Sobre as análises táticas da grande mídia

O futebol moderno hoje impõe versatilidade aos jogadores. É fato que o Barcelona, sob a batuta de Pep Guardiola, acaba por ditar a filosofia do futebol ofensivo em todo o mundo: todos jogam, mas todos marcam. Não existe mais aquele jogador que não tem obrigações defensivas, que fica esperando a bola para poder num lance decidir o jogo. Assim como também não existe mais aquele jogador super-defensivo, que “carrega o piano” para o craque do time poder jogar mais tranquilo.

Portanto, é mais do que natural, e cada vez mais comum, que jogadores joguem em posições que não são a sua de origem. Um caso emblemático é o de Marcelo Oliveira, que com a chegada de Celso Roth, foi parar na lateral esquerda. O volante de origem vinha jogando como segundo volante, ou pelo lado esquerdo do losango no 4-3-1-2 de Vagner Mancini, ou como vértice esquerdo do triângulo de base baixa quando num 4-3-3.

Estes jogadores comumente são taxados de “improvisos” pela grande mídia brasileira, como se a opção pela escalação do jogador naquele setor fosse um remendo que não necessariamente durará. Não raro, comentaristas gostam de dar ênfase a isto, para evidenciar que um determinado time precisa de reforços naquela posição ou que o técnico está inventando. É claro que jogar em sua posição de origem é melhor, pois o jogador está mais acostumado às funções que este papel lhe impõe. Mas ninguém pode guardar posição e ficar estático em sua zona – a Holanda de 74 foi a pioneira neste quesito, e o Barcelona atual aperfeiçoou o conceito.

Pois bem, para se fazer uma boa análise tática de uma partida, é preciso diferenciar bem três conceitos: posição, posicionamento e função. Como o excelente blog do Eduardo Cecconi já explicou:

“POSICIONAMENTO é a região do campo de onde o atleta parte NO JOGO em análise, a sua ZONA. Somados os posicionamentos de cada jogador chegamos ao sistema tático base da equipe. POSIÇÃO diz respeito à característica do jogador, é a ‘profissão’ dele, INDEPENDENTEMENTE da partida em andamento. É imutável. E a FUNÇÃO é o conjunto de atribuições que o jogador cumpre também NO JOGO observado.”

Entretanto, mesmo com essa clareza, algumas vezes percebo análises táticas muito ruins de comentaristas tarimbados, que não conseguem ir além da posição do jogador. Apresento dois casos para o mesmo jogo: Cruzeiro 0 x 0 Atlético/GO, pela primeira rodada do Campeonato Brasileiro 2012.

Como este blog já disse, o Cruzeiro jogou num 4-2-3-1, que variava para um 4-4-1-1 na fase defensiva com o recuo dos alas do meio-campo, como se pode ver em dois momentos do primeiro tempo, abaixo:

Dois momentos das duas linhas de quatro do Cruzeiro na fase defensiva

O 4-2-3-1 com a posse também fica evidenciado quando se vê o gráfico de passes recebidos pelos 5 jogadores do meio-campo no primeiro tempo:

Locais onde os jogadores de meio estavam posicionados quando receberam um passe: Amaral (vermelho), Charles (verde), Souza (branco), Montillo (azul) e Everton (amarelo)

Durante o jogo, era claro o posicionamento: Everton aberto pela esquerda, Souza pela direita, Montillo se movimentando por dentro mas caindo mais pela direita, e Charles e Amaral fazendo a dupla volância, com Charles tendo mais liberdade e Amaral mais preso na cobertura a Marcos. Até a própria abertura da transmissão acertou na hora de apresentar o gráfico com a escalação, pelo menos no sistema, pois os alas apareceram invertidos:

Até a abertura da transmissão acertou na disposição tática do time celeste, apenas invertendo os alas de lado

Durante o jogo, o comentarista Leonardo Figueiredo, durante a transmissão do pay-per-view, dizia que os dois times se posicionavam taticamente iguais, o que não é verdade. Disse que o Cruzeiro jogava com dois meias – o que é meia verdade, se consideramos apenas a posição dos jogadores, e não seu posicionamento. Mas se assim fosse, teríamos que dizer que o Cruzeiro jogou com 4 volantes, pois Marcelo Oliveira estava na lateral esquerda. Certamente o Cruzeiro não jogou num 3-4-2-1.

Dias depois, o mesmo comentarista apresentou uma análise tática muito equivocada do meio-campo cruzeirense. Ele posicionou Souza pelo lado esquerdo, plantou Amaral à frente dos zagueiros e deslocou Charles para a direita. Ora, as imagens acima desmentem isto. O que houve? Ele simplesmente não conseguiu (ou se recusou a) enxergar as atribuições de articulação de Everton, cuja POSIÇÃO é volante, mas cujo POSICIONAMENTO neste jogo era aberto pela esquerda na linha de 3 do 4-2-3-1, e sua FUNÇÃO foi de meia-esquerda. Da mesma forma, Marcelo Oliveira é volante, mas neste jogo jogou do lado esquerdo da defesa e tinha como função fechar aquele setor, deixando as atribuições ofensivas daquele lado para o camisa 11, mais à frente.

Também, o comentarista Bob Faria, em seu programa noturno “MG Esporte Clube”, apresentou uma arte onde posicionava o Cruzeiro num 4-3-2-1, da mesma forma. Pelo menos ele não colocou nomes nas bolinhas que representavam os jogadores. Correu menos risco. Ainda assim, apresentou uma análise errada.

Esta é uma das razões pelas quais decidi iniciar este blog. O nível de expertise dos ditos comentaristas na imprensa (principalmente mineira) é deplorável. Alguns se destacam e fazem excelentes análises, mas são raras exceções. A grande maioria se limita a comentar a parte técnica, dizendo que o jogador está mal ou bem na partida. Pouco ou nada sobre a parte tática.

Por isso, quando descobri, nas minhas leituras sobre o assunto, que o excelente site de análises táticas Zonal Marking também foi motivado pelas mesma razões, eu me encho de esperanças…

Cruzeiro 0 x 0 Atlético/GO – Anselmo e o Bandeirinha

A passagem de Celso Roth no comando do Cruzeiro começou com um empate sem gols contra o Atlético/GO em Uberlândia. Com atuações tecnicamente ruins de alguns jogadores, o aspecto tático também sofreu e o time celeste teve dificuldades defensivas no início, se acertou aos poucos mas foi prejudicado por um palavrão de Anselmo Ramon ao bandeirinha, que dedurou.

O 4-5-1 de Celso Roth (4-2-3-1 com a bola, 4-4-1-1 sem ela), mas com problemas pelo lado direito: Souza sem profundidade ofensiva e a deficiência técnica de Marcos obrigando Amaral a fazer a cobertura, abrindo espaços no meio

Celso Roth escalou um 4-2-3-1, com Charles e Amaral fazendo a dupla volância e Souza, Montillo e Everton atrás de Wellington Paulista. Sem a bola, Everton e Souza recuavam até a linha de volantes, fazendo um 4-4-1-1. Adilson Batista armou o Atlético Goianiense num 4-3-2-1: Pituca, Marino e Fernando Bob eram os volantes, Bida era o articulador principal e Elias era quase um segundo atacante atrás de Diogo Campos.

Dois aspectos devem ser considerados no esquema azul. O primeiro é que Souza, sendo um meia de ligação cadenciador, tendia a centralizar e não abria pela direita. Além de deixar a equipe sem poderio ofensivo por aquele lado, já que Montillo, quando caía por ali, era cercado facilmente por dois ou três jogadores adversários, essa movimentação desguarnecia aquele flanco. Além disso, Marcos não fez uma boa partida nem tecnicamente nem taticamente, tendo que receber a ajuda de Amaral para fazer a marcação pelo setor.

Estes dois efeitos combinados geravam espaços generosos na defesa cruzeirense. Com Marcos e Amaral no posicionamento “normal”, o lateral ficava constantemente no um contra um. Quando Amaral recuava para fazer a cobertura a Marcos, este avançava um pouco, mas continuava aberto pela direita, abrindo um buraco onde Amaral deveria estar. E foi pelo lado esquerdo do ataque que o Atlético/GO criou as melhores chances. Fernando Bob, volante esquerdo dos visitantes, combinava bem com Bida e ofereceu muito perigo nas costas de Marcos. Ainda, estes buracos faziam o Cruzeiro perder praticamente todas as segundas bolas, gerando longos períodos de posse dos visitantes e tirando a possibilidade de contra-ataques.

Do outro lado, Everton e Marcelo Oliveira não reeditaram algumas boas parcerias que tiveram na temporada. Isto porque Marcelo jogou como lateral zagueiro, plantado, fechando o setor, e pouco se aventurou no ataque. Isto, teoricamente, liberava Everton para fazer a meia extrema esquerda. Mas este jogou recuado demais, e por vezes era visto afundado na esquerda, empurrando Marcelo Oliveira para o meio e fazendo uma linha de cinco na defesa. O Atlético não jogou muito por ali, exatamente pela super-população de defensores, mas isso fazia com que Everton deixasse de ser uma opção de saída de jogo e o Cruzeiro ficava ainda mais previsível.

Essa previsibilidade facilitava a pressão alta do Atlético/GO. Amaral e Charles não eram os responsáveis pelo primeiro passe, como deve ser um 4-2-3-1, e o Cruzeiro teve pouca posse de bola e passes ruins. Porém, nas poucas vezes que chegava, conseguiu criar algumas boas chances. Montillo tentava o que podia: caía pelos lados – como lhe é característico, mais pelo lado direito, onde Souza não chegava ao fundo e Marcos tinha dificuldades de apoio. Foi justamente numa combinação com Souza por aquele setor que saiu a melhor chance azul no primeiro tempo: Montillo recebeu em boas condições na grande área e inverteu o jogo para Everton, que demorou na conclusão, dando chance para o bom goleiro Roberto. No rebote, Charles também mandou em cima do arqueiro visitante.

No intervalo, Celso Roth acertadamente tirou Marcos e lançou Diego Renan, perfazendo duas substituições sem mudar o esquema tático, pois Victorino já havia entrado na vaga de Alex Silva, contundido. O 4-2-3-1 se manteve, mas com muito mais segurança pelo lado direito. O efeito imediato foi que Amaral pôde voltar ao posicionamento inicial, e o meio-campo do Cruzeiro conseguiu ter mais presença, sem tantos espaços. Tanto é que, se no primeiro tempo o time visitante trocava passes na intermediária ofensiva, desta vez eram os zagueiros que jogavam a bola um para o outro, tentando achar uma brecha. Mas ofensivamente o problema da saída ruim persistia: o Atletico insistia na marcação mais adiantada e os jogadores cruzeirenses ofereciam facilmente a bola.

Roth então decidiu que WP seria uma melhor opção de saída se abrisse pela ponta esquerda, pois podia reter uma bola e girar para servir um companheiro. O treinador queimou sua última substituição tirando Everton, lançando Anselmo Ramon na referência e espetando o camisa 9 pelo lado sinistro, mas com liberdade para chegar dentro da área e concluir como centro-avante. A alteração surtiu efeito e o Cruzeiro criou excelentes chances, apenas para ser parado pelo goleiro Roberto.

Adilson Batista, então, foi para sua primeira mudança no jogo, tirando o meia Elias e colocando o centro-avante trombador William. Bida passava a ser o único articulador, e agora eram 4 contra 4 no meio-campo. O jogo se equilibrou um pouco, com chances de parte a parte, mas o Cruzeiro ainda tinha mais posse de bola. Aos 31, Anselmo Ramon reclamou “inapropriadamente” de um arremesso lateral com o bandeira. Foi dedurado e expulso de campo.

Uma das duas variações do 4-4-1 do Cruzeiro no fim da partida; a outra variação é ilustrada pelas setas amarelas

Logo após a expulsão, Adilson mandou Felipe a campo na vaga de Diogo Campos: outro centro-avante. O losango do meio se manteve, o Atlético-GO tinha um homem a mais: os volantes e laterais passaram a avançar com muito mais frequência. O Cruzeiro teve de abdicar da vitória para proteger seu próprio gol, e o fez com autoridade. Com as duas linhas do 4-4-1 bem compactadas, com Montillo e WP alternando para ser o homem mais avançado, o Atlético-GO não conseguiu entrar no bloqueio e nada fez. Adilson Batista ainda tentou mandar mais um atacante, Juninho, no lugar do volante Marino, fazendo um 4-2-1-3, quase um 4-2-4 devido ao posicionamento ofensivo de Bida, mas o substituto mal viu a bola. Fábio sequer encostou na bola até o apito final.

A conclusão é de que, obviamente, ainda há muito trabalho pela frente. Mas, diferentemente de muitos comentaristas esportivos, não acredito que o Cruzeiro tenha tomado sufoco. Foi um jogo equilibrado, com o Cruzeiro claramente ainda tentando se entender novamente após a troca de comando, contra um adversário já entrosado e bem treinado. Foi dominado, sim, mas nem sempre o time dominado vence ou merece vencer – vide Chelsea, justo campeão da Europa. Nosso time demonstrou evolução, pelo menos defensivamente, e com os novos contratados melhorará ainda mais. Tinga chega para ser titular, e já deve entrar no próximo fim de semana contra o Náutico nos Aflitos.

A aplicação tática defensiva após a expulsão demonstra que a equipe tem sim capacidade. Acredito que as vitórias virão. Claro, desde que não se xingue o bandeirinha – ou quem quer que seja.

Atlético/PR 1 x 0 Cruzeiro – Hipertensão

Um pouco de pressão alta do Atlético Paranaense no início do jogo mais uma certa incompetência nas finalizações foi a receita amarga da terceira derrota seguida do Cruzeiro. Se Vágner Mancini já tinha de colocar as orelhas em pé, agora então precisa vencer e convencer para ter sobrevida no cargo. Não que eu concorde, pois a má fase não é culpa inteiramente do treinador, mas sabemos que no futebol, principalmente aqui em terras tupiniquins, o resultado importa muito mais do que o planejamento e o trabalho.

O 4-3-1-2 losango inicial do Cruzeiro, com Roger e Amaral invertendo e sem força pelo lado esquerdo

O Cruzeiro foi a campo no 4-3-1-2 losango, mas com Roger recuando pela direita e invertendo com Amaral. Na zaga, Alex Silva estreou no lugar de Victorino, vetado. Já o Atlético-PR veio no 4-3-3 com triângulo alto (4-1-2-3) armado pelo técnico uruguaio Juan Carrasco, com o veterano Paulo Baier num posicionamento interessante: o camisa 10 recuava para ser o primeiro volante, liberando seus companheiros de meio-campo Deivid e Liguera para atacar.

Logo de cara, o Atlético partiu para a marcação no alto do campo quando perdia a bola, sufocando os defensores cruzeirenses. Foram 20 minutos de uma excelente execução de pressing. Os três atacantes pressionavam os quatro defensores e os volantes eram perseguidos pelos dois meias. Paulo Baier regia de trás.

Nas raras vezes em que o Cruzeiro conseguia passar pelo meio-campo, o Atlético imprimia velocidade no contra-ataque, com intensa movimentação do trio ofensivo. Foi justamente num destes contra-ataques que saiu o gol da partida. Roger e Amaral estavam na ponta direita disputando a posse, mas perderam a bola, que chegou para o ex-cruzeirense Guerrón, desta vez aparecendo pelo lado esquerdo. O veloz equatoriano tinha a marcação de Diego Renan, mas sem cobertura. Leandro Guerreiro tenta chegar para fazer a sobra, mas Diego Renan já havia sido driblado e Guerrón já partia em velocidade. Antes do camisa 5 alcançá-lo, ele cruzou rasteiro para dentro da área azul. Alex Silva, o homem da sobra, não conseguiu cortar e Edigar Junio conseguiu aparecer entre Léo e Everton para completar. Méritos de Guerrón, mas houve falha na cobertura a Diego Renan e na hora de cortar a bola no cruzamento.

Do outro lado do campo, Anselmo Ramon ainda nem tinha visto a cor da bola. O centro-avante azul ficou esperando a bola chegar, mas o Atlético continuava a pressão. Do lado esquerdo, Marcelo Oliveira se preocupava em marcar Deivid, e Everton segurava o atacante que caísse por ali, na maioria das vezes Guerrón. O lado esquerdo ofensivo do Cruzeiro ficou novamente deserto. Roger recuava para buscar o jogo e tentar dar qualidade à saída, numa tentativa de cadenciar o jogo, para frear a velocidade que o time mandante queria impor. Mas foi dele o lance mais bizarro do jogo: num passe muito displicente para Léo, acabou entregando para o centro-avante Patrick avançar sozinho. Fábio cresceu, o camisa 11 se assustou e desperdiçou.

A partir dos 20 minutos, a pressão atleticana foi arrefecendo. Aos poucos o Cruzeiro foi ganhando espaço, mas os atacantes estavam muito bem marcados. O Cruzeiro tentava bolas longas para os atacantes, principalmente partindo de Roger. O repórter da TV até conseguiu pegar uma conversa do camisa 7 com Vágner Mancini, reclamando que não tinha alvos para fazer lançamentos. De fato, os dois atacantes azuis estavam encaixotados na defesa paranaense: Wellington Paulista até tentava se esquivar, mas foi bem vigiado pelo lateral esquerdo Héracles. Anselmo Ramon não caía pelo lado esquerdo e ficava tentando brigar com o zagueiro Manoel, com Bruno Costa na sobra.

Aos poucos o Cruzeiro foi equilibrando as ações, mas muito mais porque o Atlético já não conseguia pressionar no campo adversário (nenhum time no mundo consegue fazer isso durante os 90 minutos com tal intensidade). Quando a bola passava pelos meias atleticanos, o Cruzeiro levava mais perigo. Isso porque  Paulo Baier já não tem mais energia para ser o único volante à frente de sua zaga, e com o avanço de Amaral pela direita, as jogadas começaram a sair. As melhores chances foram com Roger, aos 29, quando WP tirou um zagueiro da área e o meia recebeu um lançamento longo de Diego Renan mas mandou para fora, e aos 47, em cobrança de falta cujo rebote WP não conseguiu aproveitar.

No intervalo, Vágner Mancini tirou Amaral, pouco produtivo no primeiro tempo, e estreou o veterano Souza. A equipe passou a um híbrido de 4-2-2-2 e 4-3-1-2 pelo posicionamento variável de Roger. Juan Carrasco tirou Liguera e lançou o volante Zezinho, mudando para um 4-2-1-3, talvez tentando liberar Paulo Baier para se aproximar mais da área adversária. Também trocou seu centro-avante: Bruno Mineiro na vaga de Edigar Junio.

A combinação das três alterações do intervalo resultou em um Cruzeiro com mais espaço para tocar a bola no meio campo e um Atlético-PR “divorciado”, com uma enorme distância entre os três atacantes e os três jogadores de meio. Um filme que já vimos antes no nosso próprio time. O Atlético parou de pressionar alto e deixou o Cruzeiro jogar. Os laterais azuis começaram a aparecer mais à frente, e aos poucos o Cruzeiro foi desequilibrando a balança da posse a seu favor. A explicação era simples: com Souza e Roger, o time conseguia reter mais a posse de bola, e os volantes do time da casa tinham de se preocupar com os dois. Paulo Baier ficava sozinho e ainda tinha a companhia de LG e MO: 4 contra 3 no meio. Uma situação pela qual o Cruzeiro passou várias vezes no ano, dessa vez estava do lado contrário.

Até os 15 minutos, só o Cruzeiro havia criado chances. Juan Carrasco viu que seu time não ia sair do lugar, mas não tentou corrigir o erro: queimou a regra 3 lançando mais um volante marcador, Renan Teixeira, no lugar de Paulo Baier, efetivamente fazendo um bizarro 4-3-0-3. Sim, o time da casa ficou sem nenhum homem de ligação. É claro, essa função foi designada para os atacantes mais abertos, mas eles não conseguiram executá-la. O Atlético se defendia com 7 homens atrás da linha da bola, tentando partir em contra-ataques com bolas longas para a velocidade de seus pontas.

Era em vão. Marcelo Oliveira e Everton estavam combinando bem pelo lado esquerdo. Do lado direito, Wallyson foi a campo no lugar de WP para dar mais velocidade à saída. O esquema se manteve, mas o Cruzeiro agora tinha muito mais largura de ataque. Foi de Marcelo Oliveira a melhor chance do Cruzeiro para o empate. Everton mandou a Anselmo Ramon, que protegeu, fez o pivô e lançou ao camisa 8, entrando nas costas do lateral atleticano. Ele avançou até dentro da pequena área mas conseguiu mandar por cima do goleiro.

Após as alterações, a volta ao losango inicial, com muita posse de bola mas sem eficácia na criação e na conclusão

O lateral direito Gabriel Marques, que havia caído e deslocado o ombro, voltou para jogar no sacrifício, já que o Atlético já havia feito suas três alterações. Vágner Mancini, então, tentou aproveitar-se da situação lançando Gilson no lugar de Roger, empurrando Everton para o meio e mudando Marcelo Oliveira de lado, voltando ao losango no meio. Mas o tiro saiu pela culatra, pois Marcelo Oliveira não se aventurou tanto pela direita, e Gilson e Everton não conseguiram combinar tão bem e explorar a condição física debilitada de Gabriel Marques. O lateral do Atlético fez um fim de partida heróico, segurando seu próprio braço e não saindo de nenhuma dividida.

O Atlético viu que não conseguiria mais se impor e postou seus 11 homens atrás da linha da bola, dificultando de vez as ações do time celeste. Mesmo com mais posse de bola (cerca de 60% aos 30 do segundo tempo), o Cruzeiro não conseguiu mais criar boas chances e ainda tomou uma bola na trave num rápido contra-ataque rubro-negro. Mas uma coisa boa pode ser tirada desse final: o Cruzeiro não se desesperou e lançou chuveirinho na área (como é costumeiro com times que estão tentando o gol de qualquer jeito). A organização tática se manteve até o fim.

Talvez o empate fosse o resultado mais justo, pelo volume de jogo das duas equipes nas pontas do tempo da partida. No início, um Atlético elétrico, e no fim um Cruzeiro mais calmo, com mais posse, mas não tão elétrico. Porém, o Cruzeiro só jogou quando o adversário deixou. Mais uma vez. Souza deu qualidade ao meio-campo, pode ser titular. Alex Silva, apesar da falha no gol, também deu mais segurança em bolas aéreas. WP e Anselmo Ramon não jogaram bem. Talvez seja a hora de usar um ataque mais móvel. Os dois são centro-avantes, homens de referência: não podem mais jogar juntos.

Portanto, talvez o resultado mais “justo” fosse mesmo a derrota, mas com o Cruzeiro marcando gols. E, na Copa do Brasil, isso faria muita diferença para o jogo da volta.

Cruzeiro 1 x 2 América/MG – O problema nunca foi o esquema

Num ímpeto desorganizado, o Cruzeiro está fora das finais do Mineiro 2012 devido a uma excelente execução tática do América.

A formação inicial titular do Cruzeiro, com os dois meias que a torcida tanto queria, mas sem força pelo lado esquerdo

Vágner Mancini tinha todo o elenco à disposição, à exceção de Walter, e optou por entrar com o tradicional 4-2-2-2 que a torcida tanto pediu, com Roger e Montillo servido Anselmo Ramon e Wellington Paulista, deixando Wallyson de fora. Givanildo só não pôde contar com o lateral esquerdo Pará, lançando o jovem Bryan em seu lugar. No resto do time, sem mistério: o mesmíssimo 4-3-1-2 do primeiro jogo das semifinais.

Logo no início do jogo, o Cruzeiro mostrou sua proposta: atacar e muito. Anselmo Ramon recebeu de costas, girou e bateu pra fora. Seria um sinal do que o jogo seria. Mas logo no início o Cruzeiro sofreu um golpe: Rodriguinho recebeu na esquerda, ganhou no mano-a-mano com Diego Renan e conseguiu um cruzamento. Victorino estava na marcação de Alessandro, e atrapalhado pelo americano, cabeceou contra a própria meta.

Com a vantagem, o América se fechou ainda mais e se preocupava mais em defender do que incomodar em contra-ataques. Assim, deu campo ao Cruzeiro, que chegava até a intermediária até com certa facilidade. O time tinha mais posse de bola (chegou a 60% na metade do primeiro tempo), mas esbarrou no mesmo problema dos últimos jogos: a falta de criatividade no meio. Mesmo com Roger e Montillo em campo, ainda havia algum espaço entre os defensores e atacantes, sendo que Roger estava no primeiro grupo e Montillo no segundo. Roger mais uma vez afundou entre os volantes para fazer a bola rodar, cadenciar o jogo. Mas os outros jogadores pareciam não querer cadenciar e queriam resolver logo. WP e AR mal pegavam na bola e finalizavam, muitas vezes sem estarem em boas condições para isso.

Montillo, por sua vez, novamente teve Dudu em seu encalço. Recentemente ele disse que, no esquema com três atacantes, era mais difícil fugir do homem-a-homem, pois havia pouco espaço pelos lados, já que os pontas ocupam estes setores. No jogo de hoje, o argentino de fato participou mais do jogo e tentou sim cair pelos lados, mas esteve longe de ser o jogador decisivo de outros jogos. Dudu fez um excelente jogo e reduziu muito a efetividade do camisa 10.

Anselmo Ramon, como de costume, jogou enfiado entre os zagueiros, mas a bola chegou pouco a ele. WP caía pela direita e tinha a marcação direta de Bryan, com a cobertura de Leandro Ferreira. Não chegou a ser anulado, mas também não foi efetivo. Roger, quando subia (e, por vezes, até quando recuava) era vigiado pelo mesmo Leandro Ferreira, que forçava o camisa 7 a se livrar logo da bola. Sobrava sempre para Leandro Guerreiro e Marcelo Oliveira, que não fizeram um bom jogo ofensivamente. O último errou muitos passes e esteve longe de sua forma usual.

O jogador mais lúcido era Everton. Mas, como já dito neste espaço antes, ele tem tendência a centralizar, pois é meia de formação. Portanto, a ponta esquerda do Cruzeiro foi um setor pouco utilizado no primeiro tempo. Uma indicação disso é que o Cruzeiro teve 26% de sua posse pela esquerda do meio-campo, mas apenas 9% pela esquerda no ataque. Mesmo assim, foi dele a jogada do pênalti que WP conseguiu desperdiçar para vestir a camisa do Inacreditável Futebol Clube.

Sem criatividade e afobado nas jogadas pelo chão, restou ao Cruzeiro fazer o chuveirinho na área, para tentar aproveitar a boa presença de área de Anselmo Ramon e Wellington Paulista. Foram 13 cruzamentos no primeiro tempo, somente dois certos (no segundo tempo o Cruzeiro errou todos os 13 cruzamentos que tentou). De tanto insistir, o Cruzeiro chegou ao empate, não numa jogada aérea, mas na presença de área de WP. Diego Renan disputou uma bola pelo alto com o zagueiro, a bola foi em direção ao zagueiro Gabriel, que, ao tentar cortar o lance, acabou jogando para trás dando um presente para o camisa 9, que desta vez fez o gol.

O gol deu mais ânimo para o Cruzeiro, mas o América, com a cabeça fria, resolveu manter um pouco mais de posse. E para seu próprio espanto, conseguiu e até criou algumas chances. Porque este é o diagnóstico do Cruzeiro das últimas partidas: um time que passa aperto quando o adversário resolve manter a posse, já que deixa jogar, e somente consegue levar mais perigo se o adversário chamar o Cruzeiro para seu campo e abdicar do ataque. Foi assim contra o Uberaba, contra o Atlético/MG e na ida contra o América, quando o Cruzeiro só conseguiu gols na base da vontade, mas não em jogadas construídas e trabalhadas. Protagonismo, só quando o adversário quis.

Na saída para o intervalo, o meia Rodriguinho do América resumiu bem: “temos que manter mais posse na frente para que o Cruzeiro não tenha tanto volume”. E foi realmente isso o que houve no primeiro tempo: muito volume, mais posse (54%), mas pouco eficaz (4 finalizações certas de 13 tentativas).

Não houve alterações no intervalo, mas o Cruzeiro voltou a campo num losango, com Roger pela direita e LG na proteção à zaga. Num primeiro momento, o novo posicionamento até parecia dar certo, pois aso 4 minutos o América fazia uma marcação bem alta, e o Cruzeiro conseguiu sair numa linha de passe pelo chão sem dificuldades. A bola chegou a Everton na esquerda, que foi para o meio com a bola e, ao perceber que não havia ninguém na direita para o passe (Diego Renan estava mais preso hoje) resolveu ir ele mesmo até receber uma falta na entrada da área. Roger mandou no travessão.

Mas não demorou muito para o Cruzeiro começar a errar na saída de bola e o América aproveitar estes erros. Em um deles, Moisés recebeu uma bola livre na direita (Everton não estava por ali) e centrou para Alessandro completar. A bola caprichosamente bateu nos pés de Fábio, que já estava vencido, e ficou viva na frente do gol. Diego Renan tirou em cima da linha.

Vágner Mancini lançou Wallyson na vaga de Marcelo Oliveira. Com isso, Everton foi para o meio-campo, Diego Renan inverteu de lado e Wallyson foi jogar na ala direita. Sem a bola, Leandro Guerreiro afundava entre os zagueiros, empurrando Leo para a direita, desenhando um 4-3-3, com Roger ao lado de Everton e Montillo mais avançado à frente. Com ela, Guerreiro saía para fazer a primeira bola do 3-4-3 losango. Givanildo percebeu que o Cruzeiro era vulnerável na recomposição e lançou Bruno Meneghel no lugar de Alessandro para puxar os contra-ataques.

Aos poucos, o Cruzeiro começou a ter mais e mais dificuldade de saída de bola, já que o América recuava cada vez mais e fazia uma marcação perfeita. Para além da linha do meio-campo, os jogadores azuis tinham pouquíssimo espaço. WP não conseguia vencer Rodrigo Heffner pela esquerda e tinha que recuar ainda mais para tentar participar do jogo, mas era improdutivo. Wallyson até ganhava de Bryan pela esquerda e tinha chances, mas sua opção de passe era sempre ruim (ou inexistente, já que os atacantes se posicionavam na pequena área para concluir pelo alto). Dudu continuava perseguindo Montillo, que estava sumido no jogo, e Roger já estava cansado. Everton continuou sendo o melhor cruzeirense em campo, mas também errava.

Uma tentativa de explicar a formação cruzeirense após todas as alterações; meias de volante, volantes de zagueiros e zagueiro de lateral

O América levava perigo em contra-golpes e assustava, mas a pressão do Cruzeiro só aumentava. Em um dado momento, foi possível observar os 11 jogadores do América dentro da sua própria área. Mas a pressão era desordenada. Élber entrou no lugar de Diego Renan, fazendo Everton voltar para a lateral esquerda. A formação ficou um tanto confusa, uma espécie de 3-2-3-2, com Élber na esquerda, Montillo pelo meio e Wallyson na direita atrás dos dois centro-avantes. Roger era volante e nem aparecia no ataque mais. Everton subia para atacar e o Cruzeiro ficava com apenas dois defensores.

Sem sucesso, Mancini preparava Bobô no lugar de WP para dar mais estatura e força e jogar a bola na área (claramente uma estratégia de desespero). Mas foi forçado a mudar, já que Victorino levou uma cotovelada ao disputar uma bola aérea e saiu de campo sangrando. O Cruzeiro só ficou com um zagueiro de ofício em campo, e a formação a essa altura era quase impossível de entender.

O gol de Fábio Júnior, nos acréscimos, dá uma idéia disso. Na hora do lançamento, era Léo que estava encurtando em China (que havia entrado no lugar de Rodriguinho, o melhor em campo), tendo Amaral e Leandro Guerreiro mais centralizados na última linha de defesa. Amaral que não é zagueiro, sai da marcação de Bruno Meneghel, que parte em velocidade. Everton, perdido, deu condições, mas parou pedindo impedimento. Ficaram dois contra Fábio.

Léo cerca China, Amaral se “esquece” de Bruno Meneghel, já pedindo bola, e Everton, fora da imagem, dá condições

É preciso entender que o adversário foi melhor. Executou sua proposta tática com precisão e segurou o ataque sem criatividade do Cruzeiro. Mesmo com três meias e três atacantes. Ao Cruzeiro, restou a Copa do Brasil. Se não chegar ao menos em uma semi-final, pode sobrar para o técnico, e todo o trabalho de 4 meses é jogado fora (infelizmente, mas no Brasil é assim). Mas, como o título do post diz, o problema nunca foi a formação tática, mas sim sua execução.

É compreensível que 2012 seja um ano de mudanças, afinal é uma administração nova, um time novo (diferente da era Adilson Batista, na qual o meio-campo jogava junto há muito tempo). É compreensível que não seja um ano de conquistas. Mas é preciso mudar para que o ano não seja de vergonhas.

Na coletiva do fim do jogo, ao ser perguntado se o Cruzeiro iria brigar na rabeira do Brasileiro novamente, Montillo foi categórico: “No”. E, depois de uma pausa, emendou: “Tomara que no.”

Tomara que “no”, Montillo. Tomara que “no”.

Cruzeiro 3 x 2 Uberaba – Uma virada preguiçosa

Sonolento no primeiro tempo, o Cruzeiro virou o jogo no “abafa” contra o Uberaba na Arena do Calçado, domingo em Nova Serrana.

No primeiro tempo, Cruzeiro num 4-3-1-2 com Élber estacionado na direita, um deserto na esquerda e um abismo entre defesa e ataque

Vágner Mancini pois poupou vários titulares para a partida de volta contra a Chapecoense pela Copa do Brasil. Diego Renan, Anselmo Ramon, Wallyson e Leandro Guerreiro deram lugar a Everton, Bobô, Élber e Amaral. Roger entrou na articulação no lugar do suspenso Montillo, e Thiago Carvalho entrou para ganhar ritmo, já que Léo está suspenso do jogo de quarta-feira.

O Uberaba entrou com uma proposta defensiva em seu 4-3-2-1, com Gustavinho e Gabriel Davis atrás do solitário atacante Araújo.

Foi um jogo sem muita graça taticamente, com o Cruzeiro visivelmente preguiçoso e desentrosado. O que mais se destacou, no entanto, foi a maneira divorciada com a qual o Cruzeiro jogava. Roger recuava para fazer a saída, mas WP, que tentou se movimentar mais, e Élber, estacionado na ponta direita, não recompunham com a perda de posse de bola. Quando roger avançava, também não voltava depois pra defender. Assim, os 7 ou 6 jogadores mais recuados do Cruzeiro ficavam muito distantes dos 3  ou 4 mais avançados.

Dois momentos que ilustram o divórcio entre os defensores e os atacantes cruzeirenses

O jogador mais avançado do Uberaba, Araújo, marcava o volante cruzeirense que ficava na proteção e com isso, o time do Triângulo tinha 5 ou 6 homens no meio-campo, contra apenas 3 cruzeirenses. O resultado direto é que o Cruzeiro tinha dificuldade em furar o bloqueio vermelho, mesmo com Roger, que não fez uma boa partida, recuando para qualificar a saída. Os flancos também não eram boas vias, já que Marcos e Everton pouco avançavam. O lateral direito tinha Élber à sua frente, que estava sumido atrás da marcação e não dava opções de passe. Já o camisa 6 centralizava quando subia, invertendo com Marcelo Oliveira, e portanto, não fossem as raras incursões de WP pela canhota, aquela seria uma área deserta do ataque azul.

Além disso, quando tinha a bola, o Uberaba tinha plena liberdade para tocar a bola sem ser incomodado. O Cruzeiro não encurtava espaços e o Uberaba, que veio pra se defender, parece ter ficado surpreso com o espaço que tinha e pouco chegou ao terço final do campo.

O gol uberabense ilustra bem a situação. Gabriel Davis lançou uma bola quase do meio-campo, onde havia espaço, e achou Gustavinho em velocidade para cabecear e Fábio defender. Nenhum defensor celeste acompanhou o lance e Araújo pegou aproveitou o rebote.

Note de onde Gabriel Davis cruza para achar Gustavinho livre dentro da área

Mesmo após o gol, o desinteresse e a apatia continuaram. O Uberaba recuou ainda mais e passou a jogar no erro cruzeirense, que era frequente, principalmente no último passe. Os contra-ataques se tornaram frequentes e perigosos. E o primeiro tempo assim terminou, sonolento.

O técnico celeste revelou, na entrevista coletiva ao fim do jogo, ter dado uma bronca bem dada nos jogadores no intervalo. Ele classificou o time como preguiçoso, mas não fez nenhuma alteração. Aparentemente, a bronca deu certo, pois só aos 5 minutos de jogo o Uberaba teve sua primeira posse de bola. O time celeste avançou suas linhas e ficava bem mais tempo no campo de ataque. Roger passou a jogar mais perto do gol e Wellington Paulista se movimentava mais. Marcelo Oliveira e Everton combinavam bem pelo lado esquerdo. Mas o último passe ainda continuava ruim, dando o contra-ataque para o Uberaba.

O segundo gol uberabense foi uma infelicidade do lateral Marcos. Claro que o cruzamento veio num contra-ataque nas costas de Everton, que estava bem avançado. Mas foi um passe despretensioso que não tinha alvo certo: a ofensiva adversária já estava sob controle. Não é o caso de se dizer que Marcos estava no lugar errado.

Antes do gol, Wallyson já estava preparado para ir a campo no lugar do apagado Bobô. Foi jogar na meia-esquerda, um pouco mais recuado. WP foi para a referência. Depois, Fábio Lopes entrou na vaga de Marcos e foi para a ponta esquerda, Amaral passou a revezar com Victorino na lateral direita e o Cruzeiro passou a um 4-3-3 mais clássico, com triângulo de base alta no meio, com Marcelo Oliveira na volância, comandando a saída. Era a tentativa de Mancini de sufocar o Uberaba com a superpopulação no campo de ataque. Já no Uberaba, Paulo César Catanoce tirou Gabriel Davis e lançou o atacante Marlon, fazendo um losango com Gustavinho de trequartista, mas voltando para defender. A ideia era explorar ainda mais os contra-ataques com bolas longas, para tentar o mano-a-mano com os dois defensores cruzeirenses.

A virada começou por causa de dois fatores. Primeiro, o mesmo lado esquerdo que ficou despovoado no primeiro tempo agora estava bem movimentado. Por ali, Wallyson, Everton e Fábio Lopes eram demais para o lateral Éder. E a movimentação dentro da área de WP também era interessante, já que os outros dois atacantes azuis ficavam fora da área, atraindo a marcação. Disputando contra apenas um único marcador, o camisa 9 cabeceou certeiro um cruzamento de Wallyson da esquerda para diminuir.

Após as alterações, Cruzeiro na forma mais clássica do 4-3-3, com dois meias, Victorino liberado e WP comandando a área

Éder saiu para a entrada do zagueiro Alberto, que foi para a mesma posição: lateral-direito. Reforçar a marcação era preciso, pensou Paulo César Capanoce. Vágner Mancini não quis saber e lançou Gilson no lugar de Roger, que já estava em marcha lenta, empurrando Everton para o meio. Wallyson inverteu de lado e foi para a ponta direita, e Élber ficou na articulação mais central junto com Everton. O jogo passou a ser praticamente de um time só, ainda que o Cruzeiro pecasse no último passe novamente.

A última substituição do Uberaba foi a entrada de Jeferson no lugar de Gustavinho. Alteração direta, apenas para ter sangue novo para puxar os contra-ataques: o losango no meio-campo se manteve. Mas a expulsão de Gabriel Elói dois minutos fez com que o técnico uberabense reconfigurasse a equipe num 4-4-1, com o recuo de Jeferson para a segunda linha. Vágner Mancin plantou Amaral e Thiago Carvalho e liberou Victorino para atacar. E numa insistência pelo lado direito, Wallyson recuperou a bola, achou WP livre dentro da área, que foi ao fundo e cruzou com força. A bola bateu no uruguaio depois da defesa do goleiro e entrou. Era o empate.

O jogo seguiu na mesma toada, e o Uberaba se defendendo bravamente, mesmo já rebaixado e com os jogadores sabendo que seriam dispensados no dia seguinte. Os jogadores caíam no gramado para forçar atendimentos, retardavam o jogo ao máximo. O Cruzeiro chegava sempre com muitos jogadores no ataque e errava ou na assistência ou na conclusão. Mas um personagem improvável apareceu e resolveu o jogo. Marcelo Oliveira bloqueou bem Wellington no meio-campo, que teve de girar para trás. Foi perseguido e, com a ajuda de Élber, desarmado. Marcelo Oliveira passou livre em velocidade e recebeu do garoto, tirando seu marcador com estilo e cruzando para WP, livre na pequena área, decretar a virada nos acréscimos. Há que se notar que havia ainda dois outros jogadores celestes dentro da área para apenas um zagueiro.

Lições que podem ser tiradas deste jogo: Élber é um jogador jovem, tem técnica, mas precisa ter mais inteligência tática. Isso significa pensar por si próprio e ocupar os espaços da maneira certa, e não ficar preso somente a um setor do campo porque o técnico pediu. Definitivamente, WP rende muito mais quando joga dentro da área. Temo que ele e Anselmo Ramon tenham que disputar a mesma posição. E é preciso encarar todos os jogos com a mesma seriedade, mesmo se poupando para uma decisão de vaga como na quarta-feira pela Copa do Brasil, mesmo já classificado para as semi-finais do Mineiro.

Porque neste jogo conseguimos virar na base da pressão, mas em outro o adversário se defenderá muito bem e poderemos não conseguir. E este jogo, com certeza, já vai estar valendo muito.