Grêmio 2 x 1 Cruzeiro – Estreito

O título deste artigo teria sido “o medo de perder tira a vontade de ganhar”, pois sintetiza bem as escolhas táticas de Celso Roth, nesta que foi a última partida do Cruzeiro no Olímpico. Seria, se o blogueiro PC Almeida não tivesse usado o mesmo título em sua crônica pós-jogo — o que indica o quanto foi óbvia a falta de coragem. Portanto, resolvi mudar o título para que refletisse o aspecto tático principal da partida.

Escalação inicial repetida pela primeira vez, mas desta feita o 4-3-1-2 losango foi muito “padrão”, estreitando demais a equipe com o conservadorismo dos laterais

Celso Roth finalmente conseguiu repetir a escalação inicial do último jogo, o que, ironicamente, neste caso não era o ideal. Fábio viu Léo e Thiago Carvalho formarem a defesa, auxiliados por Ceará à direita e Everton à esquerda. Leandro Guerreiro novamente posicionado na base do losango de meio-campo, com Diego Árias e Marcelo Oliveira como carrilleros (como são chamados os lados do losango na Argentina) segurando a barra defensiva para Montillo, que novamente caía pelos lados e tinha poucas atribuições defensivas. Na frente, Borges e Anselmo Ramon permaneciam como duas referências na frente.

Luxemburgo, o suposto autor da frase citada, armou o Grêmio como esperado no 4-4-2 britânico que variava para um quadrado (4-2-2-2) no meio com a posse da bola. A linha defensiva de Marcelo Grohe era composta, da direita para a esquerda, pelo lateral Pará, os zagueiros Werley e Naldo (ele mesmo) e pelo lateral Anderson Pico. Outra linha de quatro à frente, com os meias centrais Souza e Marco Antônio flanqueados por Elano à direita e Zé Roberto pela esquerda. Os dois centralizavam para pensar o jogo quando o Grêmio tinha a bola. À frente, Kléber se movimentava mais e André Lima ficava mais encaixotado entre os zagueiros celestes.

Times estreitos

Ambos os times tinham dois atacantes de fato, impondo a necessidade de prender um lateral com os zagueiros para garantir a sobra. Assim, os laterais só subiam na boa e alternadamente, para não prejudicar a marcação e deixar os zagueiros no mano-a-mano. A consequência direta era que haviam duas avenidas pelos lados do campo, com as equipes estreitas demais, sem amplitude. De certa forma, isso acabou favorecendo o Cruzeiro, fazendo com que o jogo passasse sempre pelo meio, facilitando a marcação.

O mesmo valia para o Grêmio, porém, e assim o Cruzeiro só foi concluir pela primeira vez aos 13, quando os gaúchos já haviam testado Fábio algumas vezes. Mas como o futebol é o futebol, foi o Cruzeiro quem marcou, na sua segunda finalização. Anselmo Ramon, bem aberto pela esquerda, conseguiu se livrar da marcação mais na raça e no corpo do que na habilidade, e mandou uma bomba dali mesmo. Marcelo Grohe foi atrapalhado pelas tentativas sem sucesso de desvio de Montillo e Borges, e a bola entrou.

O placar vantajoso fez o Cruzeiro ficar ainda mais conservador em campo, aceitando e repelindo as tentativas do Grêmio de empate. Postura típica de um time sem confiança, quando o correto seria tentar ampliar. No fim das contas, quem salvou mesmo a vitória parcial foi Fábio, com duas defesas espetaculares, à queima-roupa. Era um prenúncio do que seria a etapa final.

Vontade de ganhar

Estava claro que, com todo o espaço pelos flancos, quem explorasse estes setores primeiro iria se dar bem. Satisfeito com a retranca que armou, Celso Roth não fez substituições. Já Luxemburgo enxergou o problema e tirou Zé Roberto, poupado, lançando Leandro, que foi jogar aberto pela esquerda do ataque. Além disso, Luxemburgo deu sinal verde a seus laterais, que passaram a apoiar com muito mais ímpeto. Para evitar ser pego nos contragolpes, o treinador gremista ainda pediu a seus meias centrais que pressionassem a segunda bola — o rebote da zaga — para recuperar a bola o mais rápido possível ou para que os volantes do Cruzeiro não tivessem tempo para pensar, “rifando” o passe.

O plano foi executado com perfeição e o Cruzeiro sofreu uma pressão terrível. Os laterais ficavam no 2 contra 1 constantemente, já que Kléber saía da área e ajudava Pará do lado direito, enquanto Leandro e Anderson Pico sobrepujavam a marcação de Ceará. O Cruzeiro era atacado por todos os lados e repelia o que podia, mas sem dar sequência a suas posses, e assim foi até sofrer o gol de empate, em lançamento recebido por Marcelo Moreno, que havia entrado no lugar do estático André Lima, numa linha de impedimento mal feita da zaga cruzeirense.

Medo de perder

Este bizarro 4-4-2 era o time que sofreu a virada e deveria tentar o novo empate, com dois zagueiros nas laterais, dois laterais como ponteiros e um ponteiro (Montillo) como segundo atacante

O contra-remédio era simples. Bastava tirar um dos atacantes, lançando um ponteiro veloz (como Élber ou Martinuccio, por exemplo) e abrir um dos volantes pelo outro lado. O novo 4-2-3-1 daria amplitude de ataque e seguraria os laterais gremistas em seu campo, diminuindo a pressão. Entretanto, Celso Roth preferiu tentar manter o empate do que correr atrás da possível vitória, e lançou Souza e Mateus nos lugares de Diego Árias e Borges. A princípio, pensei se tratar de um 3-4-1-2 que avançaria Diego Renan e Everton ao meio-campo, o que  de fato o que aconteceu, mas em outro sistema. Leandro Guerreiro afundou entre os zagueiros, Léo foi para a lateral direita e Mateus foi parar na esquerda. Diego Renan e Éverton flanqueavam Marcelo Oliveira e Souza, com Montillo de segundo atacante e Anselmo Ramon na frente. Sim, era um 4-4-2 inglês, mas marcando em linha baixa, ultra-recuado, armado para contra-atacar usando Anselmo de pivô e a velocidade de Montillo.

O plano furou na primeira jogada. Marcelo Moreno ganhou na raça de seu marcador e deu um passe fraquinho para Leandro — desta vez na direita, invertido com Kléber. A bola passou devagar à frente de Mateus, mas o zagueiro-lateral-esquerdo errou o bote e proporcionou uma jogada em velocidade por aquele lado, resultando num cruzamento que Fábio desviou mas que Marquinhos completou no rebote, totalmente sem marcação.

Virada consolidada, o Grêmio tirou o pé, e só aí o Cruzeiro foi à frente. Mesmo com um sistema desfavorável, já que Mateus tentava dar uma de lateral ofensivo pela esquerda, algumas chances até apareceram, mas as finalizações e os últimos passes novamente deixaram a desejar, e o Cruzeiro completou sete partidas longe do triunfo.

Criatividade e filosofia

Este blogueiro não está no dia-a-dia da Toca II para tirar qualquer conclusão mais profunda, portanto falo baseado no que vejo nos jogos. E a impressão que tenho é que, infelizmente, Celso Roth não é um técnico inventivo — não no sentido de improvisar, mas no sentido de saber ler o jogo, ler o adversário e fazer uma substituição mais cirúrgica, sem recorrer a fórmulas prontas. Além disso, é um treinador que tem uma filosofia de futebol que não é compatível com a linhagem histórica da camisa celeste. O futebol vistoso e ofensivo é o tipo de jogo que a torcida está acostumada a ver. A posição do rival influencia na pressão, mas acredito que a irritação do torcedor vai muito além disso, pois tenho certeza que, estivesse o Cruzeiro jogando o futebol que lhe é historicamente característico, mesmo sem resultados a torcida estaria um pouco mais calma, pois teria alguma perspectiva de melhora.

Na entrevista coletiva, Roth botou a culpa na arbitragem, o que, sinceramente, foi o menor dos problemas da partida — tanto é que nenhum jogador fez coro com o o treinador. Mas o corajoso repórter Samuel Venâncio perguntou se a responsabilidade também não seria dele, visto que ele trocou um atacante por um zagueiro — que foi exatamente quem errou no segundo gol — quando o jogo ainda estava empatado. Roth respondeu que todos têm responsabilidade, mas não disse em nenhum momento a palavra “eu”. Coisa que um grande treinador faria sem problemas.

Sou sempre a favor da manutenção, pois trabalhos longos é que geram resultados. Mas a filosofia do clube é que tem que ser seguida, e não a do treinador. Portanto, que venham logo os 45 pontos para que possamos trocar já e pensar em um 2013 melhor.

Cruzeiro 0 x 0 Internacional – Pé na forma

Finalizações sem qualidade resultaram em um placar em branco numa batalha tática padrão, ontem em Varginha.

No primeiro tempo, Éverton mais solto que Ceará e Marcelo Oliveira e Diego Árias indo e voltando como manda o figurino do 4-3-1-2 losango, mas com dois centroavantes muito estáticos

Se as voltas de Everton à lateral esquerda e de Leandro Guerreiro à base do losango do 4-3-1-2 já eram esperadas, Celso Roth surpreendeu nas outras posições: mandou Léo de volta à zaga ao lado de Thiago Carvalho e voltou com Ceará para a lateral direita; escalou Diego Árias — sim, ele mesmo — do lado direito do losango (o outro lado teve Marcelo Oliveira) e lançou Anselmo Ramon ao lado de Borges no ataque, municiados, obviamente, por Montillo no topo do meio-campo.

O Internacional veio no mesmo 4-3-1-2 losango, encaixando a marcação: Muriel teve Nei à direita e Fabrício à esquerda, com Rodrigo Moledo e Índio como dupla de zaga. No meio, Ygor foi o volante mais preso, e Guiñazu pela esquerda e Élton pela direita davam suporte ao jovem Fred, posicionado na ligação para os astros Damião e Forlán.

Sistemas iguais, estilos diferentes

Ambos os times tinham quatro defensores, com um lateral mais preso (Ceará e Fabrício) para fazer a sobra contra os dois atacantes adversários, e o outro (Everton e Nei) com mais liberdade para avançar para o ataque. No meio-campo, os “lados” do losango se pegavam: Guiãazu x Diego Árias e Marcelo Oliveira x Élton. Os cruzeirenses levaram vantagem sobre os gaúchos e se juntavam ao ataque com mais frequência, com Diego Árias fazendo bons cruzamentos e Marcelo Oliveira se entendendo bem com Everton pela esquerda.

A diferença estava no estilo dos outros jogadores. Montillo caía mais pelos lados — jogando com uma característica que Michael Cox, do excelente site Zonal Marking, cunhou como ponteiro central — enquanto Fred permanecia centralizado e dominado pela marcação de Leandro Guerreiro. No ataque, Anselmo Ramon e Borges ficavam mais parados pelo meio, enquanto no Internacional Forlán e Damião tentavam sair da marcação cerrada da defesa celeste. Apenas Damião conseguiu, em finalizações de longe e até em uma jogada típica de meia criativo, driblando dois jogadores. Ele parou em Fábio na maioria das vezes.

O cruzamento que originou o pênalti veio numa combinação de Árias e Ceará como homem surpresa pela direita. Pênalti duvidoso, que Borges converteu sem valer devido à invasão dupla. A bola por cima na segunda cobrança não abalou o Cruzeiro, que continou melhor durante todo o primeiro tempo mas não conseguiu finalizar com mais perigo.

Segundo tempo

 

Fernandão tinha que fazer alguma coisa, qualquer coisa, pois a tendência era que o Cruzeiro ganhasse o meio-campo novamente se nada fosse feito. Ele lançou o jovem meia Lucas Lima no lugar de Élton, desfazendo o losango e montando um quadrado, ou 4-2-2-2. Ele foi jogar de meia-direita, prendendo Marcelo Oliveira e liberando Ygor para ser a sombra de Montillo sem ter que se preocupar com as investidas do volante cruzeirense. Diego Árias e Guiñazu continuavam travando um duelo particular como volantes soltos.

O Internacional dominou a posse de bola por uns 10 minutos, quando Celso Roth resolveu novamente igualar as coisas, com Souza no lugar de Árias. O efeito foi exatamente o mesmo: Guiñazu teve que ficar mais preso para se preocupar com Souza e o meio-campo do Cruzeiro voltou a ter o controle do setor, principalmente com Marcelo Oliveira e o suporte de Everton pela esquerda. Mas faltava abrir o time, que tinha pouca amplitude no ataque.

Martinuccio e o sonhado 4-2-3-1

O melhor momento do Cruzeiro nas últimas partidas: o 4-2-3-1 com Martinuccio, Montillo e Souza se movimentando e confundindo a marcação gaúcha

Após substituições por contusão ou cansaço (Ceará por Diego Renan na lateral direita do Cruzeiro, e Índio por Jackson na zaga do Internacional), Celso Roth promoveu a estreia de Martinuccio, meia canhoto que jogou pela direita no Peñarol vice-campeão da Libertadores em 2011 — um ponteiro de pé invertido, como Franck Ribery (destro na esquerda), Arjen Robben e Hulk (canhotos na direita). Quem saiu foi o apagado Anselmo Ramon. Desta vez, porém, Martinuccio foi jogar pela esquerda,  com Souza pela direita e Montillo centralizado, mas com troca constante de posições.

Já no primeiro lance após a substituição é possível ver a zaga do Internacional se confundindo na marcação de Montillo, deixando Diego Renan e Borges sem marcação para cruzar e cabecear para fora, respectivamente. Depois, foram quase 20 minutos de domínio do Cruzeiro, com os ponteiros cruzeirenses amassando os laterais do Internacional em seu próprio campo e tentando confundir a marcação adversária. Muriel e as finalizações ruins impediram uma vitória que certamente viria fosse esta a formação inicial.

É preciso insistir

Não há como negar que o Cruzeiro evoluiu muito com a entrada de Martinuccio e o 4-2-3-1. Foi o melhor momento da equipe na partida, que — tomara — deve ter colocado um ponto de interrogação na cabeça de Celso Roth. O sistema com dois centroavantes não funcionou muito bem. Martinuccio, Souza e Montillo atrás de Borges é a formação mais promissora até agora, principalmente se os meias inverterem a posição: Martinuccio pela direita e Montillo pela esquerda, com Souza ditando o ritmo, acelerando e cadenciando de acordo com a necessidade.

A estreia (!) de Diego Árias também foi animadora. Quando chegou, o colombiano disse ser inspirado por Claude Makelele, volante marcador clássico, dono do espaço à frente da área. Era um forte indicativo de que ele veio para ser primeiro volante. Entretanto, no jogo de ontem, foi escalado como volante-meia pela direita do losango, e foi muito bem, marcando e participando do ataque. Realmente, não está claro porque Árias não teve chances até agora. Aposto em um novo onze inicial para ele contra o Grêmio em Porto Alegre.

Para esta partida, entretanto, a julgar pelo estilo de Roth, ele deve manter o losango. É o sistema que vem sendo usado desde a partida contra o Bahia no Pituaçu, na 16ª rodada, exceção feita ao estranhíssimo 3-4-2-1 contra o Figueirense em Florianópolis na 24ª.

É coerente, sim. Mas não me tira da impressão de que o 4-2-3-1 com os ponteiros argentinos seria a melhor formação para formar a base de 2013.

São Paulo 1 x 0 Cruzeiro – A falta de técnica matou a tática

Em um lance mezzo oportunismo de Osvaldo, mezzo falha da zaga cruzeirense e de Fábio, o São Paulo conseguiu o gol da vitória no jogo de domingo no Morumbi.

O 4-2-3-1 inicial teve pouco poder ofensivo, mas encaixou bem com o 4-2-1-3 dos paulistas, com Diego Renan vencendo Lucas mas com Leo perdendo de Osvaldo

Celso Roth surpreendeu e mandou um 4-2-3-1, diferente do que foi treinado durante a semana. À frente do goleiro Fábio, Léo reapareceu na lateral direita e Diego Renan foi para o jogo no lugar do suspenso Everton. Com isso a dupla de zaga foi Thiago Carvalho e Victorino, de volta ao time. Sem Leandro Guerreiro, também suspenso, o volante mais preso desta vez foi Charles, com Tinga jogando um pouco mais avançado e procurando se juntar ao trio de meias: Wallyson pela direita, Montillo por dentro e Marcelo Oliveira pela esquerda. Wellington Paulista era o único atacante.

O São Paulo de Ney Franco foi armado quase do mesmo jeito, a diferença sendo que os meias abertos, que neste blog chamo de ponteiros, eram mais atacantes que meias, formando um 4-2-1-3. No gol, o veteraníssimo goleiro Rogério Ceni viu Douglas pela direita e Cortez pela esquerda — dois laterais bastante ofensivos — flanquearem sua dupla de zaga, Paulo Miranda e Rhodolfo. Denilson e Maicon proviam suporte para Jádson criar para seus três atacantes: Osvaldo pela esquerda, Lucas pela direita e William José centralizado.

Um jogo equilibrado taticamente, visto que as defesas levaram a melhor sobre os ataques praticamente por todo o jogo, à exceção de alguns lances isolados. O que pode ser ilustrado pelo baixo número de finalizações certas do jogo: 6 a 0 para o time da casa. Isso mesmo: pela segunda vez no campeonato, o Cruzeiro não incomodou o goleiro adversário.

Lados (quase) fechados

Para surpresa de muitos, Diego Renan teve uma boa atuação defensiva, segurando o futuro parisiense Lucas e fechando bem o lado esquerdo. Lucas só levava perigo quando se projetava para o meio e partia driblando, sua característica. Entretanto, o mau posicionamento dos companheiros, principalmente de William José, resultava em uma jogada infrutífera. Diego era ajudado por Marcelo Oliveira, que fazia a primeira linha de marcação e acompanhava Douglas. Ofensivamente, entretanto, o lateral subia pouco, muito por causa da presença de Lucas, e Marcelo era quem tinha que prover amplitude por aquele lado. Não funcionou muito.

O lado direito, porém, estava um pouco menos desguarnecido. Cortez avançava sem medo de deixa sua própria lateral sem proteção, e Wallyson o acompanhava bravamente, bloqueando as investidas do lateral. O problema era mais atrás, onde Osvaldo conseguia ganhar na velocidade e no drible de Léo quase sempre. As melhores chances do São Paulo no primeiro tempo foram com o atacante ex-Ceará – que quase veio para o Cruzeiro no início do ano. Para nossa sorte, a zaga celeste estava bem postada e ganhava no último passe.

O calvário de Montillo

No meio-campo, o Cruzeiro levava ligeira vantagem. Charles foi o cruzeirense mais lúcido enquanto esteve em campo, tirando o tempo com bola de Jádson, e anulando o principal núcleo criativo dos paulistas. Tinga se movimentava por todo o setor central, mas o que o cabeludo tem de disposição, falta na técnica. O predador errou alguns passes e não conseguiu ser o homem surpresa do ataque celeste. Montillo, como sempre acontece quando joga pelo meio, foi muitíssimo bem marcado pelos dois volantes sãopaulinos. O argentino tentou cair pelos lados para fugir da marcação, e foi pela esquerda, nos pés dele, que morreu a melhor chance do Cruzeiro na primeira etapa, quando ao dominar uma bola com o pé esquerdo, ela acabou batendo também no pé direito do camisa 10 e ficou mais para Ceni rebater.

O grande problema de Montillo, no entanto, é a parte defensiva. Sem a bola, Montillo praticamente fica alinhado a WP e o time vira uma espécie de 4-4-2 britânico (ou seja, em duas linhas de quatro clássicas). Isso acaba sobrecarregando os volantes, que têm que marcar os volantes adversários que estão livres de marcação. Assim, se for para jogar com Montillo de meia central, é melhor entrar com o time em um 4-3-1-2 losango, como nas últimas partidas, para dar mais consistência ao meio-campo e compensar a falta de combatividade do argentino. Porém, em um 4-2-3-1 — insisto — o mais inteligente é escalá-lo pelos lados, como ponteiro, pois essa é a característica dele, e ainda ocorrreria o bônus de ter somente um marcador sobre ele — o lateral adversário.

Entretanto, ainda no primeiro tempo, a contusão dupla de WP e Wallyson obrigou Celso Roth a tirá-los do jogo. Borges no lugar de WP era o óbvio, apesar da mudança de característica — Borges é mais referência, pivô, se movimenta menos. Para o lugar de Wallyson, porém, o certo seria ter entrado com Élber, que é meia de origem, faria o trabalho defensivo tão bem quanto Wallyson e ainda traria preocupações para Cortez. Só que Roth mandou Souza a campo, meia cadenciador e passador. Não funcionou, pois o veterano não marcou tão bem as investidas de Cortez e expôs Léo, e tinha uma tendência a entrar para dentro do campo quando o Cruzeiro tinha a bola, abandonando o lado direito.

Charles fora

No segundo tempo, o jogo continuou na mesma, com o Cruzeiro levando certa vantagem e até ficando um pouco mais com a bola no pé, mas sem ser incisivo. Aos 9, uma fatalidade: Charles pisou no pé de seu próprio companheiro e torceu o tornozelo, tendo que ser substituído. O Cruzeiro perdia seu melhor jogador em campo, com o jovem Lucas Silva entrando em seu lugar para fazer a mesma função, que claramente não conseguiu — levou dois cartões amarelos em um espaço de 10 minutos e foi embora mais cedo. Esse é o preço por preterir Diego Árias, volante mais preso de ofício.

A substituição chave foi de Ney Franco: o apagado William José deu lugar a Ademílson, que se movimentou bem mais e dava opções de passe, como no lance do gol. Douglas avançou pela direita e achou o atacante, que recuou para oferecer o passe. A tabela venceu Marcelo Oliveira, e o lateral alcançou a linha de fundo para fazer um cruzamento despretensioso, sem perigo. Porém, no susto, Fábio rebateu a bola para dentro da área, onde estava Osvaldo, que completou para o gol vazio.

Com o gol, o Cruzeiro se perdeu momentaneamente e o São Paulo não aproveitou. Wellington e Casemiro ainda entrariam no lugar de Maicon e Denilson, fazendo um 4-3-3 clássico (4-1-2-3, com um volante, Wellington, e dois meias, Jádson e Casemiro), mas nada mais aconteceu.

Enfim

Podemos dizer que a fase técnica do Cruzeiro não é das melhores, e na partida de domingo, isso acabou sobrepujando a boa postura tática da equipe. O 4-2-3-1 foi bem executado defensivamente, mas ofensivamente não. WP foi mal e Wallyson não fez o que se espera dele no ataque: a fase do jovem potiguar não é das melhores. Parece que lhe falta confiança para partir para dentro do adversário e definir. Marcelo Oliveira até que tentou, mas não conseguiu dar o mesmo poder que Everton dava pelo lado esquerdo.

Montillo particularmente está tendo dificuldades e já não tem mais tanta liberdade quanto teve no primeiro ano em Belo Horizonte, quando ainda era desconhecido por aqui. Agora as equipes já sabem que o argentino é a principal peça ofensiva cruzeirense e fazem marcação especial. Volto a insistir: Montillo tem que jogar pelo lado do campo, como ponteiro. Para compensar a falta de combatividade do argentino, é necessário escalar um lateral mais preso, como Diego Renan ou o próprio Marcelo Oliveira, com Diego passando para o lado direito: Léo improvisado não vai fazer bons jogos sempre, e esta partida foi um exemplo.

Há o que se animar, entretanto. Esta partida foi um pouco pior do que a exibição contra o Vasco, mas muito superior aos duelos contra Sport e Figueirense. É esperar pra ver se Celso Roth, com as voltas de Everton e Leandro Guerreiro, e a possível estréia de Martinuccio, manterá este 4-2-3-1 contra o Internacional de Fernandão.

Cruzeiro 1 x 1 Vasco – Muita calma nessa hora

Ao ler este título, o leitor mais assíduo (se é que existe um) deste blog vai notar que a análise da partida contra o Figueirense no sul não aconteceu por aqui. A intenção era escrever as duas, mas diante da situação, deixarei deliberadamente de fora a mudança brusca do losango para um inexplicável 3-4-1-2 — tão inexplicável que comprometeu até as substituições — armado por Celso Roth naquela partida. E nem existe a desculpa de que Léo estava suspenso: Diego Renan é ou não é lateral?

O 4-3-1-2 losango inicial do Cruzeiro no início da partida: Ceará “baleado”, sendo ajudado por Wallyson e Tinga, e do outro lado, mais uma vez, Everton com muita ofensividade e tendo cobertura de Guerreiro

Isto posto, Roth deve ter se iluminado e voltou ao esquema base que vinha usando, o 4-3-1-2 losango. Desta vez, Fábio teve Ceará na direita — um erro, já que o jogador claramente ainda não tinha condições físicas — Thiago Carvalho e Mateus na zaga e Everton na esquerda, novamente mais apoiando que defendendo. No losango de meio, Guerreiro era o vértice baixo, Tinga o direito, Charles o esquerdo e Montillo o alto. No ataque, Wallyson abria pela direita e WP ficava na referência.

O Vasco armado pelo estreante Marcelo Oliveira jogou no mesmíssimo esquema, o que encaixou a marcação no meio-campo criando duelos interessantes. O gol de Fernando Prass foi defendido pela dupla de zaga Dedé e Renato Silva, flanqueados por Jonas na direita e William Matheus na esquerda. Nilton ficou à frente da zaga, Juninho Pernambucano foi o volante direito e Wendell (aquele mesmo) foi o esquerdo. Carlos Alberto era o responsável por armar o jogo para Éder Luis, trabalhando pelos lados do campo, e Tenório, batendo com os zagueiros.

Duelos por todo o campo

Com a marcação encaixadinha como estava, os duelos faziam a diferença. Em alguns momentos, a dupla de zaga deixou o centro-avante concluir e quase-gols saíram: WP em dois cabeceios, um em cima de Prass e outro em cima de Dedé, e Tenório em uma jogada de profundidade, driblando Fábio mas concluindo bisonhamente. No mais, Dedé foi o senhor da grande área vascaína e engoliu WP, além de ter participações ofensivas com muita qualidade, como no lance do gol bem anulado de Tenório em furada incrível do garoto Lucas Silva, e em cabeceio livre para fora. Mateus e Thiago Carvalho fizeram o jogo razoável e tiveram sorte de não serem responsabilizados pelas chances criadas pelo time adversário, pois se defendiam como podiam.

Nas laterais, a escalação de Ceará foi claramente um erro de avaliação. O jogador não tinha condições e visivelmente mancava, por isso se limitou a defender o lado direito da área cruzeirense. Quase não cruzou a linha do meio-campo. Porém, Wallyson recuava com William e ajudava no combate, se juntando a Tinga. Some-se a isso o fato de que William Matheus também foi um lateral defensivo, e por isso o Cruzeiro foi pouco ameaçado por ali, mesmo quando Éder Luís e Carlos Alberto tentavam alguma coisa.

Lado esquerdo

Do outro lado era que o jogo fluía mais, principalmente quando o Cruzeiro tinha a bola. Mais uma vez, Everton fez um bom jogo ofensivo, explorando sua característica de velocidade e conseguia vencer alguns duelos com Jonas, criando boas jogadas. Foi com ele que saiu o primeiro gol, em tabela com Charles e aparecendo na área para um cruzamento desviado por Renato Silva jogar contra. Na defesa, como o Vasco não possuía jogadores oficialmente abertos pela esquerda, quem explorava o espaço aberto pela subida de Everton era Éder Luis, mas Leandro Guerreiro ia atrás dele e dificultava as coisas. Num desses lances, o juiz apontou uma falta inexistente, e na cobrança, Juninho mandou direto, e Fábio não conseguiu mandar para longe e evitar o rebote de Nilton, sem marcação.

A grande diferença, no entanto, foi no meio-campo. Enquanto Tinga e Wendell fizeram um duelo direto e equilibrado, os outros vértices eram diferentes. Carlos Alberto não apareceu no jogo e não fez muita coisa, e assim como Nilton, teve muita liberdade para se apresentar e ser o primeiro passe, pois os “camisas 10” não marcavam com intensidade. Montillo, mais especificamente, só marca quando o Cruzeiro faz pressão alta, tentando dificultar a saída de bola adversária; assim que a bola é aliviada, ou a marcação pressão cede, o argentino fica à frente com WP e não volta para recompor.

Juninho

O outro duelo do meio-campo é que era o mais interessante. Juninho jogou quase como um box-to-box, voltando para pegar a bola e dar passes profundos, cadenciar e dar ritmo ao Vasco. Charles penou para marcar o veterano volante-meia, que foi muito perigoso e conseguia encaixar passes muito agudos. Para nossa sorte, os alvos dos passes é que desperdiçavam os lances. Além disso, Charles tentou se desvencilhar de Juninho por várias vezes e até conseguia ficar livre em determinados momentos, quando Juninho subia para se juntar ao ataque e o Cruzeiro pegava a defesa vascaína desprevenida em contra-ataque. Mas o volante não tem a mesma qualidade de passe que seu adversário.

Todos esses fatores somados deram a característica do jogo: mais posse de bola do adversário, mesmo jogando fora, com mais trocas de passes e tendo mais volume. O Cruzeiro era mais objetivo, quando tinha a bola partia logo para definição ou então para o chutão para frente, mas os jogadores de meio do Vasco pareciam melhor posicionados nas segundas bolas e sempre o rebote da disputa de cabeça ficava com o Vasco. Foi o pior índice de posse de bola do Cruzeiro até aqui no campeonato. Assim, ambos os times tiveram chances excelentes de marcar no primeiro tempo, mas as finalizações e escolhas de último passe não eram as melhores.

Trocas

A formação só mudou de fato após as três alterações: um 4-2-3-1 com muita amplitude, com Souza e Montillo trocando de posição constantemente e Élber dando mais profundidade pela direita – a formação “ideal”

Celso Roth tirou Ceará do jogo no intervalo e mandou o garoto Lucas Silva fazer a lateral direita, efetivamente queimando uma substituição à toa. O melhor seria ter entrado com o Diego Renan já desde o início, mas o lateral nem sequer foi relacionado para o jogo. Aos 13, Tenório deu lugar a Romário (não é aquele) no Vasco. Os sistemas tático se mantiveram, mas o jogo perdeu ritmo. Em nenhum momento o Cruzeiro parecia dominar a posse de bola, sempre perdendo o meio-campo, mas o Vasco também não era muito ameaçador com a bola nos pés.

Depois, Carlos Alberto deu lugar a John Cley no meio-campo vascaíno. No Cruzeiro, Élber entrou no lugar de Wallyson, novamente sem alterar a plataforma tática, mas deste vez o Cruzeiro teve uma pequena melhora, com menos previsibilidade no ataque. Apesar de o garoto ter tido dificuldades, principalmente contra Dedé, ele conseguiu criar algumas chances pela ponta direita e incomodar.

A formação cruzeirense só iria mudar mesmo quando Souza entrou no lugar de Charles, e talvez até por acaso, ficou numa formação que considero ideal: um 4-2-3-1 com muita amplitude e ofensividade, com um passador no meio: Souza. O Cruzeiro apertou no fim e foi em busca do gol, mas parou em defesas de Prass e nas próprias escolhas de último passe, e teve que se contentar com o empate.

Destino de Roth

Muita gente apostava em queda de Roth se a vitória não viesse. De fato, isso aconteceria se o Cruzeiro não tivesse reagido e mostrado um mínimo de padrão tático e encaixe de marcação, o que aconteceu na partida de hoje, que esteve longe de ser uma das piores do ano. Há muito o que consertar, tecnicamente inclusive. Porém, no jogo de hoje, o treinador mostrou sim que fez alguma coisa nestes quatro meses à frente do Cruzeiro, mesmo considerando sua falta de capacidade em mudar a partida na Ilha do Retiro há duas rodadas, seu 3-4-1-2 maluco com Souza de ala direito do desastre no Orlando Scarpelli, e o erro de planejamento ao escalar Ceará precipitadamente hoje.

A formação do fim da partida, entretanto, me deu esperanças de que o Cruzeiro pode sim ter uma plataforma tática ofensiva, digna das tradições celestes. Este blogueiro deu uma leve pincelada sobre isso na análise contra o Náutico: escalar Souza como meia central desde o início, deslocando Montillo para a posição de ponteiro pode ser um excelente movimento — Wallyson/Élber, Souza e Montillo atrás de WP ou Borges, por exemplo. A combinação Montillo/Everton seria bombástica, assim como Ceará dando suporte a Wallyson ou Élber. Isso, é claro, após a volta 100% do lateral direito. Voltarei a isso em outro post.

Guerreiro e Éverton não estarão à disposição para o dificílimo jogo contra o São Paulo, no Morumbi, no fim de semana que vem. Sandro Silva é o substituto natural de Guerreiro, mas suprir a ausência do jogador que tem sido nossa melhor alternativa ofensiva — suplantando inclusive Montillo — é outra história. Diego Renan, que tem outra característica, deve entrar em seu lugar, com Leo voltando à lateral direita. Afinal, é melhor um zagueiro 100% do que um lateral-direito baleado.

Celso Roth ganhou mais uma chance. Mais por causa da produção da equipe, como equipe, do que pelo resultado. Normalmente as duas coisas andam juntas, mas é a primeira que sustenta um treinador, e é por isso que ele ainda será o técnico contra o São Paulo.

Sport 2 x 1 Cruzeiro – Era simples

(nota: este texto está sendo escrito após a derrota vergonhosa contra o Figueirense, portanto pode estar um pouco mais carregado do que deveria.)

O futebol, na maioria das vezes, não é simples nem lógico. Mas na partida entre Cruzeiro e Sport, no último fim de semana na Ilha do Retiro, o futebol foi exatamente isso: lógico, simples. Mas nosso treinador não conseguiu enxergar isso, fez as mexidas de sempre que alteraram apenas a característica dos jogadores sem alterar o sistema, e por isso amargamos a segunda derrota seguida.

Acompanhe o raciocínio: ganha o jogo quem faz mais gols, certo? Mas faz mais gols quem cria mais chances, e quem cria mais chances é quem tem mais a bola nos pés. Para ter mais posse é preciso ganhar o meio-campo, e para isso é só ter mais jogadores no setor. Logo, quem tiver domínio do meio-campo — por consequência — pode fazer mais gols e vencer. É claro que na maioria das vezes não é assim, mas nesta partida foi o que aconteceu.

O 4-3-1-2 losango cruzeirense que sofreu no meio-campo com o 4-3-3-0 do Sport e com um esquema falho de cobertura a Everton

Cruzeiro de Celso Roth no mesmo 4-3-1-2 em losango das últimas partidas: Fábio no gol, defesa com Léo mais preso na direita, Donato e Mateus na zaga e Everton bem avançado na esquerda; meio-campo com Sandro Silva no pé do losango, Tinga e Charles pelos lados e Montillo à frente; ataque com Wallyson pela direita voltando com o lateral e WP centralizado.

Waldemar Lemos deve ter ligado para seu irmão, Oswaldo de Oliveira, técnico do Botafogo, e pegado umas dicas. A isso, ele adicionou suas próprias armas e escalou o Sport num 4-3-3-0. Isso mesmo: sem centro-avantes, com um volante mais plantado e dois mais avançados, e três meias. Saulo no gol teve Cicinho (aquele mesmo) pela lateral direita, Edcarlos e Diego Ivo na zaga e Willian Rocha na lateral esquerda; Tobi foi o volante plantado, liberando Rithely e Moacir para se juntarem ao trio ofensivo formado por Felipe Azevedo aberto na esquerda, Gilsinho pela direita e o falso nove Hugo.

Basicamente, eram seis jogadores do Sport contra quatro do Cruzeiro no meio-campo. Sem qualidade de passe, o Cruzeiro recorria à ligação direta e até ganhava algumas bolas, mas a segunda bola era sempre do Sport, pelo simples fato de ter dois a mais no meio-campo — setor onde a maioria das bolas aéreas era disputada. Assim, o Sport teve mais posse de bola do início ao fim da partida — 57,16% contra 42,84%, a segunda pior posse do Cruzeiro no campeonato — e não perdeu o controle do meio-campo em nenhum momento. O Cruzeiro ainda saiu na frente, com Wallyson em jogada de velocidade e marcação pressão, e teve outras chances de marcar. Mas foi muito mais porque era ligeiramente superior na técnica do que pelo sistema tático, mesmo com Montillo praticamente inexistente no jogo.

Some-se a isso o fato de o Sport ter executado muito bem sua própria proposta tática — e o Cruzeiro cair na armadilha. Um falso nove é assim chamado porque joga centralizado, aparecendo na área para concluir como um centro-avante, mas não fica preso a ela e volta para compor o meio-campo, buscar a bola e participar da articulação. É uma espécie de híbrido entre um 10 e um 9 clássicos. E a principal vantagem de usar um jogador nessa função é a de abrir espaços para os companheiros explorarem, arrastando adversários consigo e tirando-os do caminho. Os melhores exemplos são os gols do Sport: no primeiro, Rithely aparece sozinho, sem ser incomodado, para cabecear com muito mérito de primeira por cima de Fábio, adivinhando que o goleiro sairia do gol para “abafar” o lance.

O segundo gol ainda teve um agravante: o buraco na esquerda da defesa, que causava um efeito cascata. Everton jogava avançado e, nos jogos anteriores, sempre tinha a cobertura de um dos três volantes, transformando o time num 4-2-3-1 temporariamente. Mas desta vez isso não aconteceu, e quem teve que ir cobrir as costas do lateral-volante era o zagueiro Mateus. Com isso, Sandro Silva afundava na zaga para recompor, ora na direita, ora dentro da área, fazendo o número de jogadores no meio ser ainda menor. Às vezes nem isso acontecia e o buraco simplesmente ficava lá: veja na imagem abaixo o momento do segundo gol, de Gilberto, que tinha acabado de entrar no jogo. Ele tabelou com facilidade com Rithely e apareceu exatamente no espaço aberto para decretar a virada.

Um hectare de espaço para Gilberto

Nem cabe uma análise mais aprofundada, porque o jogo foi praticamente inteiro assim. Diego Renan entrou no lugar de Donato, empurrando Leo para a zaga e mantendo o esquema; Tinga saiu para a entrada de Lucas Silva, também sem alterar a formação. A única nota tática quase não-digna de menção foi a entrada de Anselmo Ramon no lugar de Wallyson. Anselmo foi jogar dentro da área com WP, acabando por incentivar ainda mais o chuveirinho e a bola longa, ao invés de atacar o problema principal: o meio-campo sem posse de bola.

No fim da partida, Celso Roth disse que foi uma derrota inexplicável, que era jogo para ganhar. Concordo com a última afirmação apenas, porque em relação à primeira, é só ler o que eu escrevi aí em cima.

Reitero: o futebol vai contra a lógica em muitas ocasiões. Mas quando ele vai com a lógica, é preciso perceber isso. Se na derrota para o Botafogo o treinador teve pouca culpa, nesse caso o revés cai sim, infelizmente, nos ombros de Celso Roth.