Eu havia cogitado não escrever a respeito desta partida, pois já se sabia que o time que iria jogar não era o titular, e portanto seria uma análise isolada das outras e sem parâmetro de comparação. Porém, como o confronto já tinha sido decidido no jogo de ida, as experiências dos treinadores foram tantas que a partida mereceu um post mais curto.
Partidas que valem-mas-não-valem, como esta, são excelentes para fazer experimentos no time, pois o resultado é o que menos importa. O Cruzeiro querendo rodar o seu elenco, se preparando para a maratona de quarta e domingo que está por vir, enquanto que o Atlético Goianiense quis dar ritmo ao seu novo time, reformulado após a chacoalhada sofrida na semana passada e a derrota no jogo da Série B.
Formações
Marcelo Oliveira só mandou três titulares a campo, mas manteve o 4-2-3-1. O gol de Fábio foi protegido pelos zagueiros Paulão e Léo, ladeados por Egídio na esquerda e Lucas Silva — isso mesmo — na lateral direita. Uelliton e Leandro Guerreiro ficaram na dupla volância atrás da linha de três, com Tinga fazendo o lado direito mais contido, o recém-promovido à titularidade Ricardo Goulart partindo do centro e circulando, e Lucca pela esquerda com mais liberdade para atacar. Na frente, Anselmo Ramon duelava com os zagueiros.
O esquema de Renê Simões tinha muitas particularidades interessantes. Era um 4-5-1 com meio-campo em linha sem a bola e que virava um 4-3-2-1 na fase ofensiva, com os “ponteiros” Diogo Campos pela direita e João Paulo pela esquerda centralizando e se aproximando de Ricardo Jesus. Renan Foguinho era o volante mais plantado, o que dava mais liberdade para Dodó e Marino avançarem. E, por fim, a linha defensiva do goleiro Márcio tinha Jorginho — com a camisa 10 — na lateral direita, Artur e Diego Giaretta no miolo de zaga e Ernandes na lateral esquerda.
Lentidão e espaços
Esse posicionamento do time goiano sem a bola lotava a entrada da área com os três volantes. Com os meias acompanhando os laterais, só Ricardo Jesus raramente tentava pressionar Léo e Paulão, que trocavam bolas sem muita dificuldade, o que fazia a partida ser bem sonolenta. Já o Cruzeiro, quando perdia a bola, tentava retomar, mas sem a mesma intensidade característica — naturalmente, pois é difícil dar motivação para jogadores em um jogo que pouco interessa.
Outro aspecto é o espaço entre os volantes e os meias. Leandro Guerreiro e Uelliton são primeiros volantes, e não tem característica de sair pro jogo. Ricardo Goulart participava pouco do trabalho defensivo, e Tinga e Lucca voltavam só até a intermediária, abrindo um grande espaço na frente da área celeste. Não foram poucas as vezes em que um jogador goiano teve liberdade naquele setor.
O jogo era tão lento que, quando as equipes arriscavam acelerar um pouco, conseguiam criar. Foi assim o gol: bola roubada, Ricardo Goulart teve toda a liberdade do mundo para pensar no melhor passe ao mesmo tempo em que Lucca saía da esquerda e ia para o centro, abrindo o flanco para Anselmo Ramon receber o passe em profundidade, cruzar de três dedos de primeira para Lucca completar e marcar o gol solitário da partida.
As trocas
Entretanto, a parte mais interessante — taticamente falando — foram as trocas. No Atlético, Renê Simões foi aos poucos fazendo o time ficar num esquema mais “normal”, mas mesmo assim com jogadores improvisados. A primeira substituição foi tirar o meia-esquerda João Paulo e colocar o ponteiro-esquerdo Caio. A diferença é que o jogador permanecia aberto ao invés de centralizar. Depois, Dodó deu seu lugar a Mahatma Ghandi — nome mais do que apropriado para uma partida nessa intensidade — que foi ser lateral esquerdo, empurrando Ernandes para o meio-campo. E por fim, Diogo Campos — que apesar de estar com a camisa 2 e a repórter da TV insistir que ele estava jogando na lateral direita, é atacante de ofício e estava na meia-direita — deu seu lugar a Juninho, que espelhou a movimentação de Caio do outro lado. No fim, o time goiano estava num 4-3-3 clássico, com dois meias, dois atacantes abertos centro-avante.
Já no Cruzeiro, as substituições de Marcelo Oliveira foram muito mais “estranhas”. A entrada de Martinuccio na vaga de Ricardo Goulart no intervalo não chega a ser classificada assim — o gringo indo fazer o lado esquerdo que lhe é característico e Lucca invertendo para a direita e Tinga passando para o meio — mas depois Egídio deu lugar a Luan, que foi fazer a bizarra função de ser lateral esquerdo. E mais pro fim da partida, o zagueiro Wallace entrou na vaga de Lucas Silva, e quem foi fazer a lateral direita foi Léo, que até arriscou um apoio ao ataque ao fim da partida. Assim, no fim do jogo, a linha defensiva celeste era Leo, Wallace, Paulão e Luan.
Pra que serviu, então?
Rodar o elenco é fundamental em um time grande de futebol. Não só pra poupar os titulares, mas pra dar ritmo aos reservas, que certamente serão acionados mais pra frente devido a inevitáveis lesões e suspensões. Marcelo aproveitou também para tentar ampliar o seu leque de opções, vendo a resposta que os jogadores dariam em posições que não lhe são naturais. Mas valeu pela manutenção dos 100%, e pra aumentar o aproveitamento em 2013 para impressionantes 81,3% (19 vitórias, 4 empates e apenas 2 derrotas no ano).
A fala de Tinga após o jogo reflete como o Cruzeiro encarou a partida: “Eu venho jogando quase todas as partidas, mas maioria [dos jogadores] estava há muito tempo sem jogar, sem entrosamento. Deu pra ver que o Cruzeiro está com um plantel bom. A vitória foi importante para mostrar a força do grupo. Pra conquistar algo importante nesta temporada tem que ter um grupo forte.”
De fato faltou entrosamento, mas também faltou intensidade, porque faltou motivação, o que é natural, causando o baixo nível técnico da partida. Na parte tática, entretanto, foi muito mais interessante.