Cruzeiro 3 x 0 Tupi – A caminho da maturidade

Substituições certeiras – e dois gols de Anselmo Ramon como único homem de referência – deram a tranquilidade que o Cruzeiro precisava para espantar a crise.

Vágner Mancini escalou os 11 esperados, sacando Amaral para a entrada de Roger no meio, e Marcos no lugar de Gilson, com Diego Renan voltando à lateral esquerda. Já o Tupi veio para o jogo num misto de 4-2-2-2 e 4-2-3-1, com a chave sendo o posicionamento de Alan Taxista pelo lado direito, muito mais posicionado como meia do que como atacante. Michel e Leo Salino completavam o trio criativo com Adenilson sozinho à frente.

O losango “torto” celeste com Roger de box-to-box pela direita

A agradável surpresa foi o posicionamento de Roger, que recuava tanto que frequentemente se encontrava atrás da dupla de volantes, dando mais qualidade à saída de bola azul. Era um 4-3-1-2 em losango “torto”: o meia jogou mais pela direita, fazendo um papel de “box-to-box” (uma expressão inglesa que denota um jogador que transita no espaço entre as duas grande-áreas), Marcelo Oliveira na sua posição habitual pela esquerda e com um pouco mais de liberdade do que Leandro Guerreiro, primeiro vértice. Este ficou mais responsável por cobrir o apoio do lateral Marcos, muito bem na partida.

O resultado é que o time celeste teve muito mais ação ofensiva pela direita do que pelo outro lado. O primeiro gol saiu numa excelente jogada de Montillo, que, como de costume, circulava por todos os lados. O argentino recebeu a bola naquele flanco e girou em cima de seu marcador George, que o perseguiu por todo o campo. O volante teve que recorrer à falta, e a excelente cobrança de Roger achou Wellington Paulista livre para abrir o placar.

Sem a bola, o Cruzeiro se defendeu com o mesmo esquema das partidas anteriores, mas com uma fundamental diferença: Roger, como volante, se posicionava um pouco mais à frente, ocupando o espaço entre o meio e o ataque, que era um problema crônico da defesa azul. Defendendo muito bem sua grande área, o Cruzeiro impediu o trio criativo do Tupi de fazer jogadas mais agudas, que eram quase sempre obrigados a recuar a bola para os volantes para manter a posse. Esses, por sua vez, não eram jogadores de criatividade, e por causa disso Fábio mal viu a bola no primeiro tempo.

Nos minutos antes do intervalo, Roger passou a ser melhor marcado e com isso o time passou a administrar o placar. E, com a dupla de ataque se desfez no segundo tempo, cabe aqui uma observação. Reparem como WP e Anselmo Ramon raramente se conectam no ataque. Isto acontece porque ambos são jogadores muito semelhantes – são o homem de referência, ora segurando a bola para a chegada do time, ora se posicionando dentro da área para uma conclusão de um passe pelo alto ou cruzamento (veja o posicionamento dos dois no primeiro gol). Quando atuam juntos, não são tão eficientes, já que um tem que sair do caminho do outro, abrindo, e não rendem tanto quando estão fora de suas posições “naturais”. Não é de se estranhar que a dupla tenha feito 100% dos gols do time este ano e 0% das assistências.

Cruzeiro com as alterações, com Rudnei e Walter se aproximando de Montillo

O segundo tempo começou como terminou o primeiro, com a exceção de que o Tupi se lançou um pouco mais à frente. Com Roger mais apagado, o Cruzeiro recuou suas linhas naturalmente, e um leve domínio dos juizforanos apareceu, mas nada muito contundente. As melhores chances criadas pelos visitantes foram chutes de fora de área, sendo que em um deles Michel obrigou Fábio a fazer uma dupla defesa espetacular.

Mas com as substituições, o jogo mudou novamente. Mancini promoveu a estréia do atacante Walter no lugar de WP, e pôs Rudnei no lugar de Marcelo Oliveira. Walter se posicionou como segundo atacante e Rudnei foi um volante com muita liberdade para atacar pela direita. Com isso, Roger passou para o lado esquerdo. No Tupi, o volante Jaílson deu lugar ao meia-atacante Ulisses, transformando o Tupi num 4-1-3-2 com o avanço de Alan Taxista, numa tentativa de empatar a partida aproveitando o melhor momento no jogo.

Foi em vão. O trio Rudnei-Montillo-Walter combinou bem as jogadas, ajudado pelo espaço criado à frente da zaga juizforana com a saída de um dos volantes. George, sozinho, não foi capaz de comandar a marcação e o lado direito azul ganhou mais velocidade. O segundo e o terceiro gols surgiram, novamente, por aquele lado: no segundo, uma jogada de Montillo com Walter, que achou Rudnei na entrada da área, jogando como um meia. Este serviu com açúcar para Anselmo Ramon – agora único homem de referência no ataque – que tocou no canto direito de Rodrigo. O terceiro foi um cruzamento certeiro de Marcos numa outra jogada do 10 argentino, que Anselmo Ramon cabeceou sem chances para Rodrigo.

Percebendo o erro, o técnico do Tupi voltou ao 4-2-3-1 original com a entrada do zagueiro Paulinho como volante, no lugar do meia Leo Salino, com Alan Taxista voltando ao meio-campo, para evitar uma goleada maior. O Cruzeiro também desacelerou e o jogo ficou morno até os minutos finais, com o Cruzeiro por vezes tentando impor velocidade, mas sem sucesso no último passe.

Algumas conclusões a serem tiradas desse jogo:

  • WP e Anselmo Ramon estão certamente com os dias contados como dupla de ataque titular, Walter foi muito bem e deve entrar no time em um futuro muito próximo;
  • Roger deu criatividade ao time enquanto conseguiu jogar, mas no segundo tempo desapareceu, então é preciso pensar em uma alternativa para a criação além de Montillo;
  • Marcos também foi bem na lateral direita, e deve manter o lugar no time;
  • Rudnei é uma ótima opção para destravar uma retranca, pois é um volante mais incisivo;
  • o lado esquerdo vai precisa de mais criatividade;
  • os problemas mais graves dos primeiros jogos foram resolvidos, mas a qualidade de passe não: o time ainda erra muito e perde a posse da bola.

A evolução foi pequena, mas é clara. Ainda há muito espaço para crescer, no entanto. Já era para estarmos andando, mas ainda estamos engatinhando. A minha aposta é que, à época da reinauguração do Independência, no reencontro com Belo Horizonte, a maturidade chegue.

Pit-stop na segunda volta

O técnico cruzeirense Vágner Mancini demonstrou hoje que pode entrar com mudanças para o próximo jogo contra o Tupi, domingo na Arena do Jacaré. Em relação ao time que iniciou o jogo contra o Guarani, Marcos entraria no lugar de Gilson, com Diego Renan se deslocando para a lateral esquerda, e Roger entraria no lugar de Amaral.

Roger é um meio-campista que cadencia o jogo, diferente de Montillo, que é mais driblador. Por já ter mais primaveras, tem uma forma física menos privilegiada, o que faz com que se poupe mais em campo. Por isso, atualmente, ele é um jogador que fica mais recuado, ditando o ritmo e mantendo a posse, esperando por uma oportunidade de fazer um passe mais agudo. Essa criatividade foi exatamente o que faltou ao Cruzeiro no primeiro jogo.

A entrada do meia significa uma mudança no desenho tático. O Cruzeiro poderia jogar num 4-2-2-2 “torto”, com Marcelo Oliveira um pouco mais solto que Leandro Guerreiro, se aproximando mais da dupla de criação, com Montillo avançando até dentro da área e Roger um pouco mais recuado.

Cruzeiro no 4-2-2-2 “torto”, com Roger mais recuado que Montillo

Essa tática funcionou bem no início do ano passado, mas havia uma diferença. A dupla de ataque era Thiago Ribeiro e Wallyson, dois velocistas, e que jogavam mais abertos do que o atual duo WP-Anselmo Ramon. Será preciso muita movimentação destes dois para que Montillo não fique sem espaço para correr à frente.

Mancini pode optar, também, por um 4-2-3-1 (o esquema da moda), abrindo Roger pela esquerda, deixando Montillo na articulação central e recuando WP pela direita, deixando Anselmo Ramon como homem de referência. Isso também exigiria uma movimentação maior de WP, pois sem a bola ele teria que recompor a marcação pelo lado, ajudando Marcos naquele setor. Mas nós sabemos como WP pode ser precipitado defendendo.

4-2-3-1 com Roger aberto pela esquerda e WP recuado

O treinador pode até tentar manter o losango, com Guerreiro no primeiro vértice, Marcelo Oliveira e Roger pelos lados e Montillo na ligação.

A manutenção do losango dos primeiros jogos

A impressão que fica é que, com tanto tempo para treinar – mais que qualquer outro time da Série A – o Cruzeiro não conseguiu encaixar suas peças e já parte para mudanças no segundo jogo da temporada. Das duas uma: ou Vágner Mancini não fez um bom trabalho, ou ele mesmo não acredita no que treinou. De qualquer forma, parece que o mês de pré-temporada foi jogado no lixo e o trabalho recomeçado.

Cruzeiro 0 x 1 Guarani/MG – Em ritmo de treino

Já dizia o outro: treino é treino e jogo é jogo. Pode ser, mas o que vimos hoje na Arena do Jacaré pela segunda rodada do Campeonato Mineiro foi um time muito aplicado e competente taticamente contra uma equipe apática defensivamente e sem criatividade. Nem parecia ser a equipe da Série A que mais teve tempo pra treinar antes de um jogo oficial.

O Cruzeiro entrou com a formação esperada, o 4-3-1-2 losango treinado por Mancini durante praticamente toda a pré-temporada, com Amaral e Marcelo Oliveira fazendo companhia a Leandro Guerreiro no meio defensivo. Já o Guarani optou por um 4-2-2-2, com Walter Minhoca na articulação principal e Diego Fernando um pouco mais à frente que Magalhães.

O 4-3-1-2 azul com os volantes e laterais mais presentes no ataque

Logo de cara, uma diferença se percebia em relação ao amistoso contra o América: um pequeno aumento da presença ofensiva dos volantes e laterais celestes, ilustrada pelo avanço de Diego Renan no primeiro minuto de jogo. Marcelo Oliveira fez mais conexões com Gilson e Anselmo Ramon pelo lado esquerdo, enquanto Amaral procurou mais Diego Renan e Wellington Paulista na destra.

No entanto, nem mesmo a intensa movimentação de Montillo pelos lados evitou que o Guarani se fechasse com qualidade em seu campo. A proposta do Guarani era simples: pressionar a transição ofensiva do Cruzeiro para evitar as jogadas velozes e se recompor atrás da linha do meio-campo, deixando apenas Diego Fernando à frente, e por vezes até ele voltava para compor. Proposta essa exemplificada no lance do único gol da partida: recuperação de bola azul e passe errado logo depois, devido à pressão do adversário. Walter Minhoca conectou Luisinho na direita, que fez o cruzamento para Magalhães concluir.

Faltou também criatividade aos jogadores de meio. A lotação no campo adversário fez com que os volantes cruzeirenses ficassem sem espaço para pensar, tendo que resolver o passe rapidamente, e por isso ele saía quase sempre com pouca qualidade. Montillo não voltou tanto para buscar a bola, caindo mais pelos lados. O argentino, todavia, é muito mais driblador que passador, como seria um 10 clássico. Foi o que faltou ao Cruzeiro hoje: o time de Divinópolis fechou inteligentemente os espaços e pressionava qualquer jogador que tentasse segurar a bola pelo meio. A saída pelas laterais era quase sempre a melhor opção, mas os cruzamentos eram quase sempre ruins, com ambos os laterais fazendo um mal jogo.

Se por um lado o Cruzeiro tentou resolver um de seus problemas em relação ao amistoso de duas semanas atrás, por outro o segundo problema persistia: o espaço cedido ao adversário na intermediária defensiva. Mais uma vez, o trio da frente não participava tanto das ações defensivas, fazendo com que a batalha do meio-campo ficasse em três contra quatro. Com um homem a mais, o time visitante tinha bastante tempo para pensar no jogo e ficar tocando a bola no campo do adversário. A partir daí, no entanto, o Cruzeiro se defendia razoavelmente bem e Rafael mal viu a bola, a não ser em duas finalizações de longe defendidas pelo jovem goleiro.

Além disso, ao contrário do Guarani, o time celeste não pressionava os jogadores adversários quando perdia a bola no ataque, e quase sempre os jogadores do time vermelho saíam com tranquilidade para a ação ofensiva. Não impunham velocidade, no entanto, fazendo com que a defesa cruzeirense pudesse se organizar, mas por outro lado não perdiam a posse da bola (como o Cruzeiro perdeu no lance do gol).

Cruzeiro no segundo tempo sem o losango inicial: um4-2-2-2/4-2-1-3 para tentar parar o avanço do ataque do Guarani

No segundo tempo, Mancini tentou forçar o Guarani a não subir tão frequentemente, colocando Wallyson, na direita, no lugar de Amaral. O Cruzeiro passou para o 4-2-1-3 variando para o 4-2-2-2 com Wallyson recuado, e o esquema funcionou durante alguns minutos. Os muitos erros de passe, porém, impediam um fluxo melhor do jogo azul e logo o time visitante se achou em campo novamente. O jogo seguiu a tônica do primeiro tempo, a única diferença sendo a dupla de volantes cruzeirenses ter mais espaço e conseguir ficar mais tempo com a bola. No entanto, isso não melhorou a criatividade do time.

As outras alterações não mudaram as formações táticas. Ambos os treinadores colocaram jogadores descansados na mesma função que os substituídos, com a única exceção sendo a troca dos volantes: Leo Medeiros (um dos melhores em campo), que sai mais para o ataque, por Cafu, mais defensivo. O Cruzeiro continuava a deixar de pressionar o Guarani mesmo estando atrás no placar, e no fim a falsa “pressão” cruzeirense foi mais resultado da escolha dos visitantes em segurar o resultado do que pela competência do time da casa.

Enfim, uma vitória justa, já que o Guarani executou sua proposta com muita competência e entrega, negando os espaços ao adversário. As cãibras nas duas pernas de Magalhães no fim do jogo ilustram bem isso. Já o Cruzeiro mostrou que precisa melhorar muito ainda, principalmente na construção ofensiva contra times bem postados na defesa, que deverá ser a tônica do Campeonato Mineiro para o time celeste. Além disso, defensivamente o Cruzeiro peca por deixar os adversários jogarem tranquilamente muito perto de sua área. Não é preciso ser nenhum gênio para saber que, quanto mais perto da área, maior é a chance de conceder um gol.

É claro que ainda podemos relevar certas coisas por ser início de temporada, mas os erros cometidos hoje foram de um time que está no início da pré-temporada.

Mamoré 1 x 2 Cruzeiro – Pressão alta, velocidade baixa

Confesso que não assisti ao amistoso vencido pelo Cruzeiro sobre o Mamoré por 2 a 1, realizado hoje em Patos de Minas. Lendo as notícias do jogo, analisando a escalação e assistindo aos gols, no entanto, é possível tirar algumas conclusões. É claro que três lances não podem dizer como foi o jogo em si, mas é válido analisá-los mesmo assim.

O time celeste mandou a campo uma formação igual à do primeiro jogo, o 4-4-2 losango, com três volantes. Leandro Guerreiro fez o papel de centro-médio novamente, ficando à frente da defesa. Marcelo Oliveira teve desta vez Amaral como companheiro, no lugar de Diego Árias.

Os dois gols do Cruzeiro saíram no primeiro tempo, de pênalti, em dois lances que tem mais semelhanças do que parece numa primeira análise. Ambos saíram de jogadas em que o Cruzeiro recupera a bola ainda no campo do adversário, marcando alto no campo. No primeiro, Anselmo Ramon briga pela posse e dispara de longe. No rebote do goleiro, Wellington Paulista pressiona o zagueiro e consegue o pênalti. convertido por ele mesmo. No segundo, é o próprio WP quem disputa a bola, que acaba sobrando para Anselmo Ramon. Ele põe à frente, aposta corrida com o zagueiro, que comete mais um pênalti, novamente convertido por Paulista.

A conclusão é que a pressão sobre a defesa adversária, mesmo sob o forte calor, quando exercida, resultou em gols. Obviamente, temos de levar em conta a fragilidade do time de Patos. Talvez contra equipes mais experientes, ou mais técnicas, o Cruzeiro não conseguisse os pênaltis, mas no mínimo conseguiria fazer com que o passe do adversário saísse com menos qualidade.

No segundo tempo, o Cruzeiro desacelerou um pouco. Talvez o calor de Patos de Minas e a vantagem de dois gols no placar fez os jogadores celestes se pouparem naturalmente. Com isso, deixaram de fazer tanta pressão à frente e cederam espaço para o Mamoré, que conseguiu jogar um pouco mais. Num desses lances, Jônatan, do Mamoré, recebe uma bola de costas para o gol, consegue girar e tocar para seu companheiro Jouberth no meio. Este atrai a marcação e a cobertura (Victorino), deixando o lado esquerdo no mano a mano. O próprio Jônatan é quem corre por aquele lado, para receber a bola na frente depois de um corte seco de Jouberth que tirou os dois jogadores celestes. O cruzeirense que o marcava no início da jogada não conseguiu acompanhar e saiu o gol.

Taí um problema para Mancini resolver: velocidade contra nossos zagueiros pode ser fatal. Várias soluções existem, como mudar para zagueiros mais rápidos, ou posicioná-los um pouco mais recuados. O melhor mesmo seria manter a posse de bola e, quando a perdesse, continuar exercendo pressão alta. É claro que pressão alta cansa os atletas bem mais rapidamente, então este é um fator. Se bem que é possível descansar com posse, mas isso é outro papo.

Cruzeiro 2 x 3 América/MG – Tentando achar a direção certa

Um jogo típico de início de temporada. Assim podemos resumir o amistoso entre Cruzeiro e América, dispuado hoje no Parque do Sabiá em Uberlândia. O Cruzeiro sofreu com os problemas típicos de início de ano, como o cansaço – parte da origem do segundo, e totalmente a origem do terceiro gol do América – e a falta de tempo de bola – que resultou num acidente entre Diego Renan e Rudnei, com suspeita de fratura no nariz deste último. Torcemos pela recuperação rápida.

Os dois trios altos do losango celeste, muito centralizados e muito distantes entre si

O time celeste entrou como esperado, com um 4-3-1-2 losango, mas com Wellington Paulista e Anselmo Ramon recuando para fazer uma linha de três no primeiro combate. No entanto, o trio de volantes, com Leandro Guerreiro no pé do losango e os estreantes Diego Árias e Marcelo Oliveira dos lados, ficou recuado demais. Sem a bola, o Cruzeiro parecia muito mais um 4-3-3, porém com as duas linhas altas muito centralizadas e distantes entre si. Isso gerou dois problemas: os laterais do América tinham muito espaço para atacar sem ser incomodados, e os volantes tinham espaço para pensar o jogo e chegar facilmente à entrada da área cruzeirense. Como o trio ofensivo não fazia pressão, mas ficava centralizado demais, o América saía de trás sempre pelos lados e, com espaço, avançavam até encontrar o vão entre o ataque e o meio azul. Ali, ficavam tocando a bola até encontrar alguém livre. Foi assim no primeiro gol. Foi uma falha do goleiro Rafael, mas é preciso destacar que o jogador americano teve muito tempo para ajeitar a bola e chutar com qualidade sem que ninguém chegasse.

Esta distância que havia entre os volantes e Montillo foi também o fator que mais emperrou o time celeste ofensivamente. Neste 4-3-1-2 losango (e também na maioria dos sistemas atuais) os volantes são, tipicamente, os responsáveis pelo primeiro toque, procurando jogadores para iniciar a construção da jogada. Diego Árias e Marcelo Oliveira tiveram um pouco de dificuldade, pois ficavam muito atrás, e ora conduziam a bola sem encontrar muitas opções, ora optavam por passes muito longos, na maioria das vezes sem sucesso. Tanto que o primeiro gol saiu numa jogada de Leandro Guerreiro que, ao roubar a bola, avançou – apesar de ser o primeiro homem do meio-campo – e achou WP um pouco mais recuado. O atacante centralizou, chamou a marcação e lançou uma bola curta para Montillo fazer uma diagonal do centro para a direita, que acabou resultando no pênalti. O que Guerreiro fez é o que se espera – tipicamente – de Árias e Oliveira.

Além disso, os laterais também não subiam muito: Diego Renan só foi aparecer no campo de ataque aos 25 minutos, e com isso o Cruzeiro não abria seu ataque. Quando o fazia, era por causa da movimentação de Montillo e dos próprios atacantes, que caíam pelas pontas. Mas com isso havia poucos alvos na área adversária, o que tornava os cruzamentos infrutíferos. Se não me engano, no primeiro tempo, nenhum cruzamento foi conectado. O segundo gol só aconteceu porque o Cruzeiro saiu de sua proposta e pressionou a saída de bola. A pressão resultou na jogada típica de Montillo, a condução rápida e o passe preciso. Ele achou WP na esquerda, que bateu bem na bola e venceu Neneca.

O segundo tempo veio com algumas alterações, mas nenhuma delas resultou em uma alteração significativa do desenho tático. À medida em que eram processadas as substituições, a equipe ficou um tanto difícil de enxergar, um pouco pela inexperiência do blogueiro, mas também pelo desentrosamento típico de início de temporada, o que tornou o time um pouco desorganizado. No fim, o mesmo 4-3-1-2 losango estava posto, mas com várias improvisações: Léo, zagueiro, foi para a lateral direita; Marcelo Oliveira, volante, foi para a esquerda; e Sebá, atacante de área, foi para o enganche. A diferença era que, desta vez, o time estava um pouco mais aberto. Do lado esquerdo, Oliveira e Everton combinavam com certa frequência e conseguiram produzir alguma coisa; do lado direito, Léo mal subia e Bobô e Amaral não combinavam tanto. Com um meia-armador improvisado como Sebá, o ataque ficou um pouco “torto”, e um pouco mais fácil de marcar.

A virada adversária veio principalmente por causa do cansaço. É preciso destacar a excelente jogada do atacante americano, que deu um toque curto de primeira e enganou o zagueiro Mateus, outro estreante, que mesmo tendo entrado no segundo tempo, não conseguiu acompanhar a velocidade de Adeílson. No terceiro foi Marcelo Oliveira – que juntamente com Leo e Leandro Guerreiro foram os únicos que jogaram os 90 minutos – que foi deixado pra trás, resultando no pênalti.

No geral, um bom jogo, mas ainda com muito a fazer. Individualmente, destaque para Leandro Guerreiro (que nem parece que estava de férias, pois estava com um tempo de bola excelente), Marcelo Oliveira (que participou bastante e ainda vai nos dar muitas alegrias) e, invariavelmente, Montillo (que enquanto esteve em campo, desempenhou um bom papel, sendo responsável direto, junto com WP, pelos dois gols). Lembrando que ainda temos peças a avaliar, como o atacante Walter e o lateral Marcos, portanto, lá vai a frase feita: é um time ainda em formação.

Será necessário também trabalhar muito este trio de volantes que, ao que tudo indica, serão os titulares de Vágner Mancini para o início do Estadual. Particularmente, eu preferiria uma formação que privilegiasse o estilo de jogo de Montillo, como um falso 9, driblador e vertical, e não como um meia-armador (ou enganche, ou trequartista), como foi hoje. Para o losango funcionar, o argentino deveria recuar um pouco mais, e os volantes pelos lados teriam que avançar um pouco mais, diminuindo a distância entre os setores, e jogar mais criativamente. Outra forma seria avançar mais as linhas, fazendo pressão na defesa e recuperando a posse o mais rápido possível (o Barcelona manda lembranças). No entanto, aparentemente é no losango que nós vamos.

Enfim, esperamos todos que, com três volantes, Vágner Mancini ache a direção certa.