaixe de marcação, o que aconteceu na partida de hoje, que esteve longe de ser uma das piores do ano. Há muito o que consertar, tecnicamente inclusive. Porém, no jogo de hoje, o treinador mostrou sim que fez alguma coisa nestes quatro meses à frente do Cruzeiro, mesmo considerando sua falta de capacidade em mudar a partida na Ilha do Retiro há duas rodadas, seu 3-4-1-2 maluco com Souza de ala direito do desastre no Orlando Scarpelli, e o erro de planejamento ao escalar Ceará precipitadamente hoje.

A formação do fim da partida, entretanto, me deu esperanças de que o Cruzeiro pode sim ter uma plataforma tática ofensiva, digna das tradições celestes. Este blogueiro deu uma leve pincelada sobre isso na análise contra o Náutico: escalar Souza como meia central desde o início, deslocando Montillo para a posição de ponteiro pode ser um excelente movimento — Wallyson/Élber, Souza e Montillo atrás de WP ou Borges, por exemplo. A combinação Montillo/Everton seria bombástica, assim como Ceará dando suporte a Wallyson ou Élber. Isso, é claro, após a volta 100% do lateral direito. Voltarei a isso em outro post.

Guerreiro e Éverton não estarão à disposição para o dificílimo jogo contra o São Paulo, no Morumbi, no fim de semana que vem. Sandro Silva é o substituto natural de Guerreiro, mas suprir a ausência do jogador que tem sido nossa melhor alternativa ofensiva — suplantando inclusive Montillo — é outra história. Diego Renan, que tem outra característica, deve entrar em seu lugar, com Leo voltando à lateral direita. Afinal, é melhor um zagueiro 100% do que um lateral-direito baleado.

Celso Roth ganhou mais uma chance. Mais por causa da produção da equipe, como equipe, do que pelo resultado. Normalmente as duas coisas andam juntas, mas é a primeira que sustenta um treinador, e é por isso que ele ainda será o técnico contra o São Paulo.

Sport 2 x 1 Cruzeiro – Era simples

(nota: este texto está sendo escrito após a derrota vergonhosa contra o Figueirense, portanto pode estar um pouco mais carregado do que deveria.)

O futebol, na maioria das vezes, não é simples nem lógico. Mas na partida entre Cruzeiro e Sport, no último fim de semana na Ilha do Retiro, o futebol foi exatamente isso: lógico, simples. Mas nosso treinador não conseguiu enxergar isso, fez as mexidas de sempre que alteraram apenas a característica dos jogadores sem alterar o sistema, e por isso amargamos a segunda derrota seguida.

Acompanhe o raciocínio: ganha o jogo quem faz mais gols, certo? Mas faz mais gols quem cria mais chances, e quem cria mais chances é quem tem mais a bola nos pés. Para ter mais posse é preciso ganhar o meio-campo, e para isso é só ter mais jogadores no setor. Logo, quem tiver domínio do meio-campo — por consequência — pode fazer mais gols e vencer. É claro que na maioria das vezes não é assim, mas nesta partida foi o que aconteceu.

O 4-3-1-2 losango cruzeirense que sofreu no meio-campo com o 4-3-3-0 do Sport e com um esquema falho de cobertura a Everton

Cruzeiro de Celso Roth no mesmo 4-3-1-2 em losango das últimas partidas: Fábio no gol, defesa com Léo mais preso na direita, Donato e Mateus na zaga e Everton bem avançado na esquerda; meio-campo com Sandro Silva no pé do losango, Tinga e Charles pelos lados e Montillo à frente; ataque com Wallyson pela direita voltando com o lateral e WP centralizado.

Waldemar Lemos deve ter ligado para seu irmão, Oswaldo de Oliveira, técnico do Botafogo, e pegado umas dicas. A isso, ele adicionou suas próprias armas e escalou o Sport num 4-3-3-0. Isso mesmo: sem centro-avantes, com um volante mais plantado e dois mais avançados, e três meias. Saulo no gol teve Cicinho (aquele mesmo) pela lateral direita, Edcarlos e Diego Ivo na zaga e Willian Rocha na lateral esquerda; Tobi foi o volante plantado, liberando Rithely e Moacir para se juntarem ao trio ofensivo formado por Felipe Azevedo aberto na esquerda, Gilsinho pela direita e o falso nove Hugo.

Basicamente, eram seis jogadores do Sport contra quatro do Cruzeiro no meio-campo. Sem qualidade de passe, o Cruzeiro recorria à ligação direta e até ganhava algumas bolas, mas a segunda bola era sempre do Sport, pelo simples fato de ter dois a mais no meio-campo — setor onde a maioria das bolas aéreas era disputada. Assim, o Sport teve mais posse de bola do início ao fim da partida — 57,16% contra 42,84%, a segunda pior posse do Cruzeiro no campeonato — e não perdeu o controle do meio-campo em nenhum momento. O Cruzeiro ainda saiu na frente, com Wallyson em jogada de velocidade e marcação pressão, e teve outras chances de marcar. Mas foi muito mais porque era ligeiramente superior na técnica do que pelo sistema tático, mesmo com Montillo praticamente inexistente no jogo.

Some-se a isso o fato de o Sport ter executado muito bem sua própria proposta tática — e o Cruzeiro cair na armadilha. Um falso nove é assim chamado porque joga centralizado, aparecendo na área para concluir como um centro-avante, mas não fica preso a ela e volta para compor o meio-campo, buscar a bola e participar da articulação. É uma espécie de híbrido entre um 10 e um 9 clássicos. E a principal vantagem de usar um jogador nessa função é a de abrir espaços para os companheiros explorarem, arrastando adversários consigo e tirando-os do caminho. Os melhores exemplos são os gols do Sport: no primeiro, Rithely aparece sozinho, sem ser incomodado, para cabecear com muito mérito de primeira por cima de Fábio, adivinhando que o goleiro sairia do gol para “abafar” o lance.

O segundo gol ainda teve um agravante: o buraco na esquerda da defesa, que causava um efeito cascata. Everton jogava avançado e, nos jogos anteriores, sempre tinha a cobertura de um dos três volantes, transformando o time num 4-2-3-1 temporariamente. Mas desta vez isso não aconteceu, e quem teve que ir cobrir as costas do lateral-volante era o zagueiro Mateus. Com isso, Sandro Silva afundava na zaga para recompor, ora na direita, ora dentro da área, fazendo o número de jogadores no meio ser ainda menor. Às vezes nem isso acontecia e o buraco simplesmente ficava lá: veja na imagem abaixo o momento do segundo gol, de Gilberto, que tinha acabado de entrar no jogo. Ele tabelou com facilidade com Rithely e apareceu exatamente no espaço aberto para decretar a virada.

Um hectare de espaço para Gilberto

Nem cabe uma análise mais aprofundada, porque o jogo foi praticamente inteiro assim. Diego Renan entrou no lugar de Donato, empurrando Leo para a zaga e mantendo o esquema; Tinga saiu para a entrada de Lucas Silva, também sem alterar a formação. A única nota tática quase não-digna de menção foi a entrada de Anselmo Ramon no lugar de Wallyson. Anselmo foi jogar dentro da área com WP, acabando por incentivar ainda mais o chuveirinho e a bola longa, ao invés de atacar o problema principal: o meio-campo sem posse de bola.

No fim da partida, Celso Roth disse que foi uma derrota inexplicável, que era jogo para ganhar. Concordo com a última afirmação apenas, porque em relação à primeira, é só ler o que eu escrevi aí em cima.

Reitero: o futebol vai contra a lógica em muitas ocasiões. Mas quando ele vai com a lógica, é preciso perceber isso. Se na derrota para o Botafogo o treinador teve pouca culpa, nesse caso o revés cai sim, infelizmente, nos ombros de Celso Roth.

Cruzeiro 1 x 3 Botafogo – Nem tudo são espinhos

Usando o mesmo estilo de jogo do Cruzeiro no primeiro turno, para nosso azar, o Botafogo esperou um turno inteiro para devolver na mesma moeda a derrota sofrida naquela partida.

As formações iniciais

A movimentação de Leandro Guerreiro para que Everton pudesse avançar e formar um 4-1-4-1 foi fundamental para o equilíbrio das ações no início do jogo

Celso Roth tentou repetir o time da vitória sobre o Náutico, mas Charles foi suspenso e Sandro Silva foi para o jogo. Em uma primeira análise, foi uma opção estranha, já que Sandro é naturalmente reserva de Leandro Guerreiro na base do losango de meio-campo. Entretanto, com cinco minutos de jogo, a razão teria ficado mais clara, como veremos adiante. No início, o Cruzeiro se postou num 4-2-2-2 estreito demais: Fábio no gol, Léo na lateral direita, Everton na esquerda, Rafael Donato e Mateus fechando a defesa. Leandro Guerreiro e Sandro Silva protegiam a área e liberavam Tinga e Souza para armar. Na frente, Wallyson e Borges.

O Botafogo entrou no 4-2-3-1 tradicional: Renan debaixo das traves era defendido pela dupla de zaga Dória e Fábio Ferreira, flanqueados pelos laterais Lucas na direita e Márcio Azevedo na esquerda. Gabriel e Jádson na dupla volância, e mais à frente o quarteto ofensivo, com o trio Fellype Gabriel na direita, Andrezinho centralizado e Seedorf na esquerda atrás de Elkeson. No encaixe de marcação, ficou claro que Everton ficou sobrecarregado com a marcação de Fellype Gabriel e o avanço de Lucas. O mesmo ocorria do outro lado, com Léo tendo que se virar contra Seedorf e o ofensivo lateral esquerdo Márcio Azevedo. Assim, o Botafogo controlou o meio-campo, tinha mais posse e mais amplitude. O Cruzeiro nem pegou na bola nos cinco minutos iniciais.

Leandro Guerreiro e Everton

Então veio a mudança tática: Leandro Guerreiro deixou Sandro Silva marcando Andrezinho, e recuou à lateral esquerda para dar suporte a Everton e marcar Fellype Gabriel; Everton virou ponteiro esquerdo e foi marcar Lucas à frente. Do outro lado, Wallyson recuava acompanhando Márcio Azevedo e Léo ficou responsável por Seedorf. O novo 4-1-4-1 equilibrou a marcação e fazia o Cruzeiro ter mais volume, empurrando o Botafogo para trás. O setor mais perigoso do Cruzeiro era o esquerdo, e foi por este lado que saiu o gol: Souza recebeu por ali e lançou Borges em profundidade. Fábio Ferreira falhou e Borges saiu na cara de Renan, mas não conseguiu vencer o arqueiro botafoguense. Tinga, que vinha correndo para acompanhar o ataque, pegou o rebote num chute muito mais difícil que o de Borges e marcou seu primeiro gol com a camisa celeste.

O gol atordoou o Botafogo. O Cruzeiro teve volume, muito volume, e teve uma chance de ouro para ampliar com Everton, que estava vencendo o duelo contra o lateral direito Lucas. O volante-lateral disparou em velocidade, sua característica, e ao receber passe de Souza, em um só toque driblou seu marcador e invadiu a área. A opção era tocar para Wallyson, que vinha correndo do outro lado, marcar, mas ele chutou para fora. Um gol perdido que faria falta e poderia ter mudado a história do jogo.

A movimentação do quarteto ofensivo do Botafogo

O Botafogo foi controlando os nervos à medida que o Cruzeiro desperdiçava o bom momento. O quarteto ofensivo do Botafogo se movimentava, invertendo posições e tentando confundir a marcação cruzeirense, que estava muito bem. E conseguiram fazer isso por uma única vez. Souza ainda estapeava o gramado, reclamando de uma suposta falta que teria recebido, quando Fellype Gabriel, desta vez na direita, já cruzava a bola que atravessaria toda a área para encontrar Seedorf, que se movimentou às costas de Guerreiro e emendou um lindo chute de primeira no canto direito de Fábio. Com os ponteiros adversários invertidos, a marcação se confundiu.

Nem deu muito tempo de avaliar o impacto do gol, porque logo no minuto seguinte, o Botafogo viraria o jogo, novamente em passe de Fellype Gabriel para Seedorf. Desta vez eles estavam em suas posições iniciais, mas quem marcava Fellype Gabriel era Everton, já que Guerreiro estava vigiando Lucas neste lance. Quando o meia dominou dentro da área, Léo bobeou na marcação e Seedorf tomou-lhe à frente, recebeu o passe e finalizou no cantinho para decretar a virada.

Agora era a vez do Cruzeiro se sentir atordoado. O time começou a errar passes que não estava errando, fruto do nervosismo de um time ainda em formação e que está atrás no placar. Wallyson, que fazia boa partida defensivamente, não fez o mesmo atacando, e naturalmente começou a ser cobrado pela torcida, ávida pelo gol de empate. O nome de Élber era ouvido em alguns lugares da arquibancada. Mesmo assim, o Botafogo contentou-se em aguentar as tentativas cruzeirenses e tentar sair só na boa, o que não aconteceu nenhuma vez até o fim do primeiro tempo.

No segundo tempo, o contra-ataque fatal

No intervalo, Celso “atendeu” o pedido da torcida e mandou Élber a campo no lugar de Wallyson. Também, tirou Sandro Silva do jogo e mandou Wellington Paulista. Com isso, Everton voltou à lateral, Leandro Guerreiro voltou ao meio campo mas Tinga não recuou e continou sendo meia: era um 4-3-3 clássico, com triângulo alto no meio – um 4-1-2-3 para ser mais exato, mas com WP mais centralizado do que aberto pela esquerda. No Botafogo, Fellype Gabriel deu lugar ao centro-avante Willian, com Elkeson voltando para o meio-campo aberto pela direita, mantendo o 4-2-3-1.

Foram dez minutos de tentativas pelo alto e cruzamentos infrutíferos na área. O Botafogo se defendia e tentava sair em contra-ataques, quase sempre com Seedorf pela esquerda. Em uma bola parada, a zaga botafoguense conseguiu fazer exatamente isso. Seedorf e Guerreiro apostaram corrida, vencida pelo primeiro, que num toque só pôs na frente e tirou do alcance do volante. Imediatamente mandou para o centro, onde chegavam nada menos do que quatro jogadores adversários sem marcação. Fábio ameaçou sair, recuou e só saiu de vez quando Jádson dominou, mas foi driblado. Everton não conseguiu salvar a conclusão.

Outras tentativas

No fim, Cruzeiro com muita gente no ataque tentando diminuir no abafa, num 4-2-1-3 com Everton bem avançado e até Mateus saindo para o jogo

Com o jogo decidido aos 10 do segundo tempo, Celso Roth resolveu que não queria mais tomar contra-ataques deste tipo e recompôs o meio com William Magrão no lugar de Souza. Agora era Tinga quem ficava centralizado, com William Magrão tendo certa liberdade para avançar. O Cruzeiro não jogava pelo chão, e insistia muito nas bolas aéreas, tanto com Everton pela esquerda quanto com Élber pela direita. Dominou a posse, muito mais por estratégia do Botafogo de absorver as investidas do que por mérito próprio. Oswaldo de Oliveira, então, fez sua segunda mexida, para fechar o time e segurar o resultado: tirou Willian, aquele mesmo que entrou no início do segundo tempo, para colocar o zagueiro Brinner, e fazer um 5-3-1-1 para matar o quase 3-2-3-2 cruzeirense com o posicionamento alto de Everton.

Mesmo assim, o Cruzeiro ainda teve forças para criar algumas chances, como na jogada de WP recebendo passe de Borges, que fez o pivô. O atacante não foi fominha e passou a Everton que chegava livre pelo lado esquerdo, mas o chute foi dividido com o goleiro Renan e a bola saiu raspando a trave. Mas foi só.

Derrota com pontos positivos?

Não devemos atribuir o revés sempre a erros nossos. Há mérito do outro lado e é preciso reconhecer isso. Taticamente foi um jogo igual, a diferença foi na técnica: quando o Botafogo teve as chances, converteu, e o Cruzeiro não. Se Everton fizesse aquele gol no primeiro tempo, o jogo teria sido outro, mas o “se” não existe no futebol. O que vale é o resultado final — que na não tão modesta opinião deste blogueiro, sempre é justo. O Botafogo fez uma excelente partida e executou melhor a sua estratégia.

Assim, posso até estar exagerando um pouco nesta análise — pois quem me conhece sabe que sou otimista por natureza — mas acredito que este time que jogou ontem é muito mais consistente e equilibrado do que o do início do ano com Vágner Mancini, e até mesmo do que aquele do início do campeonato. É claro que ainda há muitas coisas a melhorar, mas a evolução em relação ao início do ano é clara. Por exemplo, ao contrário do que se imagina, Roth tem feito cada vez menos experiências, e portanto podemos dizer que o time tem sim uma estrutura tática. Everton me parece uma realidade pelo lado esquerdo, principalmente na parte ofensiva, tendo suporte; Wallyson ainda precisa ganhar mais confiança ofensiva, mas tem se destacado taticamente, o que é fundamental.

É sempre bom lembrar que o Cruzeiro jogou sem Ceará e Montillo, peças fundamentais nesse esquema e que dariam outra característica ao time. Também temos Lucas Silva e Charles como opções para o meio, e Martinuccio, meia canhoto, pode se integrar ao grupo em breve.

Portanto, apesar da derrota, vejo pontos positivos. Mas infelizmente, creio que só vamos ter frutos no ano que vem — isso se não mudarem o treinador, é claro.

Cruzeiro 3 x 0 Náutico – Virada tática

Depois de tomar um baile tático no primeiro tempo, Celso Roth errou na primeira mas acertou na segunda substituição, abrindo caminho para o maior placar cruzeirense do Campeonato até aqui.

Wallyson muito centralizado no 4-3-1-2 losango inicial do Cruzeiro, estreitando o time e facilitando a marcação encaixada do superlotado meio-campo do Náutico

Primeiro onze

Roth repetiu o sistema pelo quinto jogo seguido, mandando a campo um 4-3-1-2 losango formado por Fábio no gol, Léo novamente mais preso na lateral direita, Everton mais solto na esquerda, e Rafael Donato e Mateus fechando o centro da defesa. De volta ao time, Leandro Guerreiro foi a base do meio-campo, que ainda tinha Tinga pela esquerda e Charles pela direita. Substituto do vetado Montillo, Souza foi o homem de ligação no topo do losango, pensando o jogo para Wallyson e Borges.

Alexandre Gallo certamente estudou as partidas do Cruzeiro. O Náutico entrou armado num 3-4-2-1 variava para um 3-5-1-1, lotando o meio campo. O gol de Gideão foi protegido por Ronaldo Alves, Alemão e Jean Rolt. No meio, uma linha defensiva alta, com Patric na direita correndo por todo o flanco com Everton, João Paulo na esquerda tentando explorar as costas de Léo, e Dadá e Souza combatendo muito pelo centro, junto com Martinez, que tinha mais liberdade para se juntar ao ataque formado por Lúcio atrás de Araújo.

Alta densidade demográfica

Logo nos primeiros minutos já ficava claro a tônica da primeira etapa: o time visitante, com dois homens a mais no meio-campo, tinha mais opções de passe e ficou mais com a bola no pé. Os jogadores cruzeirenses apertavam a marcação, mas sempre havia um pernambucano livre. Porém, com poucos alvos à frente, o meio-campo do Náutico não produziu nada muito incisivo. As principais jogadas do adversário vinham pelos flancos, principalmente pelo esquerdo, onde Léo ficava mais preso e esperava o avanço do ala esquerdo João Paulo.

A superlotação do setor central fazia o Cruzeiro ficar sem espaço para pensar o jogo quando tinha a bola, recorrendo a passes arriscados e errando a maioria deles, aumentando ainda mais a posse de bola do time adversário. Com o tempo, o Cruzeiro passou a ignorar o meio-campo e procurar a ligação direta, mas Borges não tem perfil de disputa pelo alto e quase sempre perdia. E mesmo quando ganhava, a segunda bola era sempre do Náutico, pelo simples fato de ter mais gente por perto.

A ponta direita

Outro fator tático interessante do primeiro tempo foi a postura de Wallyson. Como em quase todos os esquemas com três zagueiros, as áreas mais vulneráveis do sistema pernambucano eram os flancos de sua defesa. Quando o time adversário tem um jogador aberto no ataque, ou um zagueiro tem que sair da área para cobrir, ou o ala perde a vantagem de marcar à frente e tem que recuar. Infelizmente, Wallyson não repetiu as boas atuações táticas das últimas partidas e insistia em ficar próximo a Borges, talvez numa tentativa de fazer número. Do outro lado, Everton não apoio tanto devido ao posicionamento alto de Patric, mas mesmo assim criou algumas boas jogadas, como no passe recebido de Souza por cima da defesa em velocidade.

No intervalo, as equipes não mexeram nas peças, mas Celso Roth percebeu o problema na ponta direita e chamou a atenção de Wallyson, que voltou jogando mais aberto. Imediatamente a equipe melhorou de produção e chegou a criar três boas oportunidades, todas pela ponta direita e com a participação de Wallyson. O bandeira deu três impedimentos seguidos. Estranhamente, o time parou de jogar por ali, recorrendo cada vez mais às bolas longas para a disputa pelo alto e tentativa de pegar a sobra — o chamado jogo de “primeira e segunda bola” que Celso Roth tanto menciona em suas entrevistas quando se refere ao tipo de jogo praticado no Independência.

Um erro e um acerto

Aos 15 minutos, os primeiros movimentos dos treinadores: Gallo mandou Kim, mais veloz, na vaga de Araújo, e Lúcio deu lugar a Rogerinho. O sistema permaneceu. No Cruzeiro, Celso Roth tirou Charles, contundido, e lançou Wellington Paulista. Estava claro que ele queria insistir na disputa pela primeira bola no alto, e WP consegue fazer isso melhor do que Borges. Mas o novo 4-3-3 cruzeirense tinha ainda menos jogadores no meio, e tomou um susto justamente no flanco que Charles protegia — o direito. Kim passou por Donato e tocou a João Paulo, que entrava sem marcação na área. Ele centrou, mas Souza não conseguiu finalizar.

Roth então iluminou-se e tirou Wallyson do jogo, mandando Élber fazer a função de ponteiro direito, um pouco mais longe da área, fechando o lado, mas aberto e procurando a velocidade. E mal o garoto entrou, já criou problemas: três lances de perigo pelo lado direito, o terceiro resultando na falta que originou o primeiro gol. O gol foi um lance de oportunismo de Borges, mas na opinião deste blogueiro, era questão de tempo, com o lado esquerdo pernambucano sendo explorado por Élber com qualidade.

Espaço

Após as alterações, Élber explorando a vulnerabilidade do flanco esquerdo do Náutico e Sandro Silva igualando o número de jogadores de meio, no 4-3-2-1 que pendia para a direita

Gol este que mudou o panorama da partida. O Náutico, naturalmente, teve que abandonar sua estratégia de lotar o meio-campo e atacar. Gallo gastou sua última cartada mandando o atacante Romero a campo no lugar do volante Dadá. Os três zagueiros permaneceram compondo a última linha do agora 3-4-1-2 pernambucano. Um minuto depois, Borges sairia para a entrada de Sandro Silva, e assim o Cruzeiro tinha dois volantes puramente de marcação à frente da área — um 4-3-2-1 torto: cinco contra cinco no meio, mas sem um jogador pela esquerda do ataque.

Mas não fez diferença, porque quem ultimamente tem dado amplitude pela esquerda é Everton. Foi com ele que nasceu o segundo gol, em uma belíssima linha de passe. Everton puxou o contra-ataque por aquele lado, tocou a WP que estava aberto pela esquerda. Num altruísmo surpreendente para um atacante, WP devolveu a Everton, que já estava pelo meio. Ele viu Élber do outro lado, vindo como um raio e sem marcação — da forma como Wallyson devia fazer desde o primeiro tempo. O jovem dominou e fuzilou no canto esquerdo alto de Gideão.

O segundo gol matou a reação pernambucana, que desistiu de marcar pressão em cima do campo e ficou assistindo a defesa cruzeirense tocar a bola. Era só esperar o apito do árbitro, mas ainda havia tempo para mais. Tinga, que não fez uma boa partida nem técnica nem taticamente, explorou a defesa avançada e entregue do Náutico, alcançando a linha de fundo e centrando rasteiro para WP fazer o dele no fim da partida.

Conclusão

A vitória pode ter sido a maior do Cruzeiro no campeonato, mas não pode esconder alguns erros táticos cometidos, principalmente no primeiro tempo. Wallyson voltou a oscilar taticamente, e com isso seu jogo técnico também cai. Além disso, Celso Roth precisa arrumar um jeito de sair da armadilha dos 3 zagueiros e a consequente lotação do meio-campo, se quiser continuar jogando com o 4-3-1-2 losango.

Mas há pontos positivos. Everton, que foi muito contestado no início do ano — e mesmo neste campeonato no jogo contra o Grêmio — mais uma vez, demonstrou consistência pela esquerda: por ora, o problema da lateral está, no mínimo, atenuado. Na direita, Léo jogou “improvisado” — por falta de uma palavra melhor — pela terceira vez seguida, também sem comprometer. E Élber, um garoto ainda, mostrando ter competência para ser um reserva que pode mudar a cara da partida, principalmente jogando na função de ontem: ponteiro pela direita. Já vislumbro um time com Montillo e Élber de ponteiros…

Celso Roth disse na entrevista coletiva que torce para que o tão sonhado “equilíbrio” esteja começando a ser encontrado. É o que todos torcemos, e que, pelo menos a princípio, parece mesmo estar sendo alcançado.

O tamanho dos gramados do Brasileirão 2012

Certamente os leitores fantasma deste blog já devem ter ouvido Celso Roth falar que o Independência é um “campo rápido”. Ele diz isso por causa das dimensões do gramado, que teoricamente são “reduzidas”, e que fariam o jogo ser mais veloz no sentido de que qualquer chutão chega na área adversária facilmente, que por sua vez favoreceria times de menor qualidade técnica, que recorrem ao contra-ataque.

Na última quarta-feira, o discurso contrário pôde ser ouvido: o Serra Dourada, por ser um campo grande, faz o jogo ficar lento, difícil de correr, dando à partida um ritmo cadenciado de posse de bola. Engraçado, porque o Cruzeiro fez exatamente o oposto. Talvez tenha se acostumado a jogar no Independência, mas mesmo que não faça tanta diferença tecnicamente, a postura de treinadores e jogadores tem sido diferentes de acordo com os tamanhos dos campos, como o contrastante exemplo dos jogos contra os dois Atléticos, um no Independência e o outro no Serra Dourada, o que influi diretamente na estratégia da equipe em uma determinada partida — e portanto na parte tática.

Das 20 17 regras do futebol, definidas pela FIFA, a que define o campo de jogo é a Regra 1, que diz que o campo deve ter entre 90 e 120 metros de comprimento, e entre 45 e 90 metros de largura (ou seja, é possível termos um campo quadrado, de 90 m x 90 m, mas isso é uma outra história). Em competições internacionais, a variação é mais restrita, e o comprimento fica entre 100 e 110 m e a largura entre 64 e 75 m. Ainda, na Copa do Mundo, os gramados devem ter a dimensão fixa de 105 x 68 m.

Acredite se quiser, estes campos são válidos para partidas não oficiais: 120 x 45 m (esq) e 90 x 90 m (dir). A grande área o círculo central estão em escala.

Para saber mais, o Constelações foi buscar as dimensões dos gramados dos principais estádios do Brasileirão 2012. Os dados vieram depois de extensas pesquisas na Internet:

Estádio Comprimento (m) Largura (m)
Aflitos (Náutico) 105 70
Arena Barueri (Palmeiras) 107 70
Beira-Rio (Internacional) 108 72
Canindé (Portuguesa) 103,4 70,5
Couto Pereira (Coritiba) 109 72
Engenhão (Flamengo, Fluminense e Botafogo) 105 68
Ilha do Retiro (Sport) 105 78
Independência (Cruzeiro e Atlético/MG) 105 68
Moisés Lucarelli (Ponte Preta) 107 70
Morumbi (São Paulo) 108,25 72,7
Olímpico (Grêmio) 105 68
Orlando Scarpelli (Figueirense) 105 70
Pacaembu (Corinthians) 105 68
Pituaçu (Bahia) 110 68
São Januário (Vasco) 110 70
Serra Dourada (Atlético/GO) 110 75
Vila Belmiro (Santos) 105,8 70,3

Análise

Isto posto, vamos colocar a tabela acima em forma de gráfico para vermos as diferenças:

 

Relação entre comprimento e largura dos principais palcos do Brasileirão 2012

Quanto mais à direita um ponto, mais comprido é o campo, e quanto mais para a esquerda, mais curto. De maneira análoga, quanto mais pra cima, mais largo, quanto mais pra baixo, mais estreito. A linha azul no gráfico representa a “proporção média” entre comprimento e largura de todos os campos analisados, ou seja, à medida que se aumenta o comprimento, aumenta-se a largura proporcionalmente.

Análise

Olhando o gráfico, dois pontos chamam a atenção de cara: a Ilha do Retiro, o campo mais largo do Brasileirão, com impressionantes 78 m. São dez metros a mais que o Independência, ou seja, cinco metros de cada lado. Para se ter uma ideia, uma quadra de vôlei tem seis metros de largura, ou seja, é um espaço onde cabem três jogadores lado a lado e com conforto.

O outro campo que se destaca é o Serra Dourada. O campo do Atlético/GO possui as dimensões máximas para partidas internacionais, sendo o maior do Brasileirão 2012. Além de ser o segundo mais largo de todos, é o mais comprido, ao lado de São Januário e Pituaçu, com 110 metros de comprimento.

Pituaçu, aliás, é um caso estranho. É um dos mais compridos, mas ao mesmo tempo é um dos mais estreitos, juntamente com outros 4 estádios: Independência, Engenhão, Olímpico e Pacaembu.

O Canindé é o campo mais curto. São apenas 103,4 metros de comprimento — quase 7 em relação aos mais compridos.

Além disso, nada menos do que sete equipes mandam seus jogos em gramados que possuem as medidas “oficiais”: Flamengo, Fluminense e Botafogo (Engenhão), Cruzeiro e Atlético/MG (Independência), Grêmio (Olímpico) e Corinthians (Pacaembu). Ainda, se considerarmos uma tolerância de um metro para cada lado em cada dimensão, podemos incluir neste bolo o Canindé, Aflitos e Orlando Scarpelli, a Vila Belmiro e a Arena Barueri e Moisés Lucarelli, todos com até um metro a mais (ou menos) em cada lado do campo. Com isso, o número de times mandantes em campos “rápidos” sobe para 13, fazendo com que nada menos do que 65% do campeonato se desenrole neste tipo de gramado.

Diferenças entre as dimensões de alguns dos campos do Brasileirão 2012. As áreas penais e o círculo central estão em escala.

Conclusão

É claro que haverá defensores dos campos grandes. Basta saber que os antigos Maracanã e Mineirão, ambos templos do futebol brasileiro e mundial, possuíam campos de 110 x 75, as mesmas dimensões do Serra Dourada atual. Portanto, podemos considerar que os brasileiros gostam de futebol de posse, com jogo ritmado, sem a correria e os chutões que os campos menores proporcionam. Basta olhar  o gráfico e ver que a maioria dos campos do Brasil é igual ou maior que o “padrão FIFA” de 105 x 68 — dimensões que fazem com que o jogo fique mais brigado, e como só o Barcelona é o Barcelona, nenhuma outra equipe consegue manter a posse de bola por longos períodos em campos com essas medidas.

Entretanto, isso pode gerar um problema a longo prazo. Mesmo considerando que a maioria dos jogadores da Seleção Brasileira joga fora do Brasil, em gramados europeus, os jogadores daqui que forem convocados poderão ter mais dificuldade em se adaptar aos gramados de uma eventual Copa do Mundo que disputarem. Até mesmo jogadores que fizerem sucesso por aqui e forem vendidos para o exterior poderão ter dificuldades. Em uma pesquisa rápida, a maioria dos grandes estádios do futebol mundial estão nas medidas FIFA:

  • Old Trafford (Manchester United)
  • Emirates Stadium (Arsenal)
  • Stanford Bridge (Chelsea)
  • Camp Nou (Barcelona)
  • Santiago Bernabéu (Real Madrid)
  • Allianz Arena (Bayern de Munique)
  • San Siro (Internazionale e Milan)
  • Olimpico di Roma (Roma e Lazio)
  • Bombonera (Boca Juniors)
  • Monumental de Núñez (River Plate)

Particularmente, gosto de campos grandes que proporcionam um futebol mais vistoso com equipes que possuem jogadores técnicos. Infelizmente não é o caso do nosso Cruzeiro atual. Além disso, jogos disputados mais na física e na correria do que na técnica sempre serão vistos com desconfiança por este blogueiro. Aparentemente, porém, é o destino cruzeirense jogar em campos com as medidas “oficiais” — o Mineirão terá suas dimensões mantidas após a Copa do Mundo. Além disso, a tendência é que cada vez mais estádios adotem essas medidas ao longo do tempo. Assim, a adaptação é mais que necessária.

Só nos resta torcer para que, a médio prazo, tenhamos um time técnico o suficiente para conseguir ter longos períodos de posse e objetividade para controlar o jogo, como — porque não — o Barcelona atual.