Com a tarefa facilitada pela boba expulsão do atacante Max ainda no primeiro tempo, o Cruzeiro não precisou fazer força para golear a Caldense hoje em Poços de Caldas. Uma clara demonstração de que o time pode se adaptar a diferentes formações dependendo das situações de jogo encontradas.
![Caldense x Cruzeiro [1ºT]](http://constelacoes.candian.com.br/wp-content/uploads/2012/03/120318_caldense_cruzeiro.png)
No primeiro tempo, Cruzeiro no 4-3-3 com Anselmo Ramon na referência e atacantes abertos recompondo para formar um meio-campo com 5 homens
A Caldense começou com tudo, pressionando o Cruzeiro no alto do campo, que teve que ceder a posse em alguns momentos. Porém, o Cruzeiro devolveu na mesma moeda, e em pouco tempo a bola passou a ficar mais tempo em pés azuis do que verdes. A defesa jogava avançada, para tentar empurrar o adversário em seu próprio campo, e com isso a Caldense chegou a ter algumas oportunidades de contra-ataque com o rápido Luisinho, mas sem sucesso.
Ofensivamente, o Cruzeiro tinha mais posse, mas não conseguia passar pela bem montada defesa da Caldense. O primeiro volante Mário era o responsável por marcar Montillo, mas quando o argentino saía da zona central, ele não ia atrás, a marcação mudava de jogador e a estrutura defensiva com 9 homens atrás da bola se mantinha. Assim, o time azul optou por jogadas mais agudas, de menos probabilidade de sucesso, mesmo tendo maior posse de bola. Quando perdia a posse, deixava de pressionar, numa tentativa de atrair um pouco mais a defesa da Caldense para si e jogar em velocidade.
Não foi bem assim que saiu o primeiro gol, mas a falta cobrada rapidamente por Montillo, deixando WP cara a cara com Glaysson e originando o pênalti – convertido pelo próprio atacante – ilustram a proposta de jogo dos visitantes. Atrás no placar, a Caldense tentou sair um pouco mais, avançando seus volantes e laterais, mas isso deixou espaços cruciais atrás destes últimos. E os atacantes abertos trataram de explorar este espaço: logo no minuto seguinte ao gol, Wallyson recebeu, livre, uma inversão em diagonal, numa jogada muito parecida com o segundo gol de Montillo contra o Villa Nova, e cruzou rasteiro, mas nenhum atacante aproveitou. Cinco minutos depois, foi a vez de WP emendar um cruzamento de primeira, mas para fora, também naquele setor.
A expulsão do atacante Max ainda no primeiro tempo só facilitou um jogo que já estava totalmente controlado. A Caldense não mudou o esquema, mantendo somente Luisinho à frente. Se o camisa 11 voltasse para recompor o meio, os volantes azuis tinham todo o tempo do mundo para conectar-se às variadas opções not ataque. Mas se Luisinho ficava à frente, o Cruzeiro tinha um homem a mais no meio, e assim o jogo passou a ser ataque contra defesa. Os visitantes ganhavam todas as segundas bolas, e os zagueiros Victorino e Thiago Carvalho quase não tinham trabalho.
O segundo gol veio após um escanteio cabeceado por Anselmo Ramon e defendido à queima-roupa por Glaysson. A sobra, como esperado, ficou com o lateral Marcos, que achou Montillo no meio e correu para a área, no “contra-fluxo” da defesa adversária. Marcos recebeu a devolução do argentino na medida para dar um tapa de primeira e achar três cruzeirenses livres. A defesa da Caldense acusava impedimento enquanto Victorino comemorava seu primeiro gol com a (nova e lindíssima) camisa cruzeirense.
O primeiro tempo terminou na mesma toada, com WP recebendo passe dentro da área de uma posição aberta, mas desta vez nenhum companheiro estava dentro da área.
O técnico Ademir Fonseca ainda tentou arriscar no intervalo, tirando seu principal articulador, Fábio Neves, e lançando um novo parceiro de ataque para Luisinho, Félix, mudando para um ousado 4-3-2. Mas os planos do treinador da Caldense foram por água abaixo quando Leandrão errou um passe em seu próprio campo e WP aproveitou, avançando com seus dois companheiros de ataque contra dois zagueiros apenas. A conclusão plástica de Anselmo Ramon para o cruzamento de WP resolveu o jogo, e o Cruzeiro passou a administrar. Fonseca fez mais duas alterações, mas trocando seis por meia dúzia em termos táticos, ao invés de fechar seu time e tentar evitar mais gols.
Sem necessidade de correr atrás, o Cruzeiro deixava a Caldense com a bola, sabendo que tinha todos os espaços controlados, esperando o erro do adversário. E num desses erros, o quarteto ofensivo funcionou mais uma vez. WP, aberto pela esquerda, avançou com a bola, vendo Montillo disparar para receber pelo flanco da área. Lançado, o camisa 10 passou com a facilidade que lhe é característica pelo seu marcador e cruzou na cabeça de Wallyson, livre na pequena área.
![Caldense x Cruzeiro [2ºT]](http://constelacoes.candian.com.br/wp-content/uploads/2012/03/120318_caldense_cruzeiro2.png)
O 4-2-4 ultra-ofensivo no fim do jogo, com intenso revezamento dos homens de frente e zagueiros adiantados
Nesse momento, talvez a melhor descrição para a formação seja provavelmente um 2-4-4, pois o domínio era tal que não havia necessidade de os laterais recomporem a última linha de defesa. Nos últimos lances da partida, era comum ver Victorino e Thiago Carvalho além da linha do meio-campo, sem a companhia de Marcos e Everton, que avançavam para combinar aos atacantes abertos. Anselmo Ramon nem teve que saltar para cabecear o quinto gol em centro de Amaral, tal era a fragilidade do sistema defensivo do time de Poços.
Ao fim do jogo, Vágner Mancini disse na entrevista coletiva que o Cruzeiro ainda não jogou contra um adversário à altura. De fato, o resultado não pode empolgar. Contra times mais experientes, nas fases finais da Copa do Brasil e no Brasileiro, o Cruzeiro não terá tanta facilidade. Mas também disse que “o trabalho é feito para finais de campeonato”. Portanto, os jogos contra times menores – leia-se, primeira fase do Campeonato Mineiro e fases iniciais da Copa do Brasil – são o campo de experiências ideal para se chegar às grandes competições com o time formado. E um time formado é aquele que consegue jogar em diferentes esquemas táticos e diferentes situações de jogo.
Vágner Mancini vai, aos poucos, controlando as variáveis e obtendo resultados. Experimentando variações com calma, sem pressa, como um cientista. Quem sabe, no futuro, tenhamos uma máquina engenhosa. De fazer gols.