Atlético/PR 1 x 0 Cruzeiro – Hipertensão

Um pouco de pressão alta do Atlético Paranaense no início do jogo mais uma certa incompetência nas finalizações foi a receita amarga da terceira derrota seguida do Cruzeiro. Se Vágner Mancini já tinha de colocar as orelhas em pé, agora então precisa vencer e convencer para ter sobrevida no cargo. Não que eu concorde, pois a má fase não é culpa inteiramente do treinador, mas sabemos que no futebol, principalmente aqui em terras tupiniquins, o resultado importa muito mais do que o planejamento e o trabalho.

O 4-3-1-2 losango inicial do Cruzeiro, com Roger e Amaral invertendo e sem força pelo lado esquerdo

O Cruzeiro foi a campo no 4-3-1-2 losango, mas com Roger recuando pela direita e invertendo com Amaral. Na zaga, Alex Silva estreou no lugar de Victorino, vetado. Já o Atlético-PR veio no 4-3-3 com triângulo alto (4-1-2-3) armado pelo técnico uruguaio Juan Carrasco, com o veterano Paulo Baier num posicionamento interessante: o camisa 10 recuava para ser o primeiro volante, liberando seus companheiros de meio-campo Deivid e Liguera para atacar.

Logo de cara, o Atlético partiu para a marcação no alto do campo quando perdia a bola, sufocando os defensores cruzeirenses. Foram 20 minutos de uma excelente execução de pressing. Os três atacantes pressionavam os quatro defensores e os volantes eram perseguidos pelos dois meias. Paulo Baier regia de trás.

Nas raras vezes em que o Cruzeiro conseguia passar pelo meio-campo, o Atlético imprimia velocidade no contra-ataque, com intensa movimentação do trio ofensivo. Foi justamente num destes contra-ataques que saiu o gol da partida. Roger e Amaral estavam na ponta direita disputando a posse, mas perderam a bola, que chegou para o ex-cruzeirense Guerrón, desta vez aparecendo pelo lado esquerdo. O veloz equatoriano tinha a marcação de Diego Renan, mas sem cobertura. Leandro Guerreiro tenta chegar para fazer a sobra, mas Diego Renan já havia sido driblado e Guerrón já partia em velocidade. Antes do camisa 5 alcançá-lo, ele cruzou rasteiro para dentro da área azul. Alex Silva, o homem da sobra, não conseguiu cortar e Edigar Junio conseguiu aparecer entre Léo e Everton para completar. Méritos de Guerrón, mas houve falha na cobertura a Diego Renan e na hora de cortar a bola no cruzamento.

Do outro lado do campo, Anselmo Ramon ainda nem tinha visto a cor da bola. O centro-avante azul ficou esperando a bola chegar, mas o Atlético continuava a pressão. Do lado esquerdo, Marcelo Oliveira se preocupava em marcar Deivid, e Everton segurava o atacante que caísse por ali, na maioria das vezes Guerrón. O lado esquerdo ofensivo do Cruzeiro ficou novamente deserto. Roger recuava para buscar o jogo e tentar dar qualidade à saída, numa tentativa de cadenciar o jogo, para frear a velocidade que o time mandante queria impor. Mas foi dele o lance mais bizarro do jogo: num passe muito displicente para Léo, acabou entregando para o centro-avante Patrick avançar sozinho. Fábio cresceu, o camisa 11 se assustou e desperdiçou.

A partir dos 20 minutos, a pressão atleticana foi arrefecendo. Aos poucos o Cruzeiro foi ganhando espaço, mas os atacantes estavam muito bem marcados. O Cruzeiro tentava bolas longas para os atacantes, principalmente partindo de Roger. O repórter da TV até conseguiu pegar uma conversa do camisa 7 com Vágner Mancini, reclamando que não tinha alvos para fazer lançamentos. De fato, os dois atacantes azuis estavam encaixotados na defesa paranaense: Wellington Paulista até tentava se esquivar, mas foi bem vigiado pelo lateral esquerdo Héracles. Anselmo Ramon não caía pelo lado esquerdo e ficava tentando brigar com o zagueiro Manoel, com Bruno Costa na sobra.

Aos poucos o Cruzeiro foi equilibrando as ações, mas muito mais porque o Atlético já não conseguia pressionar no campo adversário (nenhum time no mundo consegue fazer isso durante os 90 minutos com tal intensidade). Quando a bola passava pelos meias atleticanos, o Cruzeiro levava mais perigo. Isso porque  Paulo Baier já não tem mais energia para ser o único volante à frente de sua zaga, e com o avanço de Amaral pela direita, as jogadas começaram a sair. As melhores chances foram com Roger, aos 29, quando WP tirou um zagueiro da área e o meia recebeu um lançamento longo de Diego Renan mas mandou para fora, e aos 47, em cobrança de falta cujo rebote WP não conseguiu aproveitar.

No intervalo, Vágner Mancini tirou Amaral, pouco produtivo no primeiro tempo, e estreou o veterano Souza. A equipe passou a um híbrido de 4-2-2-2 e 4-3-1-2 pelo posicionamento variável de Roger. Juan Carrasco tirou Liguera e lançou o volante Zezinho, mudando para um 4-2-1-3, talvez tentando liberar Paulo Baier para se aproximar mais da área adversária. Também trocou seu centro-avante: Bruno Mineiro na vaga de Edigar Junio.

A combinação das três alterações do intervalo resultou em um Cruzeiro com mais espaço para tocar a bola no meio campo e um Atlético-PR “divorciado”, com uma enorme distância entre os três atacantes e os três jogadores de meio. Um filme que já vimos antes no nosso próprio time. O Atlético parou de pressionar alto e deixou o Cruzeiro jogar. Os laterais azuis começaram a aparecer mais à frente, e aos poucos o Cruzeiro foi desequilibrando a balança da posse a seu favor. A explicação era simples: com Souza e Roger, o time conseguia reter mais a posse de bola, e os volantes do time da casa tinham de se preocupar com os dois. Paulo Baier ficava sozinho e ainda tinha a companhia de LG e MO: 4 contra 3 no meio. Uma situação pela qual o Cruzeiro passou várias vezes no ano, dessa vez estava do lado contrário.

Até os 15 minutos, só o Cruzeiro havia criado chances. Juan Carrasco viu que seu time não ia sair do lugar, mas não tentou corrigir o erro: queimou a regra 3 lançando mais um volante marcador, Renan Teixeira, no lugar de Paulo Baier, efetivamente fazendo um bizarro 4-3-0-3. Sim, o time da casa ficou sem nenhum homem de ligação. É claro, essa função foi designada para os atacantes mais abertos, mas eles não conseguiram executá-la. O Atlético se defendia com 7 homens atrás da linha da bola, tentando partir em contra-ataques com bolas longas para a velocidade de seus pontas.

Era em vão. Marcelo Oliveira e Everton estavam combinando bem pelo lado esquerdo. Do lado direito, Wallyson foi a campo no lugar de WP para dar mais velocidade à saída. O esquema se manteve, mas o Cruzeiro agora tinha muito mais largura de ataque. Foi de Marcelo Oliveira a melhor chance do Cruzeiro para o empate. Everton mandou a Anselmo Ramon, que protegeu, fez o pivô e lançou ao camisa 8, entrando nas costas do lateral atleticano. Ele avançou até dentro da pequena área mas conseguiu mandar por cima do goleiro.

Após as alterações, a volta ao losango inicial, com muita posse de bola mas sem eficácia na criação e na conclusão

O lateral direito Gabriel Marques, que havia caído e deslocado o ombro, voltou para jogar no sacrifício, já que o Atlético já havia feito suas três alterações. Vágner Mancini, então, tentou aproveitar-se da situação lançando Gilson no lugar de Roger, empurrando Everton para o meio e mudando Marcelo Oliveira de lado, voltando ao losango no meio. Mas o tiro saiu pela culatra, pois Marcelo Oliveira não se aventurou tanto pela direita, e Gilson e Everton não conseguiram combinar tão bem e explorar a condição física debilitada de Gabriel Marques. O lateral do Atlético fez um fim de partida heróico, segurando seu próprio braço e não saindo de nenhuma dividida.

O Atlético viu que não conseguiria mais se impor e postou seus 11 homens atrás da linha da bola, dificultando de vez as ações do time celeste. Mesmo com mais posse de bola (cerca de 60% aos 30 do segundo tempo), o Cruzeiro não conseguiu mais criar boas chances e ainda tomou uma bola na trave num rápido contra-ataque rubro-negro. Mas uma coisa boa pode ser tirada desse final: o Cruzeiro não se desesperou e lançou chuveirinho na área (como é costumeiro com times que estão tentando o gol de qualquer jeito). A organização tática se manteve até o fim.

Talvez o empate fosse o resultado mais justo, pelo volume de jogo das duas equipes nas pontas do tempo da partida. No início, um Atlético elétrico, e no fim um Cruzeiro mais calmo, com mais posse, mas não tão elétrico. Porém, o Cruzeiro só jogou quando o adversário deixou. Mais uma vez. Souza deu qualidade ao meio-campo, pode ser titular. Alex Silva, apesar da falha no gol, também deu mais segurança em bolas aéreas. WP e Anselmo Ramon não jogaram bem. Talvez seja a hora de usar um ataque mais móvel. Os dois são centro-avantes, homens de referência: não podem mais jogar juntos.

Portanto, talvez o resultado mais “justo” fosse mesmo a derrota, mas com o Cruzeiro marcando gols. E, na Copa do Brasil, isso faria muita diferença para o jogo da volta.

Chapecoense 1 x 1 Cruzeiro – O pasto e as vacas magras

A péssima condição do gramado da Arena Índio Condá, em Chapecó, não escondeu a atuação ruim do Cruzeiro no empate de 1 tento com a Chapecoense. Walter empatou usando a arma do adversário, a bola aérea, muito porque o gramado não deixava a bola rolar e prejudicava a equipe mais técnica. Mesmo assim o Cruzeiro teve mais chances de fazer o gol.

A formação inicial do Cruzeiro, desta vez com Everton na esquerda, que tende a centralizar mais, e DR na direita sendo atrapalhado pela má atuação de WP

Vágner Mancini escalou o Cruzeiro no 4-2-1-3 habitual, mas com uma mudança nas laterais: provavelmente devido à má atuação no Superclássico, Marcos foi sacado para dar lugar a Everton, mudando Diego Renan de lado. Com a alteração, o técnico esperava diminuir a desvantagem numérica no meio-campo, com Everton tendendo a centralizar mais e deixar Wallyson mais aberto. A Chapecoense lotou o meio com 6 homens num 3-4-2-1, com João Paulo à frente de Athos e Neném.

No encaixe de marcação, o lateral direito William ficou responsável por vigiar Wellington Paulista, e por isso ficou mais plantado, enquanto Eliomar teve mais liberdade, batendo com Everton; os três zagueiros marcavam Wallyson e Anselmo Ramon; Wanderson perseguia Montillo em qualquer lugar do campo; os dois meias, Athos e Neném, observavam mais de longe os volantes cruzeirenses; e João Paulo tentava sair da marcação de Léo com Victorino na sobra. Diogo Roque, volante da Chapecoense, não tinha a quem marcar e muito menos tinha marcação, por isso ficou à vontade com a bola.

Do lado do Cruzeiro, esse homem era Diego Renan pela direita. O lateral até tentou apoiar, mas foi impedido de ter uma atuação melhor por causa de Wellington Paulista, que fez um péssimo primeiro tempo. o camisa 9 não conseguiu ganhar praticamente nenhuma bola de William, e quando Diego Renan ou outro jogador aparecia para ajudar, ele nunca passava a bola. Foi uma surpresa ele não ter sido substituído já no intervalo. Do outro lado, Wallyson recuava e abria para sair da marcação de Fabiano. Mas o jogo não fluiu pelo lado direito no primeiro tempo, pois os Leandro Guerreiro e Marcelo Oliveira estavam preferindo o setor central, abusando das bolas longas.

Mesmo com inferioridade numérica no meio-campo, o Cruzeiro acabou criando mais chances de gol que o adversário. A pontaria dos atacantes, principalmente de Anselmo Ramon, no entanto, não estava ajudando. A Chapecoense conseguiu seu gol numa jogada de bola parada, chuveirinho na área – e todos no Cruzeiro disseram que sabiam que esse era o ponto forte do time do Sul. Falha de marcação de Marcelo Oliveira, que era o responsável pela marcação no zagueiro Souza, autor do gol. Ele nem chegou a subir para disputar a bola.

A entrada de Walter no lugar de Wallyson no intervalo foi uma surpresa. Não pela entrada de Walter, mas sim pelo jogador substituído: o homem certo a deixar o campo seria Wellington Paulista. Mancini justificou após o jogo que, como o campo era ruim, o jogo passou a ser muito aéreo e de força, ao invés de técnica, o que desfavorecia o camisa 7 cruzeirense. Discordo, pois na verdade o Cruzeiro é que escolheu não jogar pelo setor esquerdo, onde Wallyson ficava livre de marcação quando recuava.

Com Walter, Anselmo Ramon passou para a esquerda e disputava espaço com o lateral direito Rafael Mineiro, que tinha substituído William, amarelado, no intervalo. Com Neném recuando para a terceira linha pela esquerda, a Chapecoense efetivamente fez as famosas duas linhas de quatro, com Athos articulando para João Paulo no 4-4-1-1. No Cruzeiro, Walter foi para a referência, e o Cruzeiro passou a jogar mais pela canhota. Do outro lado, Diego Renan teve mais liberdade, pois Neném não é bom marcador, é mais articulador. Ele recebeu uma bola pelo alto de Léo, explorando espaço aberto por WP, que recuou puxando a marcação – um dos poucos acertos dele na partida. O lateral tinha a opção de servir o camisa 9, mas (talvez sabiamente) optou por cruzar a bola diretamente na área. Walter apareceu no meio dos zagueiros da Chapecoense para empatar. Muito se falou sobre a estatura e a força dos zagueiros catarinenses antes e durante a partida, mas este gol prova que posicionamento conta mais do que estatura.

Depois de mais uma jogada errada de WP, Mancini finalmente percebeu o óbvio e tirou o atacante do jogo, lançando Roger. O esquema tinha mudado para 4-2-2-2, mas com dois homens de área. Roger não jogou como volante como nas partidas iniciais do Campeonato Mineiro, mas sim como um meia de ligação. O jogo ficou mais truncado, com o Cruzeiro com mais posse mas sem conseguir penetrar nas duas barreiras catarinenses, e a Chapecoense ameaçando com Athos, o jogador mais lúcido do time. Vágner Mancini lançou, então, Élber no lugar de Diego Renan, plantou Leandro Guerreiro à frente da zaga e deslocou Marcelo Oliveira para a direita, para cobrir as investidas do garoto. Era uma espécie de losango super ofensivo, montado para pressionar e buscar a vitória.

Após as alterações, o 4-2-2-2 com Elber cuidando de todo o setor direito e MO cobrindo seus avanços; após a expulsão de Leo, LG na zaga e Élber mais plantado

Mas a expulsão de Léo, com cartão vermelho direto, atrapalhou os planos. Élber ficou bem mais plantado do que o planejado pela lateral direita, e Leandro Guerreiro foi para a zaga ao lado de Victorino. Marcelo Oliveira teve a companhia de Roger, e Montillo voltou a ficar sozinho na criação. O 4-2-1-2 cruzeirense levou sustos, pois Élber não é lateral e muito menos marcador, e por ali a Chapecoense deu um certo trabalho para Fábio. Mas não produziu gols, e forçou o segundo jogo com um empate na bagagem.

É fato que o campo atrapalhou, mas a atuação ruim de WP e a boba expulsão de Léo atrapalharam ainda mais. A qualidade do campo não pode servir de desculpa, e nem esconder que o Cruzeiro não fez uma boa atuação. Fosse a Chapecoense um pouco mais ofensiva e não tão previsível, sairia do jogo com uma vitória. Ainda há muito o que melhorar: WP precisa voltar a jogar e parar de reclamar; Anselmo Ramon, como homem de referência, não pode perder tantos gols; as marcações individuais têm conseguido diminuir o poder de ataque de Montillo, que parece desinteressado; e os atacantes abertos têm que ajudar mais na recomposição, já que Montillo praticamente não volta.

Mesmo num pasto, o jogo foi de vacas magras. Mas a continuar assim, talvez as vacas fiquem magras durante toda a temporada.