Cruzeiro 5 x 0 Figueirense – Chuva… de gols

Depois de um primeiro tempo difícil, quando teve que jogar contra o Figueirense e contra a chuva a mesmo tempo, o Cruzeiro reviveu seu velho estilo arrasador por cinco minutos para definir o jogo. Depois, apenas desfilou no gramado molhado do Mineirão, deixando bem claro que é o melhor time do país atualmente.

Sistemas iniciais

O 4-2-3-1 do Cruzeiro teve dificuldades com a chuva e com o 4-3-1-2 losango do Figueirense que lotava o meio-campo e abria os volantes quando a saída era pelos lados

O 4-2-3-1 do Cruzeiro teve dificuldades com a chuva e com o 4-3-1-2 losango do Figueirense que lotava o meio-campo e abria os volantes quando a saída era pelos lados

Marcelo Oliveira escalou o Cruzeiro no 4-2-3-1 costumeiro, com Marquinhos fazendo companhia a Ricardo Goulart e Éverton Ribeiro, na linha de três atrás de Marcelo Moreno. Henrique e Lucas Silva eram os volantes passadores, protegendo a defensa formada por Dedé, de volta ao time, e Léo. Os laterais Ceará e Egídio completaram a linha defensiva do goleiro Fábio.

O Figueirense estreava seu técnico, Argel Fucks, que preferiu mandar a campo uma equipe mais sólida no meio, com um 4-3-1-2 que era losango com a bola e uma linha de três volantes sem a bola. A meta de Tiago Volpi foi defendida por Luan à direita, Nirley e Marquinhos Barbosa no miolo de zaga e Cereceda na esquerda. Guardando a entrada da área, Paulo Roberto dava suporte aos volantes Marco Antônio e Rivaldo, liberando Kléber da marcação mais intensa no centro. Na frente, Ricardo Bueno e Pablo.

 

 

 

Chuva: pior pra quem ataca

Certamente você já ouviu a máxima de que o gramado molhado é ruim, mas é ruim para os dois times e portanto não deve servir como desculpa. Sim, de fato é ruim para os dois. Mas atrapalha mais o time que tem a bola nos pés e busca tenta trocar passes para abrir a defesa do adversário, do o time que tem uma proposta defensiva e reativa, de bolas longas pelo alto. No caso, o gramado atrapalhou mais o Cruzeiro — ou, melhor colocando, facilitou o trabalho de marcação do Figueirense.

Com seu estilo sendo literalmente emperrado pelas poças d’água, o Cruzeiro demorou a se adaptar. Aproveitava as linhas recuadas do Figueirense para testar o gramado, trocando passes na defesa e observar o comportamento da marcação.

O mapa de passes das equipes até os 15 minutos mostra Cruzeiro com a bola, mas recuado em seu campo, e Figueirense abusando de bolas longas

O mapa de passes das equipes até os 15 minutos mostra Cruzeiro (à direita, atacando para baixo) com a bola, mas recuado em seu campo, e Figueirense (à esquerda, atacando para cima) abusando de bolas longas

Os volantes deles

Os volantes do time catarinense guardavam a sua posição no centro, lotando o meio-campo, enquanto a bola estava nos pés de Dedé ou Léo, evitando um passe direto para Lucas ou Henrique. Se isso acontecesse, era logo rechaçado e os volantes devolviam a bola aos zagueiros. Porém, se o Cruzeiro optasse por sair com um dos laterais, o trio fazia o balanço defensivo pra fechar o lateral: o volante mais próximo sobe a pressão e os outros dois fechavam as linha de passe para Lucas e Henrique, deixando o lateral oposto livre.

Mais à frente, a marcação era “padrão”: lateral batia com ponteiro, volante fixo com meia central e atacante contra os zagueiros.

O caminho, portanto, era uma inversão pelo alto, mas esse tipo de bola é difícil e lenta, dando tempo ao time adversário de encaixar a marcação do lado oposto novamente. Assim, se a bola chegava em Ceará, Rivaldo, o volante pela esquerda, subia a marcação, e Marco Antônio fechava pelo centro. Se fosse em Egídio, Marco Antônio o pressionava, e Rivaldo era quem se aproximava do círculo central.

Arriscando

Depois de quinze minutos de adaptação ao gramado, o Cruzeiro subiu ligeiramente seu posicionamento ofensivo e passou a arriscar mais. Porém, o gramado ainda não tinha boas condições e o Cruzeiro errou mais do que a média. Isso gerou contra-ataques perigosos do Figueirense, que tentava jogar na velocidade de seus atacantes.

O jogo se arrastou assim até o final do primeiro tempo, mesmo após o pênalti inexistente sofrido por Ricardo Goulart e convertido por Lucas Silva. Porém, àquela altura o gramado já estava melhorando, pois a chuva havia diminuído e a drenagem fez o serviço. Sinal da mudança que viria após o intervalo.

Dos 15 até o fim da primeira etapa, Cruzeiro se lançou mais à frente, mas errou passes e o Figueirense usou o espaço para os contra-ataques sem usar tantas bolas longas

Dos 15 até o fim da primeira etapa, Cruzeiro se lançou mais à frente, mas errou passes e o Figueirense usou o espaço para os contra-ataques sem usar tantas bolas longas

Cinco minutos brilhantes

No segundo tempo, a saída foi do Figueirense. Mas tão logo Ricardo Bueno tocou na bola, quatro cruzeirenses já invadiram o campo adversário, correndo atrás de quem estivesse com a bola como loucos. É a tal intensidade, palavrinha da moda, que tanto usamos por aqui. Acossados, os jogadores catarinenses erraram o passe e alguns segundos depois, Egídio já cobrava lateral.

Foi essa intensidade que acabou gerando o segundo gol logo no segundo minuto da etapa final. Por pura pressão da marcação, o jogador do Figueirense, em sua própria intermediária, rebateu a bola para trás, que chegou em Moreno. Este deu um passe curto a meia altura para Marquinhos, que pegou de primeira e fez o gol mais bonito da rodada.

 

Depois, outra característica do Cruzeiro de 2013 apareceu: a bola parada. Em falta sofrida por Ceará e cobrada por Éverton Ribeiro, Dedé subiu mais que todos e tirou do alcance de Tiago Volpi. Três a zero, fatura liquidada. Mas o importante é que, diferentemente do que analisam os “comentaristas de melhores momentos” espalhados pelo jornalismo esportivo, não foi o gol de pênalti no primeiro tempo que fez com que o Figueirense saísse e abrisse espaço para o jogo. Não, o Cruzeiro sufocou o adversário e fez dois gols, sendo que o jogo praticamente não passou do meio campo.

Mudanças e efeitos

Só depois dos gols é que deu pra perceber um pouco melhor como o Figueirense havia voltado para o jogo: Kléber agora passava a fechar o lado esquerdo, onde jogou toda sua vida, mas como ponteiro de um 4-4-2. Rivaldo estava mais próximo do centro, junto a Paulo Roberto, e Marco Antônio ficou aberto definitivamente pela direita. Era uma preparação para as mudanças de Argel: Pablo deu seu lugar a Everaldo e Cereceda saiu para a entrada de Felipe. Kléber passou à lateral direita, com Felipe tomando o lugar como ponteiro e Everaldo foi jogar na frente.

Com menos gente no meio e tentando — agora sim — sair mais para o jogo, Marcelo enxergou uma oportunidade de encantar o público. Primeiro trocou Marquinhos por Dagoberto, e depois tirou Moreno e lançou Marlone. Naquele momento, o Cruzeiro tinha Henrique e Lucas como volantes, leves e bons passadores, e Marlone, Ribeiro, Dagoberto e Goulart na frente. Uma formação moderna e que agrada aos olhos: sem volantes destruidores e sem centroavante. Basicamente, 6 jogadores técnicos do meio para frente. Em questão de minutos, os frutos iriam aparecer.

O belíssimo quarto gol

Cruzeiro 5 x 0 Figueirense - Quarto gol

O belíssimo quarto gol cruzeirense em quatro atos (clique para ampliar)

Eduardo Cecconi, um dos gurus em cuja fonte bebo, tem o mantra de que “futebol é a ocupação inteligente dos espaços relevantes”. O quarto gol é, acredito, um belo exemplo disso. Reparem que, quando Marlone percebe que Dagoberto vai roubar a bola, deixa seu posicionamento defensivo (A) e vai até o espaço que percebe haver no meio-campo. Éverton Ribeiro percebe o movimento do companheiro e permanece sem sua posição, sabendo que aquele movimento confundiria a marcação do adversário.

Quando a bola chega em Lucas Silva, Marlone já está posicionado para receber o passe com liberdade. Rivaldo vai atrás dele (B), mas com isso larga Éverton Ribeiro. Mas ele chega atrasado e Marlone devolve imediatamente para Dagoberto, que dá de primeira para Éverton, livre.

Com a bola dominada e com espaço, Éverton conduz até perto da grande área. Rivaldo sei em seu encalço mas não chega (C). Com isso, Marquinhos Barbosa vem fazer a cobertura e Nirley sai da marcação de Goulart para acompanhar Marlone (D), que acompanhava o lance. Éverton percebe o movimento e passa a Goulart por cima, totalmente livre, cabecear fora do alcance de Volpi e marcar um lindo gol coletivo.

Depois, Ceará daria seu lugar a Mayke, por lesão, configurando o Cruzeiro mais ofensivo que se pode haver: dois laterais apoiadores, dois volantes passadores e quatro meias rápidos e técnicos. Não há centroavante clássico. Futebol moderno na veia: todos marcam, todos jogam.

Um time desses merecia um gol, e fez. Quando Mayke puxa o contra-ataque, nada menos do que os quatro meias estão na área para concluir, e dois chegam na bola. Marlone deixa passar, mas Dagoberto não, e ainda conclui no lado oposto do gol.

Sonhando, mas com pés no chão

No fim, um Cruzeiro com quatro meias móveis e técnicos, dois volantes passadores e ainda dois laterais que apoiam bastante: um sonho para quem gosta de futebol ofensivo

No fim, um Cruzeiro com quatro meias móveis e técnicos, dois volantes passadores e ainda dois laterais que apoiam bastante: um sonho para quem gosta de futebol ofensivo

É inegável que a chuva foi o décimo segundo jogador de defesa do Figueirense no primeiro tempo. Normal: para se praticar um futebol de toques rápidos e envolvente, como este Cruzeiro de Marcelo Oliveira, é preciso que as condições do gramado estejam minimamente aceitáveis. No jogo contra o Atlético/PR pelo turno do Brasileiro de 2013 também foi a mesma coisa, não pela chuva, mas porque o gramado estava mal cuidado.

Quando o gramado melhorou sensivelmente, o futebol celeste apareceu e fez a torcida gritar que o time é melhor que a Seleção. Claro, a empolgação de torcedor é totalmente compreensível. Mas é preciso por os pés no chão: esse jogou valeu apenas pela décima segunda rodada. Ainda faltam outros 26 jogos de um campeonato duríssimo.

A formação que terminou o jogo é o sonho de todo torcedor que gosta de ver a busca incessante pelo gol. Com a lesão de Ceará, Mayke deve jogar a próxima partida diante do Botafogo. Vejamos o que Marcelo fará, se vai escalar seus dois laterais apoiadores ante o provável 4-3-1-2 losango de Mancini, ou se reequilibrará o time defensivamente com Samudio no lugar de Egídio, ou ainda com Nilton na vaga de um dos volantes.

Por mim? Seria Mayke e Egídio, com Lucas e Henrique no meio. Um time que me faz sonhar.

Cruzeiro 5 x 3 Criciúma – Sempre há espaço para melhorar

O Cruzeiro voltou a ser o Cruzeiro da sequência de doze rodadas invictas que encantou o Brasil — mas só durante trinta minutos. Depois disso, inventou de diminuir a velocidade do jogo, coisa que não sabe (ainda) fazer, expôs seus problemas defensivos e levou um baita susto ainda na primeira etapa. Mas se ainda não é um time maduro para mudar o estilo durante a partida, teve capacidade mental suficiente para conseguir “desvirar” o placar, se aproximando muito do tri.

Formações táticas

O 4-3-1-2 losango do Criciúma tentou lotar o meio-campo mas deu liberdade aos laterais do 4-2-1-2 celeste e só se defendeu durante meia hora

O 4-3-1-2 losango do Criciúma tentou lotar o meio-campo mas deu liberdade aos laterais do 4-2-1-2 celeste e só se defendeu durante meia hora

O Cruzeiro foi para o jogo no seu 4-2-3-1 usual, mas com mudanças no estilo dos jogadores que o compunham. Do gol, Fábio viu sua linha defensiva ser formada por Ceará à direita, Egídio à esquerda e Dedé e Léo compondo a zaga central. Com Nilton suspenso, Henrique fez o papel do primeiro volante na companhia a Lucas Silva, e Dagoberto foi o escolhido para a vaga de Ricardo Goulart no trio de meias, composto também por Willian, desta vez à direita, e Éverton Ribeiro, “oficializado” como central. Na frente, Borges enfiado entre os zagueiros.

Argel Fucks armou o Criciúma tendo o 4-3-1-2 losango como base, mas altamente adaptável para se defender do ataque celeste. A meta de Gallato foi defendida pelos zagueiros Matheus Ferraz e Fábio Ferreira, que por sua vez eram flanqueados por Sueliton na lateral direita e Marlon na esquerda. Henik foi o volante mais defensivo, com Ricardinho jogando mais à direita e João Vitor mais pela esquerda, mas ainda no meio-campo central, dando suporte a Ivo na ligação. Na frente, Lins se movimentava e Marcel ficava na referência.

Corredores livres

É claro que a volta da intensidade característica do quarteto ofensivo, tanto defendendo como atacando, foi um fator determinante para o início arrasador do Cruzeiro. Porém é preciso também destacar o corredor que os dois laterais tiveram para subir e se aproximar dos ponteiros, fazendo maior número pelos lados do campo. Ricardinho até abandonava o meio-campo para encurtar o espaço em Egídio, mas o camisa 6, sem ter um ponteiro verdadeiro para marcar, ultrapassou seu marcador com o mesmo ímpeto que chamou a atenção de todos no primeiro turno do certame.

Ceará, por outro lado, teve toda a liberdade para apoiar, pois quando recebia a bola, João Vitor só o marcava à distância. O veterano camisa 2 subiu frequentemente ao ataque, recebendo ora passes de trás e avançando até encontrar Marlon, ora inversões de jogada que Lucas Silva produzia tão bem, fazendo o lateral esquerdo do Criciúma sair da formação da defesa para ir à marcação. Foi deste lado que saiu o primeiro gol, num belo passe de Ribeiro para Ceará já avançado até a linha de fundo, que cruzou rasteiro mas encontrou a defesa. No rebote, o próprio Éverton bateu de esquerda — o pé bom — para abrir o placar.

Dagoberto

Outro fator interessante é a característica que Dagoberto dá ao time. Enquanto Goulart é mais aplicado taticamente e tem papel fundamental na movimentação e na construção da jogada, Dagoberto é mais agudo e finalizador, procurando espaços com o drible rápido — um pouco parecido com Willian. O segundo gol aconteceu por causa disso — Dagoberto já estava posicionado junto à linha defensiva do Criciúma, mas bem aberto à esquerda, quando Éverton Ribeiro encontrou Egídio sem marcação. O lateral entrou um pouco pelo centro mas passou a Dagoberto, que imediatamente deu a Éverton, que havia tomado a frente de dois marcadores dentro da área. O passe não foi bom, mas Éverton fez do limão uma limonada: deu um passe escorpião de volta a Dagoberto na entrada da área, que pegou de primeira, se marcação — atraída por Ribeiro — e aumentou.

Defensivamente, porém, Dagoberto não contribui tanto. Isso não era um problema naquele momento do jogo, pois só o Cruzeiro atacava e Sueliton se limitava a compor a linha defensiva, mas quando o Cruzeiro diminuiu o ritmo — talvez pela facilidade que encontrava no campo ofensivo — isso passou a ser um fator de preocupação.

Volância leve

Cruzeiro 5 x 3 Criciúma - Fim do 1º Tempo

No fim do primeiro tempo, o Cruzeiro deu campo ao Criciúma, mas os ponteiros não voltavam com os laterais, e os volantes (principalmente Henrique) com falhas nas coberturas

Mas o maior problema defensivo, neste momento da partida, residia na entrada da área. O primeiro gol do Criciúma — numa cobrança muito bem feita de João Vitor, diga-se — já poderia ser um alerta, pois Henik avança sem ser incomodado no setor, obrigando o zagueiro a subir o bote, errar o tempo e cometer a falta. Lucas Silva tem um bom combate, mas jogava mais avançado, e Henrique simplesmente não estava no mesmo ritmo dos outros jogadores, limitando-se ao cerco sem dar botes mais fortes.

Em que pese o Cruzeiro ter continuado atacando após sofrer o gol, o Criciúma passou a jogar também e encontrou este espaço na entrada da área para criar e conseguir uma virada surpreendente ainda na primeira etapa. Primeiro, Marlon avança pela esquerda mas não é acompanhado por Éverton Ribeiro, que naquele momento era o ponteiro e devia marcá-lo, e a cobertura de Henrique é falha — o camisa 8 deixa um passe de Marlon entrar nas suas costas pela direita. O cruzamento acha Lins, que está longe de Lucas Silva.

Depois, uma inversão de bola da esquerda para a direita acha Sueliton avançando com espaço. Dagoberto tenta voltar para acompanhar mas não consegue, e Egídio está pelo centro da área compactado lateralmente na defesa (que é o comportamento certo). O lateral direito do Criciúma cruza rasteiro de primeira para Ricardinho, na meia-lua, completar de primeira. É possível ver Henrique muito afundado na marcação, quando deveria estar ali para interceptar o passe.

Sueliton fora

O time voltou para o segundo tempo sem alterações, mas não deu tempo de avaliar se havia algo novo na postura do time, pois logo aos 4 Sueliton receberia o segundo amarelo e o Cruzeiro passou a ter vantagem numérica. Marcelo Oliveira esperou Argel reformatar sua equipe com Ezequiel, lateral direito, na vaga de Ivo, optando pelo 4-4-1 (na transmissão foi possível ver o técnico do Criciúma fazendo dois números quatro com as mãos, uma na frente da outra, indicando o sistema que queria) para poder fazer seus movimentos.

O time da virada: com um a mais, Júlio e Éverton foram os meias do inédito 4-3-3 com laterais totalmente livres para apoiar ao mesmo tempo

O time da virada: com um a mais, Júlio e Éverton foram os meias do inédito 4-3-3 com laterais totalmente livres para apoiar ao mesmo tempo

As entradas de Júlio Baptista e Mayke nas vagas de Henrique e Ceará deram ao time um viés ultra ofensivo. Mayke é reconhecidamente mais ofensivo que o veterano camisa 2, e Júlio, um meia-atacante de origem, entrou na vaga de um volante, e com isso o Cruzeiro passou pela primeira vez a jogar num 4-3-3 clássico, com Éverton um pouco mais recuado como meia direita, Júlio na meia-esquerda, Willian e Dagoberto nas pontas e Borges de centroavante. Isso além de Lucas Silva ser um volante com chegada e Egídio ser um lateral ofensivo também — apenas os zagueiros não participariam da construção ofensiva.

Muitos cruzamentos

Este embate de sistemas proporcionou duelos por todo o campo. Marcelo abdicou de pressionar os zagueiros e se limitava a cercar Lucas Silva, enquanto que os laterais celestes batiam com os meias abertos do time catarinense. Os meias batiam com os volantes e os ponteiros com os laterais, deixando apenas Borges segurando os dois zagueiros.

Seguros da cobertura de Lucas e dos zagueiros, os laterais avançaram sem medo. Resultado: foi o jogo com maior número de cruzamentos do Cruzeiro no campeonato. Não demorou para Borges empatar com um passe vindo de Mayke e desviado por Willian, pegando a defesa desprevenida. Gol típico de centroavante: batendo cruzado na primeira oportunidade. Argel só tinha a opção do contra-ataque, e lançou Douglas, mais leve, na vaga de Marcel. Já Marcelo Oliveira tirou Willian, cansado, por Élber, na ponta direita. E foi com ele que veio o gol da tranquilidade, do mesmo lado direito. O cruzamento achou a cabeça de Borges, sozinho, no meio da área.

Com dois laterais bem ofensivos, o Cruzeiro levantou nada menos do que 37 bolas na área (7 certos), o maior número até aqui no campeonato

Com dois laterais bem ofensivos, o Cruzeiro levantou nada menos do que 37 bolas na área (7 certos), o maior número até aqui no campeonato

Em desvantagem, o Criciúma tentou avançar suas linhas, com Lins saindo do meio para fazer um 4-3-2 ao lado de Douglas no ataque, numa última tentativa de achar o empate. Mas isso acabou piorando a situação no meio-campo, e o Cruzeiro desta vez conseguiu trocar passes sem sustos, e até eventualmente conseguir marcar mais um no pênalti incontestável em Dagoberto que ele mesmo cobrou.

Quase campeão, mas ainda verde

Não há como negar que a expulsão mudou a maneira de jogar das equipes na partida, mas dizer que foi o único fator responsável pelo resultado é demais. O Cruzeiro venceu por méritos próprios, tanto dos jogadores quanto de Marcelo Oliveira, que fez as trocas corretas para dar o melhor resultado tático possível.

Mas o susto no fim do primeiro tempo liga um alerta. Por causa dele, este blog se convenceu de que o Cruzeiro de fato ainda não sabe jogar de outra forma que não atacando com intensidade sempre. Este time ainda não é maduro para segurar a partida tendo a bola nos pés e diminuir o ritmo do jogo. Pode ter dado certo em alguns momentos nesta temporada, mas isto ainda é um fator a se evoluir. Não é surpreendente, no entanto, pois é uma equipe em sua primeira temporada e que não teve tempo para treinar variações, ainda que esteja liderando o campeonato com folga.

E, por isso mesmo, o provável título será ainda mais valorizado. Afinal, o Cruzeiro é uma equipe ainda longe de estar perfeita.

Cruzeiro 1 x 0 Figueirense – Carregando o piano

O drible seguido de passe de Souza — servindo para o belo gol de Wellington Paulista — fez com que o meia fosse o mais celebrado pela torcida na volta do Cruzeiro a Belo Horizonte depois de dois anos fora, contra o Figueirense no sábado. Entretanto, a atuação tática mais brilhante foi a de outro jogador: Leandro Guerreiro.

Formação inicial

O 4-2-3-1 com cara de 4-3-3 com dois volantes (4-2-1-3) do início do jogo; Wallyson voltava pouco e teve que trocar de lado com Fabinho, Montillo tentando sair da marcação dupla e Amaral perdendo o duelo com Almir

Eu já estava imaginando como Marcelo Oliveira e Everton iriam se revezar pelo lado esquerdo, já que na primeira rodada foi Everton quem ficou mais à frente, com Marcelo Oliveira na lateral esquerda; e neste jogo parecia que seria o contrário. Parecia, porque Celso Roth surpreendeu a todos e escalou Wallyson na vaga do lesionado Tinga, titular até então. Isso configurou o Cruzeiro num 4-2-3-1 bem ofensivo, com Walysson, Montillo e Fabinho atrás de WP e sendo suportados por Amaral e Charles.

Mas a ofensividade esperada não aconteceu. Isto porque o Figueirense se apresentou no mesmo esquema tático, um 4-2-3-1 muito bem armado por Argel. Em embates de 4-2-3-1, na maioria das vezes é a dupla de volantes é que faz a balança tática se desequilibrar – para o bem ou para o mal. E foi isso o que aconteceu no primeiro tempo no Independência. Os duelos pelo campo eram claros: Léo cuidava do centro-avante Aloísio, com Mateus na sobra; Diego Renan perseguia o extremo esquerdo Júlio César, e Everton tentava parar o extremo direito Caio; na frente, WP brigava com os zagueiros Canuto e Anderson Conceição; Fabinho recuava atrás do lateral esquerdo Guilherme Santos; e Wallyson tentava ficar no encalço do lateral direito Pablo, ex-Cruzeiro.

Amaral x Almir

O principal fator de desequilíbrio, portanto, morava no meio-campo. No embate dos trios Amaral, Charles e Montillo contra Ygor, Túlio e Almir, melhor para os últimos: os volantes do time catarinense revezavam na marcação direita ao argentino, e o outro ficava na sobra. Quando recuperavam a posse, o camisa 10 Almir, quando não levava a melhor nos duelos direitos com Amaral, fazia uma movimentação interessante para os lados, arrastando a marcação do camisa 5 celeste a abrindo espaços para a dupla de volantes, chegar com perigo.

Mas ainda havia outro fator. Como dito, Wallyson, aberto na esquerda, tentava perseguir Pablo, mas só voltava até o meio-campo atrás do lateral. Isso frequentemente deixava Everton sozinho contra ele e Caio. Este último, aliás, teve grande inspiração criativa na primeira etapa, sendo responsável por grandes lançamentos e passes para conclusão dos seus companheiros. O primeiro lance de perigo do time visitante ilustra bem esses aspectos: Caio recebeu a bola na direita e tentou invadir a área driblando, arrastando Everton para dentro da área. Ele foi desarmado e a bola sobrou de novo na direita, onde chegava Pablo, livre de marcação. Foi ele quem cruzou rasteiro para o volante Túlio, elemento surpresa, concluir e Fábio fazer a primeira defesa importante da noite.

Celso Roth tentou corrigir o lado direito invertendo Fabinho e Wallyson de lado. O atacante agora voltava junto com Pablo pela esquerda e suprimiu a vantagem numérica do Figueirense no setor. Guilherme Santos não apoiava tanto e o recuo de Wallyson deixou de ser um problema. Mas a situação no meio-campo continuou ruim: Montillo encaixotado nos volantes e Amaral perdendo o duelo para Almir. O Figueirense dominou as ações nos primeiros trinta minutos e só não abriu o placar por que tinha que vencer o melhor goleiro do Brasil atualmente.

Cruzeiro cercado

Na posse do Cruzeiro, o Figueirense recompunha suas linhas com muita qualidade, num bloco médio-baixo, sem pressionar no alto do campo. Isso gerou números que, normalmente, se relacionam na proporção direta: o Cruzeiro tinha mais posse, mas muito menos finalizações. Sinal de que o time tinha a bola mas não sabia o que fazer com ela, enquanto o time adversário tinha os espaços e era mais objetivo. Mas isso não significou que o Cruzeiro não tenha criado chances. Jogando principalmente na transição em velocidade, o Cruzeiro conseguiu criar alguma coisa, principalmente com Fabinho, num peixinho completando cruzamento de Diego Renan e num chute em assistência de WP por cima da zaga, ambos defendidos por Wilson.

O Figueirense foi o time que mais finalizou (20) na 5ª rodada, mesmo com menos posse de bola (44,54%), muito por causa do primeiro tempo

Guerreiro finca a bandeira

O bom público presente no Independência teve ótima leitura de jogo e protestou contra Amaral ainda no primeiro tempo, pedindo a entrada de Leandro Guerreiro. Celso Roth atendeu e mandou o veterano para a partida no intervalo. Depois de um susto logo no início, quando Aloísio apareceu cara a cara com Fábio — que, pasmem, levou a melhor — Guerreiro tomou conta da entrada da área celeste, fazendo a cobertura das marcações de Charles e Montillo no trio de meio do Figueirense. O efeito imediato foi que Almir deixou de ter tantos espaços e o time visitante já não tinha mais tanta objetividade. Mas Montillo continuava tendo dificuldades contra a boa dupla de volantes do Figueirense, mesmo tentando se movimentar por todo o campo.

Celso Roth parecia ter esperado para ver se somente com Leandro Guerreiro a parte ofensiva também seria solucionada, já que sua entrada liberava ainda mais Charles, que eventualmente poderia ajudar um pouco mais Montillo na criação. Não aconteceu, e o treinador lançou, logo aos 9, Souza na vaga de Wallyson. O Cruzeiro mudou para um 4-2-3-1 diagonal, com Fabinho pela direita mais aberto e mais avançado que Souza do outro lado. Um desenho tático que podeia muito bem ser lido como um 4-3-1-2 losango. Leandro Guerreiro plantou de vez, Charles foi para o lado direito e Souza recuava com Pablo, mas tinha liberdade para criar e avançar. Agora a dupla volância do Figueirense tinha dois alvos — às vezes três — para marcar e não tinha mais a sobra. Resultado: espaços apareceram, e o Cruzeiro tratou de aproveitá-los.

Foram dez minutos de ofensividade intensa, nos quais o Figueirense mal chegou perto de Fábio. Montillo escapou algumas vezes pelos lados, conseguindo cruzar para cabeceio de WP defendido por Wilson, e até sofreu um suposto pênalti em jogada rápida pelo lado direito. WP chegou a ficar cara a cara com o goleiro, driblou, mas perdeu o ângulo do tiro e cruzou para ganhar um escanteio, até receber passe primoroso de Souza, que aproveitou um corte errado do zagueiro de cabeça, driblou seu marcador e achou WP dentro da área. O camisa 9 deu um lençol no goleiro e marcou o primeiro gol cruzeirense em terras belorizontinas após mais de dois anos.

Cinco linhas de marcação

O gol abriu o jogo. O Figueirense avançou suas linhas na busca de um empate, mas esbarrou na agora bem encaixada marcação do Cruzeiro. Com praticamente três homens à frente da área, o Figueirense tentava pelos lados, mas com pouco espaço os cruzamentos não saíam com qualidade. O Cruzeiro ainda promoveria a sua última alteração antes da primeira do time adversário, lançando William Magrão no lugar de Fabinho. Difícil precisar o esquema de jogo, já que o volante foi atuar como um meia aberto pela direita à frente de Diego Renan. Montillo foi ser segundo atacante, e portanto seria algo parecido com um 4-4-1-1, mas com Leandro Guerreiro bem mais recuado que Charles. No entanto, às vezes Montillo recompunha com Charles pelo meio, efetivamente configurando um 4-1-4-1. O mais próximo, portanto, seria dizer que, após as alterações, o Cruzeiro jogou numa espécie de 4-1-3-1-1, armado para o contra-ataque.

À esquerda, o time que marcou o gol da vitória: um 4-2-3-1 diagonal com LG na volância liberando Charles e Souza; à direita, o sistema híbrido 4-1-3-1-1 armado para contra-atacar, com William Magrão jogando quase como meia aberto pela direita

O Figueirense começou a tentar mexer no jogo com Botti no lugar de Almir, que ficou no bolso de Guerreiro. Sangue novo na posição de articulador central, sem desfazer o 4-2-3-1. Mas Leandro Guerreiro continuava a sobressair à frente da área, e com as linhas avançadas, o Cruzeiro assustava muito na transição. As melhores chances continuavam a ser azuis, embora menos frequentes. Argel tentou mais uma vez, desta vez mudando o lado esquerdo, com Luiz Fernando na vaga de Júlio César. Diego Renan deu conta do recado e era ajudado por William Magrão, e o jogo seguiu na mesma, com o Cruzeiro esperando a bola certa para contra-atacar.

A última tentativa do time catarinense foi lançar Jackson na vaga de Pablo, que foi jogar bem avançado no meio-campo pela direita, tentando atacar as costas de Souza. Aloísio caiu mais para a esquerda e Caio ficou mais por dentro, liberando o corredor para o volante que acabara de entrar. E foi dali que nasceu a única jogada de perigo: cruzamento completado para defesa até certo ponto tranquila do capitão camisa 1.

No fim, a bola que o Cruzeiro queria. Após rebatida da área, a bola sobroui para Souza, que acionou Montillo. O argentino conduziu a bola em velocidade, bem a seu estilo, driblou seu marcador e deu com açúcar para Leandro Guerreiro, sozinho, desperdiçar. Seria a coroação do ótimo jogo do volante, que parece ter recuperado seu lugar no time com a atuação sólida, principalmente na parte tática.

Agora é com eles

Felizamente, o gol perdido não fez tanta diferença em termos de pontuação. Cinco jogos, três vitórias e dois empates, e vice-liderança com a melhor defesa do campeonato. Mas é bom atentar que, excetuando a partida contra o Botafogo, foram jogos de um nível menor, em que o Cruzeiro é que tinha a responsabilidade da vitória. O duelo contra o líder Vasco, na próxima rodada, é a prova de fogo para a solidez defensiva de Celso Roth. Mas também será um jogo mais aberto para o ataque azul, pois é dos mandantes a responsabilidade da iniciativa de jogo. Prevejo um time reativo em São Januário,  principalmente com mais espaços para Montillo.

E todos sabemos o que acontece quando o craque tem espaço.