Cruzeiro 3 x 0 Grêmio – Bola no pé e taça na mão

As compensações de marcação feita por Renato Gaúcho até que compensaram os problemas clássicos do sistema com três zagueiros, que já havíamos visto no jogo do turno. Mas acabaram por ceder demais a posse de bola ao Cruzeiro, e este time, com a bola nos pés, é muito difícil de ser parado.

A vitória, apoteótica, foi digna de levantar o caneco. Os livros de história do futuro deveriam registrar esta partida como sendo a que selou a taça, ainda que a matemática brigue contra o óbvio.

Escalações

Werley encostava em Dagoberto para liberar Pará, mas do outro lado Bressan fazia a sobra com Rhodolfo na marcação em Borges: uma das compensações do 3-1-4-2 gaúcho contra o 4-2-3-1 celeste

Werley encostava em Dagoberto para liberar Pará, mas do outro lado Bressan fazia a sobra com Rhodolfo na marcação em Borges: uma das compensações do 3-1-4-2 gaúcho contra o 4-2-3-1 celeste

Marcelo Oliveira e seu imutável 4-2-3-1: Fábio, o melhor goleiro do Brasil, teve sua linha defensiva com Ceará e Egídio nas laterais e Léo acompanhando Dedé na zaga central. Nilton protegia a área e tinha Lucas Silva a seu lado, mais solto para receber o passe de retorno e inverter o lado da jogada quando os meias Éverton Ribeiro, Ricardo Goulart e Dagoberto não conseguiam um lance mais incisivo para eles mesmos ou Borges, no comando do ataque, concluírem.

Renato Portaluppi, o Gaúcho, escalou o Grêmio na fórmula que levou seu time ao grupo dos 4 primeiros: três zagueiros e três volantes, com um mais plantado e liberando os alas — mas com uma particularidade nesta partida, como veremos mais adiante, fazendo um 3-1-4-2. A meta de Dida, velho conhecido, foi protegido por Werley à direita, Rhodolfo centralizado e Bressan à esquerda. Souza foi um volante puramente de marcação, enquanto Ramiro à direita e Riveros à esquerda eram os volantes-meias, em funções similares às dos vértices laterais de um meio-campo em losango. Pará e Alex Telles eram os alas, e Kléber e Barcos formaram o ataque.

A velha questão: problema deles

Em outras análises já foi falado o que normalmente acontece quando sistemas com três zagueiros enfrentam uma equipe que possui dois jogadores abertos. Ou você recua os alas para marcar os ponteiros (deixando espaço para os laterais adversários e ainda ficando com três contra um no centroavante, e portanto, com menos gente em outro setor do campo), ou você deixa no mano a mano, com um zagueiro pra cada ponteiro e mais um no centroavante.

E a segunda opção foi a que Renato escolheu no lado direito de sua defesa. Por ali, Dagoberto jogou bem aberto, e quem marcou o jogador na maioria das vezes era Werley. Tudo para deixar Pará livre e bater com Egídio na linha divisória. Do outro lado, entretanto, a situação era diferente, pois Éverton Ribeiro, prefere partir da direita para o centro. Com isso Alex Telles não tinha que marcá-lo diretamente, ficando livre para se preocupar apenas com Ceará. Assim, Rhodolfo e Bressan faziam o combate direto em Borges e garantiam a sobra.

Meio-campo central

Mas essa movimentação de Ribeiro em direção ao centro causava superioridade numérica celeste no meio-campo central, pois ele acabava sendo um elemento “intruso” no embate entre os triângulos de meio: Nilton, Lucas Silva e Ricardo Goulart, contra Souza, Ramiro e Riveros. Para resolver isto, um dos atacantes, ou até mesmo os dois, recuavam para marcar os volantes, deixando Dedé e Bruno Rodrigo com muito tempo na bola. Por causa disso, o Cruzeiro acabaria o jogo com sua maior porcentagem de posse de bola de todo o campeonato, enquanto o Grêmio teve seu terceiro pior índice.

Além disso, o fato de Alex Telles não ter a cobertura de um zagueiro como Pará tinha a de Werley fazia com que ele não avançasse tanto sua marcação. Com isso, Ceará teve mais campo que Egídio e foi a principal saída do time, com 38% dos ataques celestes pelo lado direito (WhoScored.com). Não por acaso, foi dele o cruzamento que originou o gol de abertura, a “bicicanela” de Borges que todo mundo viu, menos o seu autor que bateu a cabeça na grama ao cair.

O Cruzeiro (em azul) atacou mais pelo lado direito, já que Alex Telles não podia se posicionar muito alto, dando liberdade para Ceará. Também por isso, foi com Pará pela direita que o Grêmio (em laranja) saiu mais

O Cruzeiro (em azul) atacou mais pelo lado direito, já que Alex Telles não podia se posicionar muito alto, dando liberdade para Ceará. Também por isso, foi com Pará pela direita que o Grêmio (em laranja) saiu mais

Defesa

Por outro lado, no pouco tempo em que recuperava a bola, o Grêmio buscava jogar na transição ofensiva rápida — mais conhecida como contra-ataque, principalmente com Pará pela direita. Ramiro e Riveros, os volantes-meias do meio-campo, só se preocupavam com a marcação e por isso a saída era direto com Kleber, mais recuado e móvel que Barcos. O atacante segurava a bola para chamar faltas ou então distribuía rápido para o lado do campo, como no lance em que Fábio chegou primeiro que Pará na bola lançada por ele.

A outra possibilidade era a bola parada, e o Grêmio quase chegou nesse quesito, mas após os dois rebotes do escanteio cobrando pela direita, Fábio no mínimo deve ter colocado um ponto de interrogação na cabeça de Felipão. Menos que isso é difícil de acreditar.

Segundo tempo

Nenhum treinador mexeu no intervalo e o jogo seguiu da mesma forma, mas o Cruzeiro cedia mais a posse de bola que no primeiro tempo. Com isso o Grêmio pode respirar um pouco em relação à marcação, e começou a chegar mais perto do que devia da área celeste. A intensidade na frente já não era a mesma, equilibrando de certa forma a partida. Como 1×0 é um placar perigoso, Marcelo resolveu agir após um chute de Kleber que Fábio mais uma vez salvou brilhantemente.

Primeiro lançou Júlio Baptista na vaga de Borges, na já costumeira troca que avança Ricardo Goulart para o comando do ataque com Júlio de central. Com a troca, o Cruzeiro reteve mais a bola, mas perdia poder de marcação no meio. A retaguarda ficou um pouco mais exposta e Léo estava perdendo os duelos diretos com Barcos, que parou na trave e em mais uma defesa de cinema de Fábio.

Willian, ponteiro atacante

No fim, Renato ainda tentou dar criatividade com Maxi, mudando para um 3-4-1-2, mas a mobilidade e profundidade de Willian pela direita já haviam resolvido o jogo

No fim, Renato ainda tentou dar criatividade com Maxi, mudando para um 3-4-1-2, mas a mobilidade e profundidade de Willian pela direita já haviam resolvido o jogo

Ao invés de se proteger, Marcelo escolheu atacar, e aí sim colocou outros jogadores para renovar a movimentação ofensiva: Luan e Willian nas vagas de Dagoberto e Éverton Ribeiro. Luan foi para a esquerda e Willian ficou mais pela direita, mas também tem característica de entrar pelo meio. E a entrada do bigodudo provaria ser essencial.

Praticamente em seu primeiro lance, Willian aumentou a contagem após cobrança de lateral de Ceará — uma arma que o Cruzeiro já usou antes neste campeonato. Mineirão em festa total, mas a fatura ainda não estava liquidada. Renato tentou diminuir dando criatividade ao seu meio com Maxi Rodriguez na vaga de Riveros e mais presença de área com Kléber por Mamute. O Grêmio avançou o quanto podia, o que não era tanto, e com isso o Cruzeiro acabou ganhando espaço para tocar a bola no campo de ataque.

E a característica de Willian de dar profundidade pelo lado acabou fazendo Alex Telles recuar ainda mais para a defesa, o que no fim acabou originando a falta do terceiro gol. O próprio Willian cobrou a falta que sofreu e viu Goulart completar de primeira totalmente sem marcação e selar a vitória.

Entreguem a taça

A frase acima foi a que Dagoberto disse após o jogo. Em um país do politicamente correto, esta frase proferida por um jogador que ainda não é matematicamente campeão certamente causaria revolta nos adversários e nos não-cruzeirenses. Todavia, não foi isso o que se viu, e muita gente até aplaudiu a volta olímpica dos jogadores.

Nada mais simbólico para o campeonato que esta festa tenha acontecido no jogo contra o Grêmio, notadamente uma equipe que busca um futebol de forte marcação. No confronto de estilos, o futebol que procura o ataque a todo instante saiu vencedor. Não por acaso, após muitos anos o time de melhor ataque é o campeão. Méritos de Marcelo Oliveira.

A falta de oposição à frase, portanto, é mais que isso. É um sinal claro do respeito e esse estilo de futebol, praticado pelo Campeão Brasileiro de 2013, o Cruzeiro Esporte Clube.

Santos 0 x 1 Cruzeiro – O último passe

Com uma atuação bem segura na defesa e jogando o suficiente no ataque, o Cruzeiro conseguiu uma vitória fora de casa que, até certo ponto, não era parte dos planos. Tanto melhor, já que nos traz a possibilidade de campeonar já na próxima rodada — que é ao que se refere o título acima.

Em que pese o gol ter saído numa jogada de pura habilidade de Éverton Ribeiro — e portanto, sem nenhum aspecto tático — Marcelo Oliveira fez uma boa leitura no segundo tempo e reduziu ainda mais chances do Santos de achar o empate, que àquela altura já eram bem pequenas.

As formações

No primeiro tempo, Cícero procurava o centro e deixava o corredor livre para Ceará, e Montillo caía pelos lados com Nilton na cola; na frente, a movimentação dos meias celestes desorganizou a retaguarda santista

No primeiro tempo, Cícero procurava o centro e deixava o corredor livre para Ceará, e Montillo caía pelos lados com Nilton na cola; na frente, a movimentação dos meias celestes desorganizou a retaguarda santista

Marcelo Oliveira não teve problemas para o jogo, as preferiu manter Dagoberto como ponteiro esquerdo do 4-2-3-1, na vaga de um desgastado Willian. Dessa forma, o time do goleiro-capitão Fábio teve Ceará e Egídio nas laterais da linha defensiva e Dedé e Léo atuando por dentro. Na proteção, Nilton se segurava mais para dar liberdade a Lucas Silva, que se aproximava do ponteiro direito Éverton Ribeiro e do central Goulart, além de Dagoberto. Na frente, Borges fazia a referência.

Claudinei Oliveira armou o Santos no mesmo 4-2-3-1, com Aranha no gol, Edu Dracena e Gustavo Henrique como zagueiros, flanqueados por Cicinho à direita e pelo chileno Mena à esquerda. Alison ficou mais plantado para que Arouca, seu companheiro de volância, pudesse tentar se juntar ao ataque. Cícero fechava o lado esquerdo sem a bola mas entrava para armar o jogo junto ao central Montillo, com Éverton Costa à direita e William José de centroavante.

Saída pelos laterais

De maneira até surpreendente, o Santos deixou a bola com os zagueiros celestes e não fez pressão para forçar o chutão. Dedé e Léo se sentiram seguros para trocar alguns passes e tentar achar a primeira bola com mais facilidade. E o caminho era pelos lados.

Normalmente, Ceará é o lateral que fica mais, para dar liberdade a Egídio pelo outro lado e, junto aos zagueiros, garantir uma eventual sobra de três contra dois atacantes do time adversário. Porém, Cícero não dava profundidade pelo lado esquerdo, fechando no centro para tentar pensar o jogo quando o Santos tinha a bola. Ceará só dava combate direto quando Mena fazia suas raras incursões no campo de ataque. Dessa forma, o camisa 2 teve liberdade para receber a bola e avançar até onde Mena se posicionava para marcá-lo, e dali conectar a um dos meias ou fazer a ultrapassagem.

Do outro lado, Egídio tinha a presença de Éverton Costa, bem aberto, para lhe causar incômodo em seus avanços. Jogando em casa, era de se esperar que o Santos tivesse um ímpeto maior de atacar, mas Costa parece ter se preocupado mais em segurar as investidas de Egídio do que em propriamente atacá-lo — e isso acabou sendo bom, pois Dagoberto é um jogador que não faz tanto o auxílio na recomposição como Willian, e Egídio em teoria ficaria mais exposto. De qualquer forma, algumas vezes o time preferiu sair por ali ao invés de ser com Ceará, já que Costa também não fazia uma pressão tão grande, apenas ficava posicionado no setor.

Cruzeiro ataca

Mais à frente, Alison e Arouca pareciam perdidos na marcação de Goulart e Ribeiro, muito por causa das inversões entre os dois e também com Dagoberto. Isso é ilustrado nas duas boas chances de gol da primeira etapa: na primeira, Dagoberto está no centro, passa a Ribeiro e corre para a direita para receber de volta. Com isso, Ribeiro ocupa o espaço deixado pelo companheiro e recebe em boas condições de finalizar — a bola resvalou na cabeça de Gustavo Henrique e foi para fora. Depois, Ribeiro é quem está do lado esquerdo, puxando a marcação para Ricardo Goulart receber, tabela com Borges e sair na cara de Aranha, mas errar a finalização. Jogadas típicas deste Cruzeiro de 2013, pelo chão, toques rápidos e envolventes, com movimentação.

Santos com a bola

Já o Santos praticamente só se defendia. Quando tinha a bola, não conseguia criar: Montillo saía do centro para os dois lados para abrir espaço para Cícero que saía da esquerda, mas era implacavelmente marcado por Nilton e pouco viu a bola. Apenas aos 33 minutos o time da casa apareceu no campo de ataque, na única vez em que Montillo teve um pouco mais de liberdade. O argentino tocou para Arouca, aparecendo na ponta direita, que cruzou rasteiro na direção de William José, mas a zaga bem posicionada afastou e ficou com a bola.

Pela direita, com Éverton Costa apagado, coube a Cicinho tentar fazer as ultrapassagens, se aproveitando do pouco poder de marcação de Dagoberto. Mas o lateral não foi feliz e nada conseguiu na primeira etapa, bem como seu companheiro do outro lado, Mena.

De certa forma, acabou sendo um primeiro tempo tranquilo em termos defensivos, mais porque o meio-campo celeste marcou bem do que pela falta de criatividade dos meias santistas. Mesmo assim o zero a zero insistiu no placar.

Montillo, “falso” centroavante

Claudinei mudou no intervalo, lançando Victor Andrade pela esquerda, empurrando Cícero de fez para o centro e avançando Montillo para ser centroavante — obviamente, não no sentido de ser o homem-alvo da bola longa ou do cruzamento, mas pelo fato de ser o jogador mais avançado do time. Talvez a intenção fosse dar velocidade e desarrumar a defesa celeste, pois o argentino insiste em trabalhar pelos lados do campo e, com isso, arrastaria um zagueiro com ele, abrindo espaço para quem chegasse de trás.

O mapa de calor da Footstats mostra como Montillo praticamente abandona o centro para jogar pelos lados

O mapa de calor da Footstats mostra como Montillo praticamente abandona o centro para jogar pelos lados

Mas o jogo seguiu na mesma toada do primeiro tempo. Se Montillo já não via a bola quando estava no meio-campo, que dirá quando ficasse na frente. Nilton passou a marcar Cícero, Éverton Costa continuou apagado e o recém-lançado Victor Andrade tinha ninguém menos que o melhor defensor celeste pela frente: Ceará. Resultado: a bola continuava a não chegar ao ataque do Santos e continuava nos pés dos jogadores celestes.

Golaço, avanço e espaço

No fim, Claudinei soltou o time mas deixou espaços às costas dos volantes, muito bem explorados pelos substitutos que Marcelo mandou ao jogo

No fim, Claudinei soltou o time mas deixou espaços às costas dos volantes, muito bem explorados pelos substitutos que Marcelo mandou ao jogo

O gol que deu a vitória, porém, não tem nenhuma nota tática. Puro talento de Éverton Ribeiro, que deixou três ou quatro adversários para trás e concluiu sem chances para Aranha. Uma jogada típica de um ponteiro de pé invertido (canhoto na direita), o que, diga-se, não é a característica de Ribeiro (Robben é um exemplo melhor).

Atrás no placar, Claudinei finalmente tirou Éverton Costa do campo e mandou o jovem Geuvânio em seu lugar, na mesma função. Deu certo em certa medida, pois ele deu bem mais trabalho para Egídio do que seu antecessor, obrigando o lateral a ficar mais em seu campo. O Santos avançou suas linhas e tentou ocupar mais o campo de ataque, mas a bola continuava sem chegar com qualidade à frente.

Já Marcelo Oliveira esperou quase quinze minutos após o gol para fazer sua primeira mexida. Tirou Borges do jogo e mandou Júlio Baptista sem seu lugar, avançando Goulart para o comando do ataque, tentando explorar este espaço nas costas dos volantes santistas que se abriu com avanço do time da casa. E praticamente no seu primeiro lance, Júlio criou uma excelente chance, recebendo passe de Dagoberto no fundo e cruzando para trás, achando Éverton Ribeiro livre. Dessa vez, a bola raspou a trave e saiu. Depois tirou Dagoberto por Élber, na mesma função, novamente para jogar a bola longa e pegar o time adversário desprevenido e no um contra um.

Ação e reação

Fábio só apareceu mesmo em chute de Geuvânio, escapando da marcação frouxa dos volantes no meio central. Claudinei se animou e soltou o time de vez com a entrada de Alan Santos, volante mais leve, na vaga de Alison. Essa alteração, porém, foi anulada por Marcelo Oliveira com Éverton Ribeiro por Tinga, que saía da direita para auxiliar a marcação por dentro.

Depois de todas as mexidas, ficou claro que o treinador celeste levou vantagem no jogo tático, pois foi o Cruzeiro quem perdeu a melhor chance, em bola longa para Goulart nas costas da defesa avançada do Santos. Ele cruzou para Élber que fechava da esquerda em velocidade, mas o jovem conseguiu perder um gol praticamente debaixo das traves, que felizmente não fez falta.

Foi o suficiente: falta bem pouco

Defensivamente, a partida foi bem segura. Nilton e Lucas Silva minimizaram o trabalho de Léo e Dedé, além de tirarem a sobrecarga de Egídio e Ceará. A postura do adversário, mesmo em casa, também ajudou. Ofensivamente, porém, um pouco mais de intensidade poderia ter resolvido o jogo por um placar maior. Ao perder a bola, não houve aquela pressão no campo ofensivo para recuperá-la — mesmo porque era o Cruzeiro quem tinha a bola a maior parte do tempo. Podemos dizer que o Cruzeiro jogou “para o gasto” — não por acaso, o gol saiu numa jogada puramente técnica.

Mas o que importa é que a vitória veio, e com ela a possibilidade de levantar o caneco já na próxima rodada. A essa altura, a parte tática já está bem assimilada e o aspecto mais difícil de controlar é o psicológico: a ansiedade de jogar logo e resolver o certame, levantar a taça e comemorar. Imagine o que se passa na cabeça do capitão celeste, Fábio.

O último passe foi bem dado e agora estamos na cara do gol — é só fazer e correr para o abraço.

Cruzeiro 5 x 3 Criciúma – Sempre há espaço para melhorar

O Cruzeiro voltou a ser o Cruzeiro da sequência de doze rodadas invictas que encantou o Brasil — mas só durante trinta minutos. Depois disso, inventou de diminuir a velocidade do jogo, coisa que não sabe (ainda) fazer, expôs seus problemas defensivos e levou um baita susto ainda na primeira etapa. Mas se ainda não é um time maduro para mudar o estilo durante a partida, teve capacidade mental suficiente para conseguir “desvirar” o placar, se aproximando muito do tri.

Formações táticas

O 4-3-1-2 losango do Criciúma tentou lotar o meio-campo mas deu liberdade aos laterais do 4-2-1-2 celeste e só se defendeu durante meia hora

O 4-3-1-2 losango do Criciúma tentou lotar o meio-campo mas deu liberdade aos laterais do 4-2-1-2 celeste e só se defendeu durante meia hora

O Cruzeiro foi para o jogo no seu 4-2-3-1 usual, mas com mudanças no estilo dos jogadores que o compunham. Do gol, Fábio viu sua linha defensiva ser formada por Ceará à direita, Egídio à esquerda e Dedé e Léo compondo a zaga central. Com Nilton suspenso, Henrique fez o papel do primeiro volante na companhia a Lucas Silva, e Dagoberto foi o escolhido para a vaga de Ricardo Goulart no trio de meias, composto também por Willian, desta vez à direita, e Éverton Ribeiro, “oficializado” como central. Na frente, Borges enfiado entre os zagueiros.

Argel Fucks armou o Criciúma tendo o 4-3-1-2 losango como base, mas altamente adaptável para se defender do ataque celeste. A meta de Gallato foi defendida pelos zagueiros Matheus Ferraz e Fábio Ferreira, que por sua vez eram flanqueados por Sueliton na lateral direita e Marlon na esquerda. Henik foi o volante mais defensivo, com Ricardinho jogando mais à direita e João Vitor mais pela esquerda, mas ainda no meio-campo central, dando suporte a Ivo na ligação. Na frente, Lins se movimentava e Marcel ficava na referência.

Corredores livres

É claro que a volta da intensidade característica do quarteto ofensivo, tanto defendendo como atacando, foi um fator determinante para o início arrasador do Cruzeiro. Porém é preciso também destacar o corredor que os dois laterais tiveram para subir e se aproximar dos ponteiros, fazendo maior número pelos lados do campo. Ricardinho até abandonava o meio-campo para encurtar o espaço em Egídio, mas o camisa 6, sem ter um ponteiro verdadeiro para marcar, ultrapassou seu marcador com o mesmo ímpeto que chamou a atenção de todos no primeiro turno do certame.

Ceará, por outro lado, teve toda a liberdade para apoiar, pois quando recebia a bola, João Vitor só o marcava à distância. O veterano camisa 2 subiu frequentemente ao ataque, recebendo ora passes de trás e avançando até encontrar Marlon, ora inversões de jogada que Lucas Silva produzia tão bem, fazendo o lateral esquerdo do Criciúma sair da formação da defesa para ir à marcação. Foi deste lado que saiu o primeiro gol, num belo passe de Ribeiro para Ceará já avançado até a linha de fundo, que cruzou rasteiro mas encontrou a defesa. No rebote, o próprio Éverton bateu de esquerda — o pé bom — para abrir o placar.

Dagoberto

Outro fator interessante é a característica que Dagoberto dá ao time. Enquanto Goulart é mais aplicado taticamente e tem papel fundamental na movimentação e na construção da jogada, Dagoberto é mais agudo e finalizador, procurando espaços com o drible rápido — um pouco parecido com Willian. O segundo gol aconteceu por causa disso — Dagoberto já estava posicionado junto à linha defensiva do Criciúma, mas bem aberto à esquerda, quando Éverton Ribeiro encontrou Egídio sem marcação. O lateral entrou um pouco pelo centro mas passou a Dagoberto, que imediatamente deu a Éverton, que havia tomado a frente de dois marcadores dentro da área. O passe não foi bom, mas Éverton fez do limão uma limonada: deu um passe escorpião de volta a Dagoberto na entrada da área, que pegou de primeira, se marcação — atraída por Ribeiro — e aumentou.

Defensivamente, porém, Dagoberto não contribui tanto. Isso não era um problema naquele momento do jogo, pois só o Cruzeiro atacava e Sueliton se limitava a compor a linha defensiva, mas quando o Cruzeiro diminuiu o ritmo — talvez pela facilidade que encontrava no campo ofensivo — isso passou a ser um fator de preocupação.

Volância leve

Cruzeiro 5 x 3 Criciúma - Fim do 1º Tempo

No fim do primeiro tempo, o Cruzeiro deu campo ao Criciúma, mas os ponteiros não voltavam com os laterais, e os volantes (principalmente Henrique) com falhas nas coberturas

Mas o maior problema defensivo, neste momento da partida, residia na entrada da área. O primeiro gol do Criciúma — numa cobrança muito bem feita de João Vitor, diga-se — já poderia ser um alerta, pois Henik avança sem ser incomodado no setor, obrigando o zagueiro a subir o bote, errar o tempo e cometer a falta. Lucas Silva tem um bom combate, mas jogava mais avançado, e Henrique simplesmente não estava no mesmo ritmo dos outros jogadores, limitando-se ao cerco sem dar botes mais fortes.

Em que pese o Cruzeiro ter continuado atacando após sofrer o gol, o Criciúma passou a jogar também e encontrou este espaço na entrada da área para criar e conseguir uma virada surpreendente ainda na primeira etapa. Primeiro, Marlon avança pela esquerda mas não é acompanhado por Éverton Ribeiro, que naquele momento era o ponteiro e devia marcá-lo, e a cobertura de Henrique é falha — o camisa 8 deixa um passe de Marlon entrar nas suas costas pela direita. O cruzamento acha Lins, que está longe de Lucas Silva.

Depois, uma inversão de bola da esquerda para a direita acha Sueliton avançando com espaço. Dagoberto tenta voltar para acompanhar mas não consegue, e Egídio está pelo centro da área compactado lateralmente na defesa (que é o comportamento certo). O lateral direito do Criciúma cruza rasteiro de primeira para Ricardinho, na meia-lua, completar de primeira. É possível ver Henrique muito afundado na marcação, quando deveria estar ali para interceptar o passe.

Sueliton fora

O time voltou para o segundo tempo sem alterações, mas não deu tempo de avaliar se havia algo novo na postura do time, pois logo aos 4 Sueliton receberia o segundo amarelo e o Cruzeiro passou a ter vantagem numérica. Marcelo Oliveira esperou Argel reformatar sua equipe com Ezequiel, lateral direito, na vaga de Ivo, optando pelo 4-4-1 (na transmissão foi possível ver o técnico do Criciúma fazendo dois números quatro com as mãos, uma na frente da outra, indicando o sistema que queria) para poder fazer seus movimentos.

O time da virada: com um a mais, Júlio e Éverton foram os meias do inédito 4-3-3 com laterais totalmente livres para apoiar ao mesmo tempo

O time da virada: com um a mais, Júlio e Éverton foram os meias do inédito 4-3-3 com laterais totalmente livres para apoiar ao mesmo tempo

As entradas de Júlio Baptista e Mayke nas vagas de Henrique e Ceará deram ao time um viés ultra ofensivo. Mayke é reconhecidamente mais ofensivo que o veterano camisa 2, e Júlio, um meia-atacante de origem, entrou na vaga de um volante, e com isso o Cruzeiro passou pela primeira vez a jogar num 4-3-3 clássico, com Éverton um pouco mais recuado como meia direita, Júlio na meia-esquerda, Willian e Dagoberto nas pontas e Borges de centroavante. Isso além de Lucas Silva ser um volante com chegada e Egídio ser um lateral ofensivo também — apenas os zagueiros não participariam da construção ofensiva.

Muitos cruzamentos

Este embate de sistemas proporcionou duelos por todo o campo. Marcelo abdicou de pressionar os zagueiros e se limitava a cercar Lucas Silva, enquanto que os laterais celestes batiam com os meias abertos do time catarinense. Os meias batiam com os volantes e os ponteiros com os laterais, deixando apenas Borges segurando os dois zagueiros.

Seguros da cobertura de Lucas e dos zagueiros, os laterais avançaram sem medo. Resultado: foi o jogo com maior número de cruzamentos do Cruzeiro no campeonato. Não demorou para Borges empatar com um passe vindo de Mayke e desviado por Willian, pegando a defesa desprevenida. Gol típico de centroavante: batendo cruzado na primeira oportunidade. Argel só tinha a opção do contra-ataque, e lançou Douglas, mais leve, na vaga de Marcel. Já Marcelo Oliveira tirou Willian, cansado, por Élber, na ponta direita. E foi com ele que veio o gol da tranquilidade, do mesmo lado direito. O cruzamento achou a cabeça de Borges, sozinho, no meio da área.

Com dois laterais bem ofensivos, o Cruzeiro levantou nada menos do que 37 bolas na área (7 certos), o maior número até aqui no campeonato

Com dois laterais bem ofensivos, o Cruzeiro levantou nada menos do que 37 bolas na área (7 certos), o maior número até aqui no campeonato

Em desvantagem, o Criciúma tentou avançar suas linhas, com Lins saindo do meio para fazer um 4-3-2 ao lado de Douglas no ataque, numa última tentativa de achar o empate. Mas isso acabou piorando a situação no meio-campo, e o Cruzeiro desta vez conseguiu trocar passes sem sustos, e até eventualmente conseguir marcar mais um no pênalti incontestável em Dagoberto que ele mesmo cobrou.

Quase campeão, mas ainda verde

Não há como negar que a expulsão mudou a maneira de jogar das equipes na partida, mas dizer que foi o único fator responsável pelo resultado é demais. O Cruzeiro venceu por méritos próprios, tanto dos jogadores quanto de Marcelo Oliveira, que fez as trocas corretas para dar o melhor resultado tático possível.

Mas o susto no fim do primeiro tempo liga um alerta. Por causa dele, este blog se convenceu de que o Cruzeiro de fato ainda não sabe jogar de outra forma que não atacando com intensidade sempre. Este time ainda não é maduro para segurar a partida tendo a bola nos pés e diminuir o ritmo do jogo. Pode ter dado certo em alguns momentos nesta temporada, mas isto ainda é um fator a se evoluir. Não é surpreendente, no entanto, pois é uma equipe em sua primeira temporada e que não teve tempo para treinar variações, ainda que esteja liderando o campeonato com folga.

E, por isso mesmo, o provável título será ainda mais valorizado. Afinal, o Cruzeiro é uma equipe ainda longe de estar perfeita.

Coritiba 2 x 1 Cruzeiro – Chegou a hora

Uma ferroada de abelha, para pessoas não-alérgicas, não costuma trazer nenhuma consequência mais séria, apenas uma dor intensa e inchaço. Picadas múltiplas, entretanto, pode levar a um colapso.

Pois tal como se tivesse sido atacado por um enxame de abelhas — como indicava o uniforme do time da casa — os jogadores do Cruzeiro mostraram um certo torpor durante a partida de domingo e colecionaram sua terceira derrota em quatro jogos. É claro que os gols do adversário aconteceram por um erro individual e um lance bizarro, mas a falta de intensidade acabou mesmo sendo a principal causa do revés. Sim, já que se tivesse aplicado um pouco mais de vontade, certamente o Cruzeiro conseguiria marcar mais gols, que acabariam por compensar os erros.

Fichas iniciais

O 4-4-1-1 do Coritiba bloqueou a já reduzida movimentação do trio de meias e ao mesmo tempo liberava Alex da marcação, deixando os defensores celestes trocando passes laterais

O 4-4-1-1 do Coritiba bloqueou a já reduzida movimentação do trio de meias e ao mesmo tempo liberava Alex da marcação, deixando os defensores celestes trocando passes laterais

Marcelo Oliveira escalou o Cruzeiro no 4-2-3-1 usual, apenas com Henrique na vaga do suspenso Lucas Silva — cuja ausência foi sentida, como veremos adiante. Do gol, Fábio teve Ceará e Egídio como laterais da linha defensiva, composta por Dedé e Bruno Rodrigo. Nilton foi o companheiro de Henrique na proteção, e na frente o quarteto ofensivo que mais vem se repetindo nos últimos jogos: Éverton Ribeiro de ponteiro direito, Ricardo Goulart de central, Willian de ponteiro esquerdo e Borges na referência.

Já Péricles Chamusca armou o Coritiba num 4-4-1-1, feito para diminuir ao máximo os efeitos da falta de mobilidade e combatividade de Alex, ao mesmo tempo em que aproveita sua melhor arma: o passe. Protegendo a meta de Vanderlei, os zagueiros Luccas Claro e Leandro Almeida eram flanqueados por Gil à direita e Carlinhos na esquerda. Na cabeça de área, Willian e Júnior Urso faziam a base do tripé do meio, completado por Alex à frente, e ainda tinham a companhia de Robinho pelo lado direito e Geraldo fechando o lado esquerdo. Na frente, Júlio César.

O primeiro e o último passe

Ao contrário do que normalmente acontece, o time da casa preferiu esperar o Cruzeiro em seu campo. As duas linhas de quatro do Coritiba tiravam os espaços do quarteto ofensivo e deixavam os zagueiros e laterais celestes sem opções de passes para a frente. Parecia um jogo de handebol, no qual a bola girava de um lado para o outro: de Ceará a Dedé a Bruno a Egídio, que devolvia para Bruno, para Dedé e de volta a Ceará. O Coritiba se limitava a fechar as linhas de passe para os volantes com Alex e Júlio César, que por vezes se alinhavam desenhando um 4-4-2, e até mesmo com Alex sendo o jogador mais avançado. A pressão nos zagueiros celestes era muito esporádica.

Assim, não era raro ver Henrique voltando para pegar a bola nos pés dos zagueiros. O camisa 8 saía do meio-campo e recebia, mas não conseguia iniciar a jogada por nenhum lado, acabando por voltar a bola para os zagueiros ou para os laterais. Lucas Silva faz melhor este papel. E mesmo quando algum jogador tentava um passe agudo para iniciar a movimentação ofensiva, os erros aconteciam e armavam contra-ataques para o time da casa.

Quando conseguiu, com muita paciência, chegar na intermediária ofensiva, o Cruzeiro até imprimia velocidade, mas errava o último passe — aquele que deixa o jogador em condições de finalização. Vanderlei quase não trabalhou no primeiro tempo, pois quando finalmente o Cruzeiro conseguia superar todas estas dificuldades e finalizar, não era com qualidade.

Foi a partida com mais posse de bola do Cruzeiro, empatada com a 7ª rodada contra o Náutico no Mineirão -- mas era um domínio estéril, com muitos passes no campo defensivo

Foi a partida com mais posse de bola do Cruzeiro, empatada com a 7ª rodada contra o Náutico no Mineirão — mas era um domínio estéril, com muitos passes no campo defensivo (veja mais aqui)

Sem a bola

Defensivamente o Cruzeiro até que se postava bem. Alex não tinha espaço para criar e Júlio César ficou escondido diante da excelente atuação dos zagueiros celestes. Pela esquerda, Egídio não sofreu tanto com Gil e Robinho, mas Ceará tinha muito trabalho pela direita, e foi por ali que saiu o gol. Uma jogada de ultrapassagem de Carlinhos e Geraldo, que viu o avanço de seu lateral e fez o passe por cima. Ceará conseguiu voltar e tomar a frente, mas tentou se apoiar no corpo do jogador do Coritiba, errou e passou da bola, que sobrou limpa para Carlinhos finalizar.

Era tudo o que o Coritiba queria, se defender o máximo possível e jogar nos erros do Cruzeiro — uma estratégia que vários time vem usando, muito por conta do desempenho que o Cruzeiro apresentou no campeonato. Dedé ainda fez um gol injustamente anulado pelo árbitro, mas pouco criou além disso.

Segundo tempo

Após o intervalo, o Coritiba passou ao 4-2-3-1 e  jogo abriu: após o empate, Lincoln entrou e deu movimentação; no Cruzeiro, Luan acertou o lado esquerdo e Dagoberto acelerou, mas e o Cruzeiro pecou nas finalizações

Após o intervalo, o Coritiba passou ao 4-2-3-1 e jogo abriu: após o empate, Lincoln entrou e deu movimentação; no Cruzeiro, Luan acertou o lado esquerdo e Dagoberto acelerou, mas e o Cruzeiro pecou nas finalizações

Nenhum dos treinadores fez trocas, mas o jogo mudou. O Cruzeiro aparentemente cansou, não reteve a bola no ataque nem pressionou o homem da bola no seu campo defensivo. Resultado: com os mesmo onze, o Coritiba passou ao 4-2-3-1 com o avanço dos ponteiros, e por quinze minutos, jogou praticamente sozinho: Alex, Júlio César e Robinho tiveram chances. Marcelo Oliveira então resolveu agir: primeiro se precaveu lançando Luan na lateral esquerda na vaga de Egídio — o lateral estava sendo pressionado por Robinho e já tinha cartão amarelo — e depois trocou Borges por Dagoberto na direita, centralizando Éverton Ribeiro e fazendo Goulart mais uma vez ser o centroavante.

Praticamente na jogada seguinte, Willian conseguiu enganar o árbitro e Dagoberto converteu o pênalti. O empate não foi consequência direta das substituições, mas o Cruzeiro melhorou depois de igualar o placar. Luan, por incrível que pareça, melhorou a marcação do lado esquerdo e ainda apareceu mais vezes no ataque, e Dagoberto deu mais ofensividade pela direita. Péricles Chamusca já havia substituído Júlio César por Keirrison, sem alterar o sistema, mas equilibrou o jogo novamente com a entrada de Lincoln na vaga de Alex. O sistema não se alterou, mas Lincoln se movimentou mais do que o veterano camisa 10 do Coritiba, que é mais lento. O jogo ficou aberto, com chances de parte a parte.

Chuteira na mão

Com exceção do erro que originou o gol, Ceará continuava tendo uma boa atuação defensiva, como lhe é costumeiro. Em um lance até perdeu a chuteira para ganhar a posse de bola. O futebol é cheio de ironias, no entanto, e justamente por causa de estar com a chuteira na mão, não conseguiu correr para impedir novo ataque do Coritiba pela esquerda. Assim, Dedé saiu na cobertura e Léo, que tinha entrado no lugar do lesionado Bruno Rodrigo, marcou a bola ao invés de Keirrison, que cabeceou sozinho para o gol. Talvez tenha sido por causa do posicionamento nas três partidas anteriores: zagueiro direito, no lugar de Dedé, ao invés de ser pela esquerda como naquela tarde.

Dali pra frente, foi ataque contra defesa. O Coritiba achou o seu resultado e se contentou em voltar ao modo inicial do jogo: se defender e jogar no erro celeste. Já o Cruzeiro foi pra cima e criou, mas tomou decisões ruins na hora de finalizar. Dagoberto, Willian e até Dedé tiveram chances, mas se afobaram ou erraram a conclusão e não conseguiram evitar a inesperada derrota.

O físico, o psicológico e o técnico

Está claro que o problema do time nestes últimas partidas não é no sistema tático, que é o mesmo desde o início da temporada — foi com ele que o Cruzeiro conseguiu sua melhor sequência no campeonato. A questão passa pela execução do esquema, que exige intensidade tanto com quanto sem a posse da bola, e isso obviamente passa pela parte física, essa sim prejudicada. O desgaste, por sua vez, influencia também em outros aspectos, como o técnico — exemplificado na média acima do normal de erros de passe e finalização.

Porém, a parte mental é uma das que precisa melhorar. Talvez a grande vantagem, ainda mantida para o segundo colocado, tenha afetado a motivação dos jogadores, mesmo que inconscientemente. Também, os outros times já não tem mais tempo de recuperação no campeonato e acabam por jogar tudo o que conseguem na partida contra o líder, ao passo de que o Cruzeiro, por ter vantagem, não vai atrás do resultado com a mesma fome.

A rotação dos jogadores, antes feita com maestria por Marcelo Oliveira, deixou de acontecer há algumas rodadas. A troca de uma ou outra posições a cada jogo serve tanto como motivação para os que estão na reserva quanto como descanso para os que jogaram sequências grandes. Talvez seja a hora de voltar com esta política. Já no campo psicológico, nada pode ser mais motivante que o título nacional. Difícil entender como Marcelo pode melhorar neste aspecto.

Chega de sentar na vantagem, é hora de resolver o certame.

Cruzeiro 1 x 0 Fluminense – Blasé

O Cruzeiro voltou a vencer. Mas não da mesma forma que vencia antes no Mineirão, envolvendo e acuando o adversário, bombardeando o goleiro visitante com finalizações de todos os lados, construídas com jogadas de aproximação e toques curtos e rápidos pelo meio. Foi uma vitória simples, com um gol de puro faro de centroavante, e com o time numa rotação abaixo do que se espera dele. O desgaste da temporada parece estar cobrando seu preço.

Não foi sem correr riscos, no entanto. O Fluminense teve chances e só não empatou porque Samuel, por incompetência, e Fábio, por excelência, não deixaram.

Formações

No início, ambos os times no 4-2-3-1 encaixado, mas com o Cruzeiro levando vantagem pela direita em cima de Ailton

No início, ambos os times no 4-2-3-1 encaixado, mas com o Cruzeiro levando vantagem pela direita em cima de Ailton

Marcelo Oliveira poupou Ceará e escalou Mayke em seu lugar na lateral direita do 4-2-3-1 usual. O goleiro Fábio capitaneou o time que tinha a defesa formada por Léo e Bruno Rodrigo, com Mayke do lado direito e Egídio pela esquerda. NA proteção, Nilton e Lucas Silva mais uma vez fizeram parceria, com o segundo chegando mais próximo do trio articulador formado por Éverton Ribeiro à direita, Ricardo Goulart de central e Willian à esquerda. Na frente, Borges duelava com os zagueiros cariocas.

Diferente do confronto no primeiro turno, quando mandou um losango a campo, Vanderlei Luxemburgo escalou o Fluminense no mesmo 4-2-3-1. A meta de Kléver foi defendida por Bruno na lateral direita, Gum e Leandro Euzébio centralizados e Aílton à esquerda. Mais à frente, Edinho e Jean davam suporte a Rafinha na ponta direita, Wagner mais centralizado e Rafael Sóbis mais agudo à esquerda, próximo de Samuel.

 

 

Ataque pela direita

Tanto o mapa de calor da Footstats quanto o indicador do WhoScored confirmam: o Cruzeiro adorou procurar o lado direito neste jogo (veja as imagens abaixo). Tudo porque Luxemburgo estava sem laterais esquerdos de origem e optou por Aílton naquele lado da defesa, mas o jovem foi mal defensivamente. A troca de posições entre os três meias, uma característica imprescindível para um 4-2-3-1 ofensivo como é o do Cruzeiro funcionar — e que, por sinal, tem acontecido menos do que em partidas anteriores — acabou por confundir a marcação de Ailton.

O mapa de calor da Footstats mostra o Cruzeiro com mais posse pela direita; o índice de ataques do WhoScored.com diz que quase metade dos ataques foram por aquele lado

O mapa de calor da Footstats mostra o Cruzeiro com mais posse pela direita; o índice de ataques do WhoScored.com diz que quase metade dos ataques foram por aquele lado

E após um começo nervoso, com muitos erros de passe pela ansiedade em contra-atacar, o Cruzeiro aproveitou o quarteto ofensivo encaixou alguns passes e abriu o placar com Borges. O passe de Éverton Ribeiro, aqui aparecendo de central, teve como alvo Ricardo Goulart, às costas de Aílton. Goulart avançou cortando pra dentro, mas se enrolou com a bola, que sobrou na entrada da área. Borges foi mais esperto que a cobertura de Bruno e colocou no canto direito de Kléver.

Fluminense muda

Wagner se lesionou e deu seu lugar ao veterano Felipe. Com isso, Luxemburgo reorganizou a equipe no 4-4-2, mandando Felipe para a ponta esquerda para proteger Aílton e dando liberdade a Rafael Sóbis para circular. Funcionou em certa medida, já que Sóbis causou problemas do lado esquerdo da defesa celeste, principalmente com Egídio tendo dificuldades de marcação. Daquele lado, o atacante finalizou uma vez, com certo espaço, e deu uma assistência para Samuel errar o gol dentro da pequena área. Sorte.

Mas se a marcação do lado esquerdo ficou reforçada com Felipe, necessariamente ela foi diminuída em algum outro setor da equipe. E esse setor era o meio-campo ofensivo. Sem um meia central, Nilton e Lucas Silva ficaram sem perseguidores diretos — Jean optava por recuar próximo a Edinho para ter uma sobra no meio-campo. Não por acaso, os volantes celestes tiveram liberdade para avançar e chutar, uma vez cada um.

Luxa queima a regra três

Insatisfeito, Luxemburgo usou de um expediente que lhe é bem característico: queimar todas as substituições no intervalo. Rhayner entrou na vaga de Rafinha para jogar na mesma ponta direita, mas com mais ofensividade; e Igor Julião, lateral direito de origem, entrou na lateral esquerda no lugar de Aílton, mal no primeiro tempo. Além disso, Luxemburgo soltou Jean de vez, que chegava ao ataque com frequência. Vendo que poderia ter problemas com o amarelo que Egídio levou ainda no finzinho do primeiro tempo, Marcelo diminuiu os riscos tirando o camisa 6 e mandando Ceará a campo, novamente na lateral esquerda.

O jogo ficou morno, com o Cruzeiro se contentando em defender a vantagem e o Fluminense arriscando o mínimo possível para não sofrer contra-ataques. Marcelo agiu novamente, tirando Borges e lançando Dagoberto na partida. O camisa 11 foi para a direita, centralizando Ribeiro e mandando Goulart para o ataque — uma substituição que este blogueiro particularmente não gosta, como dito em outros textos. Mas o fato é que Goulart passou a finalizar vária vezes, mas sempre para fora. Talvez pelo fato de não ser um centroavante típico e se movimentar mais, Goulart tenha confundido os zagueiros cariocas.

Sóbis no chuveiro: nada mudou

Com a lesão de Wagner, Luxemburgo repaginou o Fluminense num 4-4-2 reforçando o lado esquerdo com Felipe e dando liberdade para Sóbis, que causou problemas até a expulsão

Com a lesão de Wagner, Luxemburgo repaginou o Fluminense num 4-4-2 reforçando o lado esquerdo com Felipe e dando liberdade para Sóbis, que causou problemas até a expulsão

De toda forma, a partida começou a ficar perigosa demais, já que o Cruzeiro claramente dava indícios de que não iria correr mais do que estava correndo para ampliar o placar. O Fluminense se soltou de vez, chegando com perigo: Fábio chegou a salvar espetacularmente um cabeceio de Samuel, em cruzamento de Bruno da direita.

Mas o ímpeto de empatar acabava dando mais espaço ao Cruzeiro, que contra-atacava. E em um destes contra-ataques, puxado por Dagoberto, Rafael Sóbis fez falta para o segundo amarelo. Parecia que o jogo tinha acabado ali, já que com um a menos o Fluminense parecia não ter mais como reagir. E nos primeiros minutos do novo 4-4-1, o Cruzeiro até ensaiou uma pressão para ampliar, mas esbarrou nas más finalizações de Goulart novamente.

Marcelo Oliveira tentou aproveitar a vantagem numérica e promoveu a reestreia de Élber depois de longo tempo lesionado, na vaga de Willian. Entretanto, a expulsão de Sóbis fez mal ao Cruzeiro, que relaxou demais, e Élber quase não teve tempo na bola. Os jogadores do Fluminense conseguiram perceber este relaxamento e se soltaram novamente, enquanto o Cruzeiro se contentava em deixar o tempo passar. Teria sido uma atitude imperdoável, não fosse Samuel ter perdido mais uma vez um gol dentro da pequena área após chegada pela esquerda.

O lance pareceu ter selado o destino da partida. Mesmo correndo riscos, o Cruzeiro deixou o tempo passar, e sem ser incomodado pelo Fluminense, se reencontrou com a vitória.

O físico e o psicológico

Este blog é sobre tática, mas é claro que esta parte do futebol é também influenciada por outros fatores, e dentre eles estão a questão física e a mental. O desgaste dos jogos em sequência claramente tem emperrado a atuação de alguns jogadores. Além disso, os dois resultados ruins em sequência causaram uma certa ansiedade nos atletas, que por sua vez afetou a parte técnica — muitos erros de passe na ânsia de marcar gols logo e quebrar a sequência negativa. O próprio Marcelo Oliveira mencionou isto.

Entretanto, esses fatores não podem servir de desculpa para o relaxamento celeste no segundo tempo. Com a vitória, este aspecto pode ter ficado em segundo plano para muita gente, mas não aos olhos deste escriba. Claro que o importante era vencer novamente para retomar o caminho do título. Mas o risco de deixar de ganhar três pontos foi grande demais, mesmo em vantagem numérica.

É preciso retomar o futebol de outrora para que a torcida celeste não passe tanto sufoco. Quem sabe agora, com os jogos sendo somente aos fins de semana — exceto contra o Vitória na 34ª rodada — a questão física deixe de ser um fator e o Cruzeiro mostre a intensidade ofensiva que encantou o Brasil no primeiro turno.

A confiança no título segue inabalável, mas o Cruzeiro pode sim jogar mais do que o que jogou. Basta fazer, literalmente, um pequeno esforço a mais.