Cruzeiro 4 x 0 Resende – Placar “mentiroso”

Quem lê este título pode achar que este blogueiro ficou maluco. Afinal o Cruzeiro foi bem superior ao Resende ontem no Mineirão pela Copa do Brasil e mereceu a vitória elástica. Mas o título tem razão de ser: o Cruzeiro foi tão superior que deveria ter feito mais gols, caso tivesse acertado mais o pé nas finalizações.

Taticamente, as novidades foram a liberdade de Dedé e a variação de ritmo de jogo, mostrando novas facetas para a disputa do Campeonato Brasileiro, dignas de um time bem treinado.

Escalações

Os avanços de Dedé e dos laterais foram marcantes no móvel 4-2-3-1 cruzeirense do 1º tempo

Os avanços de Dedé e dos laterais foram marcantes no móvel 4-2-3-1 cruzeirense do 1º tempo

O maleável 4-2-3-1 de Marcelo Oliveira teve Fábio debaixo das traves, Dedé na zaga direita e Bruno Rodrigo na esquerda. Ceará e Egídio, titular mais uma vez, foram os laterais. A dupla de volantes foi a mesma de sempre, Guerreiro e Nilton, atrás do trio Everton Ribeiro, Diego Souza e Dagoberto, todos procurando a referência na área ofensiva, Borges.

Para tentar parar os laterais cruzeirenses, o técnico Paulo Campos escalou o Resende num esquema pouco usual: o 4-4-2 britânico, com duas linhas atrás dos atacantes. Defendendo o gol de Mauro, os zagueiros Admilton e Thiago Sales foram flanqueados por Marcelo à direita e Kim à esquerda. A segunda linha tinha os meias Guto e Rafael Carioca abertos, com Denilson e Valdeci fechando a entrada da área. Na frente, Acosta e Geovani Maranhão.

Estilos de defesa

De cara, o que chamou a atenção foi a pegada cruzeirense. Os jogadores disputavam a bola como se fosse uma final, parecendo

que estavam em desvantagem. Marcação curta e alta, com correria pra roubar a bola o mais rápido possível. Quando tinha a bola, sabia alternar velocidade com a paciência, um pouco diferente do jogo cadenciado que vinha desenvolvendo no início da temporada. Isso é uma grande evolução, já que torna o time mais imprevisível e dificulta bastante o trabalho defensivo adversário.

Se o plano defensivo de Marcelo Oliveira deu certo, o mesmo não pode ser dito do treinador do time visitante. Primeiro porque deixou os atacantes Acosta e Geovani Maranhão na linha do meio-campo, sem pressionar a saída de bola, dando muita liberdade para os zagueiros e volantes cruzeirenses pensarem o jogo sem ser incomodados. E depois porque usou marcação individual por setor — ou seja, o jogador persegue o adversário que ingressar na sua zona até o fim da jogada. Com a movimentação constante do ataque do Cruzeiro, espaços abriam-se em profusão na retaguarda do Resende.

Jogo lateral

Espaços esses que eram aproveitados por Ceará e Egídio. Com os volantes do Resende tentando bloquear a entrada da área pelo meio, era um caminho natural procurar os flancos. Os ponteiros da segunda linha do Resende, Guto e Rafael Carioca, até que tentavam acompanhar os avanços dos laterais cruzeirenses pelo setor, mas eram sobrecarregados com a chegada de trás de Guerreiro e Nilton. Além disso, ainda havia o suporte dos meias. E foram em jogadas nestes setores que se originaram os lances de bola parada dos dois primeiros gols.

Tudo isso contribuiu para que este fosse o jogo em que o Cruzeiro menos tivesse posse de bola pelo meio: apenas 20,98%, bem abaixo da média de 29,03% até o jogo anterior. Pelos lados, os números demonstram a imprevisibilidade do time: aproximadamente 38% de posse pela esquerda e 40% pela direita (números da Footstats disponibilizados no site da ESPN Brasil).

Zagueiro ofensivo

Este ligeiro favorecimento do Cruzeiro pelo lado direito talvez seja explicado pelos constantes avanços de Dedé. Bem na sua característica, o estreante da noite tinha liberdade total para se juntar ao ataque, num movimento que parecia estar treinado há muito tempo. Guerreiro e Nilton se alternavam na recomposição da zaga quando Dedé avançava como homem-surpresa.

O interessante é que esta movimentação é uma forma diferente de resolver um problema que este blog já vem levantando há algum tempo, que é a falta de um volante criativo e ofensivo no meio-campo celeste. Com um dos volantes defensivos cobrindo a zaga, Dedé pode ser este homem, arrastando consigo a marcação e abrindo espaços preciosos para seus companheiros. É claro que a postura defensiva do Resende, tentando evitar uma goleada histórica, contribuiu para que Dedé tivesse todo o espaço que teve. Mas não deixa de ser uma característica que deve ser bem explorada pelo time celeste no Brasileiro.

Segundo tempo

Nilton se machucou no último lance da etapa inicial e teve de ser substituído no intervalo. Marcelo Oliveira escolheu Lucas Silva, e com isso Dedé passou a ficar mais contido, já que o garoto tende a avançar mais para o ataque e dar opção de passe do que os dois volantes titulares. Mas fora isso, não houve nenhuma mudança tática significativa. Já no Resende, Paulo Campos fez uma dupla substituição: Vinicius Casão entrou na vaga de Guto mas ficou mais avançado, numa tentativa de contar os avanços de Egídio; e Deoclécio entrou na vaga de Denilson para cobrir aquele setor, formalizando um 4-3-3 “defensivo”, ou seja, com três jogadores em linha no meio, ao invés do triângulo usual.

Mas logo as três minutos o Cruzeiro ampliaria em contra-ataque bem executado, iniciado por um bote certeiro de Egídio, que passou por Everton Ribeiro antes de Borges fuzilar de fora da área. A imensa vantagem fez com que o Cruzeiro passasse a tocar mais do que dar velocidade, mas sem chegar os níveis alarmantes de preguiça do jogo de ida em Volta Redonda. E o Resende, já sem esperanças de se classificar, simplesmente queria terminar a partida de forma honrosa, talvez marcando um gol num estádio de Copa do Mundo. A soma destes dois fatores fez com que o jogo ficasse um pouco mais lento.

Mais uma estreia

Com a entrada dos jovens, um 4-2-3-1 mais "tradicional", com dois ponteiros de fato e um volante que sai mais para o jogo

Com a entrada dos jovens, um 4-2-3-1 mais “tradicional”, com dois ponteiros de fato e um volante que sai mais para o jogo

Aos 15, Élber entrou na vaga de Everton Ribeiro, mantendo o 4-2-3-1 inicial mas com o garoto bem mais aberto pela direita. No Resende, Acosta daria lugar a Clebson Monga, uma substituição direta de centro-avante por centro-avante. E no Cruzeiro, Dagoberto deixaria o campo para a estreia de Lucca, que também jogou aberto na esquerda.

Renovado com a energia dos jovens, o Cruzeiro passou a buscar mais o gol, e ele naturalmente veio em jogada dos dois ponteiros. Élber recebeu na direita e achou Lucca dentro da área, totalmente sem marcação, que concluiu com eficiência. Gol logo na estreia para um jogador muito promissor, garantindo a goleada “oficial” (porque 3 x 0, para este blogueiro, não é goleada, nem nunca foi).

Agora é o Brasileirão

A classificação para a terceira fase da Copa do Brasil era mais que esperada, e foi com autoridade, com superioridade durante os 180 minutos. O Cruzeiro jogou bem tecnicamente (apesar de algumas finalizações erradas) e taticamente, mostrou ter peças de reposição e vontade mesmo em partidas em que possui grande vantagem. Ainda houve a estreia de dois reforços que pareciam estar entrosados há muito tempo. É o que dizem: em time bem montado, o encaixe de novas peças é mais fácil.

Então, por tudo isso, acredito que o Cruzeiro está preparadíssimo para a disputa do Brasileirão. Alguns comentaristas ainda não colocam o Cruzeiro como favorito: neste guia, por exemplo, o Cruzeiro está no mesmo patamar do Santos — o que é ridículo — e atrás de Botafogo, Inter, Grêmio e São Paulo, que são no máximo do mesmo nível. Mas como não jogamos o Paulista nem o Carioca — que cá pra nós, são campeonatos bem fraquinhos — e estamos fora da Libertadores (por enquanto), ninguém sabe da força do nosso time senão nós cruzeirenses.

Mas talvez assim seja melhor. Cinco rodadas antes da Copa das Confederações mostrarão ao resto do Brasil que o velho Cruzeiro, que todos temem, está de volta.

Cruzeiro 2 x 1 Atlético/MG – Com onze contra onze é outra história

O Cruzeiro venceu o seu rival, consolidando os 100% de aproveitamento no Mineirão em 2013 e quase conseguiu uma título histórico sobre o melhor time que o rival teve nos seus últimos anos. Uma partida que serviu para provar que o caneco era sim uma possibilidade bem real, não fosse a expulsão no primeiro jogo — àquela altura o jogo estava 1 x 0 e o Cruzeiro ensaiava uma reação.

O jogo em si foi muito mais decidido em termos de estratégia do que propriamente na parte tática, mas o Cruzeiro soube explorar bem alguns pontos fracos do Atlético Mineiro e venceu merecidamente.

O onze inicial

No 1º tempo, Diego Souza e Everton Ribeiro ocuparam os volantes adversários para dar liberdade a Dagoberto nas costas de Marcos Rocha pela esquerda

No 1º tempo, Diego Souza e Everton Ribeiro ocuparam os volantes adversários para dar liberdade a Dagoberto nas costas de Marcos Rocha pela esquerda

Marcelo Oliveira mandou o 4-2-3-1 usual a campo, com duas mudanças na linha defensiva de Fábio: Paulão na vaga do suspenso Bruno Rodrigo e Egídio promovido à lateral esquerda. Léo e Ceará na direita completaram a defesa. Leandro Guerreiro se plantou na cabeça da área, tendo Nilton a seu lado como suporte. À frente, Diego Souza se movimentava, ajudado por Everton Ribeiro à direita e Dagoberto pela esquerda, no posicionamento mais espetado de costume. Borges foi a referência dentro da área ofensiva.

O Atlético Mineiro de Cuca,  também no 4-2-3-1, veio com a mesma defesa do primeiro jogo, contrariando expectativas pela volta de Leonardo Silva à zaga. O gol de Victor foi mais uma vez defendido por Réver e Gilberto Silva, flanqueados por Marcos Rocha pela direita e Richarlyson pela esquerda. No lugar do suspenso Pierre, Josué fez a dupla volância com Leandro Donizete. E à frente, o quarteto ofensivo costumeiro: Tardelli partindo da direita, Bernard da esquerda, Jô de centro-avante e Ronaldinho na faixa central.

Estratégias

Com grande vantagem no placar agregado, o Atlético Mineiro jogou todo o primeiro tempo se poupando. Talvez já estivessem pensando na partida pela Libertadores, mas não foi a postura “normal” do time rival, aquela que vem arrancando elogios pelo Brasil afora: intensidade e marcação avançada. Um estilo de jogo que se encaixa mais na proposta cruzeirense, de rodar a bola, cadenciar e esperar os momentos certos para acelerar o jogo. Assim, os quatro homens de frente dos visitantes limitaram-se a dar o primeiro combate na linha de meio-campo, tentando pegar um erro de passe do Cruzeiro para encaixar um contra-ataque.

Porém, o Cruzeiro foi paciente, mesmo sabendo que devia fazer três gols e não levar nenhum para ser campeão. Tocou a bola com paciência e aos poucos achou as brechas na marcação atleticana. Mas não sem se arriscar, pois assim é o futebol, e o Atlético Mineiro teve algumas chances em contra-ataques nas costas dos laterais — mais especificamente Egídio, que apoiava com mais intensidade. Do outro lado, Ceará venceu mais uma vez o duelo com Bernard e foi seguro na marcação, apoiando só na boa.

Caminhos do gol

Com os flancos bloqueados, restou ao time rival atacar pelo centro. Mas Ronaldinho se aquietou diante da ótima marcação individual de Leandro Guerreiro — que desta vez se limitou a fazer apenas isso, como na partida inaugural da temporada. Assim, restou a Jô tentar desarrumar a defesa cruzeirense. O grandalhão até que ganhou alguns duelos individuais, mas sempre havia mais cruzeirenses que atleticanos na segunda bola, e assim a principal jogada aérea estava comprometida.

No Cruzeiro foi o inverso. Richarlyson era lateral zagueiro e quase nunca apoiava, mas o ímpeto ofensivo natural de Marcos Rocha abria espaço às suas costas. Dagoberto explorou muito bem este setor, ajudado pela movimentação de Diego Souza e Éverton Ribeiro, que ocupavam os volantes adversários em duelos sem claros vencedores, obrigando Gilberto Silva a fazer a cobertura no um contra um. Assim nasceu o lance do primeiro pênalti. O drible veloz venceu a experiência e o próprio Dagoberto converteu o pênalti sofrido.

A desvantagem no placar não mudou a postura do time visitante, que continuava assistindo a posse paciente do Cruzeiro e tentando partir em velocidade. O lance do segundo pênalti mostra a diferença de atitude: Richarlyson foi tranquilo demais para uma bola que parecia perdida, enquanto Borges foi com sede ao pote, resultando no pênalti convertido que reduziu a vantagem atleticana ao mínimo.

Segundo tempo

Sem alterações, os times voltaram com posturas diferentes. O Atlético Mineiro avançou a marcação e tentou ficar mais com a bola nos pés, e aí o jogo mudou de lado. O time visitante tentou sair pro abafa para marcar logo o gol que praticamente selaria o caneco. Mas o Cruzeiro se defendia bem e só deixou a meta de Fábio ser ameaçada em um chute de Jô na trave. Mas esse estilo de jogo não era suficiente, pois o Cruzeiro precisava de mais um gol e não de se defender, e por isso Marcelo Oliveira mandou Ricardo Goulart na vaga de Diego Souza. Goulart é mais criativo e tentaria passes mais incisivos.

A alteração surtiu algum efeito, já que o jogo ficou mais equilibrado, com uma chance de cada lado: Réver em cabeceio para linda defesa de Fábio e Borges em lance de contra-ataque que Victor defendeu. Logo depois desse lance, ele sairia para Anselmo Ramon, numa tentativa de Marcelo Oliveira de usar o feitiço contra o feiticeiro: bola longa para o pivô disputar de cabeça ou segurar para os companheiros chegarem, afastando o time rival da área defensiva.

Erro fatal

No fim, o Cruzeiro foi para o abafa, muito mais na vontade, mas não superou a linah de 5 defensores do rival

No fim, o Cruzeiro foi para o abafa, muito mais na vontade, mas não superou a linha de 5 defensores do rival

Durante dez minutos, nos quais houve somente trocas diretas — Ceará por Mayke, e no rival, Bernard por Luan, e Jô por Alecsandro — o jogo ficou aberto, com qualquer lado podendo marcar. O Cruzeiro teve chances e ensaiava um domínio quando Egídio, que ironicamente era um dos melhores do jogo, errou um passe e entregou a bola para Luan, que avançou pra cima de Léo. O próprio Egídio dobrou a marcação com o zagueiro e Luan caiu dentro da área. O pênalti inexistente foi marcado, e o gol do rival esfriou o que poderia ser um fim de jogo eletrizante.

A partir daí o Cruzeiro foi pra cima mais na vontade. O Atlético se contentou em segurar o Cruzeiro, sabendo que agora tinha dois gols de vantagem. Na única alteração tática da partida, Cuca mandou Leonardo Silva a campo na vaga de Diego Tardelli, fechando a porta da área num 5-3-1-1 com o recuo dos alas para a linha dos três zagueiros e explorando o contra-ataque, que agora era cedido amplamente pelo Cruzeiro. Marcos Rocha quase faz um golaço assim, mas Fábio salvou.

O Cruzeiro ainda teve algumas finalizações, e Luan ainda seria expulso por falta em Dagoberto, faltando três e acréscimos para terminar, mas se sentou no gramado após o cartão e a confusão que se sucedeu enterrou as esperanças dos gols necessários.

Foi por pouco

A segunda vitória do Cruzeiro sobre o rival no ano foi inconteste e merecida, provando que o time atleticano não está tão à frente como pregam. O título não veio, mas a vitória, com autoridade, mostrou que o Cruzeiro tinha sim time para fazer frente ao tão “badalado” rival também no primeiro jogo. Não há como negar que a expulsão de Bruno Rodrigo foi fator determinante para o placar elástico naquela partida.

Com cinco meses de trabalho, um time ainda em formação conseguiu equilibrar uma decisão praticamente perdida contra uma equipe que joga junto há dois anos. O início de trabalho é excelente. É claro que os jogadores precisam se entrosar ainda mais, tendo em vista que alguns jogadores ainda nem estrearam, como Dedé e o possível volante passador que virá, assim como o próprio Marcelo Oliveira precisa conhecer mais as características de seus jogadores e ter a leitura correta do jogo em situações adversas.

Assim, se o Cruzeiro fosse campeão, não seria nada surpreendente. Apenas serviria para alertar o Brasil todo o que nós, cruzeirenses, já sabemos desde o ínicio da temporada: o bom e velho Cruzeiro está de volta e vai brigar na frente nesta temporada. Por outro lado, o fato de não termos campeonado tenha este único aspecto bom: ninguém vai olhar para nós como favoritos, e todos apostarão suas fichas em outras equipes. Enquanto isso o Cruzeiro vai comendo pelas beiradas, e quando prestarem atenção, já estaremos à frente.

Como bons mineiros.

Atlético/MG 3 x 0 Cruzeiro – Podia ter sido menos pior

Em Superclássicos como o do último fim de semana — no qual os dois times passam por bons momentos tanto nos resultados quanto no futebol mostrado — qualquer pequeno detalhe faz a diferença. E, para azar nosso, estas diferenças foram todas contra nós: a falha de Éverton, a expulsão de Bruno Rodrigo, substituições questionáveis de Marcelo Oliveira e, principalmente, a diferença na postura defensiva de ambos os times.

Talvez o lance que mais ilustre esta última diferença foi o primeiríssimo de todos. Assim que o juiz apitou, os jogadores do Cruzeiro não tocaram na bola imediatamente, esperando a reação dos rivais, que foi invadir o grande círculo atrás da bola, na ânsia de roubá-la o mais rápido possível. Tiveram de voltar, pois a bola ainda não estava em jogo, mas foi uma boa ilustração de como o Cruzeiro queria estudar o adversário em campo, enquanto o Atlético Mineiro queria pressionar o Cruzeiro e aumentar a velocidade do jogo.

Estratégia inicial

O 4-2-3-1 sem graça do Cruzeiro no primeiro tempo. Repare na falta de setas que indicam movimentação.

O 4-2-3-1 sem graça do Cruzeiro no primeiro tempo. Repare na falta de setas que indicam movimentação.

Nenhuma surpresa na escalação e no sistema de ambas as equipes, o 4-2-3-1. Como previsto, os times tiveram estratégias diferentes com a posse de bola: o Cruzeiro tentava cadenciar, tirando a velocidade do jogo, pois a intensidade favorece o estilo de jogo do rival. O Atlético Mineiro, por sua vez, acelerava assim que roubava a bola, pela mesma razão.

Mas, diferente do que este blogueiro imaginou, os esquemas de marcação também eram diferentes. Enquanto o Atlético Mineiro de fato fazia o encaixe individual por função, ou seja, “cada um no seu”, mas com uma sobra atrás — o Cruzeiro não fez o mesmo. Talvez por falta de entrosamento, mas os jogadores relutaram em sair de suas posições iniciais, fazendo uma espécie de marcação zonal meio capenga. Leandro Guerreiro não foi atrás de Ronaldinho por todo o campo, e o camisa 10 adversário passou por todas as quatro posições ofensivas, trocando frequentemente com Jô e Bernard. Isso confundia a marcação celeste, ilustrada no único lance de real perigo nos quinze minutos iniciais: ligação direta para Ronaldinho que, mesmo marcado por Léo e Ceará, conseguiu girar e bater pro gol, encontrando Fábio.

Desvantagem

Foi então que a intensidade que o Atlético Mineiro queria impor surtiu efeito. Éverton, com a bola dominada, foi pressionado imediatamente por Marcos Rocha e Bernard. Ao invés de se livrar da bola, tentou sair jogando e perdeu para o lateral atleticano, que entrou para dentro do campo e deu a Ronaldinho na esquerda, marcado de longe por Ceará. De primeira, ele achou Jô entrando livre entre os dois zagueiros para abrir o placar. Uma jogada de altíssima velocidade, mas que poderia ter sido evitada se os defensores cruzeirenses tivessem reações mais rápidas após a perda da bola. Coisas que certamente virão com mais entrosamento.

Com o controle do placar, a postura do time mandante mudou. Deixou de fazer pressão no campo adversário e ficava esperando o Cruzeiro em seu próprio campo, que, diferentemente das outras partidas, não se movimentava na frente como deveria. Borges ficou muito preso no duelo com Gilberto Silva, mesmo levando vantagem em certos lances; Éverton Ribeiro sumido com a marcação forte imposta por Richarlyson; Diego Souza tentando variar entre o centro e a direita, mas sem sucesso, e Dagoberto isolado do lado esquerdo.

Sem criatividade de trás — coisa que já falamos neste blog antes — o Cruzeiro não ameaçou o gol de Victor e tomava contra-ataques seguidos. Fábio salvou algumas bolas importantes, garantindo a desvantagem mínima até o fim do primeiro tempo.

Pequena melhora e expulsão

Com vários jogadores amarelados, Marcelo Oliveira resolveu mexer no time, mas tinha que escolher os jogadores que sairiam. Fez uma troca direta, com o nervoso Éverton dando lugar a Egídio, e tirou o apagado e amarelado Éverton Ribeiro para lançar Ricardo Goulart, que foi tentar dar mais criatividade à saída de bola. Deu certo por alguns minutos, com o Cruzeiro aparecendo mais no campo do rival, com Egídio fazendo boa jogada pela esquerda.

Porém, quando o Cruzeiro dava sinais de que podia reagir, Bruno Rodrigo levou o segundo amarelo e deixou o time celeste com dez jogadores. O segundo cartão foi inquestionável, mas o primeiro foi bobo — uma disputa aérea impossível de vencer contra Victor na área atleticana. Faltou tranquilidade ao zagueiro que vinha sendo o mais regular do time.

Se com onze contra onze, com o rival em boa fase, já era difícil, com um a menos ficou ainda mais. Assim, a estratégia correta era segurar o adversário num 4-4-1 com as linhas próximas, tentando sair em contra-ataques, principalmente nas costas de Marcos Rocha, o lateral que avançava mais. E o homem perfeito para isso era Dagoberto. Além de jogar naturalmente pelo lado esquerdo, justamente nas costas do lateral atleticano, ele era o único dos três homens de frente titulares com velocidade para recompor a linha defensiva e partir em contra-ataque.

Assim, o sacrificado para a recomposição da zaga com a entrada de Paulão devia ser Borges ou Diego Souza, com preferência pelo primeiro, pois Diego é mais físico e tinha mais condições de disputar bolas aéreas e dar casquinhas para Dagoberto partir no um contra um. Mas Marcelo Oliveira tirou o camisa 11 e deixou dois jogadores lentos à frente. Estranhamente, após a expulsão, o Atlético Mineiro pareceu relaxar. E o Cruzeiro ficou mais com a bola, tentando achar passes no ataque despovoado e sem amplitude. Foi um período infrutífero de posse de bola, exceção feita à bola na trave de Diego Souza em chute de longe. Pelo menos serviu para manter o adversário longe do gol de Fábio.

Com um a menos, o Cruzeiro abriu os corredores para os laterais adversários ao invés de se plantar em duas linhas de quatro

Com um a menos, o Cruzeiro abriu os corredores para os laterais adversários, ao invés de se plantar em duas linhas de quatro

Aos poucos, o rival foi avançando as linhas e empurrando o Cruzeiro pra trás, até retomar o controle da bola. A instrução de Marcelo Oliveira após a substituição era fazer o 4-4-1, mas o time se portou mais numa espécie de 4-2-2-1, pois Diego não foi fechar o lado esquerdo como deveria, abrindo um corredor para os laterais apoiarem sem ter preocupações defensivas. Pela direita, Richarlyson ficou naturalmente mais preso, mas do outro lado Marcos Rocha avançava constantemente, o que teria implicações mais pro fim da partida.

Os outros gols

O segundo gol atleticano começou num escanteio mal cobrado por Ronaldinho. Mesmo assim, o Atlético manteve a posse da bola e rodou até chegar novamente a Ronaldinho, marcado por Egídio mas que não impediu novo cruzamento pra área. Paulão fez o corte e foi atrapalhado por Jô, e Léo, que não é zagueiro rápido, não conseguiu ir atrás de Tardelli para impedi-lo de aproveitar a sobra.

Sem ofensividade, já que àquela altura o Atlético mandava na posse de bola, o Cruzeiro nada mais fez. E o corredor aberto pelo lado esquerdo cobrou o seu preço. O terceiro gol foi de Marcos Rocha, pegando rebote da defesa de Fábio dentro da área, e sem nenhuma marcação por perto.

Cuca fez substituições, mas que não tiveram nenhum impacto tático na partida, e assim foi sacramentada a primeira derrota cruzeirense em 2013.

Dá pra virar?

É claro que é fácil apontar culpados, mas o futebol é um esporte coletivo. Se Léo estava falhando na zaga, se Bruno Rodrigo teve que fazer a falta em Ronaldinho e levar o segundo amarelo, é porque estiveram sobrecarregados, não tiveram ajuda defensiva na frente. Se Éverton perdeu a bola, foi porque não teve socorro ou linhas de passe fáceis após ser pressionado. Então o Cruzeiro inteiro é que foi abaixo, não só alguns jogadores.

Mas o futebol é maravilhoso. Não só porque, mesmo após derrotas como essa, onde se vê o maior rival sendo superior em praticamente todos os quesitos, o torcedor continue amando e torcendo pelo seu time, mas também porque ele já nos provou, inúmeras vezes, como é capaz de produzir resultados que ninguém espera. Um gol a cada trinta minutos não é nada surpreendente para quem já venceu este mesmo time por um placar bem mais elástico e em condições muito mais desfavoráveis — há que se considerar que o treinador e metade dos jogadores do rival estava presente naquele 6 a 1.

Para isso é preciso mudar. Mais do que de peças, mais do que de sistema, é preciso mudar de postura. O Cruzeiro da primeira partida respeitou demais a boa fase do Atlético Mineiro e não foi o Cruzeiro que nos acostumamos a ver neste início de ano — marcando forte, querendo a bola para si e tê-la nos pés. O Atlético jogou o que vem jogando sempre; o Cruzeiro é que não. É claro que eles poderiam vencer mesmo se o Cruzeiro jogasse tudo o que jogou até agora, pois assim é o futebol.

Mas que seria menos pior, seria.

Especial: Prévia tática da decisão do Campeonato Mineiro 2013

Chegou a hora. Era previsível: o Superclássico decidirá o Campeonato Mineiro. E, pela primeira vez nos últimos anos, sem um claro favorito, pois era comum um dos times estar bem e o outro “mais ou menos”. Agora não: ambos provaram que podem jogar bem. Então, nada mais justo do que fazer uma prévia tática sobre o maior jogo de Minas Gerais. Vou além: com o Carioca e o Gaúcho decididos, e com a final do Paulista com dois times que não inspiram confiança, a decisão do Mineiro provavelmente será o maior jogo do Brasil nos próximos fins de semana.

Um pouco sobre o jogo contra o Villa

Mas antes, pra não dizer que não falei de flores, uma rápida pincelada sobre o jogo da volta das semifinais contra o Villa Nova. Muitos titulares foram poupados já pensando na decisão de domingo, naquilo que foi uma batalha dos losangos de meio-campo. Na verdade, batalha é modo de dizer, pois foi praticamente um ataque contra defesa, já que o objetivo claro do time de Nova Lima era perder de pouco pra ficar com o título simbólico de “Campeão do Interior”.

Rafael no gol, com Mayke, Paulão Bruno Rodrigo e Egídio na linha defensiva. Guerreiro foi o vértice baixo, com Tinga pela direita e Lucas Silva pela esquerda, e partindo do centro para as pontas, Ricardo Goulart. Diego Souza jogou mais à frente, uma espécie de segundo atacante, se aproximando de Borges. Um 4-3-1-2 losango, com os corredores pelos lados abertos para os laterais subirem até a intermediária adversária e encontrarem uma muralha. Tinga e Mayke combinaram bem mas tiveram dificuldade com a forte marcação do Villa, mas pelo lado esquerdo, boa aparição de Lucas Silva e Egídio, que coroou sua boa atuação com um belíssimo gol de falta.

Já no domingo, os treinadores devem escalar seus times no mesmo 4-2-3-1 costumeiro de suas equipes. E, apesar de jogarem no mesmo sistema base, a forma de atuar é diferente. Isso porque os jogadores que compõem os sistemas tem características diferentes.

Perto das balizas

130510_ataque_atleticomg_cruzeiroA começar pelas duas grandes áreas. Enquanto Jô é um centro-avante típico, grandalhão, com boa bola aérea tanto na disputa no meio quanto dentro da área para finalização, e boa retenção de bola, para esperar seus companheiros passarem e fazer o passe, Borges é mais oportunista e tem melhor senso de posicionamento. Léo e Bruno Rodrigo deverão fazer um jogo mais físico contra o atleticano, mas Réver e provavelmente Gilberto Silva terão um combate mais “leve” contra Borges. Marcelo deveria posicionar nosso camisa 9 mais em cima de Gilberto Silva, que é mais lento e menos técnico do que Réver.

130510_defesa_atleticomg_cruzeiroMas existe uma semelhança: ambos vão sair da área e tentar se desvencilhar da marcação dos zagueiros adversários. Borges deverá recuar um pouco mais para receber algumas bolas longe da perseguição dos zagueiros atleticanos, obrigando-os a sair à caça e abrindo espaço para Dagoberto e Diego Souza chegarem de trás. No Atlético Mineiro, que joga junto há mais tempo, o quarteto ofensivo roda mais, e provavelmente veremos Léo ir atrás de Jô até o meio-campo se for preciso. Cabe aos companheiros de linha defensiva fazerem a cobertura.

Meiúca

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No centro do meio-campo, nenhuma das duas equipes possui volantes que saem muito para o jogo. Um deles deverá ser destacado para fazer uma perseguição ao meia-central adversário: Pierre e Leandro Guerreiro serão as sombras dos camisas 10 do time adversário, Diego Souza e Ronaldinho. Mas, com a diferença de estilos dos meias, provavelmente Guerreiro fará uma marcação mais forte do que Pierre, já que Diego não é passador como Ronaldinho, mas sim carregador de bola, mais físico, chegando mais à área, quase como um segundo atacante.

Com isso Leandro Donizete e Nilton travarão um duelo particular. Marcadores por natureza, ambos terão uma função de chegar mais à frente para ser um quarto homem de meio nas ações ofensivas. No clássico do início do ano, Nilton foi mais participativo e deu uma ligeira vantagem no meio-campo para o Cruzeiro, que em clássicos faz toda a diferença.

Na destra

Pela direita, o jogo será menos intenso, apesar da presença do leve Bernard duelando com Ceará. Nos últimos clássicos, Ceará fez bem o papel primário de um lateral: defender. E com isso levou vantagem sobre Bernard na maioria das vezes. A única exceção foi o lance do primeiro gol na última rodada do Brasileirão 2012. Na reabertura do Mineirão, Bernard pouco produziu pelo lado esquerdo, principalmente por causa do bom trabalho defensivo do camisa 2

Na frente, Everton Ribeiro não deve explorar tanto a quina do campo, e sim entrar mais para o meio, também pelo fato de ser um ponteiro meia de origem, ao contrário dos outros três (Dagoberto pelo Cruzeiro, e Bernard e Tardelli pelo Atlético Mineiro, que são atacantes). Richarlyson deve acompanhá-lo onde for, também pelo fato de ser um lateral mais preso, que apoia pouco. Isso abre o corredor para Ceará subir e dar amplitude, mas com muita cautela para não abrir espaço às suas costas e proporcionar uma das armas mais usadas do adversário: a diagonal longa do lateral para o ponteiro oposto.

Na canhota

130510_esquerda_atleticomg_cruzeiroChegamos à região onde acredito ser a mais intensa da partida. Tanto Éverton quanto Marcos Rocha são laterais que apoiam bastante, com muito ímpeto ofensivo. Ao mesmo tempo, estarão a cargo de marcar atacantes rápidos, com características ligeiramente diferentes. Dagoberto é mais driblador, rápido, bom na vitória pessoal, enquanto Tardelli é um pouco mais lento, mas se movimenta mais pelo campo, chegando na área junto com Bernard pelo outro lado. Tanto Everton quanto Marcos Rocha correm riscos se subirem demais para o apoio, abrindo espaços para os adversários ponteiros explorarem.

Marcos Rocha é, na modesta opinião deste blogueiro, o ponto mais sensível do time adversário. Se Dagoberto estiver em tarde inspirada, dificilmente o lateral atleticano conseguirá pará-lo, pois não tem a mesma experiência e serenidade que Ceará tem na marcação de Bernard (duelos muito semelhantes, por sinal). Eu diria que ali é o caminho do gol, principalmente porque Diego Tardelli não recua tanto no trabalho defensivo, e isso pode causa uma sobrecarga favorável ao Cruzeiro naquele lado.

Semelhanças sem a bola…

É claro que o jogo não será restrito a estes duelos, devido à movimentação dos quartetos de frente e ultrapassagens do volante que sobrar e dos laterais para as ações ofensivas. Mas como no Brasil praticamente não se vê marcação por zona e sim individual por função — como bem disse Eduardo Cecconi em seu blog, o famoso “cada um pega o seu e vai com ele até o final” — esses devem ser os duelos mais comuns, pois tanto Cruzeiro quanto Atlético Mineiro se utilizarão deste sistema.

Além disso, é bem provável que ambos os treinadores ordenem seus homens de frente a marcar o adversário perto da área ofensiva, o famoso “pressing”. Portanto, podemos esperar muitos passes errados, muita “bola pro mato” e, principalmente, um jogo muito pegado, físico — provavelmente haverá mais cartões amarelos que o normal. Talvez um ou dois vermelhos.

… e diferenças com ela

Com a bola, porém, os dois times trabalham de maneira diferente. O Atlético Mineiro é intenso, aumenta a rotação do jogo e não tem medo de usar ligações diretas, principalmente em seu estádio. Isso porque tem um bom pivô, jogadores velozes pelas pontas e um passador nato no meio. O entrosamento de dois anos jogando junto sob o mesmo treinador também ajuda. Já o Cruzeiro é um time que valoriza a posse de bola e — pra usar um termo que Marcelo Oliveira gosta — tenta envolver o adversário, abrindo espaço entre as linhas com passes rápidos, mas com mais calma e escolhendo a hora de acelerar.

Em suma: ambos são times velozes, mas o Atlético Mineiro é intenso sempre, enquanto o Cruzeiro tenta variar. Como o primeiro jogo é no Independência, e o Atlético Mineiro tem que inverter a vantagem, provavelmente tentará acelerar o jogo a toda hora. Cabe ao Cruzeiro saber aproveitar isso, “cansando” o adversário e tocando a bola para trazer a partida para o seu gosto.

O primeiro grande teste

O primeiro grande teste -- para AMBAS as equipes

O primeiro grande teste — para AMBAS as equipes

Muito se fala sobre este ser o primeiro grande teste para o Cruzeiro na temporada. De fato, os adversários que o Cruzeiro enfrentou até aqui, com exceção da reabertura do Mineirão, respeitaram demais o Cruzeiro e não encararam de frente. Mas reitero a conclusão do post passado: o Cruzeiro enfrentou o mesmo nível de oposição nas temporadas anteriores e não teve o mesmo rendimento — a invencibilidade precisa sim ser levada em conta. Assim, por se tratar de um clássico, pela vantagem que o Cruzeiro tem, e pela confiança que o time passa à torcida, é possível dizer que o Cruzeiro é o time com mais chances de vencer o “badalado” Atlético Mineiro desta temporada.

E, pra ser sincero, com a bolinha que o São Paulo jogou na Libertadores, e com o nível do futebol brasileiro tão acima dos demais vizinhos sul-americanos… É o primeiro grande teste pra eles também.

 

Resende 1 x 2 Cruzeiro – O preço da preguiça

Bem consciente de sua superioridade sobre o adversário — o que pode ser bem perigoso no esporte bretão — o Cruzeiro venceu mais uma. Mas num lance de falta de sorte com uma pitada generosa de preguiça, terá de jogar a partida de volta contra o Resende no Mineirão.

Apesar de Marcelo Oliveira colocar o que é considerado o time titular em campo, à exceção de Ceará, o time claramente se poupou, pois sabia que o adversário era inferior. Mas o Resende, por sua vez, também sabia disso, e tratou de fechar todos os espaços possíveis para poder visitar o Mineirão. E não teriam conseguido se o Cruzeiro tivesse jogado com um pouco mais de afinco.

O Cruzeiro entrou no 4-2-3-1 usual, mas sem velocidade e movimentação dos homens de frente, imporantíssimos neste sistema

O Cruzeiro entrou no 4-2-3-1 usual, mas sem velocidade e movimentação dos homens de frente, importantíssimos neste sistema

O treinador do time da casa, Eduardo Allax, escalou o Resende num 4-3-1-2, mas diferente do comum para este sistema, o meio-campo não era um losango. A linha defensiva do goleiro Mauro era composta pelos zagueiros Marcelinho e Thiago Sales, Filipi Souza fechando pela direita e Kim na lateral esquerda. Os três volantes formavam uma parede na frente da área, com Dudu por dentro, Léo Silva na direita e Denilson na esquerda. Hiroshi ficava mais à frente e com a responsabilidade de puxar os contra-ataque, e era ladeado por Geovane Maranhão e Elias.

Já o Cruzeiro foi escalado por Marcelo Oliveira no mesmo padrão que você, caro leitor assíduo deste blog, já está acostumado a acompanhar. De trás pra frente e da direita pra esquerda: Fábio no gol; Mayke (na vaga de Ceará), Léo e Bruno Rodrigo e Everton na linha defensiva; Leandro Guerreiro e Nilton na volância; e Everton Ribeiro, Diego Souza e Dagoberto atrás de Borges. Nenhuma novidade.

Bloqueio pelo centro

O treinador Eduardo Allax talvez tenha entrado neste blog e lido sobre a facilidade que Diego Souza teve na entrada da área na primeira semifinal contra o Villa (sim, eu sei que não). Isso porque plantou os três volantes fazendo uma muralha contra Diego Souza. O camisa 10, sem imprimir mesma movimentação de jogos anteriores, ficou sumido na primeira etapa. Além disso, Allax plantou os laterais para fazer a cobertura dos volantes de lado, que saíam à caça dos meias cruzeirenses e ainda fazia seus atacantes recuarem pelos flancos com Mayke e Everton. Quase um 4-5-1.

O Cruzeiro ficou muito com a bola nos pés (quase 70%) mas era previsível, lento, sem intensidade. Não tentou achar espaços entre as linhas, não tentou se movimentar para confundir a marcação carioca. O 4-2-3-1 estava lá, rígido, sem nenhuma maleabilidade. E aqui esbarramos num velho problema: a volância pouco criativa. Leandro Guerreiro e Nilton são bons marcadores, mas não os vejo fazendo mais do que entregar para um meia ou lateral quando têm a bola nos pés.

E basicamente foi isso o que aconteceu no primeiro tempo, um jogo modorrento, moroso, como o próprio Marcelo Oliveira definiu em entrevista após a partida. A melhor ilustração sobre isso, no entanto, é o “narrador” do tempo real da ESPN Brasil no site: “Fulano está fora do jogo”, “Cruzeiro toca a bola”, “O jogo está equilibrado”, “O Cruzeiro fez 18 gols nos últimos jogos”. Pouco era sobre o que acontecia dentro de campo, o que, ironicamente, era de fato o que acontecia em campo.

Leve pisada no acelerador

No intervalo, Allax lançou o veteraníssimo Acosta na vaga de Geovane Maranhão. Foi quase um seis por meia dúzia, tirando o fato de que Acosta, pela experiência, tinha mais qualidade para fazer a retenção da bola longa e esperar os companheiros mais rápidos — e jovens — chegarem para a trama ofensiva. O treinador do Resende pode ter pensado que o Cruzeiro ficaria naquela passividade o jogo todo, mas não. Com o mesmo time do primeiro tempo, o Cruzeiro entrou mais intenso e não demorou a causar problemas. A movimentação dos meias — principalmente de Dagoberto — e a velocidade nos passes foram determinantes, e o Cruzeiro chegou ao primeiro gol justamente assim: jogada rápida para Dagoberto pela esquerda, que partiu para o drible veloz e cruzou forte. A zaga rebateu pra frente e Éverton Ribeiro, presente no meio da área, pegou o rebote fatal.

Logo depois, Nilton ampliaria em chutaço de fora da área, o que ilustra bem o que acabei de dizer ali em cima. Nilton não é um jogador criativo mas tinha bastante espaço para avançar. Então, usou sua melhor arma ofensiva: o chute. Com um volante com mais qualidade de passe, mais visão de jogo, muito provavelmente algum defensor teria de deixar a formação para encurtar a marcação neste volante, e isso consequentemente abriria mais espaços em outros setores que estavam congestionados, dando mais liberdade para os meias.

Mudança tática num time, psicológica no outro

Após o gol, Eduardo Allax tirou seu lateral direito Filipi Souza e lançou Guto, que foi jogar na meia direita. Uma tímida tentativa de alcançar um gol que provocaria a partida de volta. Com isso, o volante Léo Silva foi puxado para a lateral e o Resende agora estava num típico 4-2-2-2, mas ainda com a maioria dos jogadores com atribuições defensivas. Já o Cruzeiro voltou a fritar o jogo depois do placar “necessário” construído. Quis se poupar e ficar com a bola, confiando na sua própria capacidade de manter o time adversário longe de seu próprio gol.

Marcelo Oliveira pressentiu o placar perigoso e lançou Ricardo Goulart na vaga de Everton Ribeiro, tanto para “energizar” o time como para poupar o camisa 17, que jogava com um torcicolo homenageado na hora do gol. Depois entrou Élber na vaga de Diego Souza, e Goulart foi para o centro, com Élber na direita.

Não deu muito tempo pra avaliar. Num ataque despretensioso, a bola sobrou para Guto na entrada da área. Nilton estava perto e podia ter tentado bloquear o chute, mas não foi com aquela vontade (veja aos 02:10 neste vídeo na repetição por trás do gol). A bola saiu torta, pegou em Léo no meio do caminho e matou o goleiro Fábio. Era a morosidade cobrando o seu preço no futebol.

O gol animou o time da casa, que tentou vir pra cima na vontade, mas faltou qualidade. O Cruzeiro também não mostrou vontade de eliminar o jogo de volta, e com isso, dia 22, no Mineirão, tem mais.

Pecados futebolísticos

É claro que os jogadores do Cruzeiro tinham plena consciência de que eram superiores, bem como os do Resende. Não há dúvida que se o Cruzeiro aplicasse a mesma vontade de vencer que teve contra o Atlético no primeiro jogo da temporada, por exemplo, venceria por goleada. Mas os jogadores se pouparam e acharam que fariam o gol quando bem entendessem. Bem, isto até aconteceu, mas os deuses do futebol cobram seu preço. O gol de Guto foi uma punição para a preguiça demonstrada em campo.

Mesmo assim, o gosto amargo do jogo de volta poderia ter sido evitado se tivéssemos mais qualidade na volância, algo que venho falando já há alguns posts. Com um volante chegando como um quarto homem, com bom passe e boa visão de jogo, certamente o Resende teria sofrido mais gols e provavelmente não feito nenhum.

Mas nem tudo são espinhos. Se olharmos por outro ponto de vista, o Cruzeiro venceu uma equipe semifinalista de Taça Rio — superando inclusive equipes da série A — sem jogar o seu melhor futebol, e simplesmente porque não quis fazer isto. Então, quando quiser jogar tudo que sabe, podemos esperar algo de muito bom. Talvez eu esteja um pouco otimista demais, mas o Cruzeiro deu mostras em outras partidas que que pode ir muito longe nesta temporada. O melhor início de ano da história do Cruzeiro, superando até 2003, é um indício. Sim, o nível dos adversários enfrentados não foi dos melhores, mas o Cruzeiro enfrentou este mesmo nível de oposição nos anos anteriores e não teve o mesmo desempenho. Portanto, o otimismo é justificado.

O Campeonato Mineiro foi bem usado por Marcelo Oliveira para encaixar o time. O resultado: 95% de aproveitamento, que provavelmente será aumentado no próximo jogo contra o Villa, em ritmo de treino.

Um número melhor que qualquer outro time no Brasil tem — nem o “badalado” rival. Então é hora de colocar este número à prova.