O Cruzeiro fugiu um pouco de seu estilo tradicional diante de um adversário muito bem montado, mas mesmo assim conseguiu a vitória. E diferente da última partida, onde jogou melhor e não merecia perder, desta vez o Cruzeiro conseguiu marcar durante seu período de domínio e levar os três pontos, seguindo no encalço da liderança.
O aproveitamento máximo no Mineirão foi mantido graças ao excelente momento técnico de alguns jogadores e à entrega física de outros, mas também à variação na estratégia de jogo, ainda que algumas alterações não tenham dado certo.
O blog Painel Tático, de Leo Miranda, fez uma boa análise do jogo, mas um tanto quanto sucinta para meus gostos tão prolixos, então aqui vão as minhas impressões.
Formações
Marcelo Oliveira repetiu o time das últimas duas partidas e mandou a campo o mesmo 4-2-3-1 de toda a temporada. De tão rotineiro, ainda é incrível que existam torcedores que achem que o time ainda não tem um padrão tático. Novamente, o goleiro Fábio capitaneou sua defesa composta por Dedé e Bruno Rodrigo, com Mayke e Egídio nas laterais direita e esquerda. Protegendo a área, Nilton e Souza em uma dupla volância cada vez mais entrosada, se equilibrando mais entre atacar e defender ao invés de dividirem esses papéis. Mais à frente, o trio de meias, com Everton Ribeiro partindo da direita para o centro, alternando com Ricardo Goulart, e Luan mais preso à faixa esquerda, e no comando do ataque, Vinicius Araújo se movimentando para puxar a marcação e dar opção de passe.
Marquinhos Santos, substituto de Marcelo quando este deixou o Coritiba para assumir o Vasco, não tinha o talento azul Alex à sua disposição. Assim, colocou Lincoln em seu lugar, mas o time não jogou no 4-1-4-1 adaptado das últimas partidas, e sim mais numa espécie de 4-3-2-1, com algumas particularidades. A meta de Vanderlei foi protegida pelo lateral direito Victor Ferraz, os zagueiros Leandro Almeida e Chico e o lateral esquerdo Diogo. Willian era um volante mais plantado, liberando um pouco mais Gil à sua esquerda e Robinho à direita. Botinelli ficava mais avançado formando um losango “torto” com os volantes, liberando Lincoln do combate para que ele fizesse o papel de Alex. Na frente, Gil substituiu o lesionado Deivid.
Flancos fechados
Quando o Cruzeiro tinha a bola, o Coritiba se movimentava para bloquear os laterais: bola na esquerda e Gil subia o bote para cercar Egídio, com Botinelli centralizando para impedir o passe para os volantes, e Willian fazendo a cobertura diagonal. Se o Cruzeiro atacava pelo lado direito, era Robinho quem voltava com Mayke, ajudando Diogo na marcação, e novamente com Willian na cobertura. Cabia ao volante oposto ao lado da jogada marcar Ricardo Goulart. Um cerco de três contra um, efetivamente bloqueando as saídas pelo lado e todas as opções de passes próximos.
É surpreendente, portanto, que o lance do gol tenha saído justamente numa jogada de ultrapassagem de Mayke e cruzando para o outro lado para Luan. Não só pela jogada, mas pela movimentação de outros jogadores: Ricardo Goulart invertendo com Everton Ribeiro e indo para a direita; Ribeiro aprofundando para arrastar a marcação de Willian e deixar Goulart e Mayke no dois contra dois. O meia se movimentou, recebeu do lateral e devolveu uma linda bola longa nas costas de Diogo, que não acompanhou. Do outro lado, Luan já previa o destino da bola e já corria à frente de Victor Ferraz, completando o ótimo cruzamento rasteiro de Mayke. Um gol físico, tático e técnico.
De novo, intensidade
O gol foi logo aos 11, e por isso a partida não mudou muito. O Coritiba retinha mais a bola, tentando tirar a velocidade do jogo, e conseguia, pois tinha mais jogadores no centro do meio-campo. Eram praticamente cinco contra os três (ou quatro, quando Everton centralizava) cruzeirenses. Assim, o time visitante tocava a bola, mas a excelente postura defensiva do Cruzeiro repelia qualquer perigo, principalmente nas figuras de Nilton e Souza, dois dos melhores em campo no primeiro tempo.
Já o Cruzeiro, assim que recuperava a bola, tentava resolver logo a jogada, com passes agudos ou condução em velocidade na direção do gol. Mais uma vez, a razão disso foi a intensidade de marcação celeste, que forçava um erro de passe e roubava a bola já no campo de ataque, pegando a defesa do Coritiba desprevenida. E assim foram criadas as melhores chances da primeira etapa: Egídio avançando sem marcação mas demorando a decidir; Ricardo Goulart passando a Vinicius Araújo, que bateu fraco; Luan ganhando presente de Victor Ferraz e passando para Everton Ribeiro driblar seu marcador e chutar em cima de Vanderlei; e ainda outra chance de Vinicius Araújo recebendo passe de Egídio pela direita e passando por Vanderlei, mas concluindo sem ângulo pra fora.
Ainda no primeiro tempo, Keirrison herdou a vaga de Gil, lesionado, no ataque, mas sem alterar o sistema do Coritiba.
Arthur
Na volta do intervalo, o Cruzeiro partiu com tudo para ampliar e sufocou ainda mais o Coritiba, demonstrando que era possível sim ser mais intenso. Foram dez a quinze minutos de domínio, onde o Coritiba se defendeu de todas as formas. Até a entrada de Arthur na vaga de Botinelli, o Cruzeiro já havia finalizado na trave e deixando Vinicius Araújo no mano-a-mano com Vanderlei, oportunidades de ouro desperdiçadas para “matar” o confronto.
A alteração de Marquinhos Santos, porém, mudou a cara da partida. O Coritiba mudou para um losango no meio, com Lincoln no vértice da frente e Arthur fazendo companhia a Bill no ataque. Com dois atacantes, os laterais do Cruzeiro, que já estavam tendo pouca liberdade, agora tinham ainda menos e eram obrigados a alternar no apoio para garantir a sobra na defesa. A consequência direta foi que os laterais do Coritiba começaram a apoiar mais, empurrando os pontas cruzeirenses pra trás, que tinham pouco suporte dos seus laterais. Nilton e Souza faziam o que podiam no meio para diminuir os espaços.
Tentativa de resposta
Marcelo leu bem e tentou corrigir, colocando Tinga na vaga de Ricardo Goulart. O cabeludo foi ser o lado direito do agora novo losango cruzeirense, encaixando a marcação com o Coritiba. Nilton passou a ficar mais preso, Souza foi pro lado esquerdo e Everton Ribeiro solto na ligação. A segunda troca, na frente, Vinicius Araújo saiu para a volta de reestreia de Borges após a lesão. A tentativa era de reter melhor a bola na frente, ao custo da mobilidade que Vinicius entrega melhor para o time.
As alterações, porém, não funcionaram. Sem o passe de Goulart e a mobilidade de Vinicius, Ribeiro e Luan não conseguiam fazer a bola chegar a Borges, e por isso ela logo voltava para os pés dos visitantes. E quando isso acontecia, Luan até que prendeu melhor Victor Ferraz pelo lado esquerdo, mas do outro lado Tinga esperava Diogo e indefinia a marcação entre ele e Robinho. Com isso, Mayke ficou sobrecarregado e por ali o time paranaense criou algumas chances, a mais perigosa em finalização de Keirrison na trave em cruzamento de Diogo pelas costas de Mayke.
Pé no freio
Felizmente, a bola não entrou, e a partir daí, o Cruzeiro fez o que o Coritiba tentou no primeiro tempo: tirar a velocidade do jogo. O Cruzeiro tentava reter a bola nos pés, mas o Coritiba ainda era melhor nesse quesito, fazendo o jogo ficar tenso para o torcedor no Mineirão. Mesmo assim, o Cruzeiro ainda teve chances, quando na única vez em que a bola chegou com qualidade para Borges ele fez o pivô e passou a Tinga mandar por cima.
Keirrison se lesionou e foi substituído por Everton Costa, e Nilton saiu por cansaço dando lugar a Leandro Guerreiro, mas nada de mais notável aconteceu na partida e os 100% no Mineirão estavam garantidos.
Vitória de equipe
Talvez tenha sido a partida mais difícil do Cruzeiro até aqui. O Coritiba soube anular as boas opções de saída do Cruzeiro, que mudou sua estratégia para jogar na transição ofensiva, funcionando muito bem no primeiro tempo. Sinal de que o time tem qualidade para isso, só precisando acertar um pouco mais as finalizações nas chances que cria — o Cruzeiro é o time que mais finaliza neste Brasileirão.
Marquinhos Santos, porém, se mostrou ser um desafio à altura para seu ex-mentor, tentando controlar o jogo do banco de reservas com suas trocas. Marcelo respondeu com as opções táticas corretas, mas infelizmente Tinga não fez uma boa apresentação, minando a tentativa. Abrir o time com um velocista na ponta direita poderia favorecer o contra-ataque mas certamente perderia o meio-campo, o que convidaria o Coritiba a tomar o controle do jogo.
Nem sempre as alterações dão certo. E hoje algumas de fato não deram, mas mesmo assim o Cruzeiro venceu. Não acho que tenha sido sorte, mas para os que acreditam, a sorte acompanha os competentes. E acho que não há mais dúvidas quanto à competência desta equipe, e principalmente, no trabalho de Marcelo Oliveira, que pode ser ilustrada no seguinte fato: as outras equipes que estão brigando na parte de cima da tabela com o Cruzeiro tem todas um destaque individual, celebrado pela imprensa.
Pois no Cruzeiro de 2013, o craque é justamente a coletividade.
Cristiano,
Novamente um show de análise, parabéns.
A única ressalva que faço refere-se ao seu comentário sobre a entrada do velocista. O Tinga já havia entrado no lugar do Goulart trazendo equilíbrio para o meio campo (naquele momento ficamos com três volantes). Como o Luan já estava cansado, o Martinuccio poderia reter mais a bola no ataque, além continuar a prender um dos laterais. Assim, além de reforçar a marcação, abriríamos a possibilidade de contra golpe rápido, com um Coxa se lançando ao ataque e os jogadores cansados, as chances de um xeque mate do Oliveira eram altas.
Mas foi bom ver o time jogando bem, mostrando um bom repertório de jogadas. A bola parada, que já é um ponto forte de nossa equipe, vai melhorar ainda mais quando as cobranças do Souza começarem a entrar (está próximo!). Outro destaque da partida foi o Bruno Rodrigo, que partida segura! O Vinícius, pela movimentação e inteligência, merecia ter feito o segundo gol…
Se conseguirmos corrigir as coberturas para as subidas de nossos laterais e “capitalizar” o domínio do jogo, mais resultados positivos virão. Olha que nomes importantes ainda estão de fora, como o DaGOLberto, o Elber, o próprio Martinuccio e o Júlio Batista.
Agora é encarar o Criciúma!
Avante Cruzeiro.
João Paulo, o Marcelo ia entrar com o Martinuccio sim, na vaga do Luan. Mas aí o Nilton pediu pra sair porque cansou, entranto o Guerreiro. Mas acho que não era jogo para ele, porque o lado esquerdo já estava razoavelmente bem protegido, o problema era no direito mesmo. Só se fosse na vaga do E. Ribeiro, aí o Luan ficaria centralizado e preencheria melhor o meio-campo (ele tem bom poder de marcação). Seria a mesma formação do jogo contra o São Paulo, Luian no meio, Martinuccio na esquerda e Vinicius na frente.
Interessante ver o Cruzeiro provando do próprio remédio ao enfrentar a marcação adiantada do Coritiba e conseguir soluções razoáveis. Digo apenas razoáveis porque o placar poderia ser ruim se Nilton não estivesse tão bem ou melhor se os contra-ataques fossem melhor aproveitados. Tornando-se o “time a ser batido”, será natural que os adversários se dediquem mais a encontrar estilos de jogo que nos neutralizem.
Nunca pensei que Nilton faria tanta falta como fez após ser substituído e como fará no próximo jogo. Principalmente quando seu suplente é Leandro Guerreiro. Nilton costuma compensar problemas de saída quando Souza é bem marcado e temo com o que Leandro Guerreiro pode aprontar nesse caso.
Obrigado pelo elogio Christiano! A análise do Painel precisa ser sucinta para o leitor de internet, mas nunca sem conteúdo.Felizmente temos textos completos como o seu. Bom trabalho! Abraço!
Eu é que agradeço, Leonardo. De fato, os textos tem que ser sucintos, o André Rocha, da ESPN, já havia me dito isso. E eu até tento ser, mas eu sou prolixo e didático até demais. Acho que é minha marca.
Obrigado pela honra da visita!