Cruzeiro 2 x 1 Atlético/MG – O Mineirão é nosso

Com licença, caro leitor. Cabe aqui algumas palavras sobre um retorno que definitivamente será marcante para toda a cruzeiridade.

Sabe aquele momento, após entrar pelo portão do estádio, quando você sobe aquele último lance de escadas que dá para a arquibancada, e dá de cara com o relvado verde, como um palco com cortinas fechadas esperando o espetáculo se iniciar? Foi assim que este blogueiro se sentiu ontem no Mineirão, após dois anos e tanto de um longo e tenebroso inverno.

Foi nesse palco que eu vi as maiores glórias do Cruzeiro desde que passei a me entender por gente. Vi Elivélton marcar o gol do bi; vi Geovanni seguir a dica do Muller e bater por baixo da barreira para desespero do Ceni; vi aquela falta que o Zinho cobrou passar por cima de todo mundo e entrar direto, e depois Alex, que estava fora daquele jogo, dar a volta olímpica antes do jogo acabar: ninguém se lembra daquele gol do Paysandu.

Quando eu ia ao estádio do América, no ano passado, assistir aos jogos do Cruzeiro, eu não me sentia em casa de fato. A torcida estava lá, o time estava lá, mas tinha algo diferente, inexplicável, que incomodava, não nos deixava à vontade. Essa sensação nunca existiu ontem. Apesar de tantos problemas de serviço, nunca me senti tão confortável.

Talvez os jogadores se sentiram da mesma forma. Talvez seja este um dos fatores que contribu­íram para a vitória — o resultado não podia ser outro no jogo inaugural. Afinal, o Mineirão é, sem sombra de dúvida, a verdadeira casa do Cruzeiro.

Isto posto, vamos às notas táticas.

4-2-3-1 vs. 4-2-3-1

O 4-2-3-1 inicial do Cruzeiro, com Guerreiro preso na marcação de Ronaldinho, Nilton mais solto e Everton Ribeiro levando vantagem sobre Júnior César

O 4-2-3-1 inicial do Cruzeiro, com Guerreiro preso na marcação de Ronaldinho, Nilton mais solto e Everton Ribeiro levando vantagem sobre Júnior César

Ao contrário da previsão deste blogueiro – naturalmente – Marcelo Oliveira escolheu Anselmo Ramon ao invés de Vinicius Araújo para ocupar a referência do ataque à frente da linha de três meias do 4-2-3-1. Everton Ribeiro à direita, Ricardo Goulart por dentro e Everton à esquerda tinham o suporte de Nilton, mais atrás, enquanto Leandro Guerreiro ficou quase exclusivamente na proteção aos zagueiros Bruno Rodrigo e Paulão. Ceará na direita e Egídio do outro lado fechavam a última linha defensiva à frente de Fábio.

O time rival veio com o mesmo onze manjado do ano passado, exceção feita ao estreante Araújo como ponteiro direito no 4-2-3-1 de Cuca. A meta de Victor foi defendida por Marcos Rocha na lateral direita, Réver e Leonardo Silva no miolo de zaga e Júnior César na esquerda. Pierre e Leandro Donizete faziam a dupla volância, com Ronaldinho centralizado distribuindo para Araújo e Bernard, este pela esquerda, enquanto Jô era o centro-avante.

A dupla volância

É normal em um 4-2-3-1 que um dos volantes saia mais para o jogo enquanto o outro fique mais por conta de marcar o meia central adversário. No Cruzeiro, Leandro Guerreiro perseguiu Ronaldinho como uma sombra, enquanto Nilton tinha mais tempo livre. Já no rival, isto ficou mais indefinido. Pierre deveria marcar Ricardo Goulart, mas a movimentação do nosso camisa 31 dificultou seu trabalho. Assim, Nilton e Leandro Donizete tinham um pouco mais liberdade, e frequentemente se encontravam em campo, um marcando o outro.

Mas Nilton conseguia se livrar melhor da marcação no meio e se juntar ao ataque, e com isso Pierre ficava sobrecarregado. Facilitou para Ricardo Goulart, que demorou a achar um espaço entre as linhas para ter tempo de encaixar um passe, mas quando o fez foi decisivo: primeiro conectou a Everton Ribeiro livre nas costas de Junior César, na primeira finalização do Novo Mineirão. Depois, em jogada rápida, viu Leandro Guerreiro aparecer como homem-surpresa e cruzar na primeira trava para Anselmo Ramon marcar o primeiro gol da história do novo estádio.

Sim, foi ele, não importa o que diga a súmula.

Estilo de centro-avante

Falando em Anselmo: falar após o jogo é fácil, mas análise tática é informação, e não previsão. Marcelo Oliveira acertou ao escalar o camisa 99 ao invés do garoto Vinicius Araújo. Explico: a vantagem que Nilton proporcionava ao Cruzeiro no meio-campo, explicada acima, era muito sutil. O gol do rival em uma falha de posicionamento na bola parada — normal em um início de temporada — fez o jogo seguir muito parelho, com o meio-campo bem travado, já que nenhuma das equipes optou por marcar adiantado. Os zagueiros ficavam livres, mas as linhas de passe para os volantes e laterais não. A consequência era um festival de ligação direta: por isso a escolha por Anselmo Ramon. Os zagueiros de ambos os times procuravam seus centroavantes, que disputavam a bola pelo alto ou seguravam a posse até receberem ajuda de trás. Fosse o garoto camisa 30 no comando do ataque, o Cruzeiro seria forçado a jogar mais pelo chão, com o que teria dificuldades.

Os lados do campo

Os embates nas pontas do campo eram os previstos, mas com uma certa vantagem para o Cruzeiro em ambos os lados. Do lado esquerdo, a presença de Everton segurou o ímpeto de Marcos Rocha, que pouco apoiou no primeiro tempo. Egídio teve certa dificuldade para marcar Araújo, mas conseguiu fazer bem seu trabalho e aproveitou a vulnerabilidade defensiva do rival para apoiar mais.

No lado direito, a vantagem azul era mais clara. Ceará, experiente, embolsou Bernard mais uma vez, salvo em algumas jogadas individuais do jogador rival, e ainda conseguiu subir ao ataque com consistência, provendo cruzamentos perigosos. Júnior César sofreu com Éverton Ribeiro, que tem tudo para ser um dos melhores jogadores desta equipe. Joga pelo lado, mas centraliza quando precisa e confunde toda a marcação.

Mudanças

Percebendo a desvantagem, Cuca trocou seus dois volantes de uma só vez no intervalo. Gilberto Silva entrou para ser o cão de guarda da defesa, e Serginho foi jogar mais no alto do campo, encostando mais em Nilton. As mudanças fizeram o time rival ficar num 4-1-2-3, a formação clássica de um 4-3-3. Além disso, Cuca inverteu Bernard e Araújo, na esperança de que o primeiro levasse vantagem sobre Egídio. A esperança se confirmou e o rival passou a ter um leve domínio no início da segunda etapa.

Após algumas chances desperdiçadas pelo adversário, Marcelo Oliveira se mexeu. A esperada entrada de Dagoberto aconteceu, mas para supresa de todos, foi Éverton quem saiu. Egídio permaneceu na lateral esquerda. Além disso, outra cria da base entrou no jogo: o garoto Alisson, na vaga de Ricardo Goulart. Com isso, Éverton Ribeiro ficou na articulação central, com Dagoberto na direita e Alisson na esquerda. Nem passaram três minutos e, em funções “invertidas”, Anselmo Ramon, na ponta esquerda recebendo passe de Egídio, cruzou para Dagoberto, de centro-avante, testar com força, para o chão, e ver Victor se lamentar ao ver o gol da vitória cruzeirense.

Dez contra onze

Com um a menos, Marcelo Oliveira ousou um 4-2-3 que deixava Gilberto Silva, o jogador adversário menos perigoso com a bola nos pés, livre

Com um a menos, Marcelo Oliveira ousou um 4-2-3 que deixava Gilberto Silva, o jogador adversário menos perigoso com a bola nos pés, livre

O rival sentiu o golpe e o jogo ficou parelho novamente, até que Leandro Guerreiro recebeu o vermelho por acúmulo de cartões amarelos: muitas faltas em Ronaldinho. Cuca imediatamente colocou mais um homem de área, prevendo a maior posse de bola no meio-campo devido ao homem a mais: Alecsandro entrou no lugar de Araújo. O 4-3-3 se manteve. Marcelo Oliveira, já que tinha de dar espaço a algum jogador, inteligentemente decidiu dá-lo ao que tinha menos qualidade com a bola nos pés: sacou Everton Ribeiro do time, colocou Tinga onde Leandro Guerreiro devia estar, e assim o Cruzeiro deixava de ter um meia-central, dando espaço e liberdade para o veterano Gilberto Silva.

Com este ousado 4-2-3, o Cruzeiro foi melhor mesmo com um a menos em campo. O rival tinha mais a bola nos pés, mas era uma posse de bola infrutífera. Fábio, a rigor, não fez nenhuma defesa difícil durante todo o jogo, diferente do goleiro rival, que salvou o terceiro gol em várias ocasiões. E o jogo seguiu nesse diapasão até o fim.

Reinaugurado em grande estilo

Marcelo Oliveira fez um jogo para superar a desconfiança e até animar a torcida do Cruzeiro. Armou uma estratégia para vencer o clássico, e conseguiu neutralizar as principais armas do oponente: bola aérea com os zagueiros e lançamentos em profundidade de Ronaldinho para os pontas. Ofensivamente, surpreendeu o adversário e a própria torcida, com movimentação, fazendo parecer que já jogavam juntos há algum tempo. O tal do desentrosamento pouco apareceu em campo com a bola rolando.

Marcelo me parece ser um bom estrategista — como todo técnico de futebol moderno deve ser. Tem bola leitura de jogo, e, diferente do ano passado, o Cruzeiro agora tem peças para variar sua estratégia e esquema. Torceremos para continuar nesse caminho. Pois, se ontem o Mineirão foi devidamente reinaugurado pelo Cruzeiro, com o primeiro gol marcado, o primeiro sofrido, o primeiro cartão vermelho, o primeiro grande jogo e a primeira vitória, temos tudo para termos, já neste ano, na nossa verdadeira casa, o primeiro título.

Oxalá!

Seis pontos que não empolgam

Neste fim de campeonato, o Cruzeiro já não tem maiores pretensões, nem corre mais riscos. Isso somado ao fato de já estar anunciado aos quatro ventos que Celso Roth não será o técnico celeste em 2013, faz este blogueiro perder um pouco do entusiasmo em analisar taticamente a equipe. Nem há novidades táticas ou experimentações, nem vale para fazer uma previsão de uma base tática para o ano que vem.

Assim, analisarei por alto as duas últimas partidas do Cruzeiro, surpreendentemente, duas vitórias, mas que também não dizem nada.

Cruzeiro 3 x 1 Bahia

No que me parece uma contradição, justo quando Montillo está fora, o time vai a campo num 4-2-3-1. Tinga pelo centro da linha de três armadores não é novidade, visto que o volante jogou assim contra o Palmeiras no primeiro turno. A novidade mesmo foi a escalação de Leandro Guerreiro na zaga — não como um líbero, como o volante fez em algumas partidas deste ano, mas como zagueiro de área mesmo, em dupla com Thiago Carvalho. Momento técnico fraco dos zagueiros cruzeirenses ou falta de persistência de Celso Roth? Nunca saberemos.

O certo é que Sandro Silva e Marcelo Oliveira foram escalados na dupla volância, e Fabinho entrou pelo lado direito, com Martinuccio pela esquerda e Anselmo Ramon na referência. A marcação encaixou com o 4-2-3-1 baiano, mas com Marcelo Oliveira tendo mais liberdade para subir a apoiar o ataque, o que transformava o Cruzeiro momentaneamente em um 4-3-3 clássico, ou 4-1-2-3. Em “casa” (entre aspas porque o Independência não é a casa de verdade do Cruzeiro), o time celeste teve mais a bola, mas o domínio era somente nesse quesito. Anselmo não conseguia concatenar as jogadas e Tinga estava visivelmente tendo dificuldades para ser o ponto de rotação da equipe.

Os abundantes erros de passe geravam inúmeros contra-ataques da equipe visitante. Isso aliado ao mau posicionamento na transição defensiva (recomposição quando o time perde a bola) fez com que Fábio salvasse algumas vezes o gol, mas sem conseguir evitar que ele acontecesse, numa falha de marcação que deixou Fahel totalmente livre dentro da pequena área.

O time foi para o vestiário sob fortes vaias da torcida, que pegava mais no pé de Sandro Silva e Fabinho. Mas Celso foi teimoso — como nosso presidente — e mandou o mesmo time de volta. Com vantagem no placar, o Bahia cedeu mais campo ao Cruzeiro e tentou somente se defender, mas Martinuccio não deixou. Em escanteio pela esquerda, a bola é desviada por Anselmo Ramon e acha o argentino, livre de marcação, na direita da pequena área, para mandar um bico e ver a bola rebater no amontoado de jogadores do Bahia que protegia a linha do gol e entrar.

Com o empate, o Cruzeiro foi pra cima, mas pecava demais no último passe e no excesso de cruzamentos — velho problema. Para se ter uma ideia, o Cruzeiro é o segundo time que mais cruza bolas na área (média de pouco mais de 21 por jogo), mas é somente o 14º em aproveitamento destes cruzamentos: apenas 1 a cada 5 chega até o jogador, e nem todos são garantia de finalização.

A virada só viria num contra-ataque, em que estranhamente o zagueiro do Bahia desistiu de roubar a bola de Anselmo Ramon após o centro-avante receber de costas e proteger. Com o espaço cedido, Anselmo esperou até o momento certo para mandar a bola por cima para Martinuccio, que partia em velocidade. O argentino pegou de primeira e fez um golaço.

Sandro Silva, o mesmo que a torcida pegou no pé no intervalo, fez duas faltas para amarelo em minutos de diferença. A torcida ainda iria sofrer um pouco mais. Após a expulsão, deu pra ver da arquibancada Everton e Fábio conversando sobre o posicionamento. Everton postou as duas mãos uma na frente da outra, com o polegar guardado: duas linhas de quatro. Diego Renan, Leandro Guerreiro, Thiago Carvalho e Everton protegiam a área, e à frente William Magrão (que entrou no lugar de Tinga), Marcelo Oliveira e Martinuccio. Anselmo Ramon permanecia à frente para fazer retenção da bola no novo 4-4-1.

O Bahia bem que tentou. Rodou a bola, inverteu as jogadas e tentou abrir a defesa, mas não chegou nem perto de ameaçar Fábio. Eu diria que a postura defensiva do Cruzeiro com dez homens em campo foi exemplar. Até que veio o lance da expulsão de Mancini em um lance com Souza. Com a igualdade numérica, o jogo ficou mais franco, e veio ser definido num lance improvável. Jogada pela direita, Souza passa a William Magrão meio sem querer e o volante finaliza por cima, encobrindo Marcelo Lomba e fazendo um belo gol.

Não foi a melhor atuação cruzeirense, mas uma das mais sólidas. Detalhe que essa foi apenas a segunda virada do Cruzeiro no Brasileiro deste ano — a primeira tinha sido contra o Botafogo no Engenhão, ainda no início do campeonato. É difícil relacionar a melhora psicológica à mudança do esquema, mas acredito que a nova formação possa ter dado a confiança necessária, e assim a equipe conseguiu virar o jogo, mesmo sob pressão da torcida.

Cruzeiro 2 x 0 Fluminense

Com Montillo de volta, Celso Roth voltou ao 4-3-1-2 losango. No lugar de Martinuccio, fora por força de contrato, entrou o jovem garoto Élber. A suspensão de Sandro Silva abriu espaço para Charles ser o vértice baixo do losango de meio, com Marcelo Oliveira pela esquerda e Tinga pela direita. Ceará voltou à lateral direita e Guerreiro foi mantido na zaga.

O Fluminense, já campeão, entrou no mesmo 4-2-3-1 de sempre. Sem Wellington Nem, Abel escalou Rafael Sóbis, Deco e Thiago Neves atrás de Fred. Mas a letargia pelo título antecipado e a festa que viria após o jogo, com a cerimônia de entrega da taça — como foi em 2003, quando Alex ergueu o Campeonato Brasileiro diante de um Mineirão lotado, contra o mesmo Fluminense — talvez tenha feito os jogadores do Fluminense não se doarem tanto.

Mesmo assim, há que se destacar que o Cruzeiro fez uma partida sólida defensivamente. O time da casa não conseguiu espaço para jogar, mesmo tendo Deco para desafogar o meio. O luso-brasileiro não conseguiu levar vantagem sobre a marcação de Charles. Sóbis apagado do lado esquerdo e Thiago Neves igualmente do lado direito. Sem ser abastecido, Fred não foi ameaça, e assim, o 1 a 0 com o pênalti sofrido por Anselmo Ramon e convertido por Montillo era o placar mais justo.

Na segunda etapa, o Cruzeiro ampliou a vantagem logo no início, e não deu chances de reação ao Fluminense. Em contra-ataque rápido puxado por Montillo, Élber ganhou de dois marcadores meio atabalhoadamente e ficou cara a cara com Diego Cavalieri, que não alcançou a finalização no cantinho do garoto. Com isso, o Cruzeiro passou a usar a mesma arma que o Fluminense usou durante todo o campeonato: esperou em seu próprio campo e partia na transição ofensiva, popularmente conhecida como contra-ataque.

No fim, o Fluminense veio pra cima e tentou marcar o gol de honra, mas Rafael mostrou que quando Fábio não está disponível, nada temos a temer. Fez grandes defesas, parando inclusive o artilheiro Fred, e garantiu o zero no placar adversário.

Coritiba e Atlético/MG

As últimas notícias dão conta de que Celso Roth vai escalar Montillo e Martinuccio num 4-2-3-1, com Fabinho fazendo o lado direito atrás de Wellington Paulista (Anselmo Ramon está suspenso). Diego Renan deve entrar na lateral esquerda, para poupar Everton de receber o terceiro cartão e ficar fora do clássico. Mas isso pode acabar sendo uma boa, já que Diego é mais defensivo que Everton e isso ajudará Martinuccio no trabalho defensivo, ao perseguir o lateral adversário.

Ainda não é o que eu gostaria, já que eu colocaria Montillo aberto na esquerda e Martinuccio na direita — insisto nos ponteiros de pés invertidos. Mas só de ter a linha de três com os dois argentinos já acredito que será uma das melhores partidas do Cruzeiro no ano. Estarei vendo de perto, quem sabe pela última vez no Independência. Ano que vem é Mineirão.

São Paulo 1 x 0 Cruzeiro – A falta de técnica matou a tática

Em um lance mezzo oportunismo de Osvaldo, mezzo falha da zaga cruzeirense e de Fábio, o São Paulo conseguiu o gol da vitória no jogo de domingo no Morumbi.

O 4-2-3-1 inicial teve pouco poder ofensivo, mas encaixou bem com o 4-2-1-3 dos paulistas, com Diego Renan vencendo Lucas mas com Leo perdendo de Osvaldo

Celso Roth surpreendeu e mandou um 4-2-3-1, diferente do que foi treinado durante a semana. À frente do goleiro Fábio, Léo reapareceu na lateral direita e Diego Renan foi para o jogo no lugar do suspenso Everton. Com isso a dupla de zaga foi Thiago Carvalho e Victorino, de volta ao time. Sem Leandro Guerreiro, também suspenso, o volante mais preso desta vez foi Charles, com Tinga jogando um pouco mais avançado e procurando se juntar ao trio de meias: Wallyson pela direita, Montillo por dentro e Marcelo Oliveira pela esquerda. Wellington Paulista era o único atacante.

O São Paulo de Ney Franco foi armado quase do mesmo jeito, a diferença sendo que os meias abertos, que neste blog chamo de ponteiros, eram mais atacantes que meias, formando um 4-2-1-3. No gol, o veteraníssimo goleiro Rogério Ceni viu Douglas pela direita e Cortez pela esquerda — dois laterais bastante ofensivos — flanquearem sua dupla de zaga, Paulo Miranda e Rhodolfo. Denilson e Maicon proviam suporte para Jádson criar para seus três atacantes: Osvaldo pela esquerda, Lucas pela direita e William José centralizado.

Um jogo equilibrado taticamente, visto que as defesas levaram a melhor sobre os ataques praticamente por todo o jogo, à exceção de alguns lances isolados. O que pode ser ilustrado pelo baixo número de finalizações certas do jogo: 6 a 0 para o time da casa. Isso mesmo: pela segunda vez no campeonato, o Cruzeiro não incomodou o goleiro adversário.

Lados (quase) fechados

Para surpresa de muitos, Diego Renan teve uma boa atuação defensiva, segurando o futuro parisiense Lucas e fechando bem o lado esquerdo. Lucas só levava perigo quando se projetava para o meio e partia driblando, sua característica. Entretanto, o mau posicionamento dos companheiros, principalmente de William José, resultava em uma jogada infrutífera. Diego era ajudado por Marcelo Oliveira, que fazia a primeira linha de marcação e acompanhava Douglas. Ofensivamente, entretanto, o lateral subia pouco, muito por causa da presença de Lucas, e Marcelo era quem tinha que prover amplitude por aquele lado. Não funcionou muito.

O lado direito, porém, estava um pouco menos desguarnecido. Cortez avançava sem medo de deixa sua própria lateral sem proteção, e Wallyson o acompanhava bravamente, bloqueando as investidas do lateral. O problema era mais atrás, onde Osvaldo conseguia ganhar na velocidade e no drible de Léo quase sempre. As melhores chances do São Paulo no primeiro tempo foram com o atacante ex-Ceará – que quase veio para o Cruzeiro no início do ano. Para nossa sorte, a zaga celeste estava bem postada e ganhava no último passe.

O calvário de Montillo

No meio-campo, o Cruzeiro levava ligeira vantagem. Charles foi o cruzeirense mais lúcido enquanto esteve em campo, tirando o tempo com bola de Jádson, e anulando o principal núcleo criativo dos paulistas. Tinga se movimentava por todo o setor central, mas o que o cabeludo tem de disposição, falta na técnica. O predador errou alguns passes e não conseguiu ser o homem surpresa do ataque celeste. Montillo, como sempre acontece quando joga pelo meio, foi muitíssimo bem marcado pelos dois volantes sãopaulinos. O argentino tentou cair pelos lados para fugir da marcação, e foi pela esquerda, nos pés dele, que morreu a melhor chance do Cruzeiro na primeira etapa, quando ao dominar uma bola com o pé esquerdo, ela acabou batendo também no pé direito do camisa 10 e ficou mais para Ceni rebater.

O grande problema de Montillo, no entanto, é a parte defensiva. Sem a bola, Montillo praticamente fica alinhado a WP e o time vira uma espécie de 4-4-2 britânico (ou seja, em duas linhas de quatro clássicas). Isso acaba sobrecarregando os volantes, que têm que marcar os volantes adversários que estão livres de marcação. Assim, se for para jogar com Montillo de meia central, é melhor entrar com o time em um 4-3-1-2 losango, como nas últimas partidas, para dar mais consistência ao meio-campo e compensar a falta de combatividade do argentino. Porém, em um 4-2-3-1 — insisto — o mais inteligente é escalá-lo pelos lados, como ponteiro, pois essa é a característica dele, e ainda ocorrreria o bônus de ter somente um marcador sobre ele — o lateral adversário.

Entretanto, ainda no primeiro tempo, a contusão dupla de WP e Wallyson obrigou Celso Roth a tirá-los do jogo. Borges no lugar de WP era o óbvio, apesar da mudança de característica — Borges é mais referência, pivô, se movimenta menos. Para o lugar de Wallyson, porém, o certo seria ter entrado com Élber, que é meia de origem, faria o trabalho defensivo tão bem quanto Wallyson e ainda traria preocupações para Cortez. Só que Roth mandou Souza a campo, meia cadenciador e passador. Não funcionou, pois o veterano não marcou tão bem as investidas de Cortez e expôs Léo, e tinha uma tendência a entrar para dentro do campo quando o Cruzeiro tinha a bola, abandonando o lado direito.

Charles fora

No segundo tempo, o jogo continuou na mesma, com o Cruzeiro levando certa vantagem e até ficando um pouco mais com a bola no pé, mas sem ser incisivo. Aos 9, uma fatalidade: Charles pisou no pé de seu próprio companheiro e torceu o tornozelo, tendo que ser substituído. O Cruzeiro perdia seu melhor jogador em campo, com o jovem Lucas Silva entrando em seu lugar para fazer a mesma função, que claramente não conseguiu — levou dois cartões amarelos em um espaço de 10 minutos e foi embora mais cedo. Esse é o preço por preterir Diego Árias, volante mais preso de ofício.

A substituição chave foi de Ney Franco: o apagado William José deu lugar a Ademílson, que se movimentou bem mais e dava opções de passe, como no lance do gol. Douglas avançou pela direita e achou o atacante, que recuou para oferecer o passe. A tabela venceu Marcelo Oliveira, e o lateral alcançou a linha de fundo para fazer um cruzamento despretensioso, sem perigo. Porém, no susto, Fábio rebateu a bola para dentro da área, onde estava Osvaldo, que completou para o gol vazio.

Com o gol, o Cruzeiro se perdeu momentaneamente e o São Paulo não aproveitou. Wellington e Casemiro ainda entrariam no lugar de Maicon e Denilson, fazendo um 4-3-3 clássico (4-1-2-3, com um volante, Wellington, e dois meias, Jádson e Casemiro), mas nada mais aconteceu.

Enfim

Podemos dizer que a fase técnica do Cruzeiro não é das melhores, e na partida de domingo, isso acabou sobrepujando a boa postura tática da equipe. O 4-2-3-1 foi bem executado defensivamente, mas ofensivamente não. WP foi mal e Wallyson não fez o que se espera dele no ataque: a fase do jovem potiguar não é das melhores. Parece que lhe falta confiança para partir para dentro do adversário e definir. Marcelo Oliveira até que tentou, mas não conseguiu dar o mesmo poder que Everton dava pelo lado esquerdo.

Montillo particularmente está tendo dificuldades e já não tem mais tanta liberdade quanto teve no primeiro ano em Belo Horizonte, quando ainda era desconhecido por aqui. Agora as equipes já sabem que o argentino é a principal peça ofensiva cruzeirense e fazem marcação especial. Volto a insistir: Montillo tem que jogar pelo lado do campo, como ponteiro. Para compensar a falta de combatividade do argentino, é necessário escalar um lateral mais preso, como Diego Renan ou o próprio Marcelo Oliveira, com Diego passando para o lado direito: Léo improvisado não vai fazer bons jogos sempre, e esta partida foi um exemplo.

Há o que se animar, entretanto. Esta partida foi um pouco pior do que a exibição contra o Vasco, mas muito superior aos duelos contra Sport e Figueirense. É esperar pra ver se Celso Roth, com as voltas de Everton e Leandro Guerreiro, e a possível estréia de Martinuccio, manterá este 4-2-3-1 contra o Internacional de Fernandão.

Cruzeiro 3 x 0 Náutico – Virada tática

Depois de tomar um baile tático no primeiro tempo, Celso Roth errou na primeira mas acertou na segunda substituição, abrindo caminho para o maior placar cruzeirense do Campeonato até aqui.

Wallyson muito centralizado no 4-3-1-2 losango inicial do Cruzeiro, estreitando o time e facilitando a marcação encaixada do superlotado meio-campo do Náutico

Primeiro onze

Roth repetiu o sistema pelo quinto jogo seguido, mandando a campo um 4-3-1-2 losango formado por Fábio no gol, Léo novamente mais preso na lateral direita, Everton mais solto na esquerda, e Rafael Donato e Mateus fechando o centro da defesa. De volta ao time, Leandro Guerreiro foi a base do meio-campo, que ainda tinha Tinga pela esquerda e Charles pela direita. Substituto do vetado Montillo, Souza foi o homem de ligação no topo do losango, pensando o jogo para Wallyson e Borges.

Alexandre Gallo certamente estudou as partidas do Cruzeiro. O Náutico entrou armado num 3-4-2-1 variava para um 3-5-1-1, lotando o meio campo. O gol de Gideão foi protegido por Ronaldo Alves, Alemão e Jean Rolt. No meio, uma linha defensiva alta, com Patric na direita correndo por todo o flanco com Everton, João Paulo na esquerda tentando explorar as costas de Léo, e Dadá e Souza combatendo muito pelo centro, junto com Martinez, que tinha mais liberdade para se juntar ao ataque formado por Lúcio atrás de Araújo.

Alta densidade demográfica

Logo nos primeiros minutos já ficava claro a tônica da primeira etapa: o time visitante, com dois homens a mais no meio-campo, tinha mais opções de passe e ficou mais com a bola no pé. Os jogadores cruzeirenses apertavam a marcação, mas sempre havia um pernambucano livre. Porém, com poucos alvos à frente, o meio-campo do Náutico não produziu nada muito incisivo. As principais jogadas do adversário vinham pelos flancos, principalmente pelo esquerdo, onde Léo ficava mais preso e esperava o avanço do ala esquerdo João Paulo.

A superlotação do setor central fazia o Cruzeiro ficar sem espaço para pensar o jogo quando tinha a bola, recorrendo a passes arriscados e errando a maioria deles, aumentando ainda mais a posse de bola do time adversário. Com o tempo, o Cruzeiro passou a ignorar o meio-campo e procurar a ligação direta, mas Borges não tem perfil de disputa pelo alto e quase sempre perdia. E mesmo quando ganhava, a segunda bola era sempre do Náutico, pelo simples fato de ter mais gente por perto.

A ponta direita

Outro fator tático interessante do primeiro tempo foi a postura de Wallyson. Como em quase todos os esquemas com três zagueiros, as áreas mais vulneráveis do sistema pernambucano eram os flancos de sua defesa. Quando o time adversário tem um jogador aberto no ataque, ou um zagueiro tem que sair da área para cobrir, ou o ala perde a vantagem de marcar à frente e tem que recuar. Infelizmente, Wallyson não repetiu as boas atuações táticas das últimas partidas e insistia em ficar próximo a Borges, talvez numa tentativa de fazer número. Do outro lado, Everton não apoio tanto devido ao posicionamento alto de Patric, mas mesmo assim criou algumas boas jogadas, como no passe recebido de Souza por cima da defesa em velocidade.

No intervalo, as equipes não mexeram nas peças, mas Celso Roth percebeu o problema na ponta direita e chamou a atenção de Wallyson, que voltou jogando mais aberto. Imediatamente a equipe melhorou de produção e chegou a criar três boas oportunidades, todas pela ponta direita e com a participação de Wallyson. O bandeira deu três impedimentos seguidos. Estranhamente, o time parou de jogar por ali, recorrendo cada vez mais às bolas longas para a disputa pelo alto e tentativa de pegar a sobra — o chamado jogo de “primeira e segunda bola” que Celso Roth tanto menciona em suas entrevistas quando se refere ao tipo de jogo praticado no Independência.

Um erro e um acerto

Aos 15 minutos, os primeiros movimentos dos treinadores: Gallo mandou Kim, mais veloz, na vaga de Araújo, e Lúcio deu lugar a Rogerinho. O sistema permaneceu. No Cruzeiro, Celso Roth tirou Charles, contundido, e lançou Wellington Paulista. Estava claro que ele queria insistir na disputa pela primeira bola no alto, e WP consegue fazer isso melhor do que Borges. Mas o novo 4-3-3 cruzeirense tinha ainda menos jogadores no meio, e tomou um susto justamente no flanco que Charles protegia — o direito. Kim passou por Donato e tocou a João Paulo, que entrava sem marcação na área. Ele centrou, mas Souza não conseguiu finalizar.

Roth então iluminou-se e tirou Wallyson do jogo, mandando Élber fazer a função de ponteiro direito, um pouco mais longe da área, fechando o lado, mas aberto e procurando a velocidade. E mal o garoto entrou, já criou problemas: três lances de perigo pelo lado direito, o terceiro resultando na falta que originou o primeiro gol. O gol foi um lance de oportunismo de Borges, mas na opinião deste blogueiro, era questão de tempo, com o lado esquerdo pernambucano sendo explorado por Élber com qualidade.

Espaço

Após as alterações, Élber explorando a vulnerabilidade do flanco esquerdo do Náutico e Sandro Silva igualando o número de jogadores de meio, no 4-3-2-1 que pendia para a direita

Gol este que mudou o panorama da partida. O Náutico, naturalmente, teve que abandonar sua estratégia de lotar o meio-campo e atacar. Gallo gastou sua última cartada mandando o atacante Romero a campo no lugar do volante Dadá. Os três zagueiros permaneceram compondo a última linha do agora 3-4-1-2 pernambucano. Um minuto depois, Borges sairia para a entrada de Sandro Silva, e assim o Cruzeiro tinha dois volantes puramente de marcação à frente da área — um 4-3-2-1 torto: cinco contra cinco no meio, mas sem um jogador pela esquerda do ataque.

Mas não fez diferença, porque quem ultimamente tem dado amplitude pela esquerda é Everton. Foi com ele que nasceu o segundo gol, em uma belíssima linha de passe. Everton puxou o contra-ataque por aquele lado, tocou a WP que estava aberto pela esquerda. Num altruísmo surpreendente para um atacante, WP devolveu a Everton, que já estava pelo meio. Ele viu Élber do outro lado, vindo como um raio e sem marcação — da forma como Wallyson devia fazer desde o primeiro tempo. O jovem dominou e fuzilou no canto esquerdo alto de Gideão.

O segundo gol matou a reação pernambucana, que desistiu de marcar pressão em cima do campo e ficou assistindo a defesa cruzeirense tocar a bola. Era só esperar o apito do árbitro, mas ainda havia tempo para mais. Tinga, que não fez uma boa partida nem técnica nem taticamente, explorou a defesa avançada e entregue do Náutico, alcançando a linha de fundo e centrando rasteiro para WP fazer o dele no fim da partida.

Conclusão

A vitória pode ter sido a maior do Cruzeiro no campeonato, mas não pode esconder alguns erros táticos cometidos, principalmente no primeiro tempo. Wallyson voltou a oscilar taticamente, e com isso seu jogo técnico também cai. Além disso, Celso Roth precisa arrumar um jeito de sair da armadilha dos 3 zagueiros e a consequente lotação do meio-campo, se quiser continuar jogando com o 4-3-1-2 losango.

Mas há pontos positivos. Everton, que foi muito contestado no início do ano — e mesmo neste campeonato no jogo contra o Grêmio — mais uma vez, demonstrou consistência pela esquerda: por ora, o problema da lateral está, no mínimo, atenuado. Na direita, Léo jogou “improvisado” — por falta de uma palavra melhor — pela terceira vez seguida, também sem comprometer. E Élber, um garoto ainda, mostrando ter competência para ser um reserva que pode mudar a cara da partida, principalmente jogando na função de ontem: ponteiro pela direita. Já vislumbro um time com Montillo e Élber de ponteiros…

Celso Roth disse na entrevista coletiva que torce para que o tão sonhado “equilíbrio” esteja começando a ser encontrado. É o que todos torcemos, e que, pelo menos a princípio, parece mesmo estar sendo alcançado.

Coritiba 4 x 0 Cruzeiro – Passando mal

Em seu pior jogo do ano, o Cruzeiro conseguiu levar quatro gols do Coritiba, dois de bola parada e outros dois de contra-ataque. Mas todos têm uma origem comum: a má execução do fundamento mais primordial do futebol — o passe. Sem isso, não há formação tática que seja suficientemente boa.

O 4-3-1-2 losango inicial do Cruzeiro, com Fabinho acompanhando o lateral e Marcelo Oliveira fechando o lado, e que conseguiu 20 minutos de equilíbrio, mas parou por aí

Sem Léo, Everton e Charles por suspensão, Borges, Victorino e William Magrão por lesão, e Montillo e Leandro Guerreiro preservados para o clássico, Celso Roth levou todos os jogadores restantes do elenco para Curitiba, e mandou a campo um 4-3-1-2, com o losango do meio formado por Sandro Silva no vértice baixo, Lucas Silva e Marcelo Oliveira pelos lados e Souza no topo. À frente do gol de Fábio, Rafael Donato e Thiago Carvalho fizeram a dupla de zaga, flanqueados por Ceará e Diego Renan. No ataque, Fabinho caindo pela direita e Wellington Paulista centralizado.

Marcelo Oliveira — o técnico do Coritiba — escalou o time da casa em seu costumeiro 4-2-3-1, com Vanderlei no gol, Ayrton pela direita da defesa, Luccas Claro e Escudero no miolo de zaga e Lucas Mendes pela esquerda. Júnior Urso e Chico protegiam a área atrás do trio formado por Robinho, Everton Ribeiro e Rafinha — desta vez aparecendo pela esquerda. Roberto foi o centro-avante solitário.

A única nota tática interessante dessa partida foi durante os 20 minutos iniciais, quando o jogo ainda estava equilibrado. No Cruzeiro, Marcelo Oliveira fechava pelo lado esquerdo para acompanhar as investidas do lateral direito Ayrton, e do outro lado Fabinho recuava para acompanhar Lucas Mendes, fazendo um 4-2-3-1 sem a bola. E com nenhum jogador levando vantagem claramente sobre seu marcador, o jogo seguia sem muitas chances de parte a parte. Aos poucos, o Coritiba começou a dominar o meio-campo, com mais amplitude mais bem postado, afinal era um 4-2-3-1 oficial, diferente da variação que partia de um losango do time cruzeirense.

O Coritiba alternava pressão alta e bloco médio, forçando o Cruzeiro a começar a errar passes e, por consequência, cometer faltas. Primeiro, uma falta perto do círculo central, que foi seguida de uma outra mais perto da área. Na cobrança, falha geral da defesa do Cruzeiro e principalmente de Marcelo Oliveira — o volante do Cruzeiro — que estava na marcação de Lucas Mendes, o autor do gol.

Estranhamente, o gol não chegou a afetar muito os jogadores do Cruzeiro, que tentaram reequilibrar o jogo. Marcelo Oliveira — o volante — teve a chance de se redimir em passe de Fabinho, mas mandou pra fora. Depois, mais uma falta, e desta vez Ayrton mandou direto: Fábio voou para espalmar. Era o prenúncio do que iria acontecer. Mais uma falta, na mesma posição, e dessa vez Ayrton mandou reto, sem efeito, batendo chapado na bola para ganhar o ângulo contrário de onde Fábio estava, que nem foi na bola. Golaço do lateral do Coritiba.

Aí entrou em campo o décimo segundo jogador de todos os times que jogam contra o Cruzeiro: o Cruzeiro. Pode parecer uma frase semanticamente estranha, mas é isso mesmo. O Cruzeiro ficou nervoso, se perdeu e errou todos os passes que conseguia.

O intervalo pareceria benéfico, para acalmar os ânimos e entrar com outra postura para quem sabe buscar o empate. Celso Roth bem que tentou mexer, tirando Lucas Silva e Diego Renan e mandando Tinga e Wallyson a campo. Marcelo Oliveira — o volante — recuou para a lateral esquerda, Sandro Silva ficaria se volante único atrás de Souza e Tinga armando para o trio de atacantes: Fabinho à direita, Wallyson à esquerda e WP centralizado.

Mas nem deu tempo de ver o que aconteceria. Logo aos três minutos, após uma sequência de disputas de bola perdidas no meio-campo, Ceará chegou a ter domínio da bola e tentou clarear pra frente, mas Rafinha estava no caminho dela, que espirrou em direção à área cruzeirense. Everton Ribeiro, mais bem posicionado que os zagueiros, chegou primeiro na bola, e serviu a Roberto, que ganhou de Marcelo Oliveira — o lateral — na corrida. Fábio fechou o ângulo, e teria conseguido defender a conclusão de Roberto, não fosse a bola ter desviado no pé de Rafael Donato indo morrer do lado oposto do gol.

A partir daí, o nervosismo do primeiro tempo voltou dobrado, e o Cruzeiro não esboçou sequer uma reação, nem mesmo pelo gol de honra. Vendo a situação do adversário, Marcelo Oliveira — o técnico — mandou sua equipe marcar avançado, forçando os zagueiros a bolas longas, ou fazendo os jogadores adversários a errarem passes — e como erraram. Quando raramente acertavam uma sequência, até chegavam perto da área do Coritiba, mas longe de ameaçarem Vanderlei, que sequer tocou na bola no primeiro tempo. Roberto, por sua vez, perdeu um gol incrível dentro da pequena área, sinal claro de que o jogo tinha terminado já no início do segundo tempo.

Aos 12, Marcelo Oliveira — o técnico — mandou o volante Gil no lugar de Robinho, sem alterar o 4-2-3-1, mas com uma desnecessária preocupação defensiva no flanco direito, pois o jogo já estava resolvido e o Cruzeiro entregue. Já aos 19 minutos Celso Roth queimou a terceira alteração, trocando seis por meia dúzia: Anselmo Ramon na vaga de WP. A ideia era, como sempre, segurar a bola na frente para esperar a chegada dos companheiros, mas nem isso o Cruzeiro fazia. Perdia todas as segundas bola e não conseguia dar chutões. As poucas bolas que chegavam eram perdidas pelo centro-avante, e logo o Coritiba retomava a posse e partia novamente, sem pressa, para o campo adversário.

Anderson Aquino, centro-avante, entrou para a saída de Roberto aos 26, e dois minutos depois Lucas Mendes saía para dar lugar ao zagueiro Dirceu. Escudero foi para a lateral esquerda, e o Coritiba manteve seu 4-2-3-1 intacto até o fim da partida. O único momento diferente foi quando Wallyson conseguiu uma finalização colocada no ângulo, mas pra fora. Aos 33, em um escanteio mal cobrado, a zaga do Coritiba tirou e Everton Ribeiro ficou com a sobra, aplicando um chapéu num atordoado Fabinho e mandando um balão para frente, na direção de Rafinha e Anderson Aquino. Ambos partiram do campo de defesa, portanto habilitados, enquanto a zaga do Cruzeiro ficava parada. Tinga foi quem foi atrás da dupla de atacantes do Coritiba, que até demorou para definir, permitindo que Tinga se postasse em cima da linha. Fábio saiu em cima da Rafinha, que passou a Aquino que completou.

Os últimos 13 minutos foram torturantes, e àquela altura eu já queria que o jogo acabasse logo. O Coritiba faria mais gols se quisesse, mas desacelerou e mesmo assim teve chances. O apito final do árbitro foi, quem diria, um alívio. O time do fim do jogo nem merece um diagrama tático.

Na coletiva, Celso Roth disse que já tinha visto o time perder o controle, mas ainda não tinha visto o time entregue, sem reação. E ficou preocupado — palavras dele. De fato: perder por um lance de sorte, acontece. Perder porque o outro time é melhor tecnicamente, acontece também. Ou muitos desfalques, uma mexida errada, um posicionamento tático equivocado — todos motivos normais de uma derrota, sem alarde. Até quando o time perde por errar demais pode ser considerado normal. Em todos os casos o importante é tentar. E nem isso o Cruzeiro fez: desistiu do jogo no terceiro gol.

E contra isso, não há formação tática ou habilidade técnica que resolva.