Cruzeiro 1 x 1 Fluminense – Fail

Jogando de igual para igual contra um elenco superior, o Cruzeiro mostrou evolução tática mas não conseguiu segurar a vitória contra o Fluminense no Independência na noite de quarta. Uma falha de cada defesa — mais algumas da arbitragem — sacramentaram o primeiro empate com gols do Cruzeiro na competição.

O onze inicial do Cruzeiro num 4-3-1-2 losango que variava para um 4-2-3-1 com o avanço de Everton e a cobertura de Leandro Guerreiro na esquerda na caça à Thiago Neves

Oficialmente, o Cruzeiro entrou em campo num 4-3-1-2 losango, a mesma formação da vitória contra o Bahia, mas com uma modificação no meio. Debaixo das traves, Fábio teve Ceará pela destra, Léo, Thiago Carvalho centralizados e Everton — escalado ao invés de Diego Renan no lugar de Marcelo Oliveira — na canhota de sua defesa. A entrada da área era protegida por Leandro Guerreiro, que tinha Charles pela direita e Lucas Silva pela esquerda — uma inversão em relação ao jogo em Pituaçu, provavelmente para dar mais segurança ao lado esquerdo da defesa. No topo do losango, Montillo pensava para Fabinho, mais aberto pela direita, e Wellington Paulista na referência.

Vendo o diagrama, é possível pensar que o lado esquerdo do ataque ficaria abandonado, fazendo as ações ofensivas ficarem previsíveis e facilitando a marcação adversária. A entrada de Everton ao invés de Diego Renan, porém, explica: Leandro Guerreiro perseguia Thiago Neves, que caía constantemente pela direita do ataque. Com isso, Guerreiro fechava a defesa pela esquerda, “empurrando” Everton à frente para fazer a linha de 3 com Montillo por dentro e Fabinho à direita, atrás de WP, e Lucas Silva e Charles faziam uma dupla de volantes com bom passe. Estava configurado um 4-2-3-1.

Abel Braga, para surpresa deste blogueiro, armou o Fluminense num estreito 4-2-2-2. O goleiro Diego Cavalieri viu Gum e Leandro Euzébio à sua frente, flanqueados por Wallace à direita e Carlinhos do lado oposto. Edinho e Jean protegiam a defesa e suportavam a dupla criativa Thiago Neves e Wagner (aquele mesmo). Na frente, Fred era a referência e tinha Samuel caindo pelos lados. Quando tinha a bola, Thiago Neves abria pela direita, deixando Wagner pensar mais o jogo pelo outro lado, fazendo um híbrido de 4-2-1-3 e 4-3-3 com triângulo alto no meio-campo, com o avanço de um dos volantes.

O Cruzeiro começou numa intensidade incrível já desde os primeiros minutos. Logo aos três, Montillo carregou a bola em um contra-ataque velocíssimo, atraindo a marcação, e depois passando a Fabinho, que concluiu assim que entrou na área. A bola passou por Cavalieri, beijou sua trave esquerda e a zaga do Fluminense afastou para a lateral. Na cobrança, Ceará mandou direto para a área, e a zaga do Fluminense ficou olhando WP dominar meio com a cabeça meio com a mão, e completar pro gol. Os jogadores do Fluminense foram reclamar com o assistente de fundo, mas o árbitro confirmou o gol, e mesmo se WP de fato tiver dominado com a mão, isso não justifica a falha da zaga carioca no lance, que deixou um lateral ser cobrado diretamente para um atacante dentro da pequena área — ainda que o gol não acontecesse.

A intensidade continuou após o gol. O Cruzeiro atacava por ambos os lados e dificultava muito a marcação adversária, e algumas chances foram criadas, com Montillo saindo de dois adversários e concluindo mal, e Fabinho chutando para fora ao ficar de frente para Cavalieri dentro da pequena área, tendo Everton e WP como alvos para passar a bola.

A coisa estava tão feia para o Fluminense, que em um lance de atendimento médico, consegui ver da arquibancada atrás do gol alguns jogadores se reunindo próxmo ao círculo central, discutindo e apontando com a mão para algumas regiões do campo. Estavam certamente tentando entender o que havia de diferente e o que precisava ser corrigido. Deve ter funcionado, pois a partir da metade do primeiro tempo, a intensidade cruzeirense foi diminuindo — nenhum time no mundo conseguiria manter ritmo tão forte durante os noventa minutos — e o jogo ficou mais equilibrado. O Cruzeiro escolheu uma estratégia de partir em contra-ataques velozes ou usar bolas longas, como no lance de pênalti não marcado de Wallace sobre Everton, o que poderia ter ampliado a vantagem e dar outra cara ao jogo. O Fluminense passou a ter mais volume e foi se aproximando da área de Fábio aos poucos, e começava a criar chances. Fred, por duas vezes, foi parado por Fábio, mas em uma jogada ensaiada não conseguiu pará-lo pela terceira vez no finzinho da primeira etapa: bola parada, cobrança de falta para a direita da área onde Thiago Carvalho marcava Gum. O zagueiro carioca cabeceou para dentro da pequena área, onde estava Fred, que completou para o gol praticamente em cima da linha. Quem marcava o jogador era Ceará, e Fábio não saiu do gol. Falha geral da defesa celeste.

Os times voltaram os mesmos do intervalo, mas pareciam totalmente diferentes. Parecia que nenhuma das duas equipes queria se arriscar demais para não dar campo para o adversário. O Cruzeiro levantava muitas bolas na área, mas na maioria das vezes elas eram seguras por Cavalieri ou iam para fora. Já o Fluminense pouco ameaçava, e Abel Braga resolveu mexer duplamente: trocou Carlinhos por Tiago Carleto, sem alteração na formação, e um atacante por outro, o lento Samuel por um Matheus Carvalho um pouco mais móvel. Mas somente cinco minutos se passaram até que Matheus Carvalho se desentendesse com Charles dentro da área cruzeirense e o juiz mandasse os dois pra fora.

Uma possível formação do Cruzeiro após a dupla expulsão: sem atacante de referência e Wallyson e Fabinho fechando os flancos, para chamar o Fluminense e usar os contra-ataques. Mas Celso preferiu manter WP em campo

Sem Charles, Guerreiro voltou ao meio-campo, e Everton recuou para a lateral esquerda. No Fluminense, nenhuma alteração. O que significava ambos os times no 4-2-2-1. Celso Roth demorou a mexer no time, aos 35, e ainda assim trocando um velocista por outro, Fabinho por Wallyson. Wallyson era sim a opção correta, mas o jogador a sair era WP, com dois jogadores velozes combinando com Montillo para tentar a velocidade em um campo com muito espaço. Talvez o comandante celeste tenha ficado receoso de perder a referência na área, mas era exatamente isso que faria nos ganhar o meio-campo com um homem a mais numa espécie de 4-2-3-0, causando sobra redundante na defesa adversária.

Rafael Sóbis entraria no lugar de Wagner para configurar de vez o 4-2-3 suicida do Fluminense. A ideia era reter a posse de bola, mas os volantes do Cruzeiro conseguiam fazer isso com mais qualidade e o Cruzeiro acabou avançando mais e mais, mas sem sucesso no último passe. Ceará saiu para Diego Renan, por cansaço, sem configurar alterações táticas, e só bem no fim Souza entrou no lugar de Montillo, também cansado. Nem deu muito tempo do meia tocar na bola e o juiz já havia apitado o fim do jogo.

O primeiro empate com gols poderia vir de duas formas: com o Cruzeiro saindo atrás no placar e empatando ou vice-versa. Infelizmente foi do segundo modo, quebrando a escrita de sempre vencer quando fazia o primeiro gol. Poderíamos considerar isso um mau sinal, em uma primeira análise, mas a verdade é que o Fluminense tem um dos elencos mais qualificados do campeonato, o time joga junto há bem mais tempo e por isso mesmo está bem mais maduro. O Cruzeiro jogou de igual para igual e até melhor do que os cariocas em determinados momentos do jogo, portanto há mais coisas positivas a se destacar do que negativas nesta partida.

Mais uma vez, Everton demonstrou que pode ser um bom ponteiro esquerdo, desde que esteja devidamente protegido em sua defesa. Talvez um bom teste seria escalá-lo do lado direito, com Montillo de ponteiro esquerdo e tendo Souza ou Tinga por dentro no 4-2-3-1. A dupla Charles e Lucas Silva também foi muito bem, e pode ser útil quando o time precisar sair para o abafa tendo dois volantes passadores no meio. Lucas Silva, em particular, fez sempre jogos consistentes nas três oportunidades que teve, contra Portuguesa, Bahia e Fluminense.

A nota negativa desta partida fica por conta da demora de Roth em mudar o time após as expulsões. É claro que ele não tem o elenco que gostaria, com uma miríade de opções no banco, mas os jogadores que lá estavam poderiam sim dar uma outra cara ao jogo naquele momento. Além disso, quando fez as substituições, fez trocas conservadoras. Alguns torcedores chamaram o treinador de “burro” atrás de mim na arquibancada naquele momento.

Contra o Coritiba, que é o time que mais joga pela direita do campeonato, o time terá de ter um lado esquerdo forte defensivamente. Charles, Léo e Everton estão suspensos, com Lucas Silva e Rafael Donato entrando nos lugares dos dois primeiros, mas com a dúvida na lateral esquerda: Marcelo Oliveira ou Diego Renan? O primeiro tem mais poder de marcação que o segundo, mas sai bem menos para o jogo, e o segundo é lateral de ofício, apesar de não estar em boa fase. Para mim, Marcelo é a melhor opção em termos táticos.

Seria excelente voltarmos com a vitória de Curitiba para termos moral no clássico. E num clássico, confiança é fundamental.

Bahia 0 x 1 Cruzeiro – Sofrer sem sofrer

Mesmo sem jogar bem ofensivamente e correndo riscos desnecessários, sair à frente no placar deu a tranquilidade que o Cruzeiro precisava para fazer o frágil ataque do Bahia passar em branco, no último sábado em Pituaçu.

O 4-3-1-2 losango cruzeirense do primeiro tempo, com Ceará bem mais solto que Marcelo Oliveira e sendo coberto por Lucas Silva, que sobrou no meio-campo e também chegava ao ataque com qualidade

Celso Roth fez mudanças em cinco posições e escalou o Cruzeiro num 4-3-1-2 losango “a la” Vagner Mancini. O gol de Fábio foi defendido por Ceará na direita, Marcelo Oliveira na esquerda e Léo e Thiago Carvalho no miolo. À frente destes, Leandro Guerreiro foi o vértice mais baixo do losango, que ainda tinha Lucas Silva pela direita e Charles pela esquerda. No topo, Montilo ligava para Borges, mais centralizado, e Wellington Paulista, mais pelos lados.

O Bahia foi escalado por Caio Júnior em seu esquema preferido, o 4-2-3-1, mas que tinha uma característica diagonal. O goleiro Marcelo Lomba teve os volantes Diones e Hélder nas laterais direita e esquerda respectivamente, com Danny Morais e Titi de zagueiros centrais. Fabinho e Fahel suportavam na volância Mancini, articulador central, que tinha Zé Roberto, um pouco mais recuado e aberto pela direita, Gabriel mais à frente do lado oposto e Rafael no comando do ataque.

Os dois flancos cruzeirenses tinha comportamentos diferentes. Do lado esquerdo, Marcelo Oliveira ficava naturalmente mais preso. Com isso, Charles não precisava cobrir as investidas do camisa 6 e continuou exercendo sua função de marcador no meio campo, pegando principalmente o volante adversário Fabinho, que era quem se arriscava mais — Fahel ficava mais plantado, por vezes recebendo a marcação de Montillo.

Mas o lado mais forte do Cruzeiro era o direito. Tudo porque, como Guerreiro perseguia Mancini, Lucas Silva sobrava no meio-campo. Assim, ora o garoto cobria os avanços de Ceará pela direita, marcando o meia-atacante Gabriel, ora tinha liberdade para sair, fazer o primeiro passe e até se juntar ao ataque. Tanto que em um determinado lance, mandou um petardo de fora da área que passou rente à trave direita de Lomba. Exerceu a função de meio-campista pela direita com qualidade, fazendo uma excelente partida.

E foi pela direita que nasceu o gol, em avanço de Ceará. Marcado de longe por Hélder, Ceará encaixou um cruzamento para os dois alvos dentro da área. Os zagueiros até conseguiram rebater, mas a bola sobrou para Montillo, dentro da área e com espaço. Ajeitou e finalizou primorosamente, fora do alcance dos pés dos zagueiros e da mão do goleiro adversário.

Sair na frente, como tem sempre acontecido nas partidas do Cruzeiro, acalmou os ânimos. Com um homem a mais no meio-campo, o Cruzeiro se dava ao luxo de rodar a bola com paciência, e conseguia chegar até com certa facilidade perto da área baiana. Porém, como aconteceu na partida contra a Ponte Preta, o time só atacava por um lado e ficava previsível na marcação, facilitando o trabalho dos defensores da casa. A rigor, a única boa chance do Cruzeiro além do gol foi uma bola roubada por Montillo, fazendo pressão alta no zagueiro do Bahia. Roubada a bola, o argentino esperou o posicionamento de Borges, dando um passe primoroso, fora do alcance de Lomba. Borges mandou pra fora o que seria o gol da tranquilidade absoluta.

Já o Bahia não ameaçou a meta cruzeirense nenhuma vez com real perigo no primeiro tempo, muito por conta da boa marcação que o Cruzeiro exercia nos articuladores Zé Roberto, Mancini e Gabriel. Rafael praticamente não tocaria na bola se não recuasse algumas vezes para participar do jogo no meio-campo. Com a linha de três bem marcada, quem tinha de sair para o jogo era Fabinho, o que abria ainda mais o meio-campo com quatro jogadores do Cruzeiro.

Além disso, estranhamente o Bahia não saía pelo lado direito com Diones, preferindo sair pela esquerda com Hélder. Ambos estavam livres, mas quando Hélder era acionado, Ceará e Lucas Silva alternavam na marcação, e pelo lado oposto Diones tinha campo livre, já que Charles estava mais para dentro do campo e Marcelo Oliveira estava mais preso na defesa. Isso também facilitou a marcação, e o primeiro tempo terminou com o Cruzeiro controlando a posse e o Bahia ameaçando pouco.

Os dois times voltaram modificados do vestiário. Roth tirou Borges e lançou Anselmo Ramon. A intenção era chutar a bola em direção ao pivô, para que ele segurasse a bola e esperasse a chegada dos companheiros. Já Caio Júnior colocou Lulinha na vaga de Fabinho. Ele foi jogar do lado esquerdo, Gabriel inverteu para a direita, recuando Zé Roberto para pensar o jogo ao lado de Mancini. O time se transformou num 4-3-3 brasileiro, ou 4-1-2-3.

A segunda etapa começou, entretanto, com o Cruzeiro postado num 3-4-1-2, com Guerreiro afundado entre os zagueiros. Talvez Celso Roth tivesse pensado que Lulinha seria mais um atacante ao lado de Rafael, e portanto fez a sobra sem prender os laterais, que continuariam marcando os jogadores abertos. Assim, os dois times passaram e ter trios no centro do campo, desfazendo a vantagem numérica cruzeirense no setor que havia no primeiro tempo. A consequência foi um pequeno sufoco que o Bahia aplicou nos minutos iniciais, ma sem finalizações perigosas e com muitas bolas na área, todas rebatidas pela zaga.

Aparentemente o próprio Leandro Guerreiro deve ter percebido que estava fazendo uma sobra redundante tendo apenas um jogador dentro da área, e avançou novamente para o meio-campo, recompondo o 4-3-1-2 losango inicial. A pressão baiana arrefeceu e o Cruzeiro começou a controlar novamente a posse no meio-campo, sempre tendo linhas de passe para sair tocando com tranquilidade.

Aos 20, trocas de laterais direitos nas duas equipes, mantendo a formação de ambas. Ceará deu lugar a Diego Renan, por contusão. No Bahia, Diones, volante improvisado, saiu para a entrada de Gil Bahia, revelação da base do Cruzeiro. O garoto, muito mais ofensivo que Diones, entrou para equilibrar os dois lados, e acabou fazendo dois contra um em cima de Marcelo Oliveira, junto com Gabriel. WP teve que começar a recuar pelo lado direito para ajudar Marcelo, e com os três volante do Cruzeiro postados na frente da área, o Cruzeiro ficou postado num estranho 4-4-1-1, meio torto, com um buraco do lado esquerdo, eventualmente preenchido por Montillo fazendo um 4-5-1 em linha pouco usual.

O Bahia avançava suas linhas cada vez mais, empurrando o Cruzeiro para dentro de sua própria área. Com a frente da área bem protegida, o Cruzeiro forçava o jogo do Bahia pelos lados, e o atacante adversário do lado oposto entrava na área para ser alvo dos inúmeros cruzamentos tentados. De tanto insistir, alguns foram certos, mas para sorte do Cruzeiro, nenhuma finalização foi muito perigosa, e Fábio teve pouco trabalho.

O estranho híbrido de 4-4-1-1 e 5-3-1-1 super defensivo do final da partida, tendo WP quase como volante e Anselmo Ramon como alvo das rebatidas para segurar a bola e esperar os companheiros

A última cartada de Caio Júnior foi sacar seu atacante Rafael e lançar o estreante Caio em seu lugar. O meia jogou um pouco mais recuado, os atacantes abertos entraram um pouco mais no campo e o Bahia ficou com cara de 4-1-3-2, sem centro-avante. O treinador baiano queria tentar o gol pelo chão, mas a alteração não deu muito certo e o Bahia continuava levantando bolas na área. A zaga do Cruzeiro começou a ganhar as bolas, e a entrada de Souza no lugar de um cansado Montillo, quase como um lateral esquerdo, mandando Marcelo Oliveira mais para dentro do campo e dando uma cara de 5-3-1-1 ao time, fez com que o ímpeto baiano fosse diminuindo e matando o jogo aos poucos. A bola foi ficando pelo meio-campo e a vitória veio.

Uma vitória, aliás, que veio muito mais pela qualidade técnica de Montillo na finalização do que no posicionamento tático. É verdade que com um homem a mais no meio-campo o Cruzeiro teve mais controle do setor, mas não soube aproveitar muito isto. Além disso, continuou a previsibilidade do ataque, insistindo praticamente somente pela direita ao invés de tentar virar o lado da jogada e surpreender o adversário. Isso precisa ser corrigido rapidamente.

Particularmente, não gosto dessa formação em losango. É uma boa formação quando se tem laterais ofensivos, que apóiam com qualidade, mas nossos laterais, com uma reticente ressalva feita a Ceará, não tem essa qualidade e acabam ficando muitos expostos. Se medidas forem tomadas para ajudá-los, como por exemplo, mandar os lados do losango na cobertura, abrimos o meio-campo e provavelmente perderemos a batalha pela posse de bola. Eu ainda prefiro o 4-2-3-1 com Montillo de ponteiro esquerdo.

Mas nem tudo são espinhos. Mais uma vez o garoto Lucas Silva provou que pode sim ser titular neste time, é uma grata surpresa para Celso Roth. Provavelmente será mantido. Outra virtude a se ressaltar foi que o passe errado na transição — um dos maiores defeitos da equipe atual — não apareceu na partida, o que foi consequência direta da calma do time. Esta, por sua vez, foi causada pelo fato de o time já estar à frente no placar. É um efeito cascata, que evidencia o quanto o fator psicológico vem influenciando na atuação da equipe no campeonato.

O próximo jogo será em casa contra o vice-líder Fluminense. Será o primeiro depois do episódio da torcida versus Charles na partida contra a Ponte Preta. É preciso que a torcida jogue junto, para não desestabilizar ainda mais o emocional do time.

Outra coisa importante será a formação: o Fluminense joga num conhecidíssimo 4-2-3-1, com Fred sendo suportado por três entre Deco, Thiago Neves, Wagner (aquele mesmo), Rafael Sobis e Wellington Nem. Um meio-campo ofensivo de dar inveja. Deco e Nem devem estar fora, portanto o quarteto ofensivo deve ser Sobis, Thiago Neves, Wagner e Fred. Não sou da opinião de que o losango deva ser mantido, mas a julgar pela sequência de trabalho de Celso Roth, isso deverá acontecer, e portanto podemos esperar um Cruzeiro mais recuado esperando o Fluminense em seu campo para partir em velocidade nos contra-ataques, mesmo em casa.

Sair para o jogo com essas formações em campo será arriscar demais, e o que importa atualmente são os três pontos, mesmo que seja com um futebol desagradável aos olhares brasileiros.

Internacional 1 x 2 Cruzeiro – Celso Roth e os olímpicos

Um jogo equilibrado entre um time em formação e um time mais acostumado a jogar junto. Assim podemos definir o confronto entre Internacional e Cruzeiro no sábado, pela oitava rodada do Brasileirão 2012 em Porto Alegre. Erros táticos coletivos – causados por méritos táticos dos jogadores adversários – aliados à excelência técnica dos jogadores da Seleção Olímpica causaram o segundo revés seguido do Cruzeiro no certame.

O 4-2-3-1 diagonal de Celso Roth, com Tinga centralizando da mesma forma que no jogo contra o São Paulo, e William Magrão cobrindo; o lado direito ficou despovoado

Com Charles contundido e Wellington Paulista suspenso, Celso Roth reeditou o 4-2-3-1 diagonal sem lado direito do último jogo, mandando William Magrão e Anselmo Ramon em seus lugares. Mateus voltou ao time após suspensão no lugar de Rafael Donato. Já o Internacional armado por Dorival Júnior era o costumeiro 4-2-3-1, contando com um quarteto ofensivo de dar inveja a qualquer clube brasileiro: Oscar pela direita, D’Alessandro centralizado e Dagoberto na esquerda atrás de Leandro Damião.

O jogo começou com muitos passes errados de lado a lado. O Inter marcava em bloco médio e deixava os zagueiros do Cruzeiro jogarem, mas daí pra frente fazia pressão intensa na marcação. Porém, logo aos 7 minutos, o Inter abriu o placar em uma movimentação inteligentíssima de Dagoberto. O meia pela esquerda duelava com Léo, novamente jogado pela lateral direita. Ele arrastou seu marcador para dentro do campo, tocando uma bola de primeira para D’Alessandro servir, também de primeira, Oscar, que entrava justamente pelo lado direito onde deveria estar Léo. O meia da Seleção concluiu antes da marcação chegar e conseguiu achar um buraco entre Fábio e a trave.

(i) Dagoberto atrai Léo para o meio-campo, toca para D’Alessandro, (ii) que lança Oscar no espaço aberto por Dagoberto

Assim como no jogo contra o São Paulo, o gol logo no início da partida obrigou o Cruzeiro a correr atrás e sair para criar. Bem armado defensivamente, o Inter fechava seus flancos com até 3 jogadores, e dificultava as ações ofensivas celestes. O próprio Cruzeiro facilitava, já que não variava muito suas jogadas, forçando mais pelo lado esquerdo. Tinga derivava para o meio-campo e o Cruzeiro teve pouca profundidade pela direita. Teve até mais posse de bola, mas só ameaçou de verdade em conclusão de fora da área de William Magrão que explodiu no travessão.

Defensivamente, o Cruzeiro passava por dificuldades quando o Internacional imprimia velocidade. Victorino em particular, porque não é um zagueiro rápido, tem mais característica de ser zagueiro da cobertura. Mas Damião jogava em cima do camisa 4 deixando Mateus na sobra. Além disso, o time da casa já está muito mais acostumado a jogar com três meias ofensivos, e as premissas básicas desse esquema são inversões de posicionamento e movimentação constante, coisa que o Internacional fez muito bem, confundindo a marcação azul.

Para ilustrar isto, justamente quando o Cruzeiro parecia equilibrar as ações, Dagoberto aprontou mais uma vez. Desta vez aparecendo pelo meio, o camisa 20 do Internacional recebeu um passe de ligação direta que Damião conseguiu ganhar, girou e conseguiu enfiar uma bola pela direita, entre Victorino e Léo, devolvendo para o atacante da Seleção ganhar do uruguaio na corrida e chutar cruzado para aumentar. Dagoberto ainda teria a chance do terceiro, quando recuperou bola perdida e no primeiro toque driblou Léo, tocando cruzado. A bola caprichosamente foi para fora.

Na volta do intervalo, Dagoberto foi entrevistado e disse que o primeiro tempo foi uma surpresa, pois eles achavam que o Cruzeiro iria jogar contra-atacando e o Inter é que seria propositivo, mas na verdade foi o contrário. Um bom resumo. O time da casa aproveitou as poucas chances que teve com muita qualidade técnica e, principalmente, tática.

Celso Roth sacou Victorino, talvez temendo que o uruguaio perdesse mais duelos para Damião. Léo voltou ao miolo de zaga e William Magrão foi fazer a lateral direita, com Wallyson entrando no jogo na ponta direita. Com isso, Tinga recuou para o meio de vez. O sistema se tornava um 4-2-1-3, já que Fabinho e Wallyson voltavam pouco pelas alas: a ideia era pressionar o Inter em seu campo para conseguir um gol cedo e partir para o empate.

Mas foi o Internacional quem segurou mais a bola. Sob marcação intensa do time celeste, a equipe mandante tocava a bola em sua intermediária mas não conseguia chegar além disso. Também uma clara estratégia de diminuir o ritmo intenso que o Cruzeiro tentava impor na partida. Quando recuperava a bola, o Cruzeiro partia para tentar resolver. Logo aos 4 minutos, em boa jogada de Wallyson — desta vez pelo lado esquerdo — com Anselmo Ramon — que mais uma vez fez um bom pivô no comando do ataque — Everton apareceu debaixo das traves, na cara de Muriel para concluir… por cima.

A postura defensiva do Internacional continuava da mesma forma que no primeiro tempo: bem posicionados, os jogadores bloqueavam os flancos com muitos jogadores e dificultavam o jogo azul. O Cruzeiro passou a ter mais posse de bola, e o Internacional se contentava em repelir as investidas visitantes. Roth então sacou Fabinho e mandou Souza a campo, e o time passou a ter Souza e Tinga armando para Montillo pela direita, Anselmo na referência e Wallyson pela esquerda. Um 4-3-3 clássico.

A recompensa veio minutos depois. Em escanteio cobrando pela direita, Leandro Guerreiro dividiu com o zagueiro do Internacional e a bola sobrou limpa para Léo dentro da pequena área. O zagueiro girou numa linda bicicleta para diminuir.

O time que terminou o jogo, com Montillo caindo mais pela direita num clássico 4-3-3, que abusou dos cruzamentos na área

O Cruzeiro ainda teria metade do segundo tempo para tentar empatar o jogo, e foi o que fez, com Diego Renan no lugar de Everton, alteração feita antes do escanteio. Tentou de todas as formas, abusando dos cruzamentos na área adversária (foram 7 acertos e 22 erros, de acordo com números da Footstats publicados pela ESPN Brasil). Dagoberto e D’Alessandro sairiam para as entradas de Marcos Aurélio e Jajá, e o time se postaria num 4-4-1-1 que segurar o Cruzeiro até o fim, que só ameaçou em alguns chutes de fora da área. Bolatti ainda entraria no lugar de Oscar para ganhar tempo.

Os erros cometidos na partida demonstram que o Cruzeiro é claramente um time ainda em formação, apesar de ter conseguido 4 vitórias seguidas. Só com o tempo é que o entrosamento de fato fará a diferença, como fez neste jogo para o lado dos gaúchos: os ataques celestes pelos flancos eram frequentemente sobre-povoados pelo adversário, e o ataque produzia movimentos interessantes que bagunçaram a linha defensiva celeste. É por essa razão que, contra jogadores experientes e técnicos, que sabem aproveitar estes espaços criados, o defesa cruzeirense têm tido problemas.

Ofensivamente também existe espaço para evoluir. Com a tendência de Tinga de ser atraído para o meio-campo, a escalação do meia — sim, ele é um meia de origem — pela direita no 4-2-3-1 inicial só faz sentido se tivermos um lateral-direito ofensivo, para que o time tenha profundidade por aquele lado. Léo não é este jogador, e o Cruzeiro acabou sendo um time “torto”: foi a equipe que mais investiu pelo lado esquerdo na rodada, novamente de acordo com números do site da ESPN Brasil:

Para o próximo jogo, contra o Grêmio em casa, Diego Renan provavelmente voltará à lateral direita. Nesse caso sim Tinga seria uma boa opção para a meia-direita, já que os times de Vanderlei Luxemburgo, técnico do time gaúcho, costumam jogar no 4-3-1-2 losango, ou seja, com um maior número de jogadores centrais no meio-campo. A movimentação de Tinga pode resolver este problema, e ao mesmo tempo dar mais amplitude no setor.

Assim, é preciso provar que conseguimos não tomar gols contra equipes técnicas e experientes, e ao mesmo tempo atacar o adversário por todos os lados, sendo menos previsível.

Que Luxemburgo seja a próxima vítima.

Vasco 1 x 3 Cruzeiro – Reação

Ruud Gullit, quando jogava no Milan de Arrigo Sacchi no fim da década de 80, reclamava das repetitivas sessões de treinamento que o treinador aplicava, necessárias para se chegar ao nível que ele queria de entendimento mútuo entre os jogadores. “Eu disse a ele que cinco jogadores organizados sempre iriam vencer dez desorganizados”, disse Sacchi. “E provei isto a eles: coloquei Galli no gol, Tassotti, Maldini, Costacurta e Baresi. Eles tinham dez: Gullit, Van Basten, Rijkaard, Virdis, Evani, Ancelotti, Colombo, Donadoni, Lantignotti e Mannari. Eles tinham 15 minutos para marcar contra meus cinco jogadores, e a única regra era que, se ganhássemos a posse ou eles perdessem a bola, eles teriam que começar de novo, 10 metros dentro de seu próprio campo. Eu fazia isso a todo tempo e eles nunca marcaram. Nenhuma vez.”

Introduzi o post com esta história pelo fato de que muitas vezes o futebol organizado defensivamente é visto como retranca. Muitos jornalistas esportivos (com algumas raras exceções, diga-se), quando dizem que uma equipe jogou “bem armada taticamente”, na verdade querem dizer que o time ficou recuado, esperando o adversário para sair no contra-ataque. Na verdade, nada mais é do que um estilo de se jogar futebol. No Brasil, existe a preferência pelo futebol ofensivo, propositivo, com posse de bola, volume e chances criadas repetidamente, em detrimento de times reativos, que esperam o adversário e são eficientes. “Preferência” talvez seja até uma palavra fraca demais: aqui, isso é quase uma lei.

Contra o Vasco em São Januário, jogo que deu a liderança para o time celeste, o Cruzeiro não jogou assim. Nem por isso jogou mal. Ter mais posse de bola não significa necessariamente jogar melhor. Finalizar mais, tampouco. Jogar melhor, na modesta opinião deste blogueiro, é jogar equilibradamente: anular as armas do adversário (ou pelo menos enfraquecê-las) e aproveitar ao máximo as chances criadas. E foi isso que o Cruzeiro fez.

Cruzeiro no 4-2-3-1 diagonal com Fabinho mais adiantado por um lado e William Magrão mais recuado pelo outro, bloqueando os flancos do Vasco e dando espaço para Montillo

Celso Roth veio no 4-2-3-1 diagonal que vem aplicando nas últimas partidas, desta vez com William Magrão pela direita, mais recuado, e Fabinho pela esquerda, um pouco mais avançado. Montillo era o articulador central e era suportado por Leandro Guerreiro e Charles. Leo foi para a lateral direita para suprir a ausência do lesionado Diego Renan, e Victorino ganhou a vaga. O Vasco entrou no 4-3-3 alto (4-1-2-3) de Cristóvão Borges, tendo Felipe na lateral esquerda, Diego Souza e Eder Luis abertos e Alecsandro na frente. O volante Rômulo dava suporte aos meio-campistas mais avançados Nilton e Felipe Bastos.

Os esquemas eram quase espelhados. Um centro-avante contra dois zagueiros; dois jogadores de cada lado do campo e os trios combatendo no meio: o cruzeirense com dois volantes e um meia e o vascaíno ao contrário. Mas as propostas de jogo eram diferentes. A opção por Leo na lateral direita, ao invés de Diego Árias — que, segundo o próprio treinador, vem treinando muito bem na posição no time reserva — e por William Magrão no trio de meias pela direita, provavelmente foi para segurar a parceria Diego Souza / Felipe que se desenhou com a escalação. A tentativa saiu melhor que a encomenda: não só ambos defenderam muito bem o setor, encaixotando ambos com a ajuda de Leandro Guerreiro, como Leo foi muito bem ofensivamente, aparecendo no ataque em dois dos três gols azuis.

Do outro lado, Fabinho recuava junto com o lateral direito Fágner para não sobrecarregar Everton. Cumpriu bem sua função defensiva, mas apareceu pouco no ataque. Eder Luis foi anulado pela marcação dupla, além do suporte de Charles, e também criou pouco. Com isso, o fornecimento a Alecsandro foi muito prejudicado, já que os meio-campistas teoricamente mais livres do Vasco sempre procuravam os atacantes abertos em seus passes. Além disso, o centro-avante adversário perdia quase todos os duelos com a zaga azul, que jogou muito bem também.

Com o time bem armado defensivamente, não havia motivos para pressionar a saída de bola do adversário. O Cruzeiro preferia esperar o Vasco em seu campo, bloqueando os flancos, que são as armas mais fortes do time carioca. Mas isso também ocorreu por causa da proposta de jogo do Cruzeiro: retomar a bola e sair em velocidade no contra-ataque, pegando a defesa vascaína desorganizada. Fazia sentido, principalmente levando em conta o que Celso Roth falou no fim do jogo contra o Figueirense. O Vasco tinha a responsabilidade do jogo, tinha que vir pra cima, e isso abriria espaços para o Cruzeiro jogar. E a previsão feita no fim do último post se concretizou: quando o craque tem espaço…

Assim foi todo o primeiro tempo. Quando não punha velocidade no contra-ataque, o Vasco se organizava e o Cruzeiro tinha dificuldades para criar. O primeiro gol saiu num erro conjunto de Fernando Prass e Eder Luis: o primeiro fez um péssimo lançamento com a mão, e o segundo tentou salvar o lateral que aconteceria. Conseguiu, mas dando a bola para Leo dominar livre. O zagueiro-lateral avançou sem ser incomodado (onde estavam Felipe e Diego Souza?) e passou a Montillo, que tinha campo. O camisa 10 avançou, devolveu a Leo que teve muito tempo para caprichar no cruzamento. Achou WP, que conseguiu finalizar bem. A bola bateu em Charles e voltou para Montillo, novamente sem marcação, emendar um chute de primeira no ângulo de Prass e cavalgar pela primeira vez no Brasileiro 2012.

No intervalo, Cristovão mandou Tiago Feltri na vaga de Felipe Bastos, avançando Felipe para o meio-campo. O objetivo era claro: dar criatividade pelo centro, coisa que faltou ao seu time no primeiro tempo. O jogo seguiu na mesma, já que o esquema ainda era o 4-3-3 alto, e Felipe recebia poucas bolas para criar. Cristóvão então tirou o inoperante Eder Luís e lançou Carlos Alberto. O meia procurava mais o meio campo e abria o corredor para Fagner avançar, e naturalmente o time se adiantou, na busca pelo empate.

Mas se adiantar demais contra um adversário que tem Montillo sem marcação é arriscado. Quando o Vasco ensaiava uma pressão, passe errado e a zaga rapidamente acha Montillo, condutor da bola numa situação de 3 contra 3. Vendo o lance, percebe-se que ele freia um pouco, chama a marcação de Dedé e dispara para o lado oposto, na direção de Rodolfo. A breve indefinição dos zagueiros vascaínos foi suficiente para que WP recebesse uma bola profunda, sem que Rodolfo pudesse alcançá-lo, e com um toque de classe encobrir Fernando Prass e praticamente matar o confronto.

No fim, Cruzeiro no 4-4-1-1 com Montillo responsável por puxar os contra-ataques e a mobilidade de Tinga pela direita com Léo, originando o terceiro gol

Só não matou porque, dois minutos depois, numa das raras falhas do nosso camisa 1, que saiu do gol no momento errado, o Vasco empatou em rebote de cabeça de Rodolfo. Era um lance controlado, e num erro individual o time adversário reacendeu. A partir daí, o Vasco tentou de todas as formas e empurrou o Cruzeiro para seu campo, mas ainda assim a defesa celeste sobressaía. Para garantir o importante resultado, Roth então manda Souza na vaga de Fabinho, para acompanhar Fágner que passou a ter espaço com a entrada de Carlos Alberto. O time passa para um 4-4-1-1 armado para contra-atacar. A alteração deu certo, porque o Vasco perdeu força e passou a só ficar com a bola, sem produção ofensiva. Então o treinador arriscou mais e fez as duas alterações restantes de uma só vez: Anselmo Ramon e Tinga nos lugares de WP e William Magrão. As duas linhas defensivas de quatro com um meia e um atacante permaneceram, mas com muito mais energia pelos flancos com Souza e Tinga, que acompanhavam os laterais do Vasco mas apareciam para atacar.

Cristóvão tentou responder com William Barbio no lugar de Diego Souza, que nada fez. O Vasco se soltou desordenadamente, a ponto de ser difícil definir os papéis de cada jogador ofensivo, e contra a organizada defesa do Cruzeiro (Arrigo Sacchi mandou lembranças) não conseguiu fazer muita coisa. Em uma bola perdida pelo meio-campo carioca, Tinga roubou, passou a Leo, novamente aparecendo no ataque pela direita, e pediu na frente. Recebendo de volta, emendou o cruzamento de primeira, que desviou e foi parar no pé de Anselmo Ramon, que só completou para o gol. Elemento surpresa, energia e velocidade e presença de área. Impossível afirmar que isso é uma retranca.

Ainda houve tempo de Fábio mostrar mais uma vez (isso está ficando repetitivo) porque merece estar na Seleção. Cresceu para cima de William Barbio num lance um contra um, amedrontando o garoto. Pareceu até fácil cair e roubar a bola nos pés do atacante.

A invencibilidade e a liderança são mais que justas e consequência do ótimo trabalho que Roth vem fazendo na defesa do Cruzeiro, apesar da pecha de retranqueiro que o treinador carrega. Ele simplesmente enxergou um aspecto óbvio: se a defesa era uma peneira e tomava muitos gols, o ataque não era tão ruim assim. Não que marcasse gols em profusão, mas também não era totalmente inoperante – só passou em branco em 4 dos 26 jogos até aqui no ano. Assim, consertar a defesa era a prioridade, e o ataque poderia ficar para depois.

Com a defesa sólida como está, parece que chegou a hora.

Cruzeiro 1 x 2 América/MG – O problema nunca foi o esquema

Num ímpeto desorganizado, o Cruzeiro está fora das finais do Mineiro 2012 devido a uma excelente execução tática do América.

A formação inicial titular do Cruzeiro, com os dois meias que a torcida tanto queria, mas sem força pelo lado esquerdo

Vágner Mancini tinha todo o elenco à disposição, à exceção de Walter, e optou por entrar com o tradicional 4-2-2-2 que a torcida tanto pediu, com Roger e Montillo servido Anselmo Ramon e Wellington Paulista, deixando Wallyson de fora. Givanildo só não pôde contar com o lateral esquerdo Pará, lançando o jovem Bryan em seu lugar. No resto do time, sem mistério: o mesmíssimo 4-3-1-2 do primeiro jogo das semifinais.

Logo no início do jogo, o Cruzeiro mostrou sua proposta: atacar e muito. Anselmo Ramon recebeu de costas, girou e bateu pra fora. Seria um sinal do que o jogo seria. Mas logo no início o Cruzeiro sofreu um golpe: Rodriguinho recebeu na esquerda, ganhou no mano-a-mano com Diego Renan e conseguiu um cruzamento. Victorino estava na marcação de Alessandro, e atrapalhado pelo americano, cabeceou contra a própria meta.

Com a vantagem, o América se fechou ainda mais e se preocupava mais em defender do que incomodar em contra-ataques. Assim, deu campo ao Cruzeiro, que chegava até a intermediária até com certa facilidade. O time tinha mais posse de bola (chegou a 60% na metade do primeiro tempo), mas esbarrou no mesmo problema dos últimos jogos: a falta de criatividade no meio. Mesmo com Roger e Montillo em campo, ainda havia algum espaço entre os defensores e atacantes, sendo que Roger estava no primeiro grupo e Montillo no segundo. Roger mais uma vez afundou entre os volantes para fazer a bola rodar, cadenciar o jogo. Mas os outros jogadores pareciam não querer cadenciar e queriam resolver logo. WP e AR mal pegavam na bola e finalizavam, muitas vezes sem estarem em boas condições para isso.

Montillo, por sua vez, novamente teve Dudu em seu encalço. Recentemente ele disse que, no esquema com três atacantes, era mais difícil fugir do homem-a-homem, pois havia pouco espaço pelos lados, já que os pontas ocupam estes setores. No jogo de hoje, o argentino de fato participou mais do jogo e tentou sim cair pelos lados, mas esteve longe de ser o jogador decisivo de outros jogos. Dudu fez um excelente jogo e reduziu muito a efetividade do camisa 10.

Anselmo Ramon, como de costume, jogou enfiado entre os zagueiros, mas a bola chegou pouco a ele. WP caía pela direita e tinha a marcação direta de Bryan, com a cobertura de Leandro Ferreira. Não chegou a ser anulado, mas também não foi efetivo. Roger, quando subia (e, por vezes, até quando recuava) era vigiado pelo mesmo Leandro Ferreira, que forçava o camisa 7 a se livrar logo da bola. Sobrava sempre para Leandro Guerreiro e Marcelo Oliveira, que não fizeram um bom jogo ofensivamente. O último errou muitos passes e esteve longe de sua forma usual.

O jogador mais lúcido era Everton. Mas, como já dito neste espaço antes, ele tem tendência a centralizar, pois é meia de formação. Portanto, a ponta esquerda do Cruzeiro foi um setor pouco utilizado no primeiro tempo. Uma indicação disso é que o Cruzeiro teve 26% de sua posse pela esquerda do meio-campo, mas apenas 9% pela esquerda no ataque. Mesmo assim, foi dele a jogada do pênalti que WP conseguiu desperdiçar para vestir a camisa do Inacreditável Futebol Clube.

Sem criatividade e afobado nas jogadas pelo chão, restou ao Cruzeiro fazer o chuveirinho na área, para tentar aproveitar a boa presença de área de Anselmo Ramon e Wellington Paulista. Foram 13 cruzamentos no primeiro tempo, somente dois certos (no segundo tempo o Cruzeiro errou todos os 13 cruzamentos que tentou). De tanto insistir, o Cruzeiro chegou ao empate, não numa jogada aérea, mas na presença de área de WP. Diego Renan disputou uma bola pelo alto com o zagueiro, a bola foi em direção ao zagueiro Gabriel, que, ao tentar cortar o lance, acabou jogando para trás dando um presente para o camisa 9, que desta vez fez o gol.

O gol deu mais ânimo para o Cruzeiro, mas o América, com a cabeça fria, resolveu manter um pouco mais de posse. E para seu próprio espanto, conseguiu e até criou algumas chances. Porque este é o diagnóstico do Cruzeiro das últimas partidas: um time que passa aperto quando o adversário resolve manter a posse, já que deixa jogar, e somente consegue levar mais perigo se o adversário chamar o Cruzeiro para seu campo e abdicar do ataque. Foi assim contra o Uberaba, contra o Atlético/MG e na ida contra o América, quando o Cruzeiro só conseguiu gols na base da vontade, mas não em jogadas construídas e trabalhadas. Protagonismo, só quando o adversário quis.

Na saída para o intervalo, o meia Rodriguinho do América resumiu bem: “temos que manter mais posse na frente para que o Cruzeiro não tenha tanto volume”. E foi realmente isso o que houve no primeiro tempo: muito volume, mais posse (54%), mas pouco eficaz (4 finalizações certas de 13 tentativas).

Não houve alterações no intervalo, mas o Cruzeiro voltou a campo num losango, com Roger pela direita e LG na proteção à zaga. Num primeiro momento, o novo posicionamento até parecia dar certo, pois aso 4 minutos o América fazia uma marcação bem alta, e o Cruzeiro conseguiu sair numa linha de passe pelo chão sem dificuldades. A bola chegou a Everton na esquerda, que foi para o meio com a bola e, ao perceber que não havia ninguém na direita para o passe (Diego Renan estava mais preso hoje) resolveu ir ele mesmo até receber uma falta na entrada da área. Roger mandou no travessão.

Mas não demorou muito para o Cruzeiro começar a errar na saída de bola e o América aproveitar estes erros. Em um deles, Moisés recebeu uma bola livre na direita (Everton não estava por ali) e centrou para Alessandro completar. A bola caprichosamente bateu nos pés de Fábio, que já estava vencido, e ficou viva na frente do gol. Diego Renan tirou em cima da linha.

Vágner Mancini lançou Wallyson na vaga de Marcelo Oliveira. Com isso, Everton foi para o meio-campo, Diego Renan inverteu de lado e Wallyson foi jogar na ala direita. Sem a bola, Leandro Guerreiro afundava entre os zagueiros, empurrando Leo para a direita, desenhando um 4-3-3, com Roger ao lado de Everton e Montillo mais avançado à frente. Com ela, Guerreiro saía para fazer a primeira bola do 3-4-3 losango. Givanildo percebeu que o Cruzeiro era vulnerável na recomposição e lançou Bruno Meneghel no lugar de Alessandro para puxar os contra-ataques.

Aos poucos, o Cruzeiro começou a ter mais e mais dificuldade de saída de bola, já que o América recuava cada vez mais e fazia uma marcação perfeita. Para além da linha do meio-campo, os jogadores azuis tinham pouquíssimo espaço. WP não conseguia vencer Rodrigo Heffner pela esquerda e tinha que recuar ainda mais para tentar participar do jogo, mas era improdutivo. Wallyson até ganhava de Bryan pela esquerda e tinha chances, mas sua opção de passe era sempre ruim (ou inexistente, já que os atacantes se posicionavam na pequena área para concluir pelo alto). Dudu continuava perseguindo Montillo, que estava sumido no jogo, e Roger já estava cansado. Everton continuou sendo o melhor cruzeirense em campo, mas também errava.

Uma tentativa de explicar a formação cruzeirense após todas as alterações; meias de volante, volantes de zagueiros e zagueiro de lateral

O América levava perigo em contra-golpes e assustava, mas a pressão do Cruzeiro só aumentava. Em um dado momento, foi possível observar os 11 jogadores do América dentro da sua própria área. Mas a pressão era desordenada. Élber entrou no lugar de Diego Renan, fazendo Everton voltar para a lateral esquerda. A formação ficou um tanto confusa, uma espécie de 3-2-3-2, com Élber na esquerda, Montillo pelo meio e Wallyson na direita atrás dos dois centro-avantes. Roger era volante e nem aparecia no ataque mais. Everton subia para atacar e o Cruzeiro ficava com apenas dois defensores.

Sem sucesso, Mancini preparava Bobô no lugar de WP para dar mais estatura e força e jogar a bola na área (claramente uma estratégia de desespero). Mas foi forçado a mudar, já que Victorino levou uma cotovelada ao disputar uma bola aérea e saiu de campo sangrando. O Cruzeiro só ficou com um zagueiro de ofício em campo, e a formação a essa altura era quase impossível de entender.

O gol de Fábio Júnior, nos acréscimos, dá uma idéia disso. Na hora do lançamento, era Léo que estava encurtando em China (que havia entrado no lugar de Rodriguinho, o melhor em campo), tendo Amaral e Leandro Guerreiro mais centralizados na última linha de defesa. Amaral que não é zagueiro, sai da marcação de Bruno Meneghel, que parte em velocidade. Everton, perdido, deu condições, mas parou pedindo impedimento. Ficaram dois contra Fábio.

Léo cerca China, Amaral se “esquece” de Bruno Meneghel, já pedindo bola, e Everton, fora da imagem, dá condições

É preciso entender que o adversário foi melhor. Executou sua proposta tática com precisão e segurou o ataque sem criatividade do Cruzeiro. Mesmo com três meias e três atacantes. Ao Cruzeiro, restou a Copa do Brasil. Se não chegar ao menos em uma semi-final, pode sobrar para o técnico, e todo o trabalho de 4 meses é jogado fora (infelizmente, mas no Brasil é assim). Mas, como o título do post diz, o problema nunca foi a formação tática, mas sim sua execução.

É compreensível que 2012 seja um ano de mudanças, afinal é uma administração nova, um time novo (diferente da era Adilson Batista, na qual o meio-campo jogava junto há muito tempo). É compreensível que não seja um ano de conquistas. Mas é preciso mudar para que o ano não seja de vergonhas.

Na coletiva do fim do jogo, ao ser perguntado se o Cruzeiro iria brigar na rabeira do Brasileiro novamente, Montillo foi categórico: “No”. E, depois de uma pausa, emendou: “Tomara que no.”

Tomara que “no”, Montillo. Tomara que “no”.