Flamengo 1 x 0 Cruzeiro – Sempre em frente

Esta postagem está atrasada. Deveria ter sido escrita na quinta, um dia após a queda nas oitavas de final da Copa do Brasil. Porém, é preciso lembrar que, antes de ser blogueiro, este que vos fala é cruzeirense de carteirinha — literalmente. Não sou jornalista, e este blog é iniciativa pessoal e voluntária. Por isso, me reservei ao direito de não escrever ainda no calor do revés. Entretanto, acabou sendo melhor para poder balizar a postagem com as reações de todos perante a este resultado inesperado. Ouvi e considerei opiniões e explicações de comissão técnica, jogadores, direção, torcedores e analistas da grande mídia, e elas estão todas de uma forma ou de outra neste texto abaixo.

Não foi possível identificar um único fator que fosse determinante para esta eliminação. Antes de Leandro Guerreiro deixar Elias sem marcação para a conclusão fatal, Vinicius Araújo havia perdido mais de uma chance frente a frente com Felipe. Porém, antes disso, o Cruzeiro já havia saído de sua característica principal, que é marcar mais à frente quando não tem a bola. Porém, muito antes disso tudo acontecer, Dedé havia falhado naquele gol no Mineirão, mas isso foi só depois de o ataque perder muitos gols que poderiam ter aumentado a vantagem.

Mas este blog é sobre a tática da partida, então vamos a ela.

Formações

Na primeira etapa, Flamengo insistiu pela direita usando um híbrido 4-3-3/4-2-3-1, mas o Cruzeiro passou poucos sustos

Na primeira etapa, Flamengo insistiu pela direita usando um híbrido 4-3-3/4-2-3-1, mas o Cruzeiro passou poucos sustos

Ao contrário do que muitos “profetas do acontecido” disseram após o jogo, Marcelo Oliveira não postou um Cruzeiro diferente das características do Brasileirão. Prova disso é a escalação de Lucas Silva na vaga de Souza, lesionado, como parceiro de Nilton na volância do 4-2-3-1. Fosse uma postura de defender o resultado, Leandro Guerreiro teria sido a melhor opção. Assim, a meta de Fábio foi defendida por Dedé e Bruno Rodrigo, com Ceará e Egídio nos flancos. Nilton e Lucas Silva davam o suporte para o trio de meias mais móvel da temporada até aqui, com Everton Ribeiro à direita, Willian à esquerda e Ricardo Goulart centralizado, atrás de Borges no ataque.

Já Mano Menezes mudou em relação à partida no Mineirão. No papel parecia ser o 4-3-3 (ou 4-1-2-3) costumeiro, mas ao longo do primeiro tempo tinha cara de 4-2-3-1 com uma inversão de papéis pelo lado esquerdo. O goleiro Felipe viu Luiz Antônio à direita e João Paulo à esquerda, fechando os lados da defesa composta por Chicão e Wallace. Víctor Cáceres, que normalmente é o volante único, teve mais a companhia de Elias, que não estava em sua condição física ideal. Rafinha era o ponteiro direito clássico, preso daquele lado, e Carlos Eduardo e André Santos revezavam entre o centro e a esquerda, com o primeiro se movimentando mais pelo centro. Na frente, apenas Marcelo Moreno.

Estratégias

Como era previsto, o Flamengo tentou ser intenso logo no início, tentando pegar carona na euforia da torcida. O Cruzeiro, porém, marcou em bloco alto — com os meias e atacantes fazendo pressão nos zagueiros e volantes do Flamengo. Que é a característica do time. Quando o time da casa conseguia passar pela pressão inicial, encontrava uma defesa sólida que só dava espaços pelos lados, apesar da partida inconstante de Lucas Silva no centro.

E foi pelos flancos que a equipe carioca deu alguns sustos, principalmente pela esquerda, com Luiz Antônio bem insistente no apoio e Rafinha prendendo Egídio. Willian até voltava para ajudar e conseguia de certa forma, com o Flamengo chegando muito mais no ímpeto do que no toque de bola.

Do outro lado, no entanto, Ceará controlava o setor com mais tranquilidade. André Santos tinha dificuldades em vencer o camisa 2, e João Paulo não apoiava tanto, facilitando o trabalho defensivo de Everton Ribeiro. Aos poucos, o Cruzeiro começou a conseguir concatenar mais passes no seu próprio campo, fugindo da intensidade carioca. Lentamente, o Flamengo foi deixando de marcar o Cruzeiro no seu próprio campo, e o tine celeste conseguiu fazer um primeiro tempo bem controlado defensivamente.

Os dados da Footstats mostram a preferência do Flamengo pela direita: 41,31% do tempo de posse

Os dados da Footstats mostram a preferência do Flamengo pela direita: 41,31% do tempo de posse

Já quando tinha a bola, o Cruzeiro não foi tão eficiente quanto vinha sendo. A estratégia de cadenciar, tirando a velocidade do jogo, foi certamente um dos fatores, já que este Cruzeiro é um time que sabe jogar melhor com intensidade na criação. Outra causa foi o alto índice de passes errados no terço final do campo — o famoso último passe, o decisivo, o passe para gol. Foram 25 contra 18 do Flamengo, o que é muito considerando a menor posse de bola (45% x 55%). Mesmo assim, esteve mais perto de abrir o placar que o Flamengo, quando Dedé completou escanteio com o pé direito e o zagueiro Chicão salvou com Felipe já vendido.

Mais para o fim do primeiro tempo, veio o primeiro sinal de que o jogo poderia ser mais perigoso do que devia: a marcação dos meias e atacantes havia recuado lentamente, e Borges já estava sendo visto atrás da linha de meio-campo, sem correr atrás dos zagueiros para pressioná-los. Nunca saberemos ao certo a causa disso, mas o caráter decisivo do jogo e o resultado favorável podem ter contribuído para o inconsciente dos jogadores.

O intervalo misterioso

Marcelo Oliveira e Fábio já disseram em entrevistas após o jogo que era preciso avançar novamente a marcação. E assim foi combinado no vestiário. Porém, não foi o que aconteceu. A marcação continuou baixa demais, sem pressão e sem intensidade na frente. Isso chamou ainda mais o Flamengo a avançar, o que já seria certo devido à desvantagem no resultado agregado.

Além disso, Mano tirou Cáceres e lançou Paulinho, que é atacante, na lateral direita, empurrando Luiz Antônio para sua posição de origem. Elias também foi fazer mais companhia a Carlos Eduardo, e assim foi formado um 4-3-3 mais claro. Com as linhas adiantadas e jogadores estritamente ofensivos em posições de defesa, e com o Cruzeiro continuando a errar passes e marcar muito atrás, o volume de jogo do Flamengo continuou. Naquele momento, a partida foi bem definida pelo narrador da ESPN Brasil como “ataque contra defesa”.

Incrivelmente, Fábio nada teve que fazer durante este tempo todo. Se você assistir aos melhores momentos da partida, verá que o goleiro celeste não fez nenhuma defesa. O Flamengo tinha mais a bola, mas não conseguia fazer nada muito bom com ela. A rigor, até os 28, foram só duas finalizações no segundo tempo, ambas de Moreno e para fora.

Contra-ataques

Aos 28, os treinadores fizeram suas segundas trocas — Borges já havia deixado o campo lesionado para a entrada de Vinicius Araújo. Mano Menezes tirou Carlos Eduardo e lançou Adryan, mais meia-atacante do que meia de criação, com presença de área. Já Marcelo Oliveira colocou Martinuccio em campo na vaga de Éverton Ribeiro, que já estava amarelado e visivelmente nervoso. Willian passou à direita.

A partir daí, foram quase 10 minutos de um jogo muito bom. Martinuccio deu a movimentação e a intensidade que o Cruzeiro precisava para sair de trás, e gerou três lances de perigo com Vinicius Araújo. O primeiro em passe de Willian, em que ele fez um corta-luz e deixou Vinicius dentro da área, mas a finalização saiu muito errada. Depois, recebeu pela esquerda e acionou Vinicius no meio da área para marcar, mas em impedimento. E por fim, deu um passe sensacional para o camisa 30 ficar frente a frente com Felipe, mas Vinicius não conseguiu driblá-lo e saiu com bola e tudo.

Cedo demais?

No fim, Flamengo lotou a grande área para usar bola aérea, e Marcelo quis fechar os flancos com a entrada de Guerreiro -- funcionou exceto por um único lance...

No fim, Flamengo lotou a grande área para usar bola aérea, e Marcelo quis fechar os flancos com a entrada de Guerreiro — funcionou exceto por um único lance…

Aos 36, Marcelo Oliveira sentiu que era a hora de defender o resultado, e tirou Willian de campo e lançou Leandro Guerreiro. O volante foi para o centro do meio-campo defensivo, empurrando Nilton para a esquerda e Lucas Silva para a direita, fazendo um 4-3-2-1 bem recuado, com a intenção de fazer 3 contra 2 pelos lados e evitar a única arma que o Flamengo ainda tinha — o chuveirinho na área. Tese que foi provada pela entrada de Hernane na vaga de André Santos, ou seja, mais um centroavante, mais um alvo na área para os cruzamentos. O Flamengo jogava àquela altura numa espécie de 4-2-4, mas bem desorganizado e na base do desespero.

Em certa medida, deu certo, exceto pelo lance fatal. Egídio decidiu subir a pressão no momento errado e foi driblado, deixado Martinuccio e Nilton no mano a mano pelo lado esquerdo e gerando um efeito cascata nas coberturas. Nilton não conseguiu impedir o cruzamento rasteiro de Paulinho para Elias, sozinho na entrada da área, concluir no canto direito e fechar o jogo aos 43. Já não havia mais tempo.

A derrota ensina

O resultado só é doloroso porque sabemos do que o Cruzeiro já é capaz de fazer. Ninguém é líder do Brasileirão na 16ª rodada por acaso ou por sorte. É competência. Mas a Copa do Brasil é uma competição diferente, porque são apenas dois jogos — um erro é muito mais determinante. E o Cruzeiro cometeu vários pequenos, que se tornaram poucos grandes e decidiram o confronto.

Porém, é preciso lembrar sempre que 2013 ainda é o primeiro ano desta equipe. Parece desculpa, mas não: o time ainda está em formação. Talvez não na questão do entrosamento, que obviamente veio antes do “normal”. Mas existe uma coisa que pode ainda não ter chegado: a maturidade para lidar com jogos muito decisivos. Ribeiro, Goulart, Vinicius e Lucas Silva são exemplos de jogadores jovens e com pouca experiência em decisões. Além disso não é somente a experiência dos jogadores individualmente que conta neste quesito. Também é preciso levar em conta a experiência da equipe como um todo — c Corinthians contra o Tolima é um bom exemplo. Foi somente a segunda decisão de grande importância deste grupo.

Nas derrotas também vem um crescimento. E é nisso que todo cruzeirense deve acreditar, até o fim do Brasileirão.

Cruzeiro 2 x 1 Flamengo – Golaço tático

Imposição, intensidade, movimentação e paciência foram alguns dos predicados que o Cruzeiro apresentou ontem na partida contra o Flamengo pela Copa do Brasil. Talvez tenha sido o jogo mais impressionante da temporada do ponto de vista tático até aqui, e não seria nenhum exagero dizer que o Flamengo escapou de levar uma goleada histórica no Mineirão. Talvez o placar elástico até tivesse saído se Júlio Baptista estivesse em um ritmo melhor.

Mas, como o futebol não é matemática, às vezes — ou melhor, frequentemente — o placar é mentiroso. O gol sofrido numa falha técnica ainda mantém o confronto aberto, mas não há como negar o favoritismo do Cruzeiro, não só pela vantagem em gols, mas pela superioridade tática, técnica e física.

Escalações

Um execução primorosa dos três meias no 4-2-3-1 do Cruzeiro, ante o recuadíssimo 4-1-4-1/4-3-3 do Flamengo

Um execução primorosa dos três meias no 4-2-3-1 do Cruzeiro, ante o recuadíssimo 4-1-4-1/4-3-3 do Flamengo

Com a lesão de última hora de Mayke, o retorno de Souza e a manutenção de Willian entre os onze iniciais, Marcelo Oliveira enviou a campo o seu famigerado 4-2-3-1, capitaneado pelo goleiro Fábio e com a linha defensiva formada por Ceará à direita, Egídio à esquerda e Dedé e Bruno Rodrigo — jogando com efeito suspensivo. Na proteção, Nilton e Souza não só marcavam como também ajudavam o setor de destaque do time, o trio de meias. Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Willian foram sensacionais na execução da linha de três, bagunçando o desenho com muita movimentação e inversões. Sorte de Borges, que teve bastante munição, apesar de ter desperdiçado.

Mano Menezes, que há menos de um ano era técnico da Seleção, deve ter visto alguns jogos do Cruzeiro. Por isso mudou algumas peças, mas sem abrir mão do 4-3-3 que vem adotando, que neste blog gosto de chamar de 4-1-2-3. Neste caso, porém, o Flamengo parecia muito mais um 4-1-4-1, e às vezes até um 4-5-1 mesmo, com os cinco do meio campo em linha, tal o recuo dos jogadores para proteger-se do volume ofensivo imposto pelo Cruzeiro. O gol de Felipe foi protegido pelos zagueiros Chicão e Marcos González, com Luiz Antônio na lateral direita e o zagueiro Samir na esquerda. Victor Cáceres era o volante entre as linhas, com Elias e André Santos mais avançados e flanqueados por Gabriel e Fernando. Na frente, Marcelo Moreno era o centroavante solitário.

Saída de bola

Depois de um início que parecia equilibrado, com o Flamengo inclusive tendo uma posse de bola longa demais, aos poucos o Cruzeiro foi tomando as rédeas do jogo, e o time carioca foi inconscientemente recuando cada vez mais, até que Marcelo Moreno, o homem mais avançado, estava atrás da linha do meio-campo, à frente de Nilton e Souza. O fama da equipe celeste certamente contribuiu, e assim o Flamengo tinha seus onze jogadores em um espaço de trinta metros, a famosa compactação que muitos técnicos atuais pedem.

Mas isso não foi um problema para o Cruzeiro, que saía com qualidade pelas laterais. Pois Gabriel e Fernando, os jogadores abertos do Flamengo, esperavam os avanços dos laterais para marcar ao invés de fazer pressão no alto do campo. E quando Ceará e Egídio avançavam até a intermediária, os flamenguistas não os acompanhavam, e assim os laterais do Flamengo ficavam sobrecarregados e a bola chegava com facilidade à frente.

Intensidade com a bola

Some-se a isso o fato de Willian, Ricardo Goulart e Everton Ribeiro se movimentavam bastante, invertendo de lado, e estavam sempre muito próximos uns dos outros, oferencendo linhas de passe quando preciso e abrindo espaços para os companheiros, principalmente os volantes e laterais. Além disso, Goulart — ou o meia que estivesse centralizado no momento, tal a movimentação — flutuava sua posição para fugir da marcação de Cáceres, que ficou perdido sem saber a quem acompanhar.

Flagrante de um dos momentos do jogo onde os três meias estavam fora de suas posições “oficiais”

Assim foi a maior parte do primeiro tempo, com posse de bola celeste, mas o Cruzeiro também jogou bem em outra fase da partida: a transição ofensiva. Se o Flamengo ameaçasse subir um pouco suas linhas para iniciar um ataque, logo que a bola era roubada o Cruzeiro já partia em velocidade, tentando pegar a defesa desprevenida, mas sem conseguir concatenar bons passes.

E também sem a bola

E, nos pequenos períodos em que não tinha a bola nos seus pés, o Cruzeiro marcava o Flamengo impiedosamente. Impressionou a participação de todos os jogadores no trabalho defensivo: seja na disposição de Borges correndo para pressionar os zagueiros flamenguistas, seja Willian roubando não uma, mas sim DUAS bolas praticamente dentro da área do Flamengo. Até Everton Ribeiro, que normalmente não faz parte do trabalho de marcação, foi visto dentro da própria área interceptando passes e roubando bolas do lateral-zagueiro Samir, nas raras vezes em que este se aventurou ao ataque. Um indicativo excelente de que o time soube “mudar a chavinha” da competição, sabendo que este jogo era bem mais decisivo que os jogos de temporada normal do Brasileirão. Ou seja, amadurecimento de equipe.

E assim, como um organismo vivo de metabolismo muito alto, o Cruzeiro jogou praticamente sozinho na primeira etapa, finalizando de todas as formas: cabeceios em bola parada, chutes longos e curtos, e com vários jogadores. De acordo com a Footstats, Dedé (2), Everton Ribeiro (3), Nilton, Ceará, Borges, Willian (2), Egídio e Ricardo Goulart arremataram. Por isso tudo, o gol de Willian aos 26 — fazendo o esperado de um ponteiro que está do lado oposto da jogada: entrando na área para concluir — em jogada de Ceará foi o tento solitário de 45 minutos de um massacre tático.

As conclusões do Cruzeiro (Footstats): bolinhas = gols, azul escuro = finalizações certas, azul claro = finalizações erradas

As conclusões do Cruzeiro (Footstats): bolinhas = gols, azul escuro = finalizações certas, azul claro = finalizações erradas

O golaço

Supreendentemente, Mano Menezes não quis trocar peças nem o sistema, preferindo pedir outra atitude ao seu time. E em certa medida, isso aconteceu, mas também porque o Cruzeiro já não aplicava tanta intensidade quanto antes — o que é esperado depois de um primeiro tempo em tão alta rotação. Algumas finalizações, mas nada que assustasse muito Fábio. Além disso, o Cruzeiro não diminuiu a produção ofensiva, finalizando com Borges em passe magistral de Goulart e com Bruno Rodrigo cabeceando na trave um centro de Willian.

E se os contra-golpes não haviam encaixado no primeiro tempo, no segundo só precisou de um para fazer valer a anuidade do Sócio do Futebol. Bola aérea de escanteio contra repelida, Everton Ribeiro passa a Ricardo Goulart. É possível reparar no lance que Goulart olha para o ataque antes de correr atrás da bola. Ele não precisava ver se Ribeiro estaria naquele espaço vazio, ele sabia que sim — entrosamento. Quando a bola chega, Ribeiro chapela o pobre Luis Antônio, fazendo cobertura do lado contrário, e sem deixar a bola cair, solta um petardo praticamente dentro da pequena área que deixou Felipe pregado no chão, sem reação.

Trocas e Júlio

Este lance antológico foi logo aos 10 minutos, e o jogo já estava controlado. Tanto o Flamengo se retraiu novamente tentando evitar uma possível goleada, quanto o Cruzeiro arrefeceu e começou a cadenciar. Mesmo assim, tinha muito mais a bola. Mano Menezes, então, tentou mudar esse panorama lançando Carlos Eduardo na vaga de Gabriel, na mesma ponta direita. Logo depois, Marcelo promoveu a estreia de Júlio Baptista, colocando o novo 10 na vaga de Willian. Com isso, Goulart foi ser o ponteiro esquerdo “oficial”, com Júlio indo para o centro.

Mas o recém-contratado estava com pouco ritmo e “congelou” a movimentação do meio-campo celeste. E quando Nilton se viu sem opção de passe, perdeu a bola que originou o gol carioca. Acho que todos os analistas que vi comentarem sobre a partida atribuíram ao gol sofrido a queda de produção do Cruzeiro, mas eu discordo. Foi a entrada de Júlio a principal causa. Não dá pra trabalhar com hipóteses, mas talvez se a entrada de Júlio fosse um pouco depois, esse lance nem teria acontecido, ou mesmo se acontecesse, o Cruzeiro teria mais volume para tentar aumentar a conta.

Mano mandou João Paulo na vaga de Fernando logo após o gol, mantendo-o como ponteiro esquerdo, mas logo tirou Samir e lançou Paulinho, recuando João Paulo para a lateral esquerda. No Cruzeiro, Goulart e Borges deram seus lugares a Luan e Vinicius Araújo. Mas Marcelo não deu muita sorte, e Luan acabou se lesionando logo após entrar, praticamente apenas fazendo número. Não só isso matou uma possível chance de aumentar o placar para o Cruzeiro como fez o Flamengo ter mais a bola, mesmo sem levar muito perigo a Fábio.

O Brasil descobriu o Cruzeiro

Aparentemente Marcelo encontrou a formação titular com estes três meias. Apesar de estar apagado contra o Vitória, Willian foi muito bem ontem. Goulart e Ribeiro estão demonstrando um entrosamento espetacular. E os três juntos fizeram um fuzuê na defesa carioca: willian esteve pela direita e pela esquerda, Goulart saía do centro para as pontas, e Ribeiro circulava nas três.

Mas só isso não seria suficiente para que o Cruzeiro jogasse em tão alto nível. O time celeste foi superior em todas as fases do jogo, não só na posse de bola. Recompunha-se com intensidade, com todos os jogadores trabalhando defensivamente; contra-atacava com velocidade, apenas precisando acertar mais passes nesse momento; e na posse de bola adversária, destaque para Nilton e Souza — que partida fizeram os dois volantes. Não seria exagerado dizer que, nestes cinco jogadores, o Cruzeiro talvez conte com um dos melhores meio-campos do Brasil.

A partida de ontem, certamente uma das mais assistidas, certamente mostrou o potencial do Cruzeiro para todo o Brasil. Quando até os velhos analistas começam a dizer que tem gosto de ver o Cruzeiro jogar, quando Mayke é especulado na seleção ao invés de Maicon para a reserva de Dani Alves, e quando Everton Ribeiro é assunto mundial, é sinal de que algo grande está acontecendo aqui. Agora o Cruzeiro é o time a ser batido, mesmo não sendo o atual líder do Brasileirão.

Mas nós cruzeirenses já sabíamos disso tudo.