Cruzeiro 1 x 3 Botafogo – Nem tudo são espinhos

Usando o mesmo estilo de jogo do Cruzeiro no primeiro turno, para nosso azar, o Botafogo esperou um turno inteiro para devolver na mesma moeda a derrota sofrida naquela partida.

As formações iniciais

A movimentação de Leandro Guerreiro para que Everton pudesse avançar e formar um 4-1-4-1 foi fundamental para o equilíbrio das ações no início do jogo

Celso Roth tentou repetir o time da vitória sobre o Náutico, mas Charles foi suspenso e Sandro Silva foi para o jogo. Em uma primeira análise, foi uma opção estranha, já que Sandro é naturalmente reserva de Leandro Guerreiro na base do losango de meio-campo. Entretanto, com cinco minutos de jogo, a razão teria ficado mais clara, como veremos adiante. No início, o Cruzeiro se postou num 4-2-2-2 estreito demais: Fábio no gol, Léo na lateral direita, Everton na esquerda, Rafael Donato e Mateus fechando a defesa. Leandro Guerreiro e Sandro Silva protegiam a área e liberavam Tinga e Souza para armar. Na frente, Wallyson e Borges.

O Botafogo entrou no 4-2-3-1 tradicional: Renan debaixo das traves era defendido pela dupla de zaga Dória e Fábio Ferreira, flanqueados pelos laterais Lucas na direita e Márcio Azevedo na esquerda. Gabriel e Jádson na dupla volância, e mais à frente o quarteto ofensivo, com o trio Fellype Gabriel na direita, Andrezinho centralizado e Seedorf na esquerda atrás de Elkeson. No encaixe de marcação, ficou claro que Everton ficou sobrecarregado com a marcação de Fellype Gabriel e o avanço de Lucas. O mesmo ocorria do outro lado, com Léo tendo que se virar contra Seedorf e o ofensivo lateral esquerdo Márcio Azevedo. Assim, o Botafogo controlou o meio-campo, tinha mais posse e mais amplitude. O Cruzeiro nem pegou na bola nos cinco minutos iniciais.

Leandro Guerreiro e Everton

Então veio a mudança tática: Leandro Guerreiro deixou Sandro Silva marcando Andrezinho, e recuou à lateral esquerda para dar suporte a Everton e marcar Fellype Gabriel; Everton virou ponteiro esquerdo e foi marcar Lucas à frente. Do outro lado, Wallyson recuava acompanhando Márcio Azevedo e Léo ficou responsável por Seedorf. O novo 4-1-4-1 equilibrou a marcação e fazia o Cruzeiro ter mais volume, empurrando o Botafogo para trás. O setor mais perigoso do Cruzeiro era o esquerdo, e foi por este lado que saiu o gol: Souza recebeu por ali e lançou Borges em profundidade. Fábio Ferreira falhou e Borges saiu na cara de Renan, mas não conseguiu vencer o arqueiro botafoguense. Tinga, que vinha correndo para acompanhar o ataque, pegou o rebote num chute muito mais difícil que o de Borges e marcou seu primeiro gol com a camisa celeste.

O gol atordoou o Botafogo. O Cruzeiro teve volume, muito volume, e teve uma chance de ouro para ampliar com Everton, que estava vencendo o duelo contra o lateral direito Lucas. O volante-lateral disparou em velocidade, sua característica, e ao receber passe de Souza, em um só toque driblou seu marcador e invadiu a área. A opção era tocar para Wallyson, que vinha correndo do outro lado, marcar, mas ele chutou para fora. Um gol perdido que faria falta e poderia ter mudado a história do jogo.

A movimentação do quarteto ofensivo do Botafogo

O Botafogo foi controlando os nervos à medida que o Cruzeiro desperdiçava o bom momento. O quarteto ofensivo do Botafogo se movimentava, invertendo posições e tentando confundir a marcação cruzeirense, que estava muito bem. E conseguiram fazer isso por uma única vez. Souza ainda estapeava o gramado, reclamando de uma suposta falta que teria recebido, quando Fellype Gabriel, desta vez na direita, já cruzava a bola que atravessaria toda a área para encontrar Seedorf, que se movimentou às costas de Guerreiro e emendou um lindo chute de primeira no canto direito de Fábio. Com os ponteiros adversários invertidos, a marcação se confundiu.

Nem deu muito tempo de avaliar o impacto do gol, porque logo no minuto seguinte, o Botafogo viraria o jogo, novamente em passe de Fellype Gabriel para Seedorf. Desta vez eles estavam em suas posições iniciais, mas quem marcava Fellype Gabriel era Everton, já que Guerreiro estava vigiando Lucas neste lance. Quando o meia dominou dentro da área, Léo bobeou na marcação e Seedorf tomou-lhe à frente, recebeu o passe e finalizou no cantinho para decretar a virada.

Agora era a vez do Cruzeiro se sentir atordoado. O time começou a errar passes que não estava errando, fruto do nervosismo de um time ainda em formação e que está atrás no placar. Wallyson, que fazia boa partida defensivamente, não fez o mesmo atacando, e naturalmente começou a ser cobrado pela torcida, ávida pelo gol de empate. O nome de Élber era ouvido em alguns lugares da arquibancada. Mesmo assim, o Botafogo contentou-se em aguentar as tentativas cruzeirenses e tentar sair só na boa, o que não aconteceu nenhuma vez até o fim do primeiro tempo.

No segundo tempo, o contra-ataque fatal

No intervalo, Celso “atendeu” o pedido da torcida e mandou Élber a campo no lugar de Wallyson. Também, tirou Sandro Silva do jogo e mandou Wellington Paulista. Com isso, Everton voltou à lateral, Leandro Guerreiro voltou ao meio campo mas Tinga não recuou e continou sendo meia: era um 4-3-3 clássico, com triângulo alto no meio – um 4-1-2-3 para ser mais exato, mas com WP mais centralizado do que aberto pela esquerda. No Botafogo, Fellype Gabriel deu lugar ao centro-avante Willian, com Elkeson voltando para o meio-campo aberto pela direita, mantendo o 4-2-3-1.

Foram dez minutos de tentativas pelo alto e cruzamentos infrutíferos na área. O Botafogo se defendia e tentava sair em contra-ataques, quase sempre com Seedorf pela esquerda. Em uma bola parada, a zaga botafoguense conseguiu fazer exatamente isso. Seedorf e Guerreiro apostaram corrida, vencida pelo primeiro, que num toque só pôs na frente e tirou do alcance do volante. Imediatamente mandou para o centro, onde chegavam nada menos do que quatro jogadores adversários sem marcação. Fábio ameaçou sair, recuou e só saiu de vez quando Jádson dominou, mas foi driblado. Everton não conseguiu salvar a conclusão.

Outras tentativas

No fim, Cruzeiro com muita gente no ataque tentando diminuir no abafa, num 4-2-1-3 com Everton bem avançado e até Mateus saindo para o jogo

Com o jogo decidido aos 10 do segundo tempo, Celso Roth resolveu que não queria mais tomar contra-ataques deste tipo e recompôs o meio com William Magrão no lugar de Souza. Agora era Tinga quem ficava centralizado, com William Magrão tendo certa liberdade para avançar. O Cruzeiro não jogava pelo chão, e insistia muito nas bolas aéreas, tanto com Everton pela esquerda quanto com Élber pela direita. Dominou a posse, muito mais por estratégia do Botafogo de absorver as investidas do que por mérito próprio. Oswaldo de Oliveira, então, fez sua segunda mexida, para fechar o time e segurar o resultado: tirou Willian, aquele mesmo que entrou no início do segundo tempo, para colocar o zagueiro Brinner, e fazer um 5-3-1-1 para matar o quase 3-2-3-2 cruzeirense com o posicionamento alto de Everton.

Mesmo assim, o Cruzeiro ainda teve forças para criar algumas chances, como na jogada de WP recebendo passe de Borges, que fez o pivô. O atacante não foi fominha e passou a Everton que chegava livre pelo lado esquerdo, mas o chute foi dividido com o goleiro Renan e a bola saiu raspando a trave. Mas foi só.

Derrota com pontos positivos?

Não devemos atribuir o revés sempre a erros nossos. Há mérito do outro lado e é preciso reconhecer isso. Taticamente foi um jogo igual, a diferença foi na técnica: quando o Botafogo teve as chances, converteu, e o Cruzeiro não. Se Everton fizesse aquele gol no primeiro tempo, o jogo teria sido outro, mas o “se” não existe no futebol. O que vale é o resultado final — que na não tão modesta opinião deste blogueiro, sempre é justo. O Botafogo fez uma excelente partida e executou melhor a sua estratégia.

Assim, posso até estar exagerando um pouco nesta análise — pois quem me conhece sabe que sou otimista por natureza — mas acredito que este time que jogou ontem é muito mais consistente e equilibrado do que o do início do ano com Vágner Mancini, e até mesmo do que aquele do início do campeonato. É claro que ainda há muitas coisas a melhorar, mas a evolução em relação ao início do ano é clara. Por exemplo, ao contrário do que se imagina, Roth tem feito cada vez menos experiências, e portanto podemos dizer que o time tem sim uma estrutura tática. Everton me parece uma realidade pelo lado esquerdo, principalmente na parte ofensiva, tendo suporte; Wallyson ainda precisa ganhar mais confiança ofensiva, mas tem se destacado taticamente, o que é fundamental.

É sempre bom lembrar que o Cruzeiro jogou sem Ceará e Montillo, peças fundamentais nesse esquema e que dariam outra característica ao time. Também temos Lucas Silva e Charles como opções para o meio, e Martinuccio, meia canhoto, pode se integrar ao grupo em breve.

Portanto, apesar da derrota, vejo pontos positivos. Mas infelizmente, creio que só vamos ter frutos no ano que vem — isso se não mudarem o treinador, é claro.

Cruzeiro 1 x 0 Figueirense – Carregando o piano

O drible seguido de passe de Souza — servindo para o belo gol de Wellington Paulista — fez com que o meia fosse o mais celebrado pela torcida na volta do Cruzeiro a Belo Horizonte depois de dois anos fora, contra o Figueirense no sábado. Entretanto, a atuação tática mais brilhante foi a de outro jogador: Leandro Guerreiro.

Formação inicial

O 4-2-3-1 com cara de 4-3-3 com dois volantes (4-2-1-3) do início do jogo; Wallyson voltava pouco e teve que trocar de lado com Fabinho, Montillo tentando sair da marcação dupla e Amaral perdendo o duelo com Almir

Eu já estava imaginando como Marcelo Oliveira e Everton iriam se revezar pelo lado esquerdo, já que na primeira rodada foi Everton quem ficou mais à frente, com Marcelo Oliveira na lateral esquerda; e neste jogo parecia que seria o contrário. Parecia, porque Celso Roth surpreendeu a todos e escalou Wallyson na vaga do lesionado Tinga, titular até então. Isso configurou o Cruzeiro num 4-2-3-1 bem ofensivo, com Walysson, Montillo e Fabinho atrás de WP e sendo suportados por Amaral e Charles.

Mas a ofensividade esperada não aconteceu. Isto porque o Figueirense se apresentou no mesmo esquema tático, um 4-2-3-1 muito bem armado por Argel. Em embates de 4-2-3-1, na maioria das vezes é a dupla de volantes é que faz a balança tática se desequilibrar – para o bem ou para o mal. E foi isso o que aconteceu no primeiro tempo no Independência. Os duelos pelo campo eram claros: Léo cuidava do centro-avante Aloísio, com Mateus na sobra; Diego Renan perseguia o extremo esquerdo Júlio César, e Everton tentava parar o extremo direito Caio; na frente, WP brigava com os zagueiros Canuto e Anderson Conceição; Fabinho recuava atrás do lateral esquerdo Guilherme Santos; e Wallyson tentava ficar no encalço do lateral direito Pablo, ex-Cruzeiro.

Amaral x Almir

O principal fator de desequilíbrio, portanto, morava no meio-campo. No embate dos trios Amaral, Charles e Montillo contra Ygor, Túlio e Almir, melhor para os últimos: os volantes do time catarinense revezavam na marcação direita ao argentino, e o outro ficava na sobra. Quando recuperavam a posse, o camisa 10 Almir, quando não levava a melhor nos duelos direitos com Amaral, fazia uma movimentação interessante para os lados, arrastando a marcação do camisa 5 celeste a abrindo espaços para a dupla de volantes, chegar com perigo.

Mas ainda havia outro fator. Como dito, Wallyson, aberto na esquerda, tentava perseguir Pablo, mas só voltava até o meio-campo atrás do lateral. Isso frequentemente deixava Everton sozinho contra ele e Caio. Este último, aliás, teve grande inspiração criativa na primeira etapa, sendo responsável por grandes lançamentos e passes para conclusão dos seus companheiros. O primeiro lance de perigo do time visitante ilustra bem esses aspectos: Caio recebeu a bola na direita e tentou invadir a área driblando, arrastando Everton para dentro da área. Ele foi desarmado e a bola sobrou de novo na direita, onde chegava Pablo, livre de marcação. Foi ele quem cruzou rasteiro para o volante Túlio, elemento surpresa, concluir e Fábio fazer a primeira defesa importante da noite.

Celso Roth tentou corrigir o lado direito invertendo Fabinho e Wallyson de lado. O atacante agora voltava junto com Pablo pela esquerda e suprimiu a vantagem numérica do Figueirense no setor. Guilherme Santos não apoiava tanto e o recuo de Wallyson deixou de ser um problema. Mas a situação no meio-campo continuou ruim: Montillo encaixotado nos volantes e Amaral perdendo o duelo para Almir. O Figueirense dominou as ações nos primeiros trinta minutos e só não abriu o placar por que tinha que vencer o melhor goleiro do Brasil atualmente.

Cruzeiro cercado

Na posse do Cruzeiro, o Figueirense recompunha suas linhas com muita qualidade, num bloco médio-baixo, sem pressionar no alto do campo. Isso gerou números que, normalmente, se relacionam na proporção direta: o Cruzeiro tinha mais posse, mas muito menos finalizações. Sinal de que o time tinha a bola mas não sabia o que fazer com ela, enquanto o time adversário tinha os espaços e era mais objetivo. Mas isso não significou que o Cruzeiro não tenha criado chances. Jogando principalmente na transição em velocidade, o Cruzeiro conseguiu criar alguma coisa, principalmente com Fabinho, num peixinho completando cruzamento de Diego Renan e num chute em assistência de WP por cima da zaga, ambos defendidos por Wilson.

O Figueirense foi o time que mais finalizou (20) na 5ª rodada, mesmo com menos posse de bola (44,54%), muito por causa do primeiro tempo

Guerreiro finca a bandeira

O bom público presente no Independência teve ótima leitura de jogo e protestou contra Amaral ainda no primeiro tempo, pedindo a entrada de Leandro Guerreiro. Celso Roth atendeu e mandou o veterano para a partida no intervalo. Depois de um susto logo no início, quando Aloísio apareceu cara a cara com Fábio — que, pasmem, levou a melhor — Guerreiro tomou conta da entrada da área celeste, fazendo a cobertura das marcações de Charles e Montillo no trio de meio do Figueirense. O efeito imediato foi que Almir deixou de ter tantos espaços e o time visitante já não tinha mais tanta objetividade. Mas Montillo continuava tendo dificuldades contra a boa dupla de volantes do Figueirense, mesmo tentando se movimentar por todo o campo.

Celso Roth parecia ter esperado para ver se somente com Leandro Guerreiro a parte ofensiva também seria solucionada, já que sua entrada liberava ainda mais Charles, que eventualmente poderia ajudar um pouco mais Montillo na criação. Não aconteceu, e o treinador lançou, logo aos 9, Souza na vaga de Wallyson. O Cruzeiro mudou para um 4-2-3-1 diagonal, com Fabinho pela direita mais aberto e mais avançado que Souza do outro lado. Um desenho tático que podeia muito bem ser lido como um 4-3-1-2 losango. Leandro Guerreiro plantou de vez, Charles foi para o lado direito e Souza recuava com Pablo, mas tinha liberdade para criar e avançar. Agora a dupla volância do Figueirense tinha dois alvos — às vezes três — para marcar e não tinha mais a sobra. Resultado: espaços apareceram, e o Cruzeiro tratou de aproveitá-los.

Foram dez minutos de ofensividade intensa, nos quais o Figueirense mal chegou perto de Fábio. Montillo escapou algumas vezes pelos lados, conseguindo cruzar para cabeceio de WP defendido por Wilson, e até sofreu um suposto pênalti em jogada rápida pelo lado direito. WP chegou a ficar cara a cara com o goleiro, driblou, mas perdeu o ângulo do tiro e cruzou para ganhar um escanteio, até receber passe primoroso de Souza, que aproveitou um corte errado do zagueiro de cabeça, driblou seu marcador e achou WP dentro da área. O camisa 9 deu um lençol no goleiro e marcou o primeiro gol cruzeirense em terras belorizontinas após mais de dois anos.

Cinco linhas de marcação

O gol abriu o jogo. O Figueirense avançou suas linhas na busca de um empate, mas esbarrou na agora bem encaixada marcação do Cruzeiro. Com praticamente três homens à frente da área, o Figueirense tentava pelos lados, mas com pouco espaço os cruzamentos não saíam com qualidade. O Cruzeiro ainda promoveria a sua última alteração antes da primeira do time adversário, lançando William Magrão no lugar de Fabinho. Difícil precisar o esquema de jogo, já que o volante foi atuar como um meia aberto pela direita à frente de Diego Renan. Montillo foi ser segundo atacante, e portanto seria algo parecido com um 4-4-1-1, mas com Leandro Guerreiro bem mais recuado que Charles. No entanto, às vezes Montillo recompunha com Charles pelo meio, efetivamente configurando um 4-1-4-1. O mais próximo, portanto, seria dizer que, após as alterações, o Cruzeiro jogou numa espécie de 4-1-3-1-1, armado para o contra-ataque.

À esquerda, o time que marcou o gol da vitória: um 4-2-3-1 diagonal com LG na volância liberando Charles e Souza; à direita, o sistema híbrido 4-1-3-1-1 armado para contra-atacar, com William Magrão jogando quase como meia aberto pela direita

O Figueirense começou a tentar mexer no jogo com Botti no lugar de Almir, que ficou no bolso de Guerreiro. Sangue novo na posição de articulador central, sem desfazer o 4-2-3-1. Mas Leandro Guerreiro continuava a sobressair à frente da área, e com as linhas avançadas, o Cruzeiro assustava muito na transição. As melhores chances continuavam a ser azuis, embora menos frequentes. Argel tentou mais uma vez, desta vez mudando o lado esquerdo, com Luiz Fernando na vaga de Júlio César. Diego Renan deu conta do recado e era ajudado por William Magrão, e o jogo seguiu na mesma, com o Cruzeiro esperando a bola certa para contra-atacar.

A última tentativa do time catarinense foi lançar Jackson na vaga de Pablo, que foi jogar bem avançado no meio-campo pela direita, tentando atacar as costas de Souza. Aloísio caiu mais para a esquerda e Caio ficou mais por dentro, liberando o corredor para o volante que acabara de entrar. E foi dali que nasceu a única jogada de perigo: cruzamento completado para defesa até certo ponto tranquila do capitão camisa 1.

No fim, a bola que o Cruzeiro queria. Após rebatida da área, a bola sobroui para Souza, que acionou Montillo. O argentino conduziu a bola em velocidade, bem a seu estilo, driblou seu marcador e deu com açúcar para Leandro Guerreiro, sozinho, desperdiçar. Seria a coroação do ótimo jogo do volante, que parece ter recuperado seu lugar no time com a atuação sólida, principalmente na parte tática.

Agora é com eles

Felizamente, o gol perdido não fez tanta diferença em termos de pontuação. Cinco jogos, três vitórias e dois empates, e vice-liderança com a melhor defesa do campeonato. Mas é bom atentar que, excetuando a partida contra o Botafogo, foram jogos de um nível menor, em que o Cruzeiro é que tinha a responsabilidade da vitória. O duelo contra o líder Vasco, na próxima rodada, é a prova de fogo para a solidez defensiva de Celso Roth. Mas também será um jogo mais aberto para o ataque azul, pois é dos mandantes a responsabilidade da iniciativa de jogo. Prevejo um time reativo em São Januário,  principalmente com mais espaços para Montillo.

E todos sabemos o que acontece quando o craque tem espaço.

Cruzeiro 1 x 0 Sport – Mineiramente

Pequenos passos. Assim o Cruzeiro tem evoluído no Brasileirão, sem entretanto perder o terreno conquistado. Com muitas dificuldades, principalmente ofensivas, o time celeste conseguiu furar o muro duplo do Sport construído pelo ex-técnico azul Vágner Mancini e venceu a segunda partida seguida.

Formações

O 4-2-3-1 do Cruzeiro com Montillo de volta ao meio-campo e Fabinho e Tinga pelos lados, além de Everton na lateral esquerda

O Cruzeiro veio para o jogo com as alterações previstas: Everton ganhou a vaga de Marcelo Oliveira na lateral esquerda, Fabinho barrou Souza e apareceu pela direita ao lado de Montillo, recuado para o meio-campo, no 4-2-3-1 armado por Celso Roth. O Sport veio com a intenção de bloquear os flancos do adversário e se postou num inesperado 4-1-4-1, com Felipe Azevedo sozinho à frente, os meias Thiaguinho e Marquinhos Gabriel fechando pelos lados e Hamilton entre as duas linhas de quatro, com o papel de marcar Montillo – para variar.

Com a bola

O resultado direto foi que Diego Renan, Amaral, Charles e Everton tinha cada um um adversário à frente, com poucos alvos e nenhum espaço para onde destinar o passe: WP ficou mais uma vez trombando com os zagueiros Bruno Aguiar e Edcarlos; Fabinho brigava com o lateral esquerdo Rivaldo e às vezes ganhava, mas pecava no último passe; Tinga se movimentava mais verticalmente do que lateralmente, e não oferecia amplitude pela esquerda, e Montillo tentava fugir de Hamilton se movimentando por todo o campo, mas perdeu o duelo para o camisa 2 do Sport no primeiro tempo. O Cruzeiro sentiu falta de um volante com qualidade de primeiro passe. Na teoria, este homem é Charles, mas o camisa 7 ainda precisa desenvolver mais este fundamento.

Assim, Leo e Mateus trocavam passes até eventualmente tentarem um lançamento longo na direção dos meias abertos ou de WP, mas que quase sempre resultava na concessão da posse de bola. Mesmo assim, o Cruzeiro chegou a criar algumas boas chances, mas pecava no último passe ou na finalização. As duas melhores aconteceram quando houve movimentação: WP saiu do centro e apareceu na esquerda, onde também estava Montillo. Mesmo com o bloqueio de Hamilton, o argentino, de frente para o gol, lançou uma bola profunda para Wellington, mas a finalização de pé esquerdo não saiu boa. Em outro lance, Fabinho saiu do lado direito para jogar nas costas do volante Toby, posicionado na lateral direita, e recebeu uma bola excelente, cruzando rasteiro para Tinga completar à direita do gol de Magrão.

Defendendo

Quando perdia a bola, o Cruzeiro já tentava pressionar o adversário em seu campo. Isso tem acontecido cada vez mais ao longo das partidas, mas ainda há imperfeições. Ainda assim, quando o Sport conseguia sair da pressão sem dar um chutão, devolvendo a posse, ou um passe mais apressado, o Cruzeiro continuava a pressionar no setor para onde a bola se encaminhava. Não me lembro de ter visto nenhuma oportunidade onde os jogadores pernambucanos desfrutavam de um espaço grande para poder pensar o jogo.

Portanto, o primeiro tempo foi um jogo amarrado, com muitos erros de passe de ambas as equipes – 14,3% de passes errados do Cruzeiro contra impressionantes 20,4% do Sport – mas por razões diferentes. O Cruzeiro errou porque faltou mais movimentação na frente, facilitando a marcação das linhas compactas do Sport. E o Sport porque o Cruzeiro exerceu uma marcação pressão intensa, forçando o erro de passe. Outros números que ilustram isto: 4 finalizações do Cruzeiro contra apenas 2 do Sport, todas erradas; e 10 cruzamentos azuis contra 6 rubro-negros, todos errados, de acordo com números da ESPN Brasil.

Segundo tempo

Os técnicos não mudaram suas peças no intervalo, mas uma mudança pôde ser notada: Fabinho estava jogando do outro lado, pela esquerda, trocado com Tinga. Talvez uma tentativa de Roth de forçar em cima de Toby, que não é da posição. O Cruzeiro continuava tentando pressionar no alto do campo, mas já não o fazia com a mesma eficiência — afinal, nem mesmo as melhores equipes do mundo conseguem pressionar alto durante todo o jogo, pois é uma tarefa que exige muito fisicamente.

Mesmo assim, foi o Sport quem criou a primeira grande chance da etapa final, numa jogada rápida pela direita. Sob forte marcação, Montillo perdeu uma bola que sobrou para Marquinhos Paraná. Mateus estava jogando muito avançado e não conseguiu voltar a tempo no passe para Thiaguinho na direita, forçando Leo a ir na cobertura. Mas antes que o zagueiro chegasse, Thiaguinho conseguiu cruzar para a área, onde havia uma situação de dois contra dois. Com a dupla de zaga longe da área, Diego Renan e Amaral recuaram rapidamente e conseguiram impedir a conclusão de Felipe Azevedo, mas Marquinhos Gabriel pegou a sobra e quase fez, não fosse Diego Renan ter se recuperado a tempo e tirar a bola quase em cima da linha fatal.

O Cruzeiro respondeu logo em seguida, com um chute de WP de fora da área para a defesa de Magrão. Era a primeira finalização certa do Cruzeiro no jogo. A partida seguiu na mesma, com o Cruzeiro tendo dificuldades para entrar nos dois muros do Sport, e o time visitante com dificuldade em trocar passes devido à pressão cruzeirense. Num dos poucos vacilos da zaga azul, Marquinhos Paraná deixou Felipe Azevedo na cara do gol, mas ele tinha de passar por Fábio antes. Não conseguiu.

Substituições

Vendo que o Sport começava a querer sair para o jogo, Celso Roth resolveu empurrar o time adversário de volta lançando Anselmo Ramon na vaga de Tinga. Ele entrou na referência, mandando WP para a esquerda. Agora o Cruzeiro tinha dois atacantes abertos, e como no jogo contra o Botafogo, tinha uma opção pela esquerda, já que Tinga pouco apareceu por ali. O Cruzeiro ganhou volume, mas ainda faltava capricho no último passe. Everton começava a aparecer mais, assim como Diego Renan.

Com isso, o Sport recuou naturalmente com a maior presença dos atacantes azuis, e Vágner Mancini promoveu a entrada de Milton Jr. aberto pela direita na vaga de Thiaguinho. A intenção era puxar contra-ataques em velocidade, mas o plano não deu muito certo pois os rebotes ofensivos eram quase sempre celestes. Logo depois da substituição, Everton recebeu uma excelente bola de Anselmo Ramon, fazendo o pivô, invadiu a área e foi tocado. O árbitro marcou o pênalti que WP converteu, fazendo o resultado ficar justo àquela altura do jogo.

Após as alterações, o Cruzeiro espelhou o esquema do adversário, o 4-3-1-2 losango, e fechou os espaços para garantir a vitória

À frente no placar, o Cruzeiro se contentou em esperar um pouco mais o Sport, que naturalmente se soltou um pouco mais – mas não tanto. Everton, lesionado na hora do pênalti, teve de deixar o campo para a entrada de Marcelo Oliveira, mantendo o esquema. No Sport, Rithely saiu para a entrada de Jheimy. Com isso, Felipe Azevedo recuou para o meio-campo para organizar, deixando Jheimy à frente e tendo Milton Jr. aberto pela direita. Talvez uma tentativa de forçar em Marcelo Oliveira, já que Vágner Mancini conhecia muito bem a característica do jogador e que ele não é lateral de ofício. Felizmente, nosso substituto fez um bom jogo defensivo e ainda se arriscou algumas vezes à frente, com segurança.

O Sport seguiu tentando, mas nada produziu, e Mancini lançou sua última cartada: Reinaldo na vaga de Marquinhos Gabriel pela esquerda. O time se postou num 4-3-1-2 losango bem avançado, com a chegada de Reinaldo por um lado e Paraná do outro. Hamilton seguiu mais preso. Celso Roth então respondeu colocando William Magrão pelo lado direito do meio-campo no lugar de Wellington Paulista, efetivamente espelhando a marcação. Agora, William Magrão marcava Reinaldo, Amaral, centralizado, pegava Felipe Azevedo e Charles vigiava Paraná. O jogo terminou com o Sport tendo pouco volume a mais que o Cruzeiro, mas ineficiente.

Conclusão

Depois de quatro rodadas, é possível afirmar que Celso Roth deu um padrão defensivo interessante ao Cruzeiro. Resta ainda arrumar a parte ofensiva, que claramente sofreu ontem com pouca mobilidade e falta de criatividade dos volantes. Ainda gostaria de ver Tinga mais recuado ao lado de Charles ou de Amaral, lançando Everton na meia-esquerda e Marcelo Oliveira na lateral. Ou então inverter Fabinho de lado e dar uma chance ao garoto Élber pela direita.

Mas o mais importante, neste momento, é o emocional. São 8 pontos em 12 disputados, quinta posição: um bom cenário para a volta a BH, que dará ainda mais moral ao time para a vitória contra o Figueirense.

Sábado que vem este blogueiro estará no Independência para a primeira análise in loco. Vamos colocar em prática todos os estudos feitos até agora. Me desejem sorte!